Davi, o surdo; Axel, o atleta; e Hiroshi, o estudante, eram mais do que aparentavam. Cada um carregava seus próprios traumas e inseguranças, mas também possuía uma força interna que os definia. O que os unia, acima de tudo, era uma amizade genuína.
Quando desconhecidos se tornam grandes amigos, o encontro inicial muitas vezes acontece em um local comum, onde alguém os apresenta. Porém, não foi exatamente isso que aconteceu com os três. O motivo foi uma pessoa que era comum apenas a um deles. Para entender, é necessário explorar alguns acontecimentos: o que levou a esse dia, como descobriram que eram amigos de verdade e como se uniram em um único objetivo comum aos três.
***
DAVI: O SURDO QUE ESQUECEU O AMOR
O apartamento de Davi era compacto, com uma suíte e um vão principal que ele havia dividido com uma elegante bancada de alvenaria. A cozinha se destacava como o maior espaço do ambiente, equipada com uma mesa de madeira e prateleiras sofisticadas. Nas paredes, vários paletes customizados serviam como suportes criativos para guardar bebidas.
Embora o espaço entre a bancada e o quarto fosse curto, era o suficiente para acomodar uma rede — a preferência de Davi em vez de uma cama, permitindo que ele evitasse lembranças indesejadas.
Após o abandono de seu mentor, Davi lutava contra as memórias de Victor, enquanto a tristeza tornava seus dias intermináveis. Meses se passaram, e ele se afundou cada vez mais na bebida, esgotando as economias que havia reservado para ajudar seus pais adotivos. Apesar da deterioração de sua saúde e da perda de peso evidente, Davi ainda mantinha uma ponta de vaidade, aparando o próprio cabelo de maneira descuidada. O espelho refletia não apenas seu exterior, mas também a sombra de alguém que se sentia profundamente perdido. Seu apartamento se tornara uma fortaleza: um refúgio isolado onde acreditava estar seguro, longe da crueldade das pessoas.
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Nesse estado de autodestruição, Davi parecia ter perdido o coração e a empatia. A casca de insensibilidade que o envolvia o isolava ainda mais do mundo. Porém, numa noite chuvosa, quando suas emoções estavam à flor da pele, algo inesperado aconteceu. Batidas insistentes na porta interromperam o fluxo de seus pensamentos sombrios. Ele hesitou, tentando ignorar, mas as batidas continuaram, cada vez mais urgentes.
Ele respirou fundo, ponderando se deveria abrir a porta ou continuar se escondendo de tudo e de todos. Secretamente, Davi esperava que a visita fosse algo mais do que um mero incômodo — talvez uma conexão, até mesmo uma oportunidade de romper a bolha de solidão em que estava aprisionado. Com um último olhar para o espelho, como se buscasse coragem, ele se dirigiu à porta, determinado a enfrentar o que estivesse do outro lado.
Com um suspiro pesado, Davi abriu a porta. À sua frente estava um jovem ensopado que falava rapidamente. Davi, com um olhar apático, conseguia entender apenas fragmentos sobre a sua vizinha do andar. Frustrado com a insistência do jovem, fez o gesto universal de telefone, indicando que poderia ligar para alguém. O rapaz, aparentemente desesperado, explicou que seu celular estava sem bateria.
Desinteressado, Davi deu de ombros e estava prestes a fechar a porta novamente, pronto para voltar ao seu hábito de se embriagar e evitar qualquer contato significativo. No entanto, ao perceber que o rapaz lhe era familiar, Davi recordou de algo mais profundo: o contato da vizinha em seu telefone continha uma foto do jovem que estava à sua porta.
Sem hesitar mais, Davi correu para o corredor e encontrou o jovem sentado no chão do prédio, tremendo de frio. Ele o ajudou a se levantar e o convidou a entrar. Enquanto o jovem se acomodava, Davi percebeu a confusão em seu rosto e, sem pensar, ofereceu seu carregador. O jovem sorriu timidamente, como se sentisse um alívio ao estar em um lugar seguro.
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A tensão se dissipou e, após um momento de hesitação, o jovem sorriu timidamente. Ele percebeu a surdez de Davi e usou um pedaço de papel para explicar a situação. Davi descobriu que o jovem era, de fato, o filho da vizinha, recém-chegado de viagem, que havia planejado uma surpresa para a mãe, mas encontrara-a ausente. Motivado por essa nova informação, Davi decidiu enviar uma mensagem para a mãe do garoto: “A senhora está em casa? Preciso de um pouco de açúcar.”
A resposta da vizinha foi rápida: “Volto só pela manhã, preciso dormir na casa da patroa hoje, mas se quiser, pode usar a cópia da minha chave.”
Davi se lembrou de que a vizinha lhe havia entregue uma cópia da chave do apartamento dela, sabendo que ele não gostava de sair de casa. Davi lembrou que a chave estava na cozinha, mas decidiu não mencioná-la ao jovem, desejando que ele ficasse por ali para fazer-lhe companhia.
Davi estava tão triste e precisava ser egoísta para tentar confiar novamente que pessoas boas ainda existiam. Então, apenas respondeu: “Tudo bem, obrigado.” A vizinha desejou boa noite e a troca de mensagens foi encerrada.
Davi explicou ao jovem que sua mãe só voltaria no outro dia.
— Por que você não disse que estou aqui? — disse o rapaz, enquanto se secava com uma toalha que Davi lhe oferecera.
Davi digitou no bloco de notas: “Se eu disser, ela pode sair do trabalho para vir te ver, e isso pode prejudicar o emprego dela.”
— Então, o que eu faço? — perguntou o jovem.
Davi voltou a digitar: “Se quiser, você pode dormir aqui... Amanhã você faz a surpresa.”
O filho da vizinha hesitou, perguntando se isso o incomodaria. Davi, sem pensar duas vezes, conduziu o jovem até a cozinha, decidido de que era a melhor solução. Preparou um chocolate quente para ele, enquanto, por sua vez, enchia seu próprio copo com vodca, buscando alívio em sua rotina habitual.
Ao se sentar à mesa, o jovem tomou um gole do chocolate quente, visivelmente aliviado, e aceitou o abrigo até o próximo dia. Com um sorriso hesitante, ele apontou para a bebida que Davi segurava e disse:
— Posso beber um pouco dessa aí também?
***
À medida que o jovem começou a se soltar, Davi sentiu uma leveza em seu coração, como se aquele rapaz também fosse uma alma solitária, assim como ele.
Depois de algumas bebidas, o jovem olhou para seu celular, viu uma mensagem de sua mãe, mas decidiu ignorá-la.
— Obrigado mais uma vez... Eu me chamo Ulisses. Como você se chama? — perguntou o jovem, enquanto enchia novamente seu copo com vodca.
Davi sorriu, digitou seu nome no celular e, ao se aproximar, mostrou a tela para Ulisses. O jovem estendeu a mão em cumprimento, mas Davi, por um impulso, apenas sorriu e voltou para seu lugar na outra extremidade da mesa.
Sem saber como continuar a conversa, Ulisses quis estabelecer algum vínculo.
— Ei, Davi, sabia que seu nome é legal...? Você sabe o que significa? — comentou ele.
Davi apenas sorriu, balançou a cabeça e se distraiu novamente com a bebida e o celular. Um pouco constrangido, Ulisses decidiu instalar um aplicativo e, após alguns momentos, resolveu continuar.
— Diz o que você acha que significa seu nome, Davi — pediu Ulisses animado. Ao notar a expressão confusa de Davi, acrescentou: — Ah, e você tem que usar as mãos!
Davi, um pouco perdido, riu da situação e se levantou. Pensando que era uma brincadeira, começou a gesticular, movendo as mãos de forma desajeitada, ainda sem entender o verdadeiro propósito da interação. Ulisses observava, divertido, enquanto Davi fazia movimentos sem sentido. Foi um momento leve e descontraído que começou a criar um vínculo entre eles.
Ulisses, um pouco nervoso, então explicou que tinha um aplicativo para transcrever a linguagem de sinais. Davi ficou surpreso; não conhecia a tecnologia que permitia facilitar a comunicação de forma tão prática. Ulisses então apontou a câmera do celular para Davi novamente e disse para ele responder o que achava que significava o seu nome. Davi riu e gesticulou.
Ulisses, nervoso, mostrou a transcrição dos movimentos: “o homem mais otário do mundo."
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— Seu nome não significa isso, e mesmo que fosse, não acho que é o que você pensa. — comentou Ulisses, explicando rapidamente sobre o aplicativo que estava usando.
Davi riu e, a partir desse momento, a conversa entre os dois ganhou um novo ritmo, e Davi, impressionado com a habilidade tecnológica de Ulisses, começou a se abrir mais.
Através do aplicativo, Ulisses conquistou a atenção de Davi, e eles passaram horas conversando, estabelecendo uma conexão que parecia impossível momentos antes.
As horas se passaram rapidamente enquanto eles conversavam, mergulhando em assuntos variados e compartilhando risadas. Davi percebeu que Ulisses começava a bocejar, um sinal claro de que a fadiga estava se aproximando. Ele sugeriu que o jovem tomasse um banho antes de dormir, para surpreender a mãe no dia seguinte sem cara de ressaca.
Davi chamou Ulisses para o quarto e explicou que ele dormiria na cama. Ulisses rejeitou inicialmente a oferta, mas Davi o convenceu, dizendo que sempre dormia na rede.
Logo em seguida, Davi colocou uma toalha na cama. Ulisses sacudiu a cabeça de Davi, quase careca, e disse com sinceridade:
— Você deveria deixar seu cabelo crescer, sabia? Ele vai te deixar bonitão.
Davi riu, e Ulisses pegou a toalha, indo para o banheiro. Ele deixou a porta aberta, mas fez isso com o pensamento de que Davi não iria parar de beber. Ulisses queria tomar um banho para se sentir mais desperto e, assim, acompanhar Davi até ele ir dormir, pois Ulisses acreditava que Davi era uma pessoa boa e queria cuidar para que ele não extrapolasse.
Por outro lado, Davi estava realmente pensando em dormir e não pensou que Ulisses havia entendido que a toalha colocada na cama era para ele, mas Davi havia decidido tomar um banho primeiro, pensando que isso tornaria o quarto mais confortável para Ulisses, evitando ter que voltar e incomodar seu sono.
Contudo, como a porta estava aberta, Davi supôs que Ulisses não se importaria de compartilhar o chuveiro e entrou para dividir o banho com o jovem. O efeito da bebida havia confundido os dois.
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Para evitar qualquer constrangimento, Davi decidiu adotar uma postura divertida e entrou no banheiro correndo em direção ao chuveiro. Ulisses, um pouco envergonhado, pensou que Davi estava apenas sendo carismático ao disputar o chuveiro.
Enquanto Davi estava de costas, Ulisses não conseguia parar de observar; sua curiosidade sobre o corpo de Davi aumentava. Os olhares discretos de Ulisses foram notados por Davi, que ficou intrigado.
Blindado contra qualquer olhar malicioso, Davi, com a autoestima baixa, interpretou os olhares de Ulisses como desaprovação pelo seu corpo magro e evitou contato visual.
No entanto, Ulisses não achava o corpo de Davi feio e era incapaz de disfarçar seu interesse. Embora Davi estivesse muito magro naquele momento, sua aparência era bem cuidada. Contudo, os olhos de Ulisses não paravam de se fixar no membro de Davi.
Davi notou os olhares de Ulisses para seu pênis, mas a ideia de que seu corpo poderia despertar interesse nele passou rapidamente por sua mente. Atordoado pelas suas lembranças, Davi decidiu sair imediatamente daquela situação embaraçosa. Sutilmente, ele se abraçou, como se estivesse com frio, e acenou para Ulisses, se despedindo. Davi pegou uma toalha e um short fino no quarto e, ao sair do cômodo, fechou a porta atrás de si.
Ao fechar a porta, decidiu não dormir e se afogar na bebida, convencido de que havia se enganado mais uma vez.
Pensou que Ulisses queria se aproveitar dele, assim como Victor fizera, então apagou as luzes fora do quarto para Ulisses pensar que ele estava dormindo e não o incomodar. Tirou o aparelho auditivo e se permitiu o barulho apenas de sua mente decepcionada.
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Apesar de Davi beber todos os dias, naquela noite ele havia ultrapassado seus limites. Sair do quarto se tornara um ato quase automático. O tempo parecia passar lentamente enquanto ele se perguntava se Ulisses já havia sucumbido ao sono. Com os sentidos entorpecidos, decidiu tirar a roupa e se deixar levar à masturbação. Tomado pela curiosidade e pelo desejo de intensificar sua experiência, a ideia de usar o “ingrediente” secreto de Victor se tornava irresistível.
Ao consumir a substância, Davi sentiu suas sensações amplificarem-se; ele se permitiu mergulhar naquele estado, esquecendo momentaneamente que Ulisses ainda estava no apartamento. A liberdade de agir sem o peso da consciência o envolveu, fazendo com que cada toque fosse mais intenso e cada respiração se tornasse mais profunda.
Sem seu aparelho auditivo, Davi não tinha consciência dos sons que produzia. Os gemidos escapavam de sua boca sem filtro, intensificados pela substância que borrava suas inibições e o fazia esquecer que não estava sozinho.
Naquele momento, tudo o que existia era ele e as sensações provocadas pela droga, distorcendo sua percepção da realidade. Os ecos de seus próprios sons reverberavam pelo ambiente, mas Davi estava tão perdido em sua entrega que não percebia a presença iminente de Ulisses, ignorando que seu estado vulnerável poderia ser flagrado a qualquer instante.
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Ulisses estava à beira do sono quando algo o despertou, puxando sua mente de volta à realidade com sons suaves, mas perturbadores. Ele se levantou lentamente da cama, sentindo o frio do chão contra seus pés descalços. “Será que Davi caiu?” pensou, tentando entender o que estava acontecendo.
Conseguiu perceber sussurros e gemidos altos, e sua mente começou a imaginar que Davi havia trazido alguém para o apartamento. Mas ao se levantar da cama, teve outra perspectiva.
"Davi?", questionou sua mente em um lampejo de curiosidade e incerteza. As possibilidades giravam em sua cabeça: "Será que ele está tocando uma punheta?”
Ao se aproximar mais da porta, teve certeza, e em sua mente, Ulisses acreditava que Davi gemia alto para que ele ouvisse. “Talvez ele queira que eu ouça e vá até ele..." pensava, já se excitando com a possibilidade.
Os sons eram inegáveis e Ulisses procurava uma razão lógica para deixar o quarto, uma justificativa que o salvasse do constrangimento se sua interpretação estivesse equivocada. Respirando fundo, decidiu avançar, movido tanto pela curiosidade quanto pelo desejo.
Ao abrir a porta, uma penumbra engoliu seus olhos. A única fonte de iluminação era uma tênue faixa de luz que entrava pela janela da cozinha.
Com passos calculados, Ulisses avançou, desviando-se cuidadosamente da rede que balançou suavemente. Escolheu o caminho mais coberto pelas sombras. Ele conseguiu ver apenas a nuca de Davi, cujo corpo se escondia atrás da bancada.
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Davi estava completamente imerso no momento, movendo a mão com urgência enquanto o álcool e a excitação o envolviam. Ele alternava entre sussurros baixos e gemidos intensos, mas Ulisses, escondido na escuridão, mal conseguia decifrar as palavras que escapavam dos lábios de Davi.
Cada gesto de Davi misturava desejo e imprudência. Ele levantou-se de repente e bateu o pênis na quina da mesa diversas vezes, gemendo involuntariamente, enquanto suas feições se contorciam de tesão.
O som das batidas do membro de Davi parecia como o som de pedras se chocando. O som deixava Ulisses com a boca aberta. Queria se aproximar, mas não conseguia. Os pés não respondiam. Tudo que ele queria era ver Davi de frente.
Em um impulso, Davi sentou-se novamente, cuspindo violentamente a saliva, úmida e bruta, no seu pênis. Davi massageava apenas a ponta do seu tronco, gemendo com a intensidade da lubrificação.
Ulisses observava e teve um leve susto ao ver Davi se levantar e virar, se apoiando na mesa. Seu corpo curvava, com a intensidade do vai e vem frenético. Ele abriu as pernas e se contorcia pra cima e pra baixo, como se tivesse prestes a gozar.
Davi diminuiu o ritmo para adicionar outra camada de lubrificação ao seu membro, seus movimentos alternando entre acelerações e pausas, prolongando aquele momento.
Impulsionado pela adrenalina, Ulisses decidiu se aproximar, convencido de que era hora de mostrar a Davi que compreendia o “recado”. Porém, depois do primeiro passo, notou o aparelho auditivo de Davi à vista, repousando sobre a bancada da cozinha. Seu coração disparou. A cena, que ele imaginara como um momento privado entre eles, agora estava imbuída de uma nova camada de consciência.
A tentação de participar aumentou, mas a revelação do aparelho introduziu uma onda de insegurança. Sem o aparelho, Davi não conseguiria quantificar os sons ao seu redor; a percepção de que aquele era um momento íntimo, pertencente somente a Davi, se solidificou na mente de Ulisses.
Davi, consumido pelo desejo e à beira da satisfação, abriu os olhos repentinamente, como se despertasse de um profundo transe. A luz do ambiente o ofuscou momentaneamente, e ele piscou algumas vezes para ajustar sua visão. Então, a silhueta de Ulisses, que se movia nervosamente antes de perder o equilíbrio, chamou sua atenção. Um susto percorreu seu corpo e, em um impulso, ele ligou a luz.
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Antes que Davi pudesse processar o que estava acontecendo, Ulisses tombou no chão e virou seu rosto para Davi, que pôde ver o rosto de Ulisses corar sob a luz, sua expressão repleta de constrangimento e confusão.
— Cara, foi mal! Eu só vim beber água... e não quis atrapalhar você — tentou justificar, sua voz trêmula revelando o nervosismo que sentia.
Ao entender a situação, Davi apontou para o ouvido, indicando que estava sem o aparelho auditivo, tentando deixar claro que não havia ouvido nada. Ao mesmo tempo, estendeu a mão para ajudar Ulisses a se levantar. Davi questionava o que Ulisses tinha visto.
Ulisses, ainda tentando recuperar a compostura, percebeu que os olhos de Davi estavam diferentes, e ele não parecia ter se constrangido em ser observado. Ulisses olhava o pênis de Davi, ainda duro como rocha, e mesmo assim, Davi não se constrangia. Parecia que estava gostando.
Ulisses correu até a geladeira. Ao abrir a porta, pegou um copo e o encheu de água, buscando algo que acalmasse seus nervos. Quando se virou, seus olhos encontraram Davi, que ainda exibia seu pênis ereto, mas sem interesse aparente no rosto. Ulisses suspendeu o copo, tentando explicar o motivo de estar ali, mas notou que Davi não tinha interesse em nenhuma justificativa, pois não havia colocado o aparelho auditivo. Então decidiu ter certeza.
— Davi, eu acho você bonitão... — começou Ulisses, hesitante, mas Davi virou-se para encher um copo de vodca.
Davi entregou o copo a Ulisses, que agradeceu. Ulisses imaginava que, sem o aparelho, Davi não teria como saber o que ele estava dizendo, considerando sua surdez. Aproveitou o momento para expressar seu desejo em voz alta:
— Eu estava olhando para você faz tempo... queria chupar esse pau grosso, Davi... — confessou Ulisses, a voz um sussurro malicioso enquanto suas mãos gesticulavam, quase como se estivesse pedindo desculpas. — Só não caio de boca agora porque você pode não querer.
Davi soltou uma risadinha leve, dando um tapinha no ombro de Ulisses, como se dissesse que tudo estava bem. Ulisses percebeu que Davi não havia entendido nada e suspirou de alívio.
Sentindo-se eufórico, Ulisses retornou ao quarto, quase ofegante, com o copo de vodca na mão. Tentou trancar a porta, mas percebeu que estava sem chave.
Apesar disso, a imagem que havia visto na cozinha continuava fresca em sua mente. Sem hesitar, despindo-se rapidamente, tomou ligeiro a vodca e deitou-se na cama, fechando os olhos e começou a se masturbar lembrando de Davi.
Enquanto sua mão começava a se mover gradualmente, os pensamentos em Davi o dominavam, entrelaçando-se em seus sussurros.
— Que pau gostoso, Davi... — murmurou Ulisses para si mesmo.
Seus gemidos eram altos. Em sua mente, desejava que Davi colocasse o aparelho e escutasse. Quando deu um gemido, quase como um grito, foi interrompido por batidas na porta
***
Instintivamente, Ulisses cobriu-se com o lençol e, assustado, abriu a porta. Davi entrou, iluminando o quarto, um copo de bebida na mão e ainda totalmente despido e ereto.
— O que aconteceu? — Ulisses perguntou, recuando ligeiramente para a cama.
Davi se aproximou, com o membro brilhando de saliva e com esperma escorrendo, e tomou um gole da vodca no copo em sua mão.
Ulisses, nervoso, já tinha secado a vodca, e Davi estendeu a ele o seu. Ulisses tomou um gole, mas não conseguiu desviar o olhar do corpo de Davi.
Davi se apoiou na parede e se masturbava lentamente olhando pra Ulisses. Seu olhar era de provocação.
— Você ouviu alguma coisa, Davi? — Ulisses perguntou, a ansiedade na voz.
Davi manteve o olhar firme e balançou a cabeça negativamente, apontando para seu ouvido, confirmando que não estava usando o aparelho auditivo.
— Então o que você quer? Quer que eu beba com você? — Ulisses sugeriu, tentando quebrar o clima tenso, mas percebendo que Davi ainda estava em silêncio.
Suspirando, Ulisses lembrou que Davi estava sem o aparelho, e sua mente se encheu de confusão, desejos e inseguranças. Tentando recuperar a compostura, deitou-se parcialmente na cama e, olhando para o membro de Davi com um desejo crescente, disse:
— Queria que você deixasse eu chupar seu pau, Davi.
Contudo, Davi não teve paciência. Com um puxão decidido, retirou o lençol, assustando Ulisses. Este pediu calma, mas Davi agarrou o pênis dele e começou a massageá-lo lentamente, fazendo-o fechar os olhos e ofegar de prazer.
— Coloca minha boca no seu pau, Davi... deixa eu saber como é... — sussurrava, de olhos fechados, Ulisses.
Davi não perdeu tempo; puxou Ulisses para fora da cama, fazendo-o se ajoelhar no chão.
Ulisses pegou seu celular, que estava na cama, e digitou rapidamente: “Por que você fez isso?”, entregando o celular a Davi, quase como se isso pudesse esclarecer a situação. Davi deu de ombros e digitou algo, mas não devolveu o celular. Em vez disso, aproximou-se dele. Surpreendido, Ulisses perguntou:
— O que aconteceu? Você realmente quer isso?
Os olhos de Davi brilharam e, para a surpresa de Ulisses, ele apontou novamente para seu ouvido, indicando que estava sem o aparelho, mas sua expressão transmitia confiança. Ulisses arriscou e deu uma lambida na glande do pênis de Davi.
Quando Ulisses olhou para cima, viu o sorriso malicioso de Davi. Ulisses estava nervoso, pois nunca havia feito aquilo. Davi logo mostrou a tela do celular para ele. Na mensagem estava escrito: “Eu sei ler lábios.”
***
Ulisses, por um momento, lembrou de tudo que disse e que Davi conseguiu decodificar, e então tomou de volta o celular e digitou sua resposta, entregando novamente a Davi, que leu: “Então leia meus lábios agora.”
Davi olhou para baixo e leu os lábios de Ulisses: “Goze na minha boca também.”
Quando Davi fechou os olhos em resposta, Ulisses aproveitou a oportunidade. Alargando a boca, começou a sugar o membro de Davi, seus movimentos eram intensos e ele tentava engolir tudo a todo custo, mas não conseguia. Mesmo em meio ao prazer desenfreado e aos gemidos que escapavam de Davi, ele não se desconcentrava. Era como se quisesse aquilo a todo custo.
Quando finalmente Davi sentiu seu gozo preenchendo a boca de Ulisses, sussurrou baixo: “Victor, Victor...”
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Davi e Ulisses não pararam, e quando chegou a hora de dormir, Davi foi para a rede e Ulisses ficou no quarto sozinho. Triste, Ulisses resolveu ler a mensagem que sua mãe havia enviado e que ele ignorou:
“Ulisses, meu filho, se você tiver perdido sua cópia, meu vizinho tem outra. O nome dele é Davi. Ele tem surdez, mas usa um aparelho auditivo e acho que sabe ler lábios. Talvez ele tenha perdido a cópia da minha chave, mas ele tem um coração bom e deve te chamar para dormir no apartamento dele. Não beba para não cair na tentação, e seu pai não pode saber que você dormiu com um gay.”
Ulisses chorou por um instante, por não poder admitir para a mãe que também era gay e estava se apaixonando.
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Com o passar do tempo, Davi começou a deixar as lembranças de Victor para trás, sucumbindo aos novos sentimentos que Ulisses despertava nele. Porém, os encontros dos dois eram apenas no apartamento de Davi, longe dos olhos da mãe de Ulisses. Embora essa nova conexão não fosse percebida como uma paixão arrebatadora — muito menos como amor — Davi encontrou prazer na companhia de alguém com quem podia conversar abertamente e compartilhar momentos significativos.
Ao observar Ulisses se dedicando diariamente aos estudos e ao trabalho, Davi sentiu uma chama de motivação acender-se dentro dele. Algo na determinação de Ulisses o inspirava a buscar um propósito semelhante. Após enfrentar várias negativas em suas tentativas de emprego, Davi não desanimou.
Ulisses encorajou Davi a se aproximar de um chefe de bar conhecido por sua bondade e sua disposição em ajudar aqueles em busca de uma nova chance. “Ele pode abrir portas para você, Davi,” dizia Ulisses várias vezes, até que Davi foi lá e, sem dificuldade alguma, foi aceito como garçom.
Com o apoio de Ulisses, Davi começou a acreditar que tinha a capacidade de conquistar seus próprios objetivos e, quem sabe, reconstruir sua vida. Porém, o único benefício desse emprego foi ter a oportunidade de conhecer três pessoas.
O véu de mentiras ainda ia perseguir Davi por muito tempo.
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O SURDO, O ATLETA E O ESTUDANTE
Foi na terceira noite de trabalho que Davi, enquanto atendia uma mesa onde um asiático de óculos segurava uma pasta de desenhos ao lado de um rapaz mais alto e malhado, ouviu um grito ecoar do lado de fora do bar:
“Por que você pegou meu celular, Leleco?”
O asiático, surpreso, exclamou ao ver a figura de um homem com o corpo extremamente bem delineado.
— Ei, você me disse que seu nome era Axel — disse o asiático para o que atendeu por Leleco, que riu alisando seu bigodinho.
— Axel, sou eu! Esse moleque veio passar só um tempo comigo e já tá aprontando — disse o sujeito, com nervosismo na voz.
— Só queria te adiantar na parada da tatuagem, parceiro — acrescentou Leleco.
— Já te disse pra parar de me chamar de parceiro, Leleco. — Repreendeu Axel. — Você é meu primo!
— Meu irmão, eu não sou mais criança. Esquece esse apelido — respondeu o primo.
Davi observava a cena e não pôde conter uma risada, aliviando a tensão que sentia. Ele nunca imaginou que aquele dia seria tão divertido.
— O que é que você tá rindo? — perguntou Axel, olhando para Davi com um semblante curioso. Sua expressão transmitia tranquilidade, como se Davi soubesse que ele não era o que parecia.
— Ele é surdo, cara — disse Leleco.
— Não parece! — Axel falou, já sorrindo de canto para Davi. — Olhe o ouvido dele! Hiroshi e o primo de Axel riram.
Davi, ainda entre risadas, ouviu um grito do patrão vindo do balcão.
— Olhe aqui, seu surdo dos infernos! Tá pensando que pode fazer corpo mole? Atenda logo a mesa!
Davi virou-se e olhou para o "homem de bom coração", balançando a cabeça em concordância. Pegou um papel e pediu a algum deles que fizessem um pedido.
Hiroshi ficou nervoso, enquanto Leleco tentou escolher algo no cardápio, mas só havia bebida alcoólica. Axel olhava furioso para o patrão de Davi, que ainda observava Davi de longe. Quando estava prestes a gritar novamente, Axel tirou o aparelho auditivo de Davi, que se assustou e virou-se. O grito foi ouvido pelas poucas pessoas no bar, mas Davi decodificou os lábios do "homem de bom coração":
— Não vá pensando que vai fazer corpo mole aqui só porque o veadinho do meu filho pediu pra eu deixar você trabalhar aqui, seu vagabundo! Para de dar em cima dos machos daqui e vá trabalhar!
Nesse momento, as lágrimas começaram a escorregar pelo rosto de Davi. Axel, Leleco e Hiroshi reagiram de forma diferente, porem todos com angustia pelo ocorrido.
***
— Cara, não liga de te chamarem assim... Eu também acho que sou gay — disse Hiroshi nervoso.
Axel olhou pra Hiroshi e disse: — Ele não tá chorando por isso, Japa.
Leleco ficou sem jeito e perguntou a Hiroshi como ele tinha escutado. Hiroshi riu e explicou que era porque o garçom sabia ler lábios.
Enquanto isso, Axel já havia avançado para o "homem de coração bom": — Olhe aqui, seu velho escroto, eu gosto de homem... vai me chamar de veado também?
O velho resmungou algo e tentou se afastar, mas Axel o deteve, segurando seu braço.
— Se você falar de novo com ele assim, vou caçar você até no inferno! — exclamou Axel, com a voz firme. — Ah, e aguente ele aqui só seis meses. Eu vou trazer clientes pra você.
— Como você vai fazer isso? — gaguejou o patrão de Davi.
— Importa? Seu velho escroto! — Axel entregou cinco notas de R$ 100. — E aquele SURDO tem nome?
— Davi — balbuciou o velho, contando as notas.
—Escute então: Davi está de folga o resto da noite, amanhã e depois — Axel dizia, gritando.
O velho disse que poderia fazer o que quisesse; se Axel conseguisse clientes, era o que importava.
Axel bateu no balcão e declarou: — Não diga nada a ele ou eu...
— Certo, certo... Já entendi — disse o velho, saindo.
Axel retornou à mesa e olhou diretamente para Hiroshi:
— Ei, Japinha! Qual é seu nome?
— Hiroshi... Por quê? — respondeu Hiroshi, um pouco nervoso, seu olhar alternando entre Axel e Davi, sem entender bem a situação.
Axel ignorou a pergunta anterior e continuou:
— Fica aí uns cinco minutos com meu primo... Japa. — Axel concluiu como se não conseguisse pronunciar o nome de Hiroshi. Em seguida, Axel abraçou Davi e o puxou para fora do bar.
***
Hiroshi, ainda perplexo, esperou alguns minutos antes de sair à calçada.
— E agora? — perguntou, sem saber o que fazer, os olhos arregalados.
— Vou levar ele pra longe daqui. E você também. Meu primo quer escolher minha tatuagem, e você vem! — Axel afirmou, decidido; seu olhar penetrava Hiroshi.
— Mas ele ainda está bebendo — contra argumentou Hiroshi, nervoso.
— Vá chamar ele! — Axel insistiu, a impaciência visível em suas feições.
— E como eu chamo ele? Axel ou Leleco? — questionou Hiroshi, com humor negro no rosto.
— Nenhum dos dois... use o nome dele — respondeu Axel, com firmeza, enquanto alisava o cabelo de Davi.
— Ele não me disse.... — Hiroshi falava com medo de Axel.
Axel olhou com a cara irritada pra Hiroshi e depois riu. — Cara, eu estou só brincando com você. Deixa de ser medroso, seu japinha nerd. — Axel disse, confortando Hiroshi. — Leonardo, Japinha... O nome dele é Leonardo, mas é melhor você chamar ele de Léo.
.
Por R. Rômulo (Novatinho)
***
Aviso Importante ao Leitor:
Este conto é uma criação original e está protegido pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. O plágio, que é a cópia ou uso não autorizado deste material, é um crime e pode resultar em penalidades legais severas. A reprodução, distribuição ou qualquer outra forma de utilização deste conto sem a permissão expressa do autor é estritamente proibida.
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