O salão estava cheio, as luzes suaves criavam um ambiente acolhedor e o cheiro de café pairava no ar. O evento na igreja tinha a temática da amizade e do acolhimento, um lugar onde todos se sentiam em casa, independentemente de sua jornada pessoal. Gustavo, de cabelos castanhos e olhar sério, estava ali apenas para cumprir com a sua fé e com o compromisso que sua família esperava dele. Nascido e criado em um ambiente profundamente religioso, ele carregava o peso de tradições familiares e um senso de dever que o fazia se sentir sempre observado, como se estivesse sendo constantemente testado. Ele se aproximou de um grupo de pessoas, mas logo se sentiu deslocado, como se estivesse participando de algo que não terminava de ser inteiramente seu.
Foi quando Jhonny, seu amigo de longa data, se aproximou com um sorriso de canto de boca, como quem sabia exatamente o que precisava fazer para tirar Gustavo daquele lugar de desconforto.
**Jhonny**: (com um sorriso travesso) – Gustavo, deixa de ser tímido, esse evento é pra você, cara! Eu vou te apresentar alguém, acho que vocês vão se dar bem.
Gustavo sorriu sem muita convicção, mas seguiu Jhonny até um grupo mais afastado, onde o som ambiente parecia um pouco mais abafado. Lá, em meio a conversas e risadas descontraídas, estava Fhelippe. Um homem de pele morena, cabelos escuros e ondulados, vestindo uma camisa de botão de tom claro, parecia tão à vontade ali, como se o ambiente fosse feito para ele. Seus olhos castanhos brilharam quando Jhonny o chamou, e Gustavo sentiu uma espécie de calafrio percorrendo sua espinha, embora não soubesse exatamente o motivo.
**Jhonny**: (apontando para Fhelippe) – Esse aqui é o Fhelippe, cara. Ele também é da igreja, mas tem uma visão um pouco mais... aberta sobre as coisas. Fhelippe, esse é o Gustavo, o meu amigo de infância. Ele é aquele cara super religioso, sabe?
Fhelippe deu uma risada suave e apertou a mão de Gustavo com um olhar curioso, quase como se estivesse observando cada reação sua. Havia algo em seu sorriso, algo enigmático, que fez Gustavo se sentir um pouco mais exposto do que gostaria. Fhelippe parecia gostar de ouvir as pessoas, de fazer perguntas que ninguém esperava, mas, ao mesmo tempo, mantinha uma distância quase estratégica, como se ainda não estivesse certo de até onde poderia ir.
**Fhelippe**: (com um tom suave, mas direto) – Prazer, Gustavo. Jhonny me falou bastante sobre você. Então, você é o homem da fé, né? Eu sou mais... digamos, um tipo de cético espiritual. Mas a gente pode conversar mais sobre isso, sem pressões, claro.
Gustavo se sentiu desconfortável com a forma como Fhelippe disse aquilo, como se estivesse se colocando em uma posição onde seus próprios limites seriam desafiados. No entanto, a maneira tranquila de Fhelippe, seu tom de voz quase melódico, fez com que uma parte dele se sentisse atraída, mas também em alerta. Não sabia se poderia confiar em seus próprios sentimentos, ainda mais em um ambiente tão carregado de dogmas e regras.
**Gustavo**: (tentando soar natural, mas sem esconder a apreensão) – É... é uma forma de viver, né? A fé é um caminho pessoal. Acho que todo mundo tem a sua forma de... buscar respostas.
Fhelippe observou Gustavo com mais atenção, como se estivesse tentando ler algo além das palavras. Havia uma curiosidade nos olhos dele, uma chama de interesse que Gustavo não soube identificar se era apenas amizade ou algo mais profundo. O ambiente ao redor parecia desaparecer quando os dois trocaram aquele primeiro olhar mais prolongado. O som das conversas ao fundo se tornou um mero murmúrio, e o tempo, por um momento, parecia ter desacelerado.
**Fhelippe**: (com uma leve inclinação na cabeça) – Verdade. E, às vezes, a resposta vem de lugares inesperados. Talvez a gente precise questionar um pouco mais para entender o que realmente acreditamos, não é?
Gustavo engoliu seco. Ele sabia que Fhelippe estava tocando em algo delicado, algo que ele preferia não discutir, especialmente com alguém que mal conhecia. No entanto, havia algo naquele tom convidativo de Fhelippe, algo que o desafiava e, ao mesmo tempo, o fazia querer se abrir, falar mais sobre suas próprias dúvidas. Ele se sentiu dividido entre o que a educação religiosa dele dizia para fazer e o que seu corpo, por algum motivo, começava a sugerir.
**Gustavo**: (tentando manter a compostura, mas com uma tensão crescente em seu peito) – Sim, é... a vida é feita de questionamentos, eu acho.
**Fhelippe**: (com um sorriso irônico, quase provocante) – E será que a sua vida está livre de questionamentos, Gustavo? Acho que você carrega mais perguntas do que imagina.
O comentário de Fhelippe, embora dito com leveza, tocou uma ferida que Gustavo não sabia que ainda estava aberta. Ele sentiu uma pressão no peito, como se uma parte de si estivesse à flor da pele, querendo gritar, querendo dizer algo que há muito tempo se mantinha guardado. Mas ele não sabia como expressar aquilo, como lidar com esse turbilhão de emoções que começava a se formar dentro dele.
O evento seguiu, mas entre risos e conversas descontraídas, Gustavo e Fhelippe continuaram a se observar de longe, cada um em seu mundo, mas com um fio invisível que os conectava. Quando o evento finalmente chegou ao fim, as luzes foram diminuindo e as pessoas começaram a se dispersar, Jhonny os reuniu novamente.
**Jhonny**: (com um sorriso no rosto) – Então, que tal vocês trocarem os contatos? Assim, quem sabe da próxima vez a gente pode se encontrar para conversar mais, sem ser em um evento da igreja. Eu sei que tem muito mais para descobrir aí entre vocês dois.
Gustavo, sentindo uma mistura de nervosismo e curiosidade, pegou o celular e passou para Fhelippe o número. O toque de suas mãos foi breve, mas significativo. Algo se cruzou naquele instante, como um sinal que ninguém queria admitir, mas que, por algum motivo, estava ali. Fhelippe sorriu de forma discreta, mas seus olhos não deixaram de brilhar por um segundo.
**Fhelippe**: (com um sorriso suave, quase enigmático) – Eu vou te chamar, Gustavo. E, quem sabe, a gente consegue tirar essas dúvidas um do outro, sem pressões, sem máscaras.
Gustavo se afastou, sentindo o calor de Fhelippe ainda em sua pele. Ele tentou desviar os pensamentos, tentar entender o que exatamente estava acontecendo dentro dele. Nunca pensou que um simples encontro como aquele poderia despertar tantas emoções conflitantes. Mas algo dizia que aquilo era apenas o começo de algo mais complexo, mais profundo.
Enquanto as ruas vazias da cidade o envolviam, Gustavo sabia que, de alguma forma, aquele momento mudaria o curso de sua vida. E talvez, sem perceber, ele estivesse começando a atravessar os limites da sua própria fé.
_Continua_