Capítulo 4 - Na Academia
A academia era pequena, com equipamentos simples, mas funcional. De bairro mesmo. Assim que entraram, foram recebidos por Maurício, um rapaz afeminado, mas com um corpo impressionantemente definido. Seus músculos eram bem torneados, e ele exalava confiança. Maurício olhou para Keila com um sorriso largo, trocando um abraço descontraído com ela.
— Keila! Quanto tempo, hein? E quem é esse? — Ele olhou para Rafa com uma sobrancelha levantada, como se já tivesse entendido a situação.
— Esse é o Rafa. “Meu projeto”. Ele precisa de resistência primeiro, depois força e definição. Quero ele no ponto. — Keila disse casualmente, como se Rafa fosse apenas um objeto.
Maurício caminhou ao redor de Rafa, observando-o com atenção. Ele colocou as mãos no queixo, fingindo uma análise séria.
— Hm... Tem potencial, mas vai dar trabalho. Parece um pouco... desorientado, pra ser honesto. — Ele deu uma risadinha e olhou para Keila. — Você já fez ele entender as regras?
— Ainda estamos começando, mas ele aprende rápido. — Keila respondeu com um sorriso malicioso.
Maurício parou na frente de Rafa, cruzando os braços.
— Então, Rafa, você tá preparado pra isso? Porque, aqui, eu gosto de resultados. E, se a Keila me der controle total sobre você, eu vou exigir cem por cento de dedicação. Sem desculpas, sem preguiça. Entendeu?
Rafa engoliu em seco, sentindo o olhar penetrante de Keila sobre ele. Ele sabia que não podia dizer nada além do que ela queria ouvir.
— Sim... estou pronto. — disse ele, tentando soar confiante, mas a hesitação era evidente.
Maurício sorriu, satisfeito, e se virou para Keila.
— Tá bom. Vou preparar um plano básico pra ele começar. Mas vou precisar de carta branca, Keila. Se você quiser resultados, bom, você sabe como eu trabalho.
Keila deu de ombros, rindo.
— Ele é todo seu, Mau. Faça o que for preciso.
Maurício piscou para ela, com um sorriso cheio de malícia.
— Ah, isso vai ser divertido. — Ele virou-se para Rafa. — Espero que esteja preparado, Rafa. Porque eu não vou pegar leve.
Enquanto Maurício começava a listar os exercícios para resistência, Rafa sentia que o controle sobre sua vida estava escapando cada vez mais. E, ao olhar para o sorriso satisfeito de Keila, ele soube que isso era apenas o começo.
Mais tarde, sentou-se à mesa ainda sentindo o peso do que tinha acabado de acontecer no banheiro. O cheiro das torradas francesas com sopa de cebola parecia um contraste cruel com o gosto amargo que ainda impregnava sua boca. Keila, por outro lado, estava relaxada, sorridente, como se nada tivesse acontecido. Ela pegou uma torrada, mergulhou na sopa e mordeu sem cerimônia e olhou para ele, avaliando a expressão tensa em seu rosto.
— Relaxa, Rafa. Não precisa ficar com essa cara. Vai se acostumar. — Ela disse casualmente, cortando um pedaço do omelete.
Rafa permaneceu calado, o estômago revirando enquanto tentava encontrar as palavras certas. Keila, no entanto, parecia se divertir com o desconforto dele.
— Você sabia que o Maciel era assim também? — Ela perguntou de repente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Rafa piscou, surpreso. Ele nunca havia imaginado o Maciel, sempre tão confiante e sério, em uma situação sequer parecida com a que ele estava vivendo.
— O Maciel? Como assim? — Ele perguntou, hesitante.
Keila deu uma risada curta, balançando a cabeça.
— Ah, Rafa... O Maciel tinha essa fachada de macho alfa, sabe? Mas, dentro de casa, ele era meu brinquedinho. Igual você está se tornando. Só que ele levou um pouco mais de tempo para aceitar. — Ela sorriu, maliciosa. — Você sabia que ele adorava um plug anal? Eu escolhia os maiores e mais bonitos, colocava nele antes de irmos a festas ou eventos. Ele ficava andando com aquilo, fingindo que estava tudo normal, enquanto eu controlava o vibrador no meio de reuniões.
Rafa sentiu o rosto queimar, a sopa no prato quase esquecida enquanto Keila continuava.
— Ah, mas teve uma noite que foi especialmente divertida. — Ela disse, com um brilho nos olhos. — Amarrei o Maciel num cavalete que tínhamos no quarto. Ele estava completamente nu, vulnerável, com o plug ainda no lugar. E aí eu chamei duas travestis que ficavam na esquina aqui perto. Eu as paguei bem, claro.
Rafa engasgou com o ar, mas Keila nem sequer hesitou, continuando com a mesma calma de quem contava uma história qualquer.
— Elas eram incríveis, Rafa. Chegaram cheias de energia, e eu as deixei fazer o que quisessem com ele. E elas fizeram. Ficaram revezando, uma na frente, outra atrás. E eu ali, observando, dando instruções, me divertindo com o que via. Você precisava ver o rosto dele... no começo, era pura resistência, mas depois... ah, depois ele se entregou. Estava gemendo, implorando por mais.
Ela suspirou, como se lembrasse com prazer daquele momento.
— E sabe o que é mais engraçado? Foi logo depois disso que ele conseguiu aquela promoção para o Rio Grande do Sul. Ele achava que foi mérito próprio, mas eu estava supervisionando tudo. Eu até ajudei a escrever o relatório que impressionou os chefes dele. O Maciel era bom, mas ele só chegou lá porque eu estava atrás dele, moldando ele. Literalmente, às vezes.
Rafa estava pasmo. Ele sempre tinha visto o Maciel como o tipo de homem que estava no controle de sua vida, e agora Keila estava desconstruindo completamente essa imagem.
— Mas... então por que você não foi com ele? — Ele perguntou, tentando fazer sentido de tudo.
Keila deu de ombros, tomando uma colherada de sopa.
— Não gosto de frio. E, sinceramente, já tinha me divertido o suficiente com o Maciel. Eu sabia que ele ia continuar submisso a distância, mas, pra mim, não valia a pena.
Ela se inclinou para frente, olhando diretamente para Rafa.
— Agora você está aqui, Rafa. E eu tenho certeza de que você vai ser tão bom quanto ele. Ou até melhor. Mas, diferente do Maciel, você vai entender uma coisa desde o início: não tem escapatória. E tudo o que eu mandar, você vai fazer. Sem exceção.