O ônibus estava apertado, um caldo de corpos suados, rostos cansados e a pressa que se espalhava como uma febre no fim de expediente. O cheiro de suor misturado com o cheiro de poeira da cidade tornava o ambiente sufocante, difícil de respirar, quase como se o ar fosse um luxuoso segredo mantido por aqueles que não tinham pressa de viver. Edu se espremia contra a janela, o vidro quente e embaçado contrastando com a sensação de claustrofobia que começava a lhe invadir. Ele tentava ignorar o desconforto, mas a agitação ao seu redor era como um turbilhão, uma força invisível que o empurrava para o centro do caos. Seus olhos percorriam distraidamente os rostos das pessoas à sua volta. Algumas pareciam tão alheias, tão imersas em seus próprios mundos, como se o estresse da cidade nunca tivesse tocado suas almas. Outros, no entanto, pareciam carregados por um peso invisível, como se cada um fosse um carrasco de sua própria história. Edu, então, sentiu-se quase como um espectador, olhando para os outros, como se estivesse assistindo a uma novela onde ele, em silêncio, era um figurante. Ele se perguntava: *"Será que alguém nota minha presença? Será que sou só mais um na multidão?"*
De repente, seus olhos se encontraram com os de um homem ao seu lado. O choque foi instantâneo, uma eletricidade que atravessou seu corpo de maneira arrebatadora. O homem era alto, de pele morena e com um rosto marcado pelo sol – como se a vida nas ruas tivesse deixado impressões profundas em sua pele e em sua expressão. Edu observou aquele homem, fascinando-se pela forma como ele parecia alheio ao tumulto ao seu redor, como se estivesse em um mundo à parte. Sua expressão séria, mas ao mesmo tempo tão intrigante, fez Edu prender a respiração por um instante, como se o ar tivesse sido sugado para longe dele.
**Edu**: (pensando, tentando afastar a ideia) *“Quem dera encontrar o amor de uma vida inteira no ônibus lotado.”* Ele soltou um suspiro quase imperceptível, tentando não se deixar levar por aquela sensação incômoda. *"Mas ele nem deve me notar. Eu sou só mais um rosto em meio a tantos."*
O ônibus deu uma curva brusca, e o movimento repentino fez Edu perder o equilíbrio. Seus pés deslizaram e, em um reflexo desesperado, ele se chocou contra o corpo do homem à sua frente, caindo levemente contra ele. A sensação foi quase surreal, o contato com a pele quente, a força do corpo que o segurou. A proximidade foi inesperada, e Edu sentiu a pulsação acelerada, como se o tempo tivesse desacelerado ali, naquele espaço apertado.
**Diego**: (com uma risada abafada, a voz rouca e cativante) – Cuidado, cara. Se continuar assim, vai acabar caindo no meu colo.
O tom de Diego, meio brincalhão, fez Edu corar imediatamente. Ele se afastou rapidamente, tentando disfarçar o desconforto, mas seu rosto queimava. *“Que vergonha… o que eu estou fazendo?”* Ele pensou, sem saber ao certo se estava mais envergonhado pela situação ou pelo calor que o corpo de Diego despertou nele.
**Edu**: (balbuciando) – Eu... eu que devo pedir desculpas. Acho que vou precisar de uma aula de como andar nesse ônibus.
Diego sorriu de maneira tímida, quase como se aquele sorriso fosse a chave de um segredo que ele não estava disposto a revelar. Mas havia algo naquele sorriso, algo intenso, que fez Edu sentir um calor estranho em seu peito, como se fosse um fogo que ele não sabia como apagar. Era um olhar cheio de mistério, mas também de algo mais – uma dor ou talvez uma paixão reprimida.
**Diego**: (encolhendo os ombros, em tom despreocupado) – Não foi nada. O ônibus é sempre um desafio. A gente aprende a se acostumar com o caos.
Edu tentou se afastar, mas a distância física entre eles parecia aumentar ainda mais a tensão no ar. Algo naquele encontro parecia ser mais do que uma mera colisão acidental. A maneira como Diego o olhou, a forma como ele falava... algo ali parecia muito mais carregado do que simples palavras trocadas por educação. Como se, entre aqueles olhares furtivos e os corpos apertados, houvesse uma história por trás, algo guardado e não dito, esperando para ser revelado.
**Edu**: (tentando quebrar o silêncio, sorrindo nervosamente) – Acha que algum dia eu vou me acostumar com isso?
**Diego**: (levantando uma sobrancelha, num tom de provocação) – A adaptação no transporte público é uma arte. Quem sabe um dia você consiga dominar.
Edu riu, mas foi um riso tenso, um riso que soou mais como um disfarce para o que ele realmente estava sentindo – um turbilhão de emoções misturadas. Algo nele, algo profundo, queria mais. Ele sentia uma conexão, uma necessidade irresistível de descobrir quem era aquele homem e o que ele representava. Mas ao mesmo tempo, algo dentro dele o alertava: *“Isso é loucura. Você está apenas sendo influenciado por um simples olhar.”*
Mas a cada curva do ônibus, o corpo de Edu se sacudia levemente, e o calor de Diego parecia ser o único ponto fixo, o único centro de gravidade no meio daquele caos. Eles estavam tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distantes. O ônibus parou mais uma vez, e novos passageiros subiram, criando uma onda de movimento que afastou Edu por um momento de Diego. Mas seus olhos não conseguiam se desviar dele. A cada parada, a cada agitação, ele sentia uma atração crescente, uma sensação de que algo estava prestes a acontecer, que aquele momento fugaz entre eles não seria o último.
**Edu**: (pensando, tentando entender o que estava acontecendo) *“Será que ele sentiu o mesmo? Ou será que sou só eu, tentando ver algo que não existe? Talvez eu esteja me enganando. Talvez ele seja só mais um desconhecido. Mas por que, então, eu não consigo parar de pensar nele?”*
O ônibus parou novamente, e Diego se levantou rapidamente. Ele olhou para Edu, hesitou por um segundo, como se estivesse prestes a dizer algo. Mas, então, balançou a cabeça e se afastou, perdendo-se na multidão de pessoas que subiam e desciam. Edu ficou ali, parado, o peito acelerado, os dedos ainda levemente tremendo. O que acabara de acontecer? Por que a simples troca de olhares o fez sentir que havia algo mais ali, algo por trás daquela fachada dura e silenciosa? Ele não sabia a resposta, mas a sensação de que aquele não seria o último olhar que trocariam continuava martelando em sua mente.
**Diego**: (sem olhar para trás, sua voz se perdendo na agitação) – Valeu pelo aviso, cara.
E com isso, ele se foi. Mas a imagem de Diego ficou gravada em Edu, como uma marca, uma tatuagem invisível em sua alma.
_Continua_