O barulho das folhas secas sendo sopradas pelo vento anunciava a chegada de mais uma tarde de sábado. Gustavo e Fhelippe estavam sentados em um banco no parque, afastados da movimentação da cidade. As folhas dançavam ao redor deles enquanto conversavam sobre filmes e livros, mas havia algo no ar, algo que os dois já não podiam mais ignorar. Gustavo sentia a pressão crescer em seu peito, a vontade de se abrir para Fhelippe, mas também o medo. Medo de que tudo aquilo acabasse, medo de que seus sentimentos fossem rejeitados.
Fhelippe olhou para Gustavo, como se estivesse esperando algo, mas também sem saber exatamente o que fazer com o que sentia. Ele não conseguia negar a atração, mas sua mente estava cheia de perguntas sem respostas.
— Gustavo, você já percebeu como o tempo parece passar mais devagar quando estamos juntos? — Fhelippe perguntou, quebrando o silêncio, a voz suave, quase um suspiro.
Gustavo deu um sorriso tímido, os olhos brilhando com algo que ele não conseguia mais esconder.
— Sim, parece que o mundo lá fora desaparece, né? Eu... me sinto bem com você. — Ele olhou para baixo, as palavras saindo com um peso inesperado.
Fhelippe virou o rosto para ele, a intensidade do olhar deles se encontrando por um instante, carregado de algo mais. Algo que não podia mais ser ignorado. Mas Fhelippe não sabia como lidar com isso. Ele se afastou ligeiramente, desvia o olhar.
— Eu também me sinto bem, Gustavo. Mas... — Fhelippe fez uma pausa, os olhos buscando as palavras certas. — Eu tenho medo. Medo de nos envolvermos mais e depois sofrer com isso.
Gustavo franziu a testa, sentindo um nó apertar em sua garganta. Era a resposta que temia, mas não conseguia deixar de sentir uma dor. Ele respirou fundo, tentando esconder a frustração.
— Eu... entendo. Eu só... — Ele hesitou, tocando a mão de Fhelippe suavemente, mas Fhelippe retirou a mão rapidamente. A tensão aumentou, como se o ar entre eles tivesse mudado.
— Gustavo, você é muito importante para mim, mas eu preciso de mais tempo. Eu não sei se estou pronto para isso. — Fhelippe disse, o tom firme, mas também marcado por uma dor que ele tentava esconder.
Gustavo engoliu em seco, o coração apertado. Ele queria dizer algo, algo que fizesse tudo aquilo passar, mas as palavras não vinham. Ele apenas acenou, sem conseguir esconder o olhar magoado. Fhelippe olhou para ele, uma expressão de tristeza no rosto, e se levantou rapidamente.
— Eu... vou dar um tempo. — Fhelippe falou, afastando-se sem olhar para trás.
**No dia seguinte**
Gustavo estava sozinho em seu apartamento, as paredes vazias e frias ao seu redor, refletindo o turbilhão de sentimentos dentro de si. Ele andava de um lado para o outro, os pensamentos dominando sua mente. Ele pensou em Fhelippe, em como o beijo que nunca aconteceu estava marcado em sua memória, e o quanto a rejeição daquele momento doía.
O que ele estava fazendo? De repente, algo dentro de Gustavo estalou. Ele precisava entender o que estava acontecendo com ele. Sua religião e sua família nunca aceitariam o que ele sentia, mas ele não conseguia mais ignorar. Ele se sentou no sofá, a cabeça girando. O som do telefone cortou o silêncio, mas ele não atendeu. Ele sabia o que queria, mas não sabia como lidar com isso.
A solidão que o envolvia naquele instante o empurrava para o desconhecido. A mente de Gustavo estava uma bagunça, as dúvidas o consumindo. No impulso de se distrair de seus pensamentos conflitantes, ele se levantou e caminhou até o quarto.
Foi quando, por acaso, viu o par de cuecas deixadas na lavanderia pelo seu vizinho, um homem atraente e confiante que sempre lhe lançava olhares furtivos quando se cruzavam no corredor. Gustavo sentiu uma pontada de excitação e uma profunda vergonha. Ele hesitou por um momento, mas sua curiosidade e desejo falaram mais alto. O cheiro inebriante que emanava da peça de roupa estava carregado de algo que Gustavo não conseguia mais controlar. Ele sentou-se na cama, com as cuecas nas mãos, sentindo a ansiedade crescer, como se aquele ato fosse uma forma de se reconectar com um desejo que ele não entendia completamente, mas que o dominava.
Mas ao mesmo tempo, ele sentia um peso. O peso da culpa. O peso das expectativas da sua família, da sua religião, e, acima de tudo, o medo de se perder em algo que ele não sabia se era certo. A confusão tomou conta dele, e, com um suspiro, ele jogou a cueca pela janela, como se tentasse apagar aquilo da sua mente.
Enquanto ele se deitava na cama, a sensação de vazio o envolvia. O que ele estava fazendo com sua vida? Ele sentia-se preso entre dois mundos, entre os desejos que se intensificavam e as expectativas que o esmagavam.
A porta do apartamento se abriu e seu irmão, Lucas, entrou, interrompendo os pensamentos de Gustavo. Ele percebeu a tensão no ar, mas não comentou nada. Sentou-se no sofá, começando a conversar sobre os planos da família para o domingo. Mas Gustavo não estava ouvindo. Seu olhar estava distante, perdido em seus próprios dilemas.
— Você está bem? — Lucas perguntou, notando a expressão de Gustavo.
— Não, eu não estou bem. — Gustavo respondeu, a voz baixa e tensa. Ele não conseguia mais esconder a dor. — Eu não sei o que fazer. Não sei se devo continuar com Fhelippe, ou se devo simplesmente... seguir o que minha família espera de mim.
Lucas o olhou com um olhar de compreensão, mas também de preocupação. Ele sabia o quanto a fé de Gustavo o pressionava, mas também sabia que seu irmão estava se perdendo em uma luta interna que não seria fácil de vencer.
**Naquela noite**, Gustavo não conseguiu dormir. Pensamentos sobre Fhelippe, sobre sua fé, sobre suas próprias necessidades e desejos o mantiveram acordado. O dilema estava claro em sua mente, mas a resposta, essa ele ainda não encontrava.
No fundo, ele sabia que não poderia mais ignorar o que sentia por Fhelippe, mas também sabia que aquilo poderia mudar tudo. O que ele faria agora?