Eu saí daquela delegacia disposta a provar que a droga não era da Naomi. Mesmo sabendo que ela iria sair dali com a ficha limpa, eu queria provas de que a droga não era dela. Se não foi Diogo quem plantou a droga, e isso eu tinha certeza também, sobravam as pessoas que estavam com ela antes de Diogo prendê-la. Na praça onde ela foi presa, existiam alguns pontos de comércio, inclusive a padaria onde Naomi trabalhava. Além dos pontos de comércio, havia algumas casas bem bonitas também. Com certeza eu encontraria câmeras de segurança em alguns desses locais. Minha esperança era que alguma dessas câmeras tivesse filmado o que aconteceu.
Pedi para Diana ligar para Diogo e perguntar em que local ele encontrou Naomi. A praça não era muito grande, mas, sem saber o local exato em que ela estava, seria muito mais complicado para mim. Diana confirmou com Diogo, e eu sabia exatamente onde ficava o local. Eles estavam ao lado de uma pequena banca de jornal que havia na praça. A sorte estava do meu lado; a banca de jornal ficava em frente à padaria, e lá havia câmeras, porque eu mesma já tinha visto elas nas vezes que fui visitar Naomi no trabalho. Outra vantagem é que eu conhecia o dono e ele gostava da Naomi, com certeza iria ajudar.
Assim que cheguei à padaria, fui procurar o dono, e ele veio falar comigo assim que o chamei. Expliquei a ele toda a situação, só omiti as coisas mais pessoais. Ele disse que já tinha visto mesmo Naomi conversar com uma garota meio estranha, mas não sabia quem era a garota e nem que eram amigas. Ele me convidou para dentro do balcão e me levou até uma sala nos fundos. Ele disse que as câmeras do lado de fora ficavam ligadas a noite toda. Ele comentou que mandou instalar depois que tentaram invadir a padaria durante a noite. Ele se sentou em frente a um computador e acessou as filmagens da noite anterior.
Ele foi adiantando as filmagens até o momento em que vi Naomi aparecer. A câmera não estava com a imagem perfeita porque as pessoas estavam sentadas do outro lado da rua e era noite. Mas, mesmo assim, dava para ver o que acontecia. Reconheci Rayssa pela descrição que Naomi tinha me dado. Ela tinha o cabelo azul claro com uma mecha verde na frente e algumas tatuagens no braço esquerdo. Estavam ela e outra garota sentadas no banco quando Naomi chegou. Naomi parecia nervosa e gesticulava na frente da Rayssa. Isso durou um tempinho, mas Rayssa se levantou do banco e abraçou Naomi, que retribuiu o abraço e parecia limpar os olhos a todo momento. Ela devia estar chorando; as duas se sentaram no banco e ficaram conversando.
Pedi ao patrão de Naomi que adiantasse um pouco, e ele fez isso. Pedi para ele parar porque vi que chegaram outras pessoas. Eram dois rapazes e uma garota. Eles tinham algumas latinhas nas mãos; eu imaginei que eram as cervejas que Naomi disse que bebeu. Vi que foi Rayssa quem ficou oferecendo cerveja para Naomi, e na segunda vez ela já aceitou. Nunca tinha visto Naomi beber, mas pelo jeito ela já tinha bebido antes, porque pegou a latinha e levou à boca. Pela demora, ela bebeu bastante.
Pedi para o patrão de Naomi ir adiantando a filmagem, e dali para frente só vi eles bebendo. Às vezes, saía um rapaz sozinho e voltava com mais latinhas; outras vezes, ele ia com uma das garotas. Vi que o outro rapaz ficava ao lado de Rayssa o tempo todo, provavelmente era o namorado dela, o tal Serginho. Pelas imagens, eu não o reconheci, provavelmente nunca o tinha visto na vida. Eu vi que ele enrolava algo em um papel, provavelmente era maconha, e depois saiu com o outro rapaz. Provavelmente, eles iam fumar em algum outro lugar. Mas isso durou pouco e já passaram a fumar ali mesmo. Dessa vez todos fumavam, só Naomi que não; Rayssa sempre oferecia, mas ela não aceitava. Naomi já estava com a cabeça baixa, provavelmente já estava bêbada. Pedi para adiantar mais a filmagem e notei que Naomi já estava deitada no banco, com a cabeça no colo de Rayssa.
Vi quando Serginho saiu com o rapaz e ficou um pouco afastado do banco; pareciam conversar sobre alguma coisa. Vi os dois voltarem e Serginho ficou de frente para Naomi; ele levou a mão nas suas pernas, e aquilo já me deu um ódio na hora, mas me contive. Rayssa pareceu falar algo com ele e ele tirou as mãos. Logo após começou uma pequena correria. Provavelmente, algum deles viu a viatura se aproximar. O rapaz e a moça saíram correndo. Rayssa se levantou rápido, e Serginho foi sair, mas parou, levou a mão ao bolso da frente e depois ele levou a mão até o bumbum da Naomi. Pedi para voltar o vídeo e pausar quando Serginho foi colocar a mão na bunda de Naomi. Dava para ver algo na mão dele, e quando ele tirou a mão da bunda dela, o volume que estava na mão dele tinha sumido. Revisei a cena algumas vezes e não tinha mais dúvidas; o fdp colocou a droga no bolso de Naomi. Logo depois, eles correm e somem da imagem. Depois Diogo e seu parceiro tentando acordar Naomi e depois carregá-la.
Eu perguntei se tinha como passar aquela filmagem para o pen-drive; o patrão de Naomi disse que sim, mas ia demorar um pouco. Eu disse a ele que iria sair, depois voltaria para pegar e traria um pen-drive novo para ele. Ele disse que não precisava, que tinha alguns ali no escritório. Eu o agradeci pela ajuda e saí dali bem animada. Mas fiquei curiosa para saber mais sobre Rayssa e o tal Serginho. Isso eu poderia verificar depois na delegacia. Antes, eu precisava almoçar; foi demorado ver as filmagens. Quando saímos da padaria, já passava das onze da manhã. Chamei Diana para irmos almoçar na minha casa, e ela aceitou.
Assim que paramos, eu desci e vi Rose chegando em sua casa. Ela ficou me olhando como se quisesse falar algo, mas abaixou a cabeça antes que eu pudesse dizer um oi para ela. Ela realmente tinha medo de mim ou simplesmente não gostava de mim por algum motivo. Chamei Diana e entramos para dentro de casa. Diana foi ao banheiro e eu fui esquentar dois pratos de comida no micro-ondas. Diana voltou e nós nos sentamos para almoçar. Ficamos conversando sobre o que houve com Naomi, e nós duas chegamos à conclusão de que provavelmente Rayssa inventou algo para ela, e por algum motivo, ela acreditou. Provavelmente, ela foi vítima das mentiras de Rayssa, mas o que não entrava na minha cabeça era por que ela não me falou nada? Por que não me confrontou ou brigou comigo? Eram perguntas às quais eu não tinha resposta, e, sinceramente, era o que menos me preocupava agora. Eu as teria assim que Naomi voltasse para casa.
Terminamos o almoço, e quando eu estava no banheiro escovando os dentes, alguém chamou na porta. Ouvi Diana falar com alguém e logo ela me gritou, avisando que eu tinha visitas. Quando fui ver quem era, dei de cara com Rose parada na porta.
Greta — Oi, Rose. Posso fazer algo para te ajudar?
Rose — Oi. Vim saber o que houve com Naomi; ela não foi à faculdade e tinha provas hoje para o curso dela. Queria saber se ela está bem.
Greta — Ela está bem, sim. Mas, infelizmente, ela foi presa durante a noite e por isso não foi à faculdade.
Rose — Presa!?! Por quê!?!
Greta — Não se preocupe. Ela não fez nada de errado. Alguém armou para ela, mas já está tudo esclarecido e logo ela estará de volta.
Rose — Foi a Rayssa, não foi?
Greta — Foi sim, ela e o namorado dela. Você conhece a Rayssa?
Rose — Sim, estudamos no mesmo colégio por um tempo. Aquela garota é o demônio. Ela aprontou tanto no colégio que acabou sendo expulsa. Ela vendia drogas dentro do colégio e aliciava meninas para sair com homens. Todo mundo sabia, mas ninguém falava nada por medo dela e do namorado que era traficante.
Greta — Você contou isso para Naomi?
Rose — Não. Quando vi ela na porta da faculdade esperando por Naomi, eu fiquei com medo e fugi. Eu sinto muito; eu queria falar, mas fiquei com medo de Naomi contar para ela e ela fazer algo comigo. Quando criei coragem para falar, Naomi não acreditou em mim. Achou que era preconceito meu por causa do jeito da Rayssa. Eu sinto muito.
Greta — Tudo bem, Rose. Eu sei que é perigoso se meter com esse tipo de gente. Mas as informações que você me deu foram úteis. Vou ver se acho ela no sistema; provavelmente, ela tem ficha criminal.
Rose — Ela provavelmente tem só quando era menor. Que eu saiba, ela nunca foi presa, e depois que o namorado foi preso, ela andou sumida. Mas ele tem ficha com certeza, e posso ajudar.
Rose pegou seu celular no bolso e depois me mostrou uma matéria local de quatro anos atrás. Era sobre a prisão do tal Serginho. Ele foi pego com dois quilos de maconha, meio quilo de pasta básica e duas armas de fogo. Na reportagem, tinha o nome dele. Eu anotei e agradeci a Rose. Eu disse a ela que precisava ir trabalhar, mas à tarde eu já viria com Naomi comigo. Rose foi sair, mas a chamei.
Greta — Rose, você não gosta de mim por algum motivo? Já tentei me aproximar de você, mas você sempre evita conversar comigo.
Rose — Desculpe. Mas eu tenho medo de policiais. Não é só de você, é de todos. Eu não sei o motivo; parece algum tipo de fobia, mas estou trabalhando isso com minha psicóloga. Na verdade, eu gosto de você. Mas eu fico com medo só de chegar perto de você. Me desculpe, Greta.
Greta — Tudo bem, Naomi já tinha me falado algo a respeito. Eu entendo; só espero que você supere isso e a gente possa ser boas amigas. Você é uma garota muito legal.
Pela primeira vez, eu vi um pequeno sorriso no seu rosto. Ela me agradeceu e se foi. Eu chamei Diana, que estava roubando meu sorvete na cozinha, e a gente foi para a delegacia novamente. Assim que chegamos, eu fui para o computador e puxei a ficha do Serginho. Depois fui olhar seu processo. Ser advogada formada com a carteira da OAB tem suas vantagens. Li o processo meio por alto e peguei o nome do advogado do Serginho. Rayssa aparecia no processo como testemunha, e com o nome dela eu puxei sua ficha. Nada demais, só tinha um dano ao patrimônio público. Ela colocou fogo em uma viatura policial, mas era menor e não deu nada para ela. Eu tinha tudo que precisava nas mãos. Só faltava a filmagem.
Saí para fazer minha ronda e, no final da tarde, fui até a padaria. O patrão de Naomi me deu o pen-drive e disse que tinha cortado a parte em que o rapaz tinha colocado a droga no bolso de Naomi. Ele me explicou que colocou essa parte no início e tinha toda a gravação depois. Eu o agradeci e ele disse que foi um prazer ajudar. Então, voltei à delegacia e mostrei o vídeo para Artur. Ele disse que dava para ir atrás do tal Serginho. Eu falei que eu mesma iria ficar de olho nele, mas não queria usar aquele vídeo para prendê-lo. Eu queria proteger Naomi daquilo tudo. Artur concordou e eu fui soltar Naomi para a gente ir para casa.
Quando cheguei na porta da cela, ela estava sentada com as penas encolhidas em cima da cama. Ela estava com os braços em cima dos joelho e com a cabeça apoiada nos braços. Quando ela ouviu o barulho da chave abrindo a cela, ela me olhou. Seus olhos estavam todos vermelhos de chorar e eu não conseguia decifrar o seu olhar. Parecia vazio, como o de alguém que está totalmente perdido nos seus próprios pensamentos. Eu a chamei para ir para casa. Ela se levantou, calçou seu tênis e veio andando em minha direção. Ela saiu e não falou nada; estava com a cabeça baixa e assim ficou até sairmos da delegacia. Quando entramos no carro da Diana, ela levantou o rosto e cumprimentou Diana com um oi e, novamente, abaixou a cabeça. O silêncio só foi quebrado quando chegamos à porta da minha casa e nos despedimos de Diana.
Quando entramos, eu devolvi as coisas dela que estavam comigo. Era seu celular e sua carteira com seus documentos. Ela me agradeceu e foi para o seu quarto. Eu fui ao meu quarto, peguei meu notebook e o levei para a cozinha. Coloquei o pen-drive e olhei se estava tudo ok com o vídeo, e estava. Entrei na página do fórum local, busquei pelo processo e já deixei a página aberta. Depois, fui à página da polícia militar e abri meu histórico. Fui até o quarto de Naomi e ela estava arrumando suas malas.
Greta — Você vai embora sem terminar as provas finais?
Naomi — Só quero ir para minha casa. Eu vou ficar louca se continuar aqui.
Greta — Posso só te pedir um favor antes?
Naomi — Claro. Se você me prometer me deixar ir embora depois.
Greta — Acho que prometer não adianta nada, já que promessas entre nós duas não têm valor algum. Pelo menos não para você. Mas se você quiser, eu prometo sim. Só quero te mostrar algo no meu notebook e depois você pode decidir o que quer fazer da sua vida. O que você resolver, eu apoio.
Naomi — Eu tive meus motivos para quebrar a promessa e não sou a errada aqui. Só não sei quem está falando a verdade e nem se estou segura. Eu só estou com medo depois de tudo que houve e quero ir para minha casa.
Greta — Eu vou te mostrar quem é a errada aqui. Como eu sou uma mentirosa, não adianta eu falar, porque você não acredita. Como não sou nada sua, você pode fazer o que quiser da sua vida, não vou me meter. Só pedi para você ver algo. Só isso.
Naomi — Tudo bem.
Ela me acompanhou até a cozinha e eu pedi para ela se sentar. Falei para ela olhar o vídeo com calma, principalmente no que Serginho fazia antes de correr. Falei para ela que ali era só um pedaço do vídeo, mas tinha a gravação completa no pen-drive. Falei que, depois que ela visse o que achasse necessário, era para ela entrar na outra janela que estava aberta. Era o processo do Serginho. Para ela ver o que aconteceu, as pessoas envolvidas no processo e o nome dos policiais que o prenderam. Depois, na outra janela, estava o meu histórico na polícia militar. Ela iria ver que eu estava só há três anos nas ruas. Antes, eu fazia serviços administrativos e só ia para a rua em operações que necessitavam de policiamento feminino. Ela veria que meu histórico de prisão só se iniciou há três anos atrás. Se não fosse o suficiente, eu havia deixado o número do advogado do Serginho no papel ao lado. Falei para ela ligar e confirmar com ele se eu tinha algo a ver com a prisão do Serginho.
Greta — Eu vou tomar um banho; fique à vontade para olhar tudo. Mesmo eu não sendo nada para você, essa casa ainda é sua.
Continua..
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper