Indianara caminhava pela floresta, os passos apressados e a mente em turbulência. O que acontecera entre ela, Chico e Bernardo havia se tornado um labirinto de emoções e incertezas. O que ela sentia por Chico ia além da simples paixão; havia algo mais profundo, algo que parecia destinado, mas ao mesmo tempo incompreensível. As palavras de Chico ecoavam em sua mente: *"Eu tenho uma dívida de gratidão com ela. Preciso me casar com Indianara."* Mas não era mais sobre dívida, e sim sobre destino.
Ela sabia que não podia simplesmente esperar que as coisas acontecessem. Algo em seu coração lhe dizia que havia mais do que as palavras de Chico revelavam, mais do que o que ela conseguia entender. Foi então que a ideia veio à mente: **consultar a feiticeira**. A velha mulher, com seus mistérios e sabedoria ancestral, poderia finalmente dar a ela as respostas que tanto buscava.
A cabana da feiticeira estava oculta nas profundezas da floresta, um lugar místico onde as árvores cresciam mais densas e a névoa parecia nunca se dissipar. Quando Indianara chegou, a feiticeira estava sentada ao redor de uma fogueira, seus olhos parecendo ver através do tempo. A sala estava impregnada de ervas secas e o som de cânticos antigos, enquanto a mulher levantava o olhar, como se já soubesse da visita.
— **Você busca respostas, minha filha?** — A voz da feiticeira era grave, com um tom que fazia a pele de Indianara arrepiar.
Indianara assentiu, tentando não mostrar sua ansiedade.
— **Chico...** — ela começou, a voz trêmula. — **Eu preciso entender o que está acontecendo entre nós. Eu o amo, mas ele... ele tem uma dívida com mim. Ele está preso a ela.**
A feiticeira olhou para ela com um olhar penetrante, e Indianara teve a sensação de que a mulher sabia mais do que deixava transparecer.
— **O amor de Chico...** — a feiticeira disse, as palavras se arrastando como uma revelação, — **está escrito pelas forças do renascimento. Algo que transcende o tempo e a razão.**
Indianara franziu a testa, confusa. O que significava isso? Renascimento? Destino?
A feiticeira continuou com um olhar místico.
— **Esse amor não é algo simples, minha filha. Ele se repete ao longo das vidas. Chico e Bernardo estão ligados por algo maior do que vocês podem compreender. Algo que vai além desta vida.**
Indianara sentiu o sangue gelar em suas veias. *Chico e Bernardo?* O que isso significava para ela? A dúvida tomou conta de seu coração, mas também a raiva. *Bernardo!*
Ela quase não percebeu quando a feiticeira a olhou diretamente, seus olhos de um azul profundo parecendo penetrar em sua alma.
— **Você não pode lutar contra o destino.** — disse a feiticeira, como se visse algo além do que Indianara era capaz de compreender. — **O que está predestinado não pode ser desfeito, mas você tem o poder de escolher seu caminho. Mas cuidado... o que você decidir pode selar o destino de todos.**
Indianara sentiu uma onda de frustração se espalhar dentro de si. Ela não podia deixar que Bernardo ficasse entre ela e Chico. Não podia. *Ela era a chave. A profecia dizia isso!*
Sem entender completamente o que acontecia, Indianara interpretou aquelas palavras de maneira distorcida, convencida de que ela mesma era a chave para o amor de Chico. E que, se eliminasse Bernardo, ela garantiria a união predestinada com ele.
Ela não poderia mais esperar. A necessidade de ter Chico só para si, de cumprir com seu destino, a
A primeira oportunidade surgiu numa noite quente de verão, quando a tribo estava reunida ao redor da fogueira. Indianara observava Chico de longe, como sempre, mas o foco de sua atenção estava em Bernardo, que estava distraído, observando as estrelas. Ela sabia que ele costumava caminhar sozinho à margem do rio para refletir, e foi lá que ela decidiu agir.
Ela se escondeu entre as árvores, esperando o momento certo. Quando Bernardo se afastou da fogueira e começou a andar em direção ao rio, Indianara o seguiu discretamente. O silêncio da noite era esmagador, e a tensão crescia dentro dela a cada passo. Ela tinha consigo um pequeno frasco com veneno, algo que aprendera a fazer com a feiticeira.
Ao chegar perto do rio, Indianara o viu agachado, com a cabeça inclinada, aparentemente sem perceber a presença dela. Ela deu o passo decisivo, mas ao se aproximar, um barulho atrás dela a fez parar. Chico.
— **Indianara, o que está fazendo aqui?** — A voz de Chico soou como um trovão em sua mente. Ela virou-se rapidamente, e o frasco de veneno escorregou de suas mãos, caindo ao chão.
Chico olhou para ela, os olhos cheios de desconfiança.
— **Você tentou matá-lo?** — Ele não gritou, mas sua voz era fria e firme.
Indianara tentou encontrar palavras, mas não conseguia. A raiva e a frustração estavam sufocando sua capacidade de falar. Chico caminhou até ela, estendendo a mão e pegando o veneno do chão.
— **Você não entende, não é?** — Chico disse, a dor em sua voz clara agora. — **Eu não posso fazer isso. Não é só uma questão de mim ou de você, Indianara.**
Ela o encarou, mas não conseguiu encontrar as palavras para justificar sua atitude. Em vez disso, apenas se afastou, derrotada. Ela havia falhado. Mas isso não seria o fim. Ela não desistiria tão facilmente.
O tempo passou, mas a obsessão de Indianara por Chico não diminuiu. Ela observava a cada dia, cada gesto, cada palavra que ele trocava com Bernardo. Algo mais a consumia agora, uma ideia fixa: ela precisava garantir o amor de Chico para si mesma. Ele nunca seria dela se Bernardo continuasse ali.
Numa manhã nublada, enquanto a tribo se preparava para um ritual, Indianara armou seu plano. Ela sabia que Bernardo teria que atravessar a floresta sozinho para buscar algumas ervas raras. Aquela seria sua chance.
Ela se escondeu entre os arbustos, esperando o momento certo. Quando viu Bernardo passando, ela saltou de sua posição e empurrou uma pedra grande, tentando acertá-lo de surpresa. A pedra rolou em sua direção, mas Bernardo, com uma agilidade impressionante, desviou-se, caindo para o lado.
— **O que você está fazendo, Indianara?** — Bernardo gritou, levantando-se e olhando para ela com uma mistura de confusão e raiva.
Indianara ficou paralisada por um momento. A pedra não havia causado o impacto que ela esperava. Ela não tinha mais forças para se esconder, então, num acesso de raiva, avançou contra ele com as mãos levantadas. Mas Bernardo, agora mais alerta, a segurou com facilidade.
— **Você está louca?** — Ele a empurrou para longe, os olhos cheios de desconfiança. — **O que você quer de mim?**
Indianara não respondeu. Ela se afastou, mais uma vez falhando em sua tentativa. A frustração tomava conta dela, mas a obsessão a empurrava a continuar.
A obsessão havia se transformado em algo mais profundo, mais ameaçador. E agora, Indianara sentia que o destino de todos estava prestes a ser decidido.