Capítulo 9 O Laço com Mau Mau
Os treinos com Mau Mau haviam se tornado mais do que apenas exercício físico para Rafa. Depois de semanas sob o olhar atento e os comandos diretos do treinador, ele começava a ver a academia não apenas como uma obrigação, mas como um espaço de transformação. Maurício era rígido durante o dia, cobrando repetições impecáveis e posturas exatas, mas havia uma leveza no tom que fazia com que Rafa se sentisse acolhido, mesmo quando exausto.
— Boa, garoto. Tá finalmente entendendo o ritmo. — dizia Mau Mau, enquanto corrigia a postura de Rafa durante uma série de agachamentos. — Se continuar assim, vai se sentir outra pessoa em mais um mês.
Mas as noites eram diferentes. Quando os outros alunos iam embora e as luzes da academia começavam a se apagar, o ambiente mudava. Mau Mau se tornava menos treinador e mais parceiro, sua presença assumindo um tom mais íntimo. Foi em uma dessas noites que tudo mudou.
Depois de um treino particularmente intenso, Mau Mau chamou Rafa para o fundo da academia.
— Vamos alongar. Não quero que você acorde travado amanhã. — disse ele, já puxando um colchonete para o chão.
Rafa obedeceu, deitando-se enquanto Mau Mau ajustava suas pernas, alongando os músculos com precisão. Mas, ao invés de soltar Rafa após o último alongamento, ele pegou um conjunto de cordas que havia deixado em uma prateleira.
— Já ouviu falar em shibari? — perguntou Mau Mau, com um sorriso brincalhão.
Rafa franziu a testa, confuso.
— Não muito... É coisa de... sei lá, arte? — respondeu, tentando soar casual.
Mau Mau riu.
— É arte, sim. Mas também é controle. Confiança. Você tá disposto a experimentar?
Havia algo no tom de Mau Mau que fazia Rafa hesitar, mas também o deixava curioso. Ele assentiu lentamente, deitando-se de costas e deixando o treinador assumir o controle.
As cordas eram macias, mas firmes. Mau Mau trabalhava com precisão, amarrando Rafa com nós intrincados que criavam padrões ao longo de seu torso. O aperto era suficiente para restringir os movimentos, mas sem causar dor. Rafa observava cada movimento, sentindo um estranho misto de vulnerabilidade e segurança.
— Não é só sobre prender. É sobre se entregar. — explicou Mau Mau, enquanto ajustava os últimos nós. — É sobre deixar o corpo e a mente relaxarem ao mesmo tempo.
Rafa fechou os olhos, tentando entender o que estava sentindo. As cordas pareciam segurar mais do que apenas seu corpo; pareciam conter suas dúvidas, seus medos, sua resistência. Ele respirou fundo, sentindo-se estranhamente em paz.
Mau Mau observava com atenção, sorrindo.
— Viu? Não é tão ruim assim. — disse ele, sentando-se ao lado de Rafa e passando a mão gentilmente pelas cordas. — Você se sai bem, garoto. Talvez tenha mais pra descobrir sobre si mesmo do que imagina.
As sessões de shibari se tornaram um ritual noturno. Mau Mau sempre mantinha o controle, mas também mostrava respeito por Rafa, nunca cruzando os limites que ele não estava disposto a explorar. Com o tempo, os dois desenvolveram uma amizade incomum, uma parceria que misturava disciplina e intimidade.
Na academia, Rafa continuava evoluindo, não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Cada treino, cada sessão de alongamento e cada amarração o fazia sentir-se mais forte, mais centrado. E, nas noites silenciosas, sob a luz fraca das últimas lâmpadas da academia, ele encontrava algo que não sabia que precisava: uma conexão.