Levantei-me e fui preparar um café para a gente. Um tempinho depois, ele surgiu já vestido e se sentou à mesa. Tomamos, comemos, conversamos mais um bom tanto e nos despedimos, não sem antes eu receber um convite:
- Vem jantar comigo hoje? Quero te mostrar meu cafofo.
- Você quer é me foder no seu cafofo, isso sim!
- Ué, se você der chance, fodo mesmo.
- Se for só para jantar, eu topo. Estou falando sério! Se você quer me reconquistar, vai ter que caprichar, porque sexo não é tudo e estou muito bem servida nesse quesito.
- É!? Então, o palmitão é um palmitão mesmo?
Comecei a rir de sua pergunta e mais ainda das minhas lembranças, pois o pau do Leo mais parecia um cogumelo, rosado e com a copa grande e vermelhinha:
- Tá rindo de quê? - Ele me perguntou.
- De nada, não! - Respondi, contendo-me e complementei: - Certo, um jantar entre amigos e nada mais, ok?
Parte 13 - Diagnóstico
Despedimo-nos e ele se foi. Passei a cuidar da minha vida e no horário de costume, fui para a escola. Antes de entrar, Leonardo me alcançou e ganhei um gostoso abraço e foi assim o dia inteiro. Não sei se inconscientemente, ele devia estar sentindo um certo risco de me perder e foi tão carinhoso que foi impossível não ouvirmos os comentários dos nossos colegas sobre estarmos namorando. Eu neguei, óbvio; ele também, mas sinceramente seu “não” tinha uma baita cara de “sim” e acabei ficando constrangida na frente da Geva:
- Relaxa, menina, Leo é um tesudo, digo, gostoso, digo, gato. Ah, eu não digo mais nada, acho que tô carente. - Ela resmungou, sorrindo para mim.
- Não é Geva, é que minha vida tá uma bagunça.
- Ué, por conta de um namorico com o bonitão da escola?
Eu precisava conversar e se tem alguém ali que saberia guardar um segredo seria ela, psicóloga de profissão. Aliás, talvez ela pudesse me ajudar a entender o que se passava na cabeça do Kaká ou pelo menos me dar um norte, sei lá. Pedi para conversar com ela a sós e ela me levou na mesma hora para sua sala que, por ser o horário da educação física dos meus alunos, me daria a chance de ter uma boa conversa. Lá contei tudo dos meus últimos três intensos dias e ela ficou boquiaberta. Assim que terminei e perguntei o que ela pensava, ela fechou a boca e só a abriu para ser profissional:
- Tá! Olha só, isso existe realmente. É uma fantasia bastante comum em grandes centros. O que me surpreendeu foi encontrar alguém com essa visão tão desapegada numa cidade pequena como a nossa.
- É coisa de louco, não é?
- Para, Verônica, claro que não! Nunca pense assim dele por ele ter uma fantasia, nunca mais. Para te falar a verdade, é até bem comum nos dias de hoje. Já pensou na coragem e confiança que o seu ex marido precisou buscar para abrir uma intimidade dessas com você? É algo fora do comum, ainda mais sendo você a ex esposa dele. Você pode se deixar levar pela fantasia e aproveitar ou simplesmente recusar, porque em matéria de intimidade, de sexualidade, o casal deve sempre estar de acordo. Não basta ele querer, você tem que querer também, no mínimo ter uma curiosidade para deixar rolar.
- Mas que é estranho, é…
- É, é sim. Entretanto, para e pensa, você pode ter ganhado na loteria, pois teria um marido que te ama e ainda teria a possibilidade de se divertir com outros ou outras, sozinha ou com ele. Isso é o sonho de quase todas as mulheres!
- Outras!? - Perguntei, assustada: - O que é isso, Geva!? Eu gosto de homem! Nunca fiquei com uma mulher, nem quero.
- Ótimo! Outros, então, mas aposto que se você topar, ele coloca uma outra na cama de vocês para ele e você se divertirem juntos também.
- Põe nada! Ele pediu para reservar nossa cama só para nós dois. Um local nosso, sabe? Algo puro em nosso relacionamento.
- Lindo isso, adorei! Isso provavelmente significa que ele quer manter um porto seguro para que vocês se lembrem do que realmente importa, ou seja, o relacionamento de vocês. Mas quando eu falei cama, só usei uma figura de linguagem, porque pode ser na cama, sofá, qualquer lugar.
- Entendi, entendi… - Disse e suspirei fundo: - Mas sinceramente, eu não sei.
- Você não precisa, nem deve responder nada agora. Pense, analise, imagine, fantasie quando estiver sozinha. Sabe aquele gato da academia que às vezes te encara? Se imagine com ele. Ou então com aquele galã de novela, ou um primo mais safado que todas nós temos, ou sei lá, qualquer um que te excite. - Ela parou por um instante, desviando o olhar para cima e me encarou em seguida com um sorriso genuíno, como se tivesse descoberto a cura para o câncer: - Internet! Procure ler sobre o assunto na internet, mas é preciso filtrar, porque tem sites sérios que orientam e tem aqueles que tentam apenas induzir, mostrando só o lado bom da coisa ou até mesmo relativizando os riscos. Quem sabe que possibilidades esse mundo novo não irá abrir para vocês.
- É…
Conversamos mais um bom tanto sobre esse tema e, apesar de não ser a área de atuação dela, acabou me abrindo a visão para uma perspectiva diferente. Além disso, ela me passou vários links de sites para que eu lesse a respeito desse tema e tomasse uma decisão mais bem fundamentada:
- Posso te perguntar uma coisa? - Perguntou a Geva, me encarando e eu assenti com um movimento de cabeça: - Você gosta do seu ex, está na cara, senão não teria ficado balançada com a proposta dele. Por que vocês se separaram?
Mesmo constrangida, fiz um rápido resumo do envolvimento do Kaká com a Sandrinha e depois da minha “vingança”, naturalmente sem entrar nos detalhes de quantidade e da sordidez dos atos. Ela balançou negativamente a cabeça quando falei do erro dele, mas arregalou os olhos, surpresa, quando falei do que eu havia feito e não teve papas na língua:
- Pelo pouco que eu convivi com você, já deu para notar que você não é uma pessoa ruim, basta ver como as crianças te adoraram e todos aqui também. Essa sua vingança não me convence…
- Como assim?
- Tem certeza de que você se vingou porque estava com raiva, decepcionada com o seu marido, digo, ex-marido, ou será que você usou isso como uma válvula de escape para externar uma vontade que já tinha?
Fiquei confusa e a encarei sem saber o que responder. A única coisa que consegui fazer, foi levantar os meus ombros, indicando que não havia entendido:
- Você não tem o perfil de que se vinga, do “olho por olho, dente por dente”. Eu acho que tem mais coisa escondida aí por trás dessa sua “vingança”. - Disse, fazendo aspas na última palavra e continuou: - Posso até estar enganada, mas talvez o ato do Kaká tenha servido para potencializar uma vontadezinha que você escondia aí dentro de você mesma.
- Desculpa, Geva, mas eu não concordo.
- Certo, certo… - Ela me encarava e sem titubear continuou: - Você se considera uma mulher justa, não é?
- Sim, claro! Bem, acho que sim.
- Ok. Por que então você não o traiu da mesma forma como ele te traiu?
- Como assim?
- Pelo que eu entendi, ele teve somente uma amante, não vários casos. Por que você não repetiu a mesma fórmula?
- Ué!? Porque eu… Porque… eu não sei! Eu… Eu não queria me envolver com ninguém, sentimentalmente, entende? Então, eu achei que seria melhor ficar com vários, sem repetir nenhum.
- Sei! Ter várias experiências, é isso?
- Isso! Acho que é… Por quê? Não estou entendendo.
- Não estou diagnosticando você, nem nada do tipo, ok? Mas eu acredito que a sua decepção ao saber da traição dele não te fez exatamente querer se vingar dele, mas sim extravasar uma vontade que já estava aí dentro.
- O que é isso, Geva!? - Comecei a rir de nervosa: - Nada a ver.
- Posso estar enganada e como eu te disse, não estou diagnosticando nada. Mas pense se isso não é uma possibilidade, talvez bem lá no fundinho você quisesse, mas não tivesse coragem de assumir, nem para si mesma e acabou usando esse momento específico para liberar uma fantasia sua.
- Geva… Tá! Peraí… Você está querendo dizer que eu poderia estar querendo trair o Kaká e usei a traição dele para justificar o chifre que eu queria colocar nele?
Ela deu uma risada divertida, quase uma gargalhada mesmo e se desculpou na sequência, dizendo que não queria passar uma má impressão. Além disso, explicou:
- Verônica, não é nada disso! Deixa eu explicar de outra forma… - Colocou as mãos como se rezasse em frente a sua boca, pensando e falou: - Primeiro, não é errado fantasiar, ok? Você ter vontade de ficar com outros é normal e até saudável, mostra que você está viva, que você tem os seus próprios desejos, mas que não os realiza por respeito ao seu companheiro ou pelo freio moral que a própria sociedade nos impõe, entendeu?
Concordei com um movimento de cabeça e ela continuou:
- Certo! Como eu disse, talvez você tivesse esse desejo represado, mas não tivesse coragem de abri-lo para o seu marido, muito menos de realizá-lo. Daí quando soube da traição dele, que é uma forma dele próprio extravasar as próprias fantasias dele… Sim, porque se você tem, naturalmente ele deve ter também, concorda?
Balancei novamente a cabeça e ela seguiu:
- Então, ele extravasou o próprio desejo, mas cometeu o erro de não respeitar a regra conjugal que vocês delimitaram quando se uniram, entendeu? Então como ele não respeitou isso, você, in-cons-ci-en-te-men-te, se viu no direito de extravasar o seu desejo também, mas no formato pré-concebido, esse que estava enjaulado na sua cabecinha, porque a sua fantasia não era a de ter um único amante, mas de experimentar várias sensações com vários amantes diferentes, entendeu?
Embora surpresa, agora eu havia entendido e confirmei balançando a minha cabeça, mas refutei:
- Eu… não sei se era isso não, mas… Certo! Vamos dizer que seja, em que isso muda tudo o que aconteceu?
- Muda o animus, a intenção do ato em si. Na vingança, o ato que impulsiona é mesquinho, porque você quer ferir, machucar, magoar a pessoa e eu acho que nenhum de vocês dois queria isso: ele teve uma amante sem o seu conhecimento, para não magoá-la e você teve os seus casinhos sem o conhecimento dele, também para não magoá-lo. A vingança normalmente volta depois contra quem a comete e dói, ouviu? Já no reequilíbrio dos pratos da balança, você não faz por mal, só se recoloca em posição de igualdade com o seu par.
- Então, certamente eu agi mal, me vinguei mesmo, porque às vezes, até hoje, eu me sinto mal por ter feito o que fiz.
- Você não gostou do sexo que fez com esses parceiros eventuais?
- Não! Não é isso. Claro que foi bom, é diferente do que eu fazia com o meu marido, mas eu só não gostava de fazer escondido.
- Isso! Você não gostou de rompeu a regra conjugal que mantinha com o seu marido, mas gostou de ter feito sexo, ou seja, talvez você já quisesse, só não tinha coragem de assumir que queria.
Suspirei fundo, ainda confusa com tudo o que estávamos conversando e ela continuou:
- Vou te fazer uma pergunta, mas fica só entre a gente, ok? - Concordei com a cabeça: - Se você e o seu marido estivessem bem, num relacionamento tranquilo, e ele chegasse em você e te convidasse para vocês dois viverem uma experiência liberal, um ménage, um swing, sei lá, como você reagiria?
Fiquei em silêncio raciocinando por um instante e depois falei:
- Ah, não sei. Eu acho que ficaria meio surpresa num primeiro momento, mas depois até aceitaria se tivesse a certeza de que não prejudicaria o nosso casamento.
- Está vendo? Você tem o desejo, a curiosidade, só não teve a parceria.
Embora um pouco confusa, aquele ponto de vista me fez enxergar tudo o que aconteceu de uma outra forma, leve mesmo. Quando já saía de sua sala, ouvi um pedido, quase implorado:
- Conta para mim depois o que você vai decidir com o seu marido, por favor? Agora eu fiquei muito curiosa com essa história.
- Para, Geva! Boca de siri, hein!? - Falei e caí na gargalhada junto dela.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.