Edu acordou com uma sensação estranha, como se o dia começasse diferente. O céu estava nublado, e a luz do sol se esgueirava pelas cortinas, como se também estivesse hesitante. Mas o que realmente o incomodava não era o clima ou a rotina do dia. Algo dentro dele, um incômodo sem explicação, o prendia, como um nó apertado em seu peito.
Ele se levantou lentamente, tentando afastar a ideia de que algo estava faltando em sua vida, como um buraco vazio que ele não sabia como preencher. Ao olhar no espelho, seu reflexo parecia distante. O que havia acontecido com a sua vida nos últimos meses? Onde estavam os sonhos, os sentimentos intensos que antes o moviam? Tudo parecia tão... monótono.
No trabalho, as conversas sobre campanhas publicitárias e métricas de performance flutuavam ao seu redor, mas sua mente estava em outro lugar. **Diego**. O homem que ele encontrou no ônibus. O estranho com o olhar penetrante. Como alguém tão simples, com tão pouco a oferecer, poderia dominar seus pensamentos daquela maneira?
"Edu, você está ouvindo?" A voz de Claudia, sua colega de trabalho, o trouxe de volta à realidade. Ela estava à sua frente, mexendo com alguns papéis. "A campanha do projeto X está nos dando bastante trabalho. Precisa revisar os dados, ok?"
Edu sorriu, tentando disfarçar a inquietação que tomava conta de sua mente. "Claro, vou olhar isso agora." Mas as palavras de Diego, a expressão dele, não saíam de sua cabeça. *‘Às vezes, as pessoas pensam que somos diferentes, mas no fundo, a gente é igual.’* Essas palavras ecoavam dentro dele. O que ele queria dizer com isso?
Quando o expediente terminou, ele mal se deu conta do tempo passando. Seus dedos agitaram as teclas do computador sem intenção, e logo se viu pegando seu casaco e indo em direção ao ponto de ônibus.
No caminho, Edu tentava se convencer de que estava apenas sendo curioso. Nada mais que isso. Mas, à medida que o ônibus se aproximava, uma sensação de destino inegável se apoderou de seus passos. Ele sabia que iria encontrá-lo de novo.
Ele subiu, respirando fundo. A mesma rotina, o mesmo percurso, mas tudo parecia diferente agora. Ele se posicionou perto da janela, tentando parecer casual, enquanto os passageiros embarcavam. O barulho das conversas se misturava ao som do trânsito, mas sua mente estava focada em um único ponto: Diego.
E então, ali estava ele, do outro lado do ônibus, o rosto absorto em sua música. Seus olhos estavam fechados, mas Edu podia ver, mesmo à distância, que havia algo profundo em sua expressão. Algo que o chamava.
Decidido, Edu atravessou o corredor do ônibus, sentindo os olhares alheios se voltando para ele, mas sem se importar. Quando chegou perto de Diego, hesitou por um instante. Seria estranho? Mas antes que ele pudesse dar um passo para trás, Diego abriu os olhos lentamente, como se tivesse sentido sua presença.
"Oi," Edu disse, tentando soar casual, sorrindo timidamente.
"Oi." Diego respondeu com um sorriso discreto, mas algo em seus olhos mostrava que ele não estava totalmente à vontade. "Está indo para o trabalho também?"
Edu assentiu, tentando disfarçar o nervosismo que se apoderava dele. "Sim, eu sou analista de marketing. E você?"
"Sou servente de pedreiro. Trabalho no prédio aqui perto." Diego não parecia se importar com a diferença entre seus mundos, mas sua expressão se tornava cada vez mais distante, como se evitasse aprofundar demais a conversa.
"Bem diferente, né?" Edu tentou dar um tom leve, mas a frase soou forçada, até um pouco triste.
"Às vezes, as pessoas pensam que somos diferentes, né?" Diego respondeu com um sorriso enigmático. "Mas no fundo, a gente é igual. Todo mundo tem sua luta, seu espaço. E no final, é só isso que a gente tem, não é?" Ele falava com um tom quase filosófico, e seus olhos pareciam olhar além de Edu, como se ele estivesse falando de algo que ninguém mais poderia compreender.
"Como assim?" Edu perguntou, intrigado. Ele se inclinou ligeiramente, tentando entender melhor.
Diego hesitou por um momento, seus olhos se desviaram para a janela do ônibus, como se estivesse procurando a palavra certa. "Não sei... é só que a vida tem uns jeitos engraçados de nos mostrar as coisas. A gente fica preso em uns lugares e não percebe até onde a gente foi parar. E então, talvez seja tarde demais." Ele deu um sorriso rápido, quase imperceptível, e olhou para o lado, como se sentisse que tinha falado demais. "Eu preciso descer agora. Meu ponto é logo ali."
Edu sentiu um arrepio ao ouvir aquelas palavras. Elas soaram como um aviso disfarçado de despedida. Como se Diego soubesse de algo que ele não entendia, algo que estava por vir. E o pior era que Edu sentia que ele não estava falando apenas da própria vida. Havia algo mais. Algo que tinha a ver com ele também.
"Claro, claro. Eu... também preciso descer." Edu falou rapidamente, tentando disfarçar a confusão.
Diego olhou para ele por um instante, seus olhos carregados de uma intensidade silenciosa. "Até logo," ele murmurou, antes de se levantar e sair do ônibus. Mas antes de sair, lançou um último olhar para Edu, como se estivesse deixando uma mensagem silenciosa para ele.
Edu ficou parado, observando o ponto onde Diego havia se ido. Seu coração batia forte, como se ele tivesse acabado de ser tocado por algo que ainda não sabia o que era. *Quem é Diego?* Ele sentia que não estava apenas diante de um homem comum. Havia algo mais, algo que estava sendo escondido, e ele estava determinado a descobrir o que era.
Enquanto o ônibus seguiu seu caminho, Edu permaneceu em silêncio, seus pensamentos em um turbilhão. O que ele faria agora? Onde essa história o levaria? Algo o dizia que o destino de Diego e o seu estavam entrelaçados, mas de que forma?
A resposta estava mais perto do que ele imaginava, mas Edu ainda não sabia.