Renascimento - parte 4

Um conto erótico de Gabriel
Categoria: Gay
Contém 1234 palavras
Data: 02/12/2024 13:36:51
Assuntos: Gay, Drama, suspense, Amor

**Outubro de 1928**

Era uma manhã fria e sombria, com o vento vindo do mar, que balançava as velas dos barcos ancorados no Porto de Santos. No pátio do armazém 13, a polícia estava prestes a fazer uma descoberta que chocaria o Brasil e o mundo. O chefe de polícia, um homem de rosto duro e olhar atento, ordenou que abrisse a mala de couro escuro, endereçada a *Ferrero Francesco*, em Bordeaux, França. O que encontrarão lá dentro era uma visão horrível.

Dentro da mala, ao invés de roupas e pertences pessoais, estava o cadáver de uma jovem mulher, de aproximadamente 1,66 metro de altura, com cabelos castanho-claros e cortados à la garçonne. O corpo estava em avançado estado de putrefação, e, ao realizar a autópsia, os médicos descobriram que a jovem havia sido assassinada após sofrer um aborto post mortem de um feto de seis meses: uma menina.

O crime, horrível e inexplicável, rapidamente repercutiu em todas as partes do Brasil. A mídia tratou o caso como "O crime da mala", espalhando a notícia por todos os cantos do país e até mesmo internacionalmente, até chegar à cidade de Buenos Aires. Os jornais argentinos comentavam com espanto.

— **Que horror... Tenebroso...** — comentou Guillermo, amigo de Francisco Braga de Lima, enquanto lia o jornal em voz alta. Francisco, sempre calado, apenas acenou com a cabeça, mas seu pensamento estava distante. Ele nunca poderia imaginar que aquele caso tão trágico estava, de alguma forma, ligado ao seu futuro.

— **Ainda bem que mudei para cá... estamos bem protegidos aqui.** — continuou Guillermo, ainda assustado com as implicações do caso.

Francisco olhou para ele, o olhar distante. Sabia que a mudança para Buenos Aires havia sido acertada, mas não podia ignorar a inquietação que o assombrava. Ele precisava viajar ao Brasil, e isso não era mais uma opção, mas uma necessidade. Ele tinha planos ambiciosos.

— **Vou ao Brasil. Quero investir em águas.** — disse Francisco, finalmente quebrando o silêncio. — **Ouvi falar de um aquífero promissor nas bandas de São Paulo. Vou até lá para comprar os territórios e criar um império das águas.**

Guillermo franziu a testa.

— **Mas ouvi dizer que há uma tribo de povos originários naquelas terras... e que eles podem ser perigosos.**

— **Se for necessário, eu os arranco de lá. Não vou deixar nada me impedir.** — respondeu Francisco com firmeza.

Ele estava decidido a expandir seus negócios e construir um império que controlasse uma das maiores riquezas do futuro: a água. No entanto, o que ele não sabia era que essa busca o levaria a um confronto com os segredos de seu próprio passado.

---

**Outubro de 1929**

O Brasil estava se recuperando da grande recessão de 1929, que afetou o mundo inteiro. Mas Francisco Braga de Lima, conhecido pela sua discrição e pela sua visão afiada, se manteve firme. Ele havia comprado vários territórios com nascentes de água, criando a AquaVita, sua empresa de abastecimento e controle de água. Enquanto o mundo ao seu redor desmoronava, com os ricos falindo e os pobres em miséria, Francisco parecia intocável.

Mas, quando chegou ao Brasil, houve uma resistência inesperada. Armando Castro, um senhor de terras ao norte de São Paulo, se recusava a vender suas propriedades. Ele era um homem velho e astuto, e sabia o valor da terra que possuía. Francisco, com a paciência característica dos grandes empresários, sabia que o encontro seria difícil, mas estava determinado a ter sucesso. Ele marcou uma reunião para março de 1930.

No entanto, antes de ir a São Paulo, Francisco fez questão de parar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, para encontrar um velho amigo. Álvaro Tavares era o único que poderia ajudá-lo a entender melhor a situação. Francisco entrou na sala de Álvaro, que o recebeu com um sorriso.

— **Francisco, que surpresa! Você voltou ao Brasil... o que o traz de volta?** — perguntou Álvaro, surpreso.

Francisco sentou-se e, com um suspiro, contou tudo.

— **Preciso saber o paradeiro de Chico. Durante a viagem para Buenos Aires, li a carta de minha mãe. Ela dizia que Chico era filho legítimo de Santiago, e que eu, Bernardo, era fruto de um estupro. Minha mãe escondeu isso de todos. A verdade precisa vir à tona.**

Álvaro ficou atônito, suas palavras demorando a chegar.

— **Chico... mas você não sabe onde ele está?** — perguntou ele, ainda processando a revelação.

— **Já enviei emissários, mas até agora não encontrei pistas. Além disso, estou aqui para comprar territórios próximos às nascentes de água. Quero expandir a AquaVita, mas Armando é o único que não aceita vender.**

Álvaro, que sabia mais do que parecia, revelou algo que Francisco não esperava.

— **Armando... ele é um rico falido. Vive de aparências. Gastou tudo em mulheres, festas e na busca por você. Está em ruínas, Francisco. Aquele homem está mais quebrado do que você imagina.**

Francisco sorriu, sabendo que o momento certo para pressionar Armando havia chegado.

**Março de 1930**

Chegado ao Brasil, Francisco dirigiu-se diretamente à casa de Armando. O homem, com seus olhos cansados e seu semblante de quem já viu o mundo desmoronar, não parecia reconhecer Francisco de imediato. A negociação começou fria, distante, mas logo se intensificou. Francisco queria tudo. Armando, no entanto, parecia ter algo mais em mente. Ele estava desesperado para não perder as terras, algo que não entendia.

Francisco decidiu viajar até a aldeia onde os povos originários habitavam, para resolver a situação de forma definitiva. Lá, ele encontrou um homem diferente dos outros: alto, com cabelos longos e uma cicatriz grande do lado direito do rosto. Ele falava bem, com uma calma imponente, e parecia saber exatamente o que estava acontecendo.

— **Não será fácil tomar estas terras.** — disse o homem, de forma direta. — **Aqui, temos história. Você não pode simplesmente arrancar-nos do que é nosso.**

Francisco sentiu uma tensão no ar. O homem diante dele não era como os outros, e parecia ter uma conexão profunda com a terra. Era um líder, e talvez algo mais... Francisco sentia algo incomum em sua presença.

A tensão aumentou. Francisco sentiu a necessidade de recuar. Mas antes de sair, o homem o olhou nos olhos e disse:

— **Você se lembra de mim, Francisco?** — foi tudo o que ele disse.

Francisco ficou paralisado. Como ele poderia saber seu nome? Como aquele homem poderia ser tão familiar, mas ao mesmo tempo tão diferente?

Era ele. Chico. Ele estava ali, na frente dele, mas de uma forma que Francisco não reconhecia. O tempo, a vida, e os segredos do passado o haviam transformado.

Em um momento de confusão e necessidade de clareza, Francisco decidiu nadar no rio. Talvez a água o ajudasse a encontrar respostas. Mas, ao chegar à margem, algo o paralisou: ele viu uma figura, a mais linda que já havia visto na vida. O sol começava a se pôr, e a silhueta da figura parecia emanar uma beleza mística. Era Chico, ou alguém muito parecido, mas de um jeito novo, cheio de força e mistério.

Francisco se aproximou lentamente, sem saber o que fazer. A tensão no ar era palpável, e o desejo de tocá-lo, de conhecê-lo novamente, o consumia.

— **Você... você é ele, não é?** — Francisco perguntou, com a voz trêmula, mas cheia de desejo reprimido.

Chico sorriu, com um olhar que misturava tristeza e ternura.

— **Sim, sou eu. Mas sou outro.** — disse ele, sem explicar mais nada, apenas olhando Francisco nos olhos com uma intensidade que os dois sentiam profundamente.

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