Mesmo que eu percebesse, desde muito novo, alguns gestos de delicadeza mais femininos em mim, os primeiros movimentos que começaram a definir as minhas escolhas sexuais futuras tiveram início nas férias de quando eu era adolescente, na casa da minha avó.
Minha avó era viúva e morava numa casa boa, embora não muito grande, na cidade de São Paulo.
Era num bairro periférico e essas férias aconteceram em 1980. Nessa época eu morava com meus pais, também em São Paulo, numa região distante da casa de minha avó.
Eventualmente íamos na casa da minha avó, que morava com minha tia mais nova, a Lia, e com meus tios Pedro e Claudio.
Geralmente nas minhas férias escolares minha avó ficava com minha mãe na nossa casa, mas nesse ano eu acabei indo pra casa dela.
Depois de anos fui entender que isso tinha haver com a separação dos meus pais que aconteceu pouco tempo depois naquele mesmo ano.
Minha avó me adulava e fazia todas as minhas vontades e até mesmo antecipava agrados e carinhos fraternais. Isso me deixava, na sua presença, mais mimado que o habitual.
Depois da primeira semana meus tios sairiam pro litoral, iriam passar uma semana fora, também de férias. Embora tivessem insistido com minha avó para que ela fosse, ela preferiu ficar em casa e eu naturalmente preferi ficar com ela.
Senti um pouco pela minha tia Lia que me dava mais atenção que meus dois tios. Ela até falava que eu poderia mexer nas coisas dela, mas sem estragar nada e que tudo voltasse nos seus respectivos lugares. Embora eu fosse menino minha tinha eventualmente me chamava pra opinar sobre suas roupas de passeio, brincos e maquiagens, fazendo poses diante do espelho no seu quarto e me perguntando o que eu achava. Eu me sentia muito confortável em opinar e ficava feliz quando ela dizia que eu entendia das coisas. Só muito depois fui entender essa "confiança" dela em mim.
Bom, a primeira semana se foi e meus tios saíram de férias.
Eles saíram na sexta-feira a noite e já teríamos, eu e minha avó, de cara um final de semana só nosso.
Na manhã de sábado, logo de manhã, fui com minha avó até a padaria.
Eu era magro e, mesmo com pouca idade, eu tinha a altura da minha tia Lia, ou talvez eu fosse pouca coisa mais baixo que ela que necessariamente não era grande. Fui de mãos dadas com minha avó e isso me dava segurança ante a minha habitual timidez. Diga-se de passagem, eu tinha poucos amigos na escola e no bairro aonde morava. Na escola tinha duas boas amigas e me enturmava pouco com os meninos. Na rua do bairro aonde eu morava meu melhor amigo era o Dione, um garoto um ano mais velho que eu, muito tranquilo e igualmente tímido como eu.
Ao chegarmos na padaria minha avó cumprimentou o padeiro que prontamente a atendeu. Ele entregou os pedidos da minha avó e se dirigiu a mim com a seguinte pergunta: "E a mocinha não vai querer nada?"
Fiquei vermelho na hora, mas minha avó, percebendo a situação, respondeu educadamente a ele, sem corrigi-lo, que tudo o que precisava já estava com ela.
Quando saímos da padaria minha avó passou as mãos nos meus cabelos lisos e disse "Juan, seus cabelos estão um pouco grandes..."
Aquilo de certa forma me confortou no sentido de que a confusão do padeiro poderia ter se dado devido a isso, pois ele não me conhecia (?)...
Ainda assim ao chegarmos em casa, notadamente constrangido, corri pro banheiro e a primeira coisa que fiz foi me olhar no espelho e ver se eu tinha cara de menina. Meus cabelos estavam um pouco longos, mas eu não queria corta-los. Eu gostava de como eles estavam, até mesmo porque no meu íntimo aquele aspecto mais feminino me agradava.
Depois de um tempo ouvi minha avó bater na porta do banheiro e perguntar se estava tudo bem. Respondi que sim e ela pediu que eu abrisse a porta.
Logo que abri ela olhou nos meus olhos, se abaixou e me abraçou. Senti aquele abraço diferente. Senti cumplicidade.
Ela então se afastou um pouco de mim, passando as mãos nos meus cabelos e me pediu com voz doce: "Juan, posso arrumar seus cabelos?"
Eu respondi com a cabeça que sim e então ela se pôs atrás de mim e com delicadeza, e ambos de frente para o espelho, escovou meus cabelos demoradamente.
Enquanto escovava meus cabelos ela dizia "Você não precisa corta-los, eles são muito bonitos e eu vou arruma-los pra você, mas quando for pra rua coloque um boné para que as pessoas não te confundam. Você é lindo, tem um rosto delicado. è só isso."
Quando ela terminou de escovar meus cabelos, sorriu pra mim pelo espelho e saiu dizendo "Venha tomar seu café..."
Ali sozinho diante do espelho vi uma menina no meu reflexo. A delicadeza e a cumplicidade da minha avó me conduziram a gostar do que eu acabara de ver. Senti-me mais delicado e gostei da minha imagem.
Na mesa do café minha avó agia comigo com naturalidade.
Passei o dia de sábado dentro de casa, entre o quinta e a televisão, mas em alguns tantos momentos escapava pro banheiro pra escovar meus cabelos e me olhar no espelho. Era estranho, excitante e divertido.
No fim do dia, quando começou a escurecer, minha avó pediu que eu fosse tomar banho pois naquela noite ela iria fazer um lanche e depois iríamos assistir televisão juntos no quarto da tia Lia.
Fizemos conforme o combinado, mas a certa hora minha avó disse que iria dormir no seu quarto e que eu poderia dormir ali mesmo. Me deu um beijo no rosto e entre algumas recomendações disse "...se for mexer nas coisas da sua tia tenha cuidado e volte-as em seus lugares". E saiu.
Embora minha tia Lia já houvesse me dito a mesmo coisa, dito na voz da minha avó, naquele dia atípico, essa recomendação me atiçou um pensamento novo.
Fiquei ansioso e com ideias que foram se clareando dentro da minha cabeça e, assim que senti que minha avó já estava em estado de sono, ousei a mexer nas coisas da minha tia.
Diminuí o som da televisão, fechei a porta do quarto e fui em direção do guarda roupas da minha tia.
Assim que abri a porta do guarda roupas me deparei com minha imagem no espelho da porta. Quando olhei para dentro do guarda roupas meus olhos se encantaram e meu coração disparou. Estavam lá as roupas da minha tia perfiladas nos cabides, mas uma em especial me chamou a atenção, um vestidinho cinturado que se abria em círculo na altura do joelho. O modelo tinha as mangas curtas caídas nos ombros e alinhavam com a parte que cobria os seios deixando o colo à mostra. Era preto com bolinhas miúdas brancas. Era lindo.
Ansiedade, palpitação e excitação se misturavam.
Tirei o vestido do cabide e o fiquei olhando sobre a cama. Me voltei para o guarda roupas, agora pra mexer nas três gavetas sob os cabides. Quando abri a primeira quase congelei, ali estavam os conjuntos de calcinha e sutiã. Tocar aquelas peças de lingerie me dava uma sensação sem par. Escolhi um que considerei fosse o mais adequado para mim e que combinasse com o vestido. Minha tia não tinha seios grandes o que pra mim facilitou bastante.
Colocar a calcinha e senti-la entrar na minha bunda foi mágico, assim como sentir o elástico do sutiã criar contornos no meu corpo me davam fortes convicções do meu espectro feminino e uma sensação única de realização.
A sensação de me ver no espelho de calcinha e sutiã só foi superada pelo susto que tive ao me ver de vestido e me enxergar uma perfeita menina. Me entreguei por completo ao feminino existente em mim e fiz com que todos os meus trejeitos fortalecessem essa ideia naquele momento.
Por duas horas noite adentro, em silêncio, caminhei pela casa como se estivesse passeando. Na verdade estava vivendo um sonho.
Alternei esse vestido com outros dois modelos, sempre fazendo o mesmo trajeto e eventualmente escovando meus cabelos diante dos espelhos da casa. Andando silenciosamente pelos cômodos da casa.
Quando o sono bateu guardei as peças de roupa nos seus devidos lugares, mas permaneci com a calcinha e o sutiã. Queria um pouco da sensação da camisola de seda sobre o corpo e foi igualmente mágico. O toque da seda me seduziu e me excitou ao ponto de uma ereção.
Sempre havia me tocado, mas nunca havia me masturbado de fato. Muito disso por receio ou medo. Mas naquelas condições não me contive.
O aumento do ritmo nos movimentos da mão no meu membro, aliado a sensação que o toque da seda me causava, mais a calcinha enfiada na minha bunda e tocando de leve em meu cuzinho me levaram a um gozo sem igual. Senti algo em mim destravar e pude sentir uma sensação estranha no bico dos meus peitinhos, algo como eles pulsassem no momento do gozo, da ejaculação.
A sensação do êxtase crescente me deu um pouco de medo, mas a vontade de sentir aquele descontrole que me conduzia um um espasmo foi maior que qualquer outra coisa. Fiquei extasiado sobre a cama, como num desmaio prazeroso e lúcido.
Depois desse momento fui até o banheiro limpar a minha mão e pegar um papel higiênico pra limpar o lençol da cama.
Deitei e tentei assistir algo na televisão, só pra alongar a sensação gostosa que sentia com a calcinha, o sutiã e a camisola de seda, pensando que logo teria que parar e guardar as peças pois seria arriscado acordar e ser visto daquele jeito pela minha avó.
Deitei sem coberta e acordei pela manhã, coberto, com o som da voz da minha avó dizendo "Juan, levanta e se arrume que estou indo na padaria, logo estarei de volta..."
Não tinha o que disfarçar...gelei.
Levantei pensando mil coisas, mas aconteceu. E agora?
Quando me sentei à mesa com minha avó, estava envergonhado. Minha avó percebendo colocou a mão sob meu queixo, levantando meu rosto em sua direção e disse: "Juan, não tenha vergonha. Esse será o nosso segredo. Outra coisa, enquanto estivermos só nós aqui dentro de casa, se vista e seja como você se sentir melhor."
Abracei a minha avó e relaxei minha alma nos seus braços.
Em seguida ela colocou um pão doce no meu prato e falou: "O padeiro pediu que eu entregasse para minha netinha linda."
Foram as melhores férias que tive até então...
Continua...