Era uma sexta-feira à noite, e o escritório onde Carlos e Daniel trabalhavam havia fechado mais cedo. O clima de fim de expediente havia tomado conta do lugar, e, em vez de partir para suas rotinas pessoais, eles se encontraram em um barzinho tranquilo, um lugar discreto, onde as paredes acolhiam confidências e os olhares podiam ser mais livres.
Carlos estava sentado em uma mesa no canto, com a vista da cidade iluminada ao fundo. Seus dedos estavam trêmulos enquanto seguravam o copo de vinho, uma tentativa de relaxar, mas sua mente não parava de viajar para o que estava prestes a acontecer. Ele sabia que havia algo não dito entre ele e Daniel, algo mais forte que as palavras, algo que os dois sentiam, mas nunca tinham falado. Uma tensão no ar que sempre existiu, mas que parecia se intensificar a cada olhar furtivo trocado.
Daniel entrou no bar com sua energia contagiante, sorrindo e cumprimentando todos ao seu redor. Ele era o tipo de pessoa que dominava qualquer ambiente, mas Carlos sabia que, por trás daquele sorriso fácil, havia também uma camada de vulnerabilidade, algo que ele raramente deixava transparecer. Daniel se aproximou da mesa de Carlos, os olhos se encontrando em um momento silencioso, carregado de significado.
— Você demorou... — Carlos disse, tentando soar casual, mas sua voz traiu a ansiedade.
— Eu? Só estava vendo a vista lá fora... — Daniel riu, se sentando com naturalidade, mas com os olhos fixos em Carlos de uma maneira que fez o coração do homem acelerar. — Você está bem? Parece meio distante.
Carlos respirou fundo, tentando manter o controle.
— Só pensando... Você sabe como é, né? — Ele deu um sorriso forçado. — Eu... não sou muito bom em sair dessa zona de conforto.
Daniel olhou para ele com um olhar mais atento, como se percebesse mais do que Carlos queria mostrar.
— Eu sei. Às vezes a gente precisa sair um pouco de onde se sente seguro... E se jogar. — Daniel inclinou-se levemente para frente, seus lábios curvados em um sorriso misterioso.
Carlos engoliu em seco, sentindo a temperatura do ambiente aumentar. Eles estavam a centímetros de distância, e cada palavra, cada gesto de Daniel, parecia intensificar a tensão entre eles. O silêncio que se seguiu foi carregado, mais denso que qualquer conversa.
Daniel então tocou levemente o braço de Carlos, uma simples troca de gestos, mas que fez o corpo de Carlos se arrepiar.
— Eu... — Carlos começou a falar, mas a voz falhou. Ele não sabia o que dizer. As palavras pareciam inadequadas diante do que estava acontecendo entre eles. — Não sei o que estou fazendo aqui.
— Está aqui porque quer, Carlos. — Daniel respondeu com um tom baixo, quase um sussurro, fazendo com que o nome de Carlos soasse íntimo. — E se a gente não tentar agora, quando vai ser?
Carlos ficou parado por um momento, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Ele sentia a atração, o desejo, mas ao mesmo tempo, uma onda de medo tomava conta dele. Ele temia a rejeição, temia se entregar a algo que não sabia se estava preparado para enfrentar. Mas algo em Daniel parecia chamá-lo para esse momento. Algo que ele não conseguia resistir.
Com um movimento hesitante, ele alcançou a mão de Daniel sobre a mesa. Seus dedos se tocaram brevemente, antes que ambos se olhassem, o olhar de Carlos buscando respostas que Daniel não podia dar. Mas, naquele momento, as palavras eram desnecessárias.
— Eu não sei se sou capaz de... — Carlos começou novamente, mas foi interrompido pela mão de Daniel que envolveu a sua, apertando levemente, como se dissesse "estou aqui".
— Não precisa saber agora. Só... deixa acontecer. — Daniel sussurrou, a voz rouca, carregada de algo mais profundo, mais sincero.
E então, sem mais palavras, os dois se inclinaram para frente, o espaço entre eles se fechando. O toque se tornou mais firme, os lábios de Daniel tocando os de Carlos com suavidade, mas também com uma urgência que não podiam mais ignorar. O beijo foi tímido no começo, os dois incertos, como se estivessem testando os limites do que podiam compartilhar. Mas logo o medo foi superado, e os lábios se encontraram com mais confiança.
Carlos sentiu a tensão se dissipar em seu corpo, o medo que o paralisava derretendo sob o toque de Daniel. Ele não sabia como, mas se entregou àquele momento, deixando-se levar pela sensação, pelo prazer que estava finalmente descobrindo. As mãos de Daniel exploravam seu corpo com um toque delicado, mas firme, enquanto Carlos correspondia com uma intensidade que o surpreendia. Era como se, ao mesmo tempo, ele estivesse se descobrindo e se entregando a algo maior do que ele imaginava ser capaz.
O beijo se interrompeu por um momento, e os dois se olharam novamente. Havia algo de vulnerável nos olhos de Carlos, algo que Daniel soubera perceber. Ele sorriu de forma suave, os dedos acariciando a face de Carlos com ternura.
— Eu não vou te julgar. — Daniel disse, a voz tranquila, mas cheia de sinceridade.
Carlos fechou os olhos, sentindo uma mistura de alívio e temor. Ele havia se entregado a algo que não compreendia completamente, mas que o fazia sentir-se, pela primeira vez, inteiro. Ele havia superado o medo, e, ao fazer isso, descobriu algo muito mais profundo: uma conexão verdadeira, algo que ia além do desejo físico, algo que o fazia sentir que, finalmente, poderia ser ele mesmo.
Daniel o observava com uma expressão que Carlos ainda não conseguia ler completamente, mas que o fazia sentir-se seguro, mesmo na vulnerabilidade daquele momento.
— Não precisa de pressa, Carlos. Nós temos tempo. — Daniel falou, suavemente, enquanto seu polegar acariciava a pele de Carlos.
Carlos sorriu, um sorriso tímido, mas genuíno. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas naquele instante, o único que importava era a conexão que estavam criando, e como ela o fazia se sentir, pela primeira vez, em paz com quem era.