5. Cássio
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Fazia um mês que Denise dera um "não" definitivo e inabalável ao filho, proibindo-o, ainda por cima, de voltar a tocar no assunto – um verdadeiro balde de água fria nas esperanças do rapaz.
Um mês, um mês inteiro. E o filho, que se declarava tão apaixonado, parecia ter desistido com tanta facilidade, pensava Denise. Para piorar, agora tinha virado rotina: todos os fins de semana ele queria ir à casa do pai, algo que antes não era assim. "Será que ele está me evitando?", questionava-se, temendo estar afastando o filho por ser uma mãe chata.
Para piorar, velhas inseguranças ressurgiram, incomodando Denise. Será que viveria solteira para sempre? Não deveria procurar alguém? Desde o término com o pai de Beto, quando este tinha apenas quatro anos, não se envolvera com ninguém. Apesar de consciente de sua beleza, ser mãe solteira parecia afastar os pretendentes. E além disso, sempre que percebia algum interessado, Denise o evitava. A razão, no fim das contas, era o filho: ela considerava injusto impor a Beto a convivência com um estranho.
Por mais que tentasse, Denise não conseguia silenciar esses pensamentos. A todo momento, questionava-se se o filho tinha alguma namorada. Mas, afinal, qual a importância? Será que estava com ciúmes do próprio filho? E por quê? Tudo era muito confuso para Denise.
"Ele nem gosta de mim de verdade, porque quem gosta não desiste tão fácil. Não que eu queira algo com ele, obviamente, mas...", pensava ela, estendendo roupas no varal.
"Toda mulher gosta de saber que alguém está apaixonado por ela... O que tem de tão errado em me sentir bem?... Embora ele não esteja mais apaixonado por mim", refletia enquanto picava alimentos na pia.
"Vou acabar sozinha, sim, porque fico querendo escolher demais", resmungou, fechando com irritação o livro que não conseguia ler, perdida em seus pensamentos.
- Aff! Isso está acabando com minha cabeça! Que ódio!
Denise então se levanta e faz aquilo que era bem raro: ligou para o pai de Bruno.
O telefone tocou insistentemente, até Denise quase desistir.
- Alô? Denise? Pode falar! - ao fundo, o barulho típico de uma partida de futebol na televisão.
- Oi, Cássio, tudo bem?
- Tudo ótimo, Denise, e você?
- Sim, sim... Liguei pra saber se o Beto está bem.
- Sim, está no quarto. Por quê?
- Não sei, Cássio, ele anda meio desanimado ultimamente. Estou um pouco preocupada, sabe?
- Sei, eu também percebi. O que você acha que é?
Pela primeira vez, Denise considerou a possibilidade de o filho ter contado algo ao pai, sobre todas as coisas que haviam acontecido
- Não sei, ele te disse alguma coisa?
- Não, nada para mim.
- Hum, entendo. Bem, achei que talvez você pudesse me ajudar a entender...
- Talvez eu possa, se você me disser mais, Denise.
Denise precisava desabafar. Cássio não era a pessoa ideal, mas ela não conseguia pensar em ninguém mais. Além disso, já havia entendido que esse assunto não causaria constrangimento a ninguém.
- Sabe o que é, Cássio? Acho que é alguma paixonite.
- Bom, para falar a verdade eu pensei nisso também, mas, acho meio difícil, viu? Rapazes que têm mães bonitonas assim não passam pela fase das paixonites, sabe?
- Quê? Como assim?
- ... É que se for um rapaz que não sabe nem o que é um beijo, claro que vai ficar mais vulnerável e “sofrer de amor” nessa idade. Mas para quem já tem essas coisas em casa, como no caso do Roberto, que sempre viveu com você, acho mais difícil ser feito de bobo por alguma garota.
- Cássio, eu ainda não compreendi o seu ponto, sinceramente - ela havia entendido sim, mas mentia para si mesma, para que o assunto fosse por esse caminho.
- Eu só estou dizendo, Denise, que vocês dois, dando uns beijinhos de vez em quando e coisas assim, que acabam acontecendo pela própria convivência, faz com que ele não seja tão bobo com as garotas… porque de alguma forma ele já tem essas coisas em casa, rs. Por isso eu disse que filhos que têm uma mãe bonita têm essa vantagem.
Denise escuta tudo pacientemente. Então era isso. Cassio, e provavelmente muita gente, achava que ela e o filho trocavam afetos desse tipo.
- Mas Cássio, você está muito enganado, eu nunca tive essas coisas com seu filho
- Eu sei que você não tem, mas estou dizendo apenas uma coisinha aqui e outra ali, coisas que acabam acontecendo mesmo, entendeu?
- Não, eu nunca fiz nada com seu filho
- Ôxi, sério?
- Sim
- Tá, mas... Nada, tipo, nada mesmo? - ele pergunta com voz de descrença
- Nada, Cássio, isso é tão incomum assim?
- Lógico, né? Será que ele é gay?
- …
- Tipo… Vocês nunca deram nem um beijo???
- Não, Cássio
Por um instante, uma pergunta indiscreta cruzou a mente de Denise: qual era o real objetivo daquela ligação? Será que, no fundo, ela só queria alimentar seus pensamentos com mais informações sobre o filho?
- Nossa… e eu sempre achei que vocês se dessem super bem - diz Cassio.
- Mas a gente se dá bem, Cássio
- Hum… Então, nesse caso, já que vocês nunca deram uns beijos, talvez seja mesmo uma paixonite
- Um tempo atrás ele foi na casa de uma amiga para arrumar o computador dela. Talvez seja ela, não?
- Ah, não! Definitivamente não! Se ele estiver apaixonado alguém, só pode ser por você, Denise! Se liga, né? Acorda! haha.
Um sorriso escapou dos lábios de Denise, que imediatamente se envergonhou. Era como se sua máscara, a máscara que usava para si mesma, tivesse caído. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma profunda emoção ao perceber que o filho provavelmente ainda nutria sentimentos por ela.
- Ah, não, eu acho que não, Cássio...
- Ah, para Denise! Eu já tive a idade dele e também tive uma mãe lindona! hahaha
- Cred… - ela ia dizer "credo", mas cada vez mais percebia que era estranho dizer algo assim para algo considerado tão normal - Entendo. Então você e a dona Lourdes "ficavam"???
- Sim, ela foi meu primeiro crush, lógico!
Essa imagem Denise não conseguiu processar
- Hum… Mas… De qualquer forma, Cassio, ele não é muito novo pra mim?
Pela primeira vez Denise chegava a esse ponto, e estranhamente sentia uma boa sensação, algo bem adolescente nascer dentro dela, como naquela época em que era tão gostoso gostar de alguém
- Ah, mas você é nova, Denise! Mas por que a pergunta? Está de olho nele? Hahaha
- Eu? É claro que não, bobo, rs
- Aham! haha. É óbvio que você tá a fim dele, rs
Denise fica vermelha como pimentão. Mas também pudera, aquela ligação não tinha sentido, era só um pretexto para falar de Beto e isso tinha ficado evidente.
- Não, senhor! Só liguei porque…
- Denise, é óbvio que você tá a fim, rs. Posso dizer uma coisa?
- Pode
- Vocês combinam pra caralho.
-... Você acha mesmo? rs - ela não notava, mas enquanto segurava o celular com uma mão, com a outra fazia cachinhos no cabelo com o dedo indicador, como uma adolescente bobinha e encantada.
- Sim, acho sim, Denise. Vocês fariam um lindo casal
- Cássio, eu estou pedindo sua opinião de verdade, hein? Você realmente acha isso?
- Acho sim, Denise, estou sendo super sincero. E pra ele ia ser muito bom, seria ótimo para o desenvolvimento dele.
- Em que sentido?
- Bem, acontece com todo mundo que namora a mãe. Uma coisa é ser filho, outra coisa é ser namorado da mãe. Pode ter certeza que logo ele vai querer um emprego, para poder sair com você, comprar presentes… Vai te ajudar na casa, etc., porque vai ser uma relação mais completa, onde ele vai continuar a te ver como mãe, mas também como namorada, noiva, etc.
O coração de Denise pula. Em um segundo ela pensa em si mesma com roupa de noiva.
- Entendi… Você acha que eu deveria, sei lá, dar uma oportunidade a ele?
“Não acredito que estou falando isso” - ela pensa
- Lógico. Na verdade eu achava que isso já acontecia, estou bem surpreso, até.
- rs
Os dois conversam um pouco mais antes de desligarem. Ao término, Denise já havia se decidido a pensar nisso pelo menos no campo da possibilidade. O filho era bonito, gentil… E acima de tudo, não havia nada de errado em uma mãe namorar o filho. Talvez fizesse mesmo todo o sentido, já que ninguém podia cuidar melhor de um filho do que a própria mãe.
Já era hora do jantar, quando Cássio chamou o filho no quarto:
- Você dormiu a tarde toda ou tava só batendo punheta? Hahaha
- kkk. Que nada, pai, eu tava vendo um filme, rs
Eles jantam e conversam sobre várias coisas, mas antes de saírem da mesa Cássio tenta uma abordagem:
- Filho, e seu relacionamento com sua mãe, como tá?
- Ah, o de sempre, pai… nada demais
- Sabe o que eu estava pensando? Você já tá na idade de namorar, bicho. Por que não chama ela pra sair?
- Ah, acho que não dá - diz ele tímido
- Você já a chamou?
- Não, mas… já levei uns foras dela, rs
- Sério? Kkk. Isso acontece, filho, é normal, mulheres são assim mesmo. Mas sei lá…. Você gosta dela mesmo ou só quer dar uma comida?
- Porra, pai, não fala assim, né? Kkk
- Hahaha
- Bem, eu já gostei, mas hoje em dia não - ele tenta despistar
- Você não sabe nem mentir, rs
- Kkk. Eu tô falando sério, pai
- Sei, rs. Toma aqui, filho. Não é muito, mas dá pra você sair com sua mãe. Mas para isso você tem que primeiro convidá-la - diz ele, dando trezentos reais ao filho
- Valeu, pai, mas não posso aceitar
- Ô, caralho, não dificulte as coisas, pegue esse dinheiro!
- Pai, ela não vai aceitar…
- Você gosta dela ou não? Se disser que não, tudo bem.
- … Eu gosto
- Então deixa de ser frouxo e convida ela para sair!
Beto pega o dinheiro um pouco sem graça
- Obrigado, pai
- Já tem ideia do que fazer? Vou te dar o caminho das pedras: você compra uma calcinha para ela e…
- Ah, pai, para de graça! Kkk
- Tô brincando, não seja um escroto com ela, rs
- Eu acho que sair comigo vai ser mais difícil. É mais fácil eu fazer um jantar e comprar um presente pra ela… Quando ela chegar vai ficar surpresa, rs
- É, pode ser uma boa. E filho… use camisinha
- Eu sei, pai, rs
Após esses acontecimentos, Beto ansiava pelo retorno ao lar. Ao chegar, sentiu suas esperanças revitalizadas. O ambiente entre ele e sua mãe estava bem mais ameno, restando apenas um leve embaraço.
Os dias se passam e algumas conversas interessantes surgem entre eles:
- … Eu achei que você estava namorando aquela moça do curso de inglês... - instiga Denise
- Não, eu não namoraria alguém sem te dizer. Sabia que antigamente eu vivia me perguntando se a senhora tinha algum namorado escondido? rs
- Sério?
- Quando eu tinha uns dez, onze anos, sim. Depois entendi que você não ia namorar mais
- Você acha que eu não tenho mais idade para namorar, é? Eu não estou tão velha assim, filho
- Não foi isso o que eu quis dizer. Aliás, entre todos os meus amigos, eu sou o que tem a mãe mais nova
- Hum…
- E o que tem a mãe mais bonita também.
- Obrigada - ela cora
- …
- …
Os dois ficam constrangidos novamente, mas Denise soube retomar:
- Ainda estou na idade de encontrar alguém, eu acho
- Sim, com certeza, mãe
- Só falta encontrar a pessoa certa pra mim…
- É…
- Alguém que tenha paciência comigo…
- SimQue queira algo sério de verdade, e não apenas entretenimento
- Com certeza
- … E… tem que ser alguém que não desista fácil, sabe? Tipo, se a pessoa gosta de verdade, ela não desiste fácil… não é?
- Claro, concordo, mãe
"Mano, esse é o meu momento, tenho que aproveitar. Sei que ela vai me dar uma bronca, mas foda-se, tenho que tentar só mais essa vez. Pai, essa é por você!"
- Mãe, se eu não fosse seu filho, a senhora aceitaria namorar comigo?
-… Beto, a questão não é você ser meu filho... Até porque não tem nada demais uma mãe namorar seu filho, oras. Eu namoraria você sim, por que você é especial, sabe?
- Então por que não aceitou quando pedi?
- É que… não sei, eu tenho medo
- De quê?
- De sofrer
-...
A conversa termina depois de algum tempo e o dia termina.
……………………..
Um dia depois, às 18h.
O nhoque tinha ficado perfeito, graças ao tutorial do YouTube e aos produtos de qualidade que ele pôde comprar com o dinheiro ganhado do pai. O vinho e tudo o mais já estavam à mesa. A casa estava inteirinha arrumada e a meia-luz das velas ambientavam a sala de jantar, dando um tom cordial. A música instrumental romântica rolava bem baixinha. Agora só faltava a mãe chegar. Beto estava ansioso, mas não tanto quanto achou que ficaria.
A fechadura faz o barulho característico e Denise entra, deslumbrante, como sempre acontecia quando vinha da casa de alguma amiga. O vestido preto tubinho delineava seu corpo com exatidão e entregava um decote generoso; o salto vermelho, o mais alto que ela tinha, que empinava seu bumbum ao máximo; seu cabelo parecia mais radiante que o normal.
- Filho, cheguei! - ela anuncia, como sempre fazia
- Oi, mãe - Roberto se apresenta em sua roupa social, de alinhamento impecável: camisa branca, gravata verde musgo, calça preta e sapato. O cabelo bem penteado, o perfume bem masculino, como ele sabia que Denise gostava.
Ela se surpreende:
- N... Nossa, filho, como você tá lindo! - toda desconcertada - Aonde você vai???
- A lugar nenhum, mãe - ele estende a mão para ela, esperando que ela aceitasse.
Ela entrega a mão ao filho sem entender direito o que estava acontecendo e Beto a conduz gentilmente até a sala de jantar. As duas mãos dela vão à boca assim que vê aquela ambientação.
- Filho!… Você…
Roberto então faz como tinha ensaiado o dia inteiro: abraça a mãe por trás, com ternura, sem se aproveitar, enquanto ela vibrava com aquela mesa tão lindamente posta, ambientada com a música instrumental mais linda. A voz rouca do filho em seu ouvido a fez estremecer todinha:
- Mãe… fica comigo?
O coração dela explode, como o de uma adolescente apaixonada.
- Filho… - ela tenta dizer, sem desvincular seu corpo do dele
- Eu vou ter paciência, mãe, eu juro… - a voz mais rouca e ainda mais baixinha no ouvido - Toda a paciência...
Denise estava explodindo de paixão. Ela gira o corpo e encara de frente o filho que um dia gerou. Beto não se intimida e continua olhando em seus olhos. As mãos de Denise no peitoral do filho; as mãos de Beto ambas no quadril da mãe.
Olhos nos olhos.
O rosto de Beto parecia estar mais próximo, mais próximo, mais próximo…
Lábios nos lábios.
"Meu filho, eu te amo" - ela pensa, sentindo suas emoções explodirem como fogos de artifício
O beijo começa tímido, mas decidido, e ia crescendo até que já fosse um beijo de gente adulta, ainda que de forma respeitosa e contida
Língua na língua.
O beijo fica mais saboroso, mas Roberto sabia que não podia avançar nem ser apressado. "Não seja escroto com ela", seu pai havia dito. Seu pau estava duro como pedra, mas fez com que encostasse na mãe.
- Eu te amo, mãe!
- Eu te amo, filho… eu… eu aceito!
- Esse é o melhor dia da minha vida, então!
- Filho...
- Oi, mãe...
- Obedeça à sua mãe agora. Me beija direito!