Duas horas depois, há muitos quilômetros da casa de praia, imerso em seus próprios pensamentos, Celo chegava em casa. A viagem foi amarga, inquietante, as cenas que vira, não saiam de sua mente, o assombrando.
“De novo? O problema sou eu? Eu não sou macho o suficiente para satisfazer minha mulher? Por que Mari? Por que tanta rejeição para mim e tudo o que eu sempre quis, você entregou com muita facilidade para outro?”.
Celo estacionou sem conseguir domar seus pensamentos. Foi direto tomar um banho, pois estava suando frio, quase chegando a passar mal. Se deitou na cama, mas foi incapaz de dormir, sabia que ficar deitado seria pior.
Um pensamento cruel, mas que parecia certo naquele momento, passou por sua cabeça. “Por que não me afastar? Mari não merece nada de mim? Meus filhos estão criados, vivendo a própria a vida e Mari, assim que teve um mínimo de liberdade, me mostrou, que na realidade, é uma outra pessoa? O que me prende aqui? O que me segura? Nada”.
Celo desceu até a garagem e encontrou um jogo de malas antigo. As novas estavam na casa de praia. Com olhos marejados, ele pegou o que achou essencial para algumas semanas: Calças, bermudas, camisas, cuecas, meias, sapatos, um par de tênis … pegou também documentos importantes, como o passaporte e só então se lembrou que, na correria, por ter saído sem pensar direito, seu melhor violão, e também o celular, ficaram para trás.
O dia começava a amanhecer e Celo jogou a mala arrumada no porta-malas do carro. Pegou também seu outro violão, um aparelho de celular antigo, mas que ainda funcionava, fechou a casa e saiu sem rumo. No caminho, decidiria o destino, já que não tinha a menor ideia de para onde ir.
Continuando:
Parte 12: “Por Onde Andei, Enquanto Você Me Procurava.”
Celo dirigia, mergulhado em pensamentos sombrios, enquanto o nascer do sol, pintava o horizonte com tons de laranja e rosa. A estrada deserta estendia-se à frente, um caminho sem destino, somente ecoando sua solidão. O som do motor e o vento suave criavam uma melodia monocórdica, sua única companhia. Seus olhos, refletindo a dor e a desilusão, fixavam-se no asfalto, como se buscassem respostas nas linhas retas.
"Por que, Mari?". Ele pensava. "Novamente, eu não fui suficiente?". A pergunta ecoava em sua mente, uma agonia incessante.
O violão no banco de passageiros, lembrete das noites em que tocava para a esposa, agora parecia um símbolo de ironia. Celo suspirou profundamente, sentindo o vazio consumir seu peito. "O que me resta?". Questionava-se, a voz quase inaudível. "A música, talvez?".
Ele acelerou, tentando deixar para trás a dor e os pensamentos confusos, enquanto o futuro se escondia na neblina da estrada.
Após horas de direção, Celo estacionou diante do "Bar do Zé", um refúgio simples, mas acolhedor. Seu estômago rugia, pedindo alimento. Ao entrar, o aroma de feijão recém cozido e pão fresco o envolveu, transportando-o para momentos mais felizes. Já estava muito longe de casa, numa cidadezinha bucólica de interior, sem rumo ou propósito.
Só sabia que precisava se afastar, se esconder, incapaz de encarar a vergonha e a humilhação que lhe sufocavam a alma. O silêncio era sua única companhia.
Enquanto aguardava o garçom, Celo explorou o ambiente acolhedor do Bar do Zé. Seus olhos vagaram pelas mesas de madeira escura, pelas paredes adornadas com fotos antigas e pelo pequeno palco no canto, onde um violão solitário repousava sobre uma cadeira, como se esperasse por dedos habilidosos.
O garçom, um homem de meia-idade com um sorriso caloroso, aproximou-se.
— O que vai ser, amigo?
Celo forçou um sorriso, tentando esconder a tristeza.
— Um café. Preto, puro. E ... o que você recomenda?
— Ainda estamos servindo o café da manhã, mas nosso almoço é famoso na região. — Respondeu o garçom. — Se quiser esperar, nossa feijoada é imperdível.
Ele concordou, aceitando a recomendação. Enquanto esperava, não conseguia desviar os olhos do pequeno palco. Algo nele o atraía, como um chamado silencioso.
— Vocês têm apresentações musicais aqui? — Perguntou ao garçom.
— Sim, às vezes. Locais e turistas adoram música ao vivo. Você toca? — Respondeu o garçom, curioso.
Celo hesitou, mas uma chama interna despertou.
— Sim, eu toco.
O garçom sorriu, animado.
— Talvez possamos marcar uma apresentação. O dono, seu Zé, adora música. Vou chamá-lo.
Um calafrio de excitação transpassou pelo corpo de Celo, uma emoção positiva que afastava os pensamentos sombrios. Há anos não tocava em público, mas algo dentro dele ansiava por reviver aquela sensação.
Zé, um homem robusto com um sorriso caloroso e olhos brilhantes, aproximou-se com cortesia.
— É você quem toca violão? E também canta? Quer realmente se apresentar aqui conosco?
Celo assentiu, um sorriso tímido surgindo em seus lábios.
— Sim, é um hobby.
Ele puxou o celular do bolso, buscando um vídeo de uma apresentação feita no passado. O vídeo mostrava Celo tocando com intensidade, os dedos dançando sobre as cordas. Zé assistiu, impressionado.
— Uau! Você é um artista! — O homem exclamou. — Que tal uma apresentação hoje à noite? Nós não temos nada programado.
Celo hesitou por um instante, o coração acelerando.
— Topo. — Ele respondeu finalmente.
Zé estendeu a mão, fechando o acordo.
— Ótimo! Às vinte horas, então? Pode ser? — E piscando para Celo, disse. — Final de feriado, hoje à noite deve lotar. Vai ser uma boa surpresa para os clientes.
Celo concordou, sentindo uma mistura de nervosismo e entusiasmo. Enquanto terminava sua refeição, pensou: "Será que Mari já sabe que eu parti?".
A música parecia oferecer um novo propósito, um refúgio das lembranças dolorosas. Celo estava disposto a experimentar, a deixar a dor de lado e encontrar-se novamente na melodia. Talvez, apenas talvez, fosse a hora de seguir por aquele caminho.
Celo encontrou o hotelzinho à beira da estrada sugerido pelo seu Zé. Era um lugar modesto, mas acolhedor. O quarto simples, com janelas que davam para a estrada, o recebeu com um silêncio reconfortante. O sol da tarde iluminava o ambiente, mas não conseguia penetrar a escuridão que o envolvia.
Ele segurou o violão, acariciando as cordas com dedos trêmulos. A música fluía como lágrimas contidas, cada acorde ecoando sua dor, cada nota, uma lembrança agonizante. "Por que, Mari?". Ele sussurrou para si mesmo, enquanto as lágrimas rolavam.
O violão gemeu sob seus dedos, como se compartilhasse sua agonia. Celo fechou os olhos, deixando a melodia fluir, um lamento silencioso que preenchia o quarto.
O tempo passou, indiferente à sua dor. O sol se pôs. Celo parou de tocar, exausto, e olhou-se no espelho: olhos vermelhos, rosto cansado, mas uma centelha de determinação brilhava.
"Vou tocar para esquecer". Prometeu a si mesmo. "Para abafar a dor. Vou tocar para renascer". Ele respirou fundo, preparando-se para enfrentar o palco e seus próprios demônios.
O relógio marcava dezenove horas. Uma hora até o show.
{…}
Naquele mesmo dia, horas antes:
Mari acordou lentamente, envolta em uma luz suave que filtrava pelas cortinas. O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave da respiração de Paul. Ela sentou-se na cama, passando as mãos pelos cabelos, tentando afastar o sono.
Um profundo vazio a envolveu, como se tivesse perdido algo essencial. Mari olhou em volta, procurando respostas. O quarto, antes acolhedor, agora parecia estranho, frio. Ela se levantou, cambaleando até a janela. A luz matinal a envolveu, revelando a bela visão do mar azul.
Mari sentiu um nó na garganta, lágrimas prestes a rolarem. "O que eu fiz?". Ela pensou, olhando-se no espelho. "Por que me sinto mal?". A imagem de Celo surgiu em sua mente, seguida da de Anna. Dor e culpa a consumiram.
Pensamentos confusos se entrelaçavam em sua mente: "Será que escolhi o caminho certo? E Celo? Como ele está?".
Mari sentiu-se perdida, sozinha e confusa. Seu coração pedia respostas, mas em sua mente apenas ecoava o silêncio. Ela entrou no banheiro, buscando refúgio na água morna. A ducha a envolveu, mas não conseguiu lavar as dúvidas. Seus pensamentos continuaram a girar.
"Por que eu sempre faço a escolha errada?". Perguntou a si mesma, lembrando-se de Alberto, seu ex-noivo. "Ele me prometeu amor eterno e me deixou destroçada". Pensou em Celo também: “Será que ele se divertiu? Mas e agora? A realidade, e eu a conheço muito bem, é diferente”.
A lembrança da dor e da humilhação do passado a fez tremer. Mari sentiu-se presa em um ciclo de autopunição. "Celo é diferente, não é?". Ela se questionou, tentando se convencer da mesma situação, incapaz de ter certeza de, realmente ter feito o certo.
A incerteza a sufocava. Mari fechou os olhos, deixando a água morna massagear seu corpo, enquanto sua mente buscava por respostas. "O que eu quero, realmente?". Sussurrou para si mesma, procurando as respostas nas profundezas de sua alma ...
Mari saiu do banheiro e viu que Paul já tinha se levantado. Desceu as escadas em direção a cozinha, onde o grupo preparava o almoço. O aroma de comida caseira e risadas preenchiam o ambiente.
— Boa tarde, Mari! — Cora chamou.
Mari sorriu sem muito entusiasmo.
— Boa tarde ...
Seus olhos varreram a cozinha, procurando por Celo. Estranhou sua ausência.
— Onde está ...? — Mari começou a perguntar, mas parou.
Paul notou sua expressão.
— Quem?
Mari hesitou.
— Ninguém ... apenas pensei …
Giba, Fabi e Chris continuaram preparando o almoço, sem notar a tensão. Anna, sentada ao lado de Paul, olhou para Mari com curiosidade. Mari forçou outro sorriso.
— Vou ajudar.
Mas sua mente estava com Celo. “Onde ele estava? Por que não estava lá?”.
Mari ajudou preparar o almoço, esperando pela chegada do marido a qualquer momento. Com a demora, muito preocupada, resolveu verificar o quarto. Abriu a porta, esperando encontrá-lo dormindo ou relaxando, mas o quarto estava vazio.
Seu coração acelerou. Onde ele poderia estar? Ela notou o celular dele no criado mudo e o violão no canto, junto com as malas. Isso a acalmou um pouco. Talvez ele tivesse ido dar um passeio.
Voltou à cozinha, ainda inquieta.
— Alguém viu o Celo? — Perguntou, tentando soar casual.
Anna, notando sua preocupação, respondeu:
— Quando acordei, ele já tinha saído do quarto. Acho que ele foi à praia.
Mari sentiu um alívio parcial. "À praia? Sozinho?". Ela pensou.
Paul disse:
— Ele deve estar precisando de um tempo para si mesmo. Não se preocupe.
Mari forçou um sorriso, tentando esconder sua ansiedade. Mas sua mente continuava a questionar: “Por que Celo não disse nada antes de sair? Por que não deixou ao menos uma mensagem?”.
O almoço prosseguia com risadas e conversas animadas. Mari, cada vez mais tensa, não conseguiu mais conter sua curiosidade. Aproveitando um momento de distração dos outros, perguntou para Anna:
— E então, Anna, como foi sua noite?
Anna riu, percebendo a real intenção de Mari:
— Foi bem ... inofensiva! Eu bebi demais e apaguei. Celo foi um cavalheiro. Ele me colocou na cama e me cobriu.
O grupo riu, mas Cora, com um sorriso malicioso, brincou com Mari:
— Bem diferente de você e do Paul, Não é? Os barulhos foram ouvidos por toda a casa! Quem diria que você tinha tanto fôlego, amiga?
Todos explodiram em risadas, exceto Mari, que corou, tentando esconder o desconforto.
Enquanto os amigos riam, Mari sentiu uma pontada de culpa e arrependimento. Seus pensamentos turvos ecoavam: "Que merda eu fiz? Nada aconteceu entre eles. Eu fui precipitada, traiçoeira".
Sua mente relembrava os momentos compartilhados com Celo, a conexão profunda, o amor verdadeiro. Agora, tudo parecia perdido. Mari sentiu-se sufocada pela culpa, questionando suas escolhas.
Ela largou os talheres e se levantou abruptamente, deixando todos surpresos. Sem dizer uma palavra, ela saiu correndo da cozinha, dirigindo-se à praia privada do condomínio.
O sol brilhava intensamente sobre a areia branca, e o som das ondas quebrava o silêncio. Mari caminhou apressada, procurando por Celo em cada canto. Seus olhos varreram a orla, enquanto sua mente ecoava com perguntas e dúvidas.
“Onde ele estava? Por que partiu sem dizer nada?”.
Mari continuou procurando por Celo, varrendo a praia com olhar desesperado. O sol implacável a feria, e ela finalmente percebeu a solidão da praia. “Onde estava todo mundo? Por que estava tão vazio?”.
Desanimada, Mari voltou à casa, buscando respostas. Ao entrar na garagem, seu coração afundou: o carro deles não estava lá. O pânico tomou conta dela. Suor frio escorria por sua face e sua visão começou a embaçar. Ela sentiu sua pressão cair e seus joelhos fraquejaram.
Cora, que estava na janela, viu Mari cambaleando e correu para ajudá-la.
— Mari! O que aconteceu?
Giba e Paul, que vinham atrás, rapidamente a seguraram, evitando que ela caísse.
— É melhor chamar um médico. — Paul sugeriu, preocupado.
Mari, ofegante, conseguiu sussurrar:
— Celo ... o carro ... sumiu.
Cora e Paul a levaram para dentro da casa, sentando-a cuidadosamente no sofá. Anna e Fabi correram para buscar água e um pano frio.
— Mari, respire fundo. — Cora pediu, segurando suas mãos. — Precisa de um médico? O que está sentindo?
Mari sacudiu a cabeça, ainda ofegante.
— Não ... não é necessário ... Celo ... onde ele está?
Paul rapidamente ligou para o celular do Celo, mas não obteve resposta. Mari disse:
— O celular está no quarto. Não está com ele.
Paul acho aquilo muito estranho.
— Então ele está por aqui, na cidade. Deve ter ido fazer alguma coisa. Ninguém sai de casa sem celular, hoje em dia. Acho melhor a gente se acalmar.
Giba tentava acalmar Mari, concordando com Paul.
— Vamos encontrar ele, Mari. Não se preocupe. Daqui a pouco ele aparece e a gente ainda vai rir disso.
Mas Mari já estava mergulhada em um mar de lágrimas e desespero.
— Eu errei ... eu o perdi … — O trauma voltava a falar por ela.
{…}
Horas mais tarde:
No crepúsculo quente da cidade pequena, a um estado de distância da casa de praia, o Bar do Seu Zé pulsava com uma energia rara. Luzes coloridas iluminavam a fachada rústica, enquanto o som de risadas e conversas animadas vazava para fora.
Celo estacionou seu carro defronte ao bar, sentindo uma mistura de ansiedade e liberdade, mas a dor também ainda estava lá. Com o violão em mãos, ele entrou no estabelecimento.
O interior era aconchegante: madeira escura, cadeiras de palha e mesas de fórmica. O ar estava carregado com o aroma de cerveja gelada e comida caseira. Pessoas de todas as idades se aglomeravam ao redor do balcão, enquanto outras ocupavam mesas próximas ao palco. A casa estava totalmente lotada.
O garçom de meia-idade, com seu sorriso caloroso, aproximou-se.
— Você chegou. Pronto para arrebentar?
Celo acenou, surpreso com o movimento.
— Sim, estou. Não esperava tanta gente.
O garçom riu.
— Foi a Drica, nossa funcionária. Ela divulgou seu show no Instagram e o pessoal gostou. Seu Zé está muito animado. Ele disse que você é um achado. Faz tempo que nada novo acontece por aqui.
Celo sorriu, sentindo um calor gostoso no peito.
— Vou dar o meu melhor.
O garçom o guiou até o palco, onde um microfone, repousando em seu pedestal, e um banquinho o aguardavam.
— Boa sorte, amigo. — O garçom sorria de forma amistosa.
A dor que apertava seu peito durante todo aquele dia, deu lugar a um sentimento novo, uma ansiedade gostosa. Era impossível deixar de pensar em Mari e no que tinha acontecido, no que tinha visto. Mas, naquele momento, um momento só seu, Celo desligou o sofrimento, o empurrando para um espaço selado em seu coração.
Ele afinou as cordas do violão, percebendo que todas as pessoas presentes no local ficaram em silêncio, esperando para ouvir o que ele tinha para mostrar.
Celo pegou o microfone, olhou para a plateia, sorriu e começou:
— Boa noite, pessoal! Muito obrigado por estarem aqui. Peço desculpas, mas sou um viciado em MPB. Preparei um repertório especial para vocês, com clássicos e algumas surpresas. Vamos viajar pelo Brasil, de Noel a Caetano, passando por Tom e Elis. Espero que gostem.
A plateia aplaudiu, animada. Celo sorriu, agradeceu e começou logo com uma pedrada, tocando os primeiros acordes de "As Canções Que Você Fez Pra Mim”, da Maria Bethânia.
“Hoje eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você, meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Quantas vezes você disse que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
Agora eu choro só sem ter você aqui
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você, meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Quantas vezes você disse que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
Agora eu choro só sem ter você aqui”.
Celo encantou a plateia com a primeira música, recebendo uma ovação calorosa. Sem querer, Mari permaneceu no centro de suas lembranças, permeando cada acorde.
"Luz do Sol", de Milton Nascimento, preencheu o ar na sequência, e Celo cantou com intensidade, fechando os olhos, revivendo momentos compartilhados.
A sequência veio com "Whisky a Go, Go", do Roupa Nova, que fez a plateia dançar. Celo sorriu, recordando Mari rindo ao seu lado. Em seguida, "Os Outros", do Kid Abelha, trouxe um arrepio, o fazendo se lembrar de Mari, cantando enquanto se preparava para uma noite juntos.
A apresentação prosseguiu com "Mas que Nada", de Jorge Ben Jor, que eletrizou a plateia. Celo viu Mari em cada rosto sorridente. "Chega de Saudade", de Jobim e Vinícius, fez sua voz tremer, lembrando o último encontro.
O público pediu bis, e Celo, com lágrimas nos olhos, tocou "Garota de Ipanema". A plateia cantou junto e ele sentiu Mari ao seu lado.
Mais clássicos se seguiram e após quase duas horas de show, Celo agradeceu, emocionado:
— Essa noite foi incrível! Obrigado por me recepcionarem tão calorosamente. Espero ter proporcionado momentos inesquecíveis.
Celo deixou o palco sob aplausos calorosos, com o coração ainda pesado pela saudade de Mari. Seu Zé, radiante, o abraçou.
— Rapaz, isso foi fenomenal! Meu faturamento triplicou graças a você. Você merece ser pago!
Celo sorriu, grato, mas recusou:
— Não foi por dinheiro, Seu Zé. Foi por amor à música.
Seu Zé insistiu:
— Então, podemos combinar mais apresentações. Todo mundo adorou. Vamos fechar um contrato?
Celo, sem planos para o futuro, perdido, concordou:
— Por mim, tudo bem. — Mas foi honesto. — Pelo menos por enquanto.
Seu Zé, sorrindo, ofereceu:
— A partir do próximo show, você será remunerado. E tem uma edícula nos fundos do bar, perfeita para você se hospedar. Bem melhor do que o hotel em que você está hospedado. Refeições inclusas!
Celo, grato, aceitou.
Laércio, o garçom, trouxe cerveja e churrasquinho.
— Tudo por conta da casa! Nossa estrela merece! — Disse o Seu Zé.
Ele o apresentou ao público, que o recebeu com cortesia e admiração. Celo passou mais de uma hora conversando e conhecendo os moradores da cidade.
Três mulheres, uma loira e uma morena, maduras e uma morena mais jovem, seduzidas pelo charme de Celo, se aproximaram.
— Você é talentoso e bonito! O que traz você a este fim de mundo? — Perguntou a loira, provocativa.
Celo sorriu, polido, mas seu coração permanecia preso à lembrança da esposa. Ele desconversou.
— Peço desculpas, estou um pouco cansado do show. Preciso de um momento para respirar.
A loira, não desistindo, perguntou:
— Que tal uma bebida para relaxar? Nós podemos te fazer companhia.
A morena acrescentou:
— Sim, adoraríamos conhecê-lo melhor.
A jovem, tímida, mas curiosa, perguntou:
— Você vai tocar novamente? Foi um ótimo show.
Celo, mantendo a educação, respondeu:
— Sim, em breve. Obrigado pelo interesse.
Seu Zé interveio:
— Deixem o rapaz descansar. Ele vai ficar por aqui. Tenham calma.
As mulheres sorriram e se despediram, deixando Celo em um momento de tranquilidade. No entanto, a loira deixou um pedaço de papel com seu número de telefone na mesa, com um sorriso enigmático.
Ele continuou a circular pelo bar, recebendo elogios e cumprimentos, mas sua mente começava a escapar. A adrenalina do show cedia lugar à tristeza e amargura. Lembrou-se da traição de Mari, da quebra do acordo, da dor que ainda ecoava.
A loira, percebendo sua vulnerabilidade, aproximou-se novamente.
— Você parece distante. Quer conversar? — Seus olhos brilhavam com interesse.
Celo, buscando distração, aceitou a companhia. A morena e a jovem se juntaram, criando um clima de sedução. Ele, cada vez mais envolvido, começou a esquecer sua dor. Uma bebida se seguiu à outra. Celo ria, bebia e se deixava levar pelas atenções. A noite se tornou nebulosa, e ele perdeu a conta do tempo.
Seu Zé, sorrindo, observava de longe. "O rapaz precisa se distrair". Pensou.
A loira, agora mais ousada, segurou a mão de Celo.
— Vamos para um lugar mais tranquilo? — Ela sugeriu.
Celo, envolvido pelo calor da noite, conduziu as mulheres ao seu quarto de hotel. Beijos e carícias foram trocados assim que eles adentraram o quarto. Mas, subitamente, a realidade o atingiu como um raio. Lembrou-se da Mari, sua esposa, apesar da traição.
Um sentimento de culpa e remorso o invadiu. Não podia se vingar da dor com mais dor. Respirou fundo e, com voz trêmula, pediu:
— Peço desculpas, mas preciso que vocês vão embora. Não posso continuar.
A loira, surpresa, questionou:
— O que houve? Estava tudo bem um minuto atrás …
Celo, lutando contra lágrimas, respondeu:
— Minha esposa ... Eu não posso …
A morena, compreensiva, disse:
— Entendemos. Desculpe, nós não sabíamos.
As mulheres se despediram, deixando Celo sozinho com sua dor. Ele se jogou na cama, chorando, o coração pesado de culpa e saudade. A realidade o golpeava com força.
Continua …
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