No passado…
No caixa de sua loja de produtos naturais, Andressa atendia seus clientes. Tinha um sorriso amável no rosto até ver o filho subir correndo os degraus que levavam à sua casa no andar de cima. O sorriso se desmanchou em uma expressão de angústia enquanto pedia para um dos funcionários assumir o caixa. Subiu os degraus correndo e seguiu apressada até a porta do quarto do filho, trancada.
— Meu amor, o que aconteceu?
— Me deixe em paz, mãe.
— Eles te perseguiram de novo, foi?
— Me deixe, mãe! Não quero que me veja assim.
Andressa sente seu coração apertar.
— Meu filho, a gente só tem um ao outro agora. Se não puder chorar comigo, vai ser com quem?
O som da chave destrancando a porta tira um pouco o peso do coração da mãe, que ainda se mantinha aflita ao ver o filho em prantos. Ela não o olhou nos olhos naquela condição, apenas o abraçou.
— Foi aquilo de novo, filho?
— Sim. Eles falam que moro na casa do pecado. Porque a gente tinha que morar numa casa com esse número.
— Meu filho, quando você crescer, perceberá o quanto isso é bobo. O preconceito das pessoas deixou essa casa mais barata, sendo a única que podíamos comprar. Eu já te expliquei isso.
— Não adianta explicar isso para mim. São eles que me perseguem.
Andressa franze o cenho enquanto acaricia os cabelos do filho.
— Meu amor, já conversamos demais sobre isso para te incomodar tanto. Tem algo a mais, não tem?
Daniel soluçou enquanto chorava, buscando fôlego e coragem para falar.
— Dessa vez foi ela.
— A Michele? Meu Deus…
Andressa abraça o filho ainda mais forte.
— Ela disse que não sou homem o bastante para ela.
— Ela é namorada do Renato, não é? Por que você foi atrás dela?
— Eu não fui. Estava na fila da cantina quando ela me ofereceu um beijo se eu desse meu lugar a ela. Daí ela disse aquilo e o Renato apareceu do nada me empurrando.
Andressa aperta o abraço mais um pouco. A dor do filho era palpável na voz. Seus olhos lacrimejavam. Os dois permanecem alguns instantes em silêncio até que ela desfaz o abraço e segura o rosto do filho, o olhando nos olhos.
— Daniel, meu filho, preste bem atenção no que vou te dizer. Existem homens e homens. Você não é bruto como muitos deles, mas isso não te faz menos homem. Seu pai também era assim, delicado. Uma coisa que você não sabe é que ele teve um monte de namoradinhas antes de mim. Ele era um bom homem, sendo maravilhoso no seu próprio jeito. Olho você e vejo muito dele. Tenho certeza de que logo, logo, você descobrirá que pode fazer uma mulher feliz com delicadeza, assim como ele fazia.
— Duvido, mãe.
— Pode duvidar hoje, mas logo, logo, terá tanta mulher querendo você que deixará a sua mamãe sozinha.
— Isso nunca. Nunca vou te deixar.
Andressa abre um tímido sorriso.
— Mãe. Ele também falou de você.
— Você sabe que isso é mentira, certo?
— Sei, mas mesmo assim dói. Queria bater nele, te defender, mas eu não consigo. Quando revido, me humilham mais ainda.
— Não me importo com o que os outros falam, meu filho. Só me preocupa ver você assim, arrasado. Se não pode bater neles, pelo menos não se deixe abater. É disso que eles se alimentam.
Os dois se abraçam ainda mais apertados. Mais uma leva de lágrimas escorre dos dois, até secarem.
— Juro para você, meu filho. Isso tudo vai passar.
Quinze anos depois…
Foram quinze anos longe da cidade em que nasceu até o retorno de Daniel. Sair daquela cidade fez bem ao rapaz que amadureceu longe de tudo que o atormentava. Retornar a ela trouxe lembranças que gostaria de ter esquecido, mas essa nem de longe foi a maior dor que sofreu.
O falecimento de sua mãe o trouxera de volta. Ficou junto dela em seus últimos dias, cumprindo a promessa de não a deixar sozinha. Com a morte ainda mais precoce do pai, Andressa se tornou a única família de Daniel. Era a quem ele se apegava nos momentos difíceis, que não eram poucos em sua adolescência conturbada. Quando o mundo se voltava contra ele, era ela quem enxugava suas lágrimas enquanto dizia que tudo ia ficar melhor. Era sua companheira, com quem dividia as vitórias e as tristezas. Com a perda de sua mãe, não havia nada naquela cidade que lhe despertasse interesse.
Ou quase nada.
Uma doença levou sua mãe cedo demais e deixou uma casa na rua dos prazeres, número seiscentos e sessenta e seis. Péssimo número para uma cidade pequena e muito religiosa. No térreo, uma loja onde a mãe vendia produtos naturais e no andar de cima havia uma casa simples, com sala e dois quartos. Depois do enterro da mãe, Daniel se afastou mais uma vez, até entender ser realmente a hora de voltar.
Quando voltou, reformou a casa inteira, inclusive a loja embaixo.
Vizinhos mais antigos diziam que nenhum negócio daria certo naquele imóvel. O fato de tanto o pai quanto a mãe de Daniel falecerem cedo seriam um exemplo de como aquele lugar seria amaldiçoado. Daniel não se importava, ignorando os comentários maldosos disfarçados de conselhos e seguia seu plano misterioso.
Quando a obra da parte de cima ficou pronta, Daniel se mudou e pode acompanhar a obra do pavimento inferior mais de perto.
Era visto na rua nos mais diversos horários e ninguém entendia com o que ele trabalhava. Quando perguntavam, falava que era um vendedor, mas nunca dizia o que vendia.
Tinha uma rotina de exercícios que consistia em correr por algumas das principais vias da cidade. Nos seus trinta e dois anos, cuidava bem da saúde, mantendo um corpo equilibrado, sem músculos chamativos nem mesmo muito magro. Não cortava mais o cabelo baixinho como fazia na adolescência, deixando-o crescer um pouco, desenvolvendo seus cachos pretos. Era branco, alto. Usava roupas sempre na medida, refletindo na vestimenta a mesma disciplina adotada nos exercícios e na vida.
No fim de suas corridas, sempre parava em uma farmácia para comprar um isotônico gelado. Por vezes, era atendido por uma jovem cujo crachá tinha o nome “Jéssica” escrito. Os olhos azuis da moça chamavam a atenção logo de cara, pois adoravam um belo rosto de pele clara com algumas sardas. Usava os cabelos pretos, lisos, presos e, como uma boa atendente, era muito simpática. Algo mais, porém, chamava a atenção de Daniel.
A atendente falava com propriedade sobre o produto, inclusive dizendo usá-lo. Foi o bastante para um breve e agradável diálogo. — Você é ótima no seu trabalho, devia ser promovida — disse Daniel, arrancando um sorriso de surpresa da jovem que tinha apenas vinte e dois anos.
A jovem intrigava Daniel, que passou a inventar motivos para voltar à farmácia. Comprava qualquer coisa na tentativa de mais uma rápida troca de ideias. Às vezes, não conseguia ir ao caixa dela, mas da fila a ouvia falar sobre diversos produtos, sempre com propriedade. Quando conseguia, buscava aprender mais sobre ela. Descobriu que ela se mudou recentemente e morava sozinha, além de não estar namorando. Estudava à noite para recuperar o tempo perdido na escola. Lentamente, Jéssica entregava pedaços de sua vida junto a alguns sorrisos. Daniel, é claro, perguntou um dia sobre como ela sabia tanto sobre aqueles produtos todos.
— É o meu trabalho, tento estudar tudo sobre o que vejo. Não importa se são isotônicos, bronzeadores ou camisinhas. Preciso saber tudo. — respondia, Jéssica.
A admiração de Daniel aumentou. Já conhecia os horários da atendente e a própria Jéssica se sentia na liberdade de dizer a ele quando algum produto não era bom, recomendado outro que achava melhor. A atendente deixava escapar comentários sobre se sentir sozinha e sua carência. Quando soube onde Daniel morava, não deixou de comentar. — Sempre passo por lá ao vir aqui. Fico olhando aqueles peões sarados trabalhando e quase me atraso. — disse Jéssica, deixando escapar um sorriso malicioso e ganhando outro de Daniel.
Um dia, Daniel apareceu perto do fim do turno de Jéssica. Esperou a farmácia ficar vazia e apareceu no caixa com duas embalagens transparentes. Uma roxa e outra avermelhada.
— Uva ou cereja. Qual você recomenda?
A pergunta dita com os dois frascos de lubrificantes na sua frente fizeram a atendente corar. Jéssica não conseguia conter o sorriso que misturava constrangimento, surpresa e satisfação por aquele homem charmoso pedir uma opinião tão pessoal dela. Não sabia dizer se aquela tentativa era sutil ou descarada, mas com certeza nenhum homem conseguiria ser tão criativo ao tentar ficar mais íntimo.
Talvez a criatividade tenha mexido com ela a ponto de, mesmo constrangida, sair do caixa e andar pelas prateleiras até voltar com outra embalagem, num formato diferente. Era branco com detalhes marrons. Ela o apresentou ao cliente e se curvou para frente para sussurrar em seu ouvido.
— Já usei todos, são bons, mas se levar esse de chocolate, sua mulher tirará dificilmente a boca do seu pau.
Daniel arregalou os olhos com a sinceridade de Jéssica. Fez questão de responder, também, aos sussurros.
— Esse é outro problema. Eu não tenho mulher, nem ninguém para usar isso. Imaginei se não poderia me ajudar, já que seu turno está acabando…
Jéssica riu, apesar de o olhar sério do seu cliente confirmar não se tratar de uma brincadeira. Ela completou a venda do produto e, ao ir embora, encontrou Daniel. Os dois seguiram na rua dos prazeres até o número seiscentos e sessenta e seis, mas não entraram no andar de cima.
O turno da obra já tinha acabado e a noite começou a cair. Havia sacos de cimento e areia espalhados por todos os lados e áreas com pisos já colocados onde não se poderiam pisar. Daniel andava desengonçado, numa clara evidência de não ter intimidade com o caótico ambiente de construção. Com muito custo, achou um botão onde acendia as lâmpadas, que, penduradas em lugares aleatórios, iluminavam muito mal o lugar.
— Acho que o motivo de não ter esposa é você não saber aonde levar as mulheres. — brincou, Jéssica.
— Você pode ter razão — disse Daniel — mas se você veio até aqui, é porque confia em mim. Então, que tal fechar os olhos e confiar um pouco mais?
Jéssica sorriu. Tinha algo diferente naquele homem que a inspirou a se jogar naquele jogo. Ela fechou os olhos e sentiu o corpo dele se aproximar. Foi abraçada, com as mãos lhe envolvendo a cintura e sentiu a respiração dele próxima ao seu ouvido.
— Respire fundo — sussurrou Daniel. Jéssica o obedeceu e sentiu a mão dele em seu peito, como se puxasse o movimento de seu diafragma, abrindo e fechando pulmões. O cheiro de suor e cimento fresco lhe invadiu as narinas.
— Fantasias são meros gatilhos que a gente pode ou não ativar. Se você fantasia com homens rústicos de uma obra, eu não posso te dar isso. Por outro lado, posso te entregar alguns símbolos.
Um sorriso brotou no rosto de Jéssica.
— Muito bem, senhor, mas está me julgando demais. Gosto de homens brutos, mas também gosto de homens gentis, inteligentes e educados.
Assim que terminou de falar, a língua percorreu a orelha da atendente, fazendo-a gemer.
— Por isso te trouxe aqui — disse Daniel, ao apalpar a bunda de Jéssica — para te dar um pouco de cada.
Um tapa firme acerta o bumbum de Jéssica, que geme. A ardência no bumbum é seguida pelo toque macio da língua em seu pescoço. Os gemidos não param. De repente, dedos esfregam algo viscoso em seus lábios, que detectam imediatamente o sabor do chocolate. A língua lhe invade a boca e Jéssica abandona a passividade, abraçando Daniel para lhe chupar a língua. Um beijo com gosto de chocolate.
As roupas de ambos caíram no chão empoeirado. A sujeira não importava, pois logo em seguida ambos deitaram no chão, tirando o resto das roupas. Dedos invadiram a boceta de Jéssica e melaram a boceta e toda a área em volta com o lubrificante. Ela foi devorada no chão, sendo lambida primeiro pela periferia até lhe chupar a boceta de vez. Os lábios eram sorvidos com a fruta mais gostosa de todas. Línguas e dedos invadiam Jéssica, que tremia em orgasmos seguidos. Foram longos minutos com a boca de Daniel colada à intimidade de Jéssica, ditando seus orgasmos, suas contorções e seus gemidos.
Jéssica não conseguia, e nem queria, controlar o sorriso de satisfação quando Daniel engatinhou sobre seu corpo para lhe beijar. Chupou gostoso a língua daquele homem enquanto sentia sua boceta ser invadida mais uma vez. Dessa vez, era seu corpo inteiro engolido por Daniel, envolvendo os braços em torno dela. Abraçada com força, não podia se mexer, apenas abriu as pernas para receber as estocadas contundentes do quadril de Daniel, a fodendo. A respiração dele acelerou e Jéssica teve seu corpo ainda mais apertado enquanto sentia o pau empurrado em sua boceta ainda mais fundo. Daniel gemeu por um longo instante no ouvido de Jéssica.
Sujos de poeira e cimento, os dois tomaram banho no banheiro improvisado dos peões. Tudo naquele ambiente excitava Jéssica, que foi comida ali mais uma vez. Daniel a fodeu por trás, com golpes firmes de seu quadril contra o dela. Satisfeitos, os dois ficaram ali, abraçados e trocando carícias.
— Olha, pode ser o meu tempo sem sexo, mas essa deve ter sido a melhor foda que já tive.
— Obrigado, você é inspiradora.
Jéssica sorri e beija Daniel na boca.
— Olha, eu tenho algo mais para você.
Jéssica franziu o cenho.
— Juro para você que amei isso tudo, mas se na nossa primeira vez você faz isso como pedido de namoro, acho que está indo rápido demais.
Daniel sorri.
— Isso não foi um pedido de namoro, foi uma entrevista de emprego.
Jéssica olha para Daniel, confusa.
— Você é dedicada demais para aquela farmácia. Essa obra virará o meu novo negócio e eu quero você à frente dele.