Aquela cena era surreal: um corpo sem vida caído ali e Naomi sorrindo como se estivesse no melhor lugar do mundo. Ela se levantou nua e veio me abraçar. Dava para ver em seus olhos que ela estava fora da realidade. Pedi a Diana para algemar Rayssa e levá-la para o carro. Peguei Naomi e a levei para meu quarto, meio arrastada. Ela não parava de dizer que eu era linda, me chamava de amor e dizia que íamos nos divertir na festa da amiga dela. Era óbvio que ela estava alucinando. Com certeza, ela tinha sido drogada.
Com alguma dificuldade, consegui vestir uma roupa nela. Ela tentava me beijar e passar a mão em mim a todo momento. Quando terminei de vesti-la, ouvi vozes na sala. Saí e vi mais dois policiais com Diana. Ela me disse que Rayssa tinha sido levada até o pelotão e que já tinha chamado uma ambulância. Os policiais perguntaram o que havia acontecido, e eu disse que ainda não sabia direito, mas que havia pegado o rapaz e a garota abusando da minha namorada, que o rapaz tentou atirar em mim, mas fui mais rápida e o acertei. A garota tentou me agredir, e eu dei um soco nela. Disse também que minha namorada estava drogada e precisava ir para um hospital.
Um dos policiais disse que ia avisar a perícia e que provavelmente eles iriam querer minha arma. Eu disse a ele que já tinha imaginado isso e que tinha câmeras em casa, e provavelmente tudo tinha sido gravado. Ele disse que isso seria muito bom para resolver o caso logo e que a garota presa iria para a cadeia. Eu disse a ele que ela não seria presa, que tinha vários distúrbios mentais e com certeza usaria isso para não ir para a cadeia, mas sim para um hospital psiquiátrico do estado. Eu tinha quase certeza de que esse seria o destino dela. O policial falou que pelo menos o cara eu tinha dado um jeito. Eu disse que provavelmente ele só tinha sido manipulado por ela a fazer a besteira que fez, que ele era um bandido, mas não tinha perfil nem ficha de violência sexual ou física. Ele era apenas um traficante meia-boca.
Diana disse que a ambulância tinha chegado. Perguntei a ela se poderia ir com Naomi, e ela disse que sim, mas que achou que eu iria. Eu disse a ela que Naomi não corria risco de vida e que eu precisava ficar ali para olhar o vídeo. Eu tinha uma bagunça para arrumar e, comigo ali, seria mais fácil. Ela concordou e em ir com Naomi. Deu trabalho para eles levarem Naomi; ela ria, depois chorava me chamando e brigava com os paramédicos. Eu olhava aquela situação e só pensava em uma coisa: como Rayssa entrou aqui e drogou ela? Só havia uma explicação: ela abriu a porta para Rayssa entrar. Eu tinha visto algumas latas de cerveja e energéticos na sala; provavelmente Rayssa usou uma delas para colocar a droga. Mas por que Naomi deixou Rayssa entrar? Ela tinha prometido que não faria mais isso.
Com muito custo, Naomi foi colocada dentro da ambulância e levada ao hospital. Fui para meu quarto e peguei meu notebook. Quando acessei a nuvem, Artur me chamou na porta. Falei para ele entrar. Ele perguntou como eu estava e eu disse que ainda não sabia direito, que não tinha parado para pensar. Eu só queria resolver aquilo tudo logo e ir para o hospital ver Naomi. Pedi a ele para se sentar ao meu lado para a gente ver o que aconteceu. Acessei o vídeo e fui adiantando até a parte em que vi Rayssa chegar no portão. Olhei o horário, pausei o vídeo e voltei a imagem cinco minutos. Depois, acessei as câmeras da sala e a da cozinha. Deixei os quatro vídeos abertos na tela, pausados no mesmo horário. Dei play nos quatro e fui olhando com a ajuda de Artur.
Vi quando Rayssa chegou na frente do portão da garagem e ficou mexendo no celular. Logo depois, ela o guardou e, na câmera da sala, vi Naomi sair do seu quarto com o celular na mão. Provavelmente elas estavam se comunicando. Naomi abriu a porta da sala e ficou olhando para a entrada da garagem, só com o rosto para fora. Rayssa estava falando algo e abriu os braços em frente ao portão da garagem. Essa interação delas demorou uns cinco minutos e, por fim, Naomi foi até a grade, mas ficou a uma certa distância de Rayssa. Logo depois, Rayssa tirou um papel de dentro do bolso de uma jaqueta preta que usava e ofereceu a Naomi, que o pegou. Ela abriu e depois vi Rayssa passar a mão por dentro da sua jaqueta. Imaginei que aquele papel era um teste de gravidez. Naomi, depois de devolver o papel para Rayssa, foi até o portão menor, que provavelmente estava destrancado, e o abriu.
As duas se abraçaram e seguiram para dentro da casa. Quando vi aquele abraço, meu sangue ferveu. Logo que elas entraram, vi Rayssa tirar duas latas do bolso da jaqueta. Parecia ser duas latas pequenas de energético. Rayssa falou algo para Naomi, que foi até a cozinha. Naomi foi até o armário, pegou um copo e mexeu no celular, mas Artur me chamou a atenção para a câmera da sala. Rayssa estava colocando algo em uma das latas. Provavelmente era a droga que ela usou. Naomi voltou para a sala e Rayssa encheu o copo com o conteúdo de uma das latas e deu a outra batizada para Naomi, que sentou ao lado dela e começaram a beber.
Os vídeos não tinham áudio, só imagens. Eu daria tudo para saber o que elas estavam conversando. Aquela conversa foi se prolongando e eu fui adiantando os vídeos. Depois de uns 30 minutos, notei que Naomi começou a levar a mão até o cabelo de Rayssa e a sorrir. Provavelmente a droga estava fazendo efeito. Depois de alguns minutos, vi Naomi entregar seu celular para Rayssa. Esta se levantou e foi até a estante. Ela mexeu no celular da Naomi e depois voltou sorrindo, sentando ao lado de Naomi novamente. Rayssa provavelmente colocou o celular para filmar.
Bom, aí começou o que eu mais temia: Rayssa começou a passar a mão no rosto de Naomi, em seus seios e a dar beijos em seu rosto. Naomi ria e não soltava o cabelo de Rayssa. Logo, Naomi tentou beijar Rayssa, mas ela se esquivou e ficou beijando o pescoço de Naomi, que parecia estar adorando aquilo. Elas ficaram assim por um tempo, até que Rayssa pegou seu celular e mexeu nele. Cinco minutos depois, ela se levantou e abriu a porta da sala. Serginho entrou com uma sacolinha nas mãos. Eram latas de cerveja. Eles se sentaram e começaram a beber. Naomi bebeu a dela de uma vez e ficou falando algo para Serginho. Ele mostrou outra lata de cerveja, mas não a entregou. Vi Naomi começar a tirar sua blusa. O FDP deve ter pedido para ver os seios dela em troca da cerveja. Rayssa foi com o corpo atrás dela e ajudou a desabotoar seu sutiã. Serginho entregou a lata de cerveja a Naomi e tentou pegar nos seios de dela. Mas ela o impediu, enquanto Rayssa, ainda com o corpo atrás dela, levou as mãos aos seios de Naomi, que não se importou e ainda sorriu, olhando para trás, onde estava Rayssa.
Dali para frente, Serginho tentava beijar Naomi ou tocá-la, e ela o impedia. Ela tentava beijar Rayssa e esta se esquivava. Mas em um momento, Rayssa falou algo no ouvido de Naomi e depois Naomi se levantou. Tirou seu short e se sentou de novo tentado beijar Rayssa, que não se esquivou e deu um beijo rápido em sua boca, mas logo parou. Rayssa falou algo para Naomi novamente e sentada mesmo, Naomi tirou sua calcinha e beijou Rayssa de novo. Outro beijo rápido; Naomi não parava de sorrir e Serginho tentou tocar nela novamente, mas ela o impediu de novo. Então, Rayssa se levantou e tirou sua calça. Pegou Naomi pela mão, deu um beijo bem demorado nela e apertou seu bumbum. Nessa hora, minha visão chegou a escurecer de raiva e algumas lágrimas começaram a se formar nos meus olhos, mas eu os limpei com as mãos antes que as lágrimas escorressem pelo meu rosto.
Voltei minha atenção para o vídeo e Rayssa se sentou com as pernas abertas no sofá, e Naomi se ajoelhou na frente dela, indo com o rosto direto para entre suas pernas. Serginho foi atrás de Naomi e se ajoelhou atrás dela. Eu achei que não ia conseguir ver aquilo, mas na outra câmera da sala vi que eu já tinha chegado por causa da sombra debaixo da porta. Quando Serginho abaixou a calça e tirou o pênis para fora, eu abri a porta e aí aconteceu toda aquela cena que presenciei.
Levantei-me, fui até a gaveta do criado-mudo e peguei um pen drive. Fui salvar os vídeos e Artur, de novo, perguntou se eu estava bem. Eu disse que não sabia ainda. Na verdade, eu nem sabia o que estava sentindo. Ódio de Rayssa por ter feito o que fez? Raiva de Naomi por mais uma vez ter quebrado uma promessa? Tristeza por ela ter passado por tudo aquilo? Eu não sabia o que sentia e, o pior, eu tinha matado uma pessoa. A cena da cabeça de Serginho sendo jogada para trás ainda estava viva na minha mente. Eu só estava no automático e assim continuei. Salvei os vídeos, entreguei minha arma para a perícia, fui com Artur dar meu depoimento. Depois falei com dois detetives da Polícia Civil.
Não tinha como eu voltar para minha casa e nem para onde ir. Diana ainda estava no hospital e já tinha me falado que Naomi estava sedada. Ela me disse que o médico tinha colhido sangue de Naomi para fazer exames, mas tudo indicava que ela estava sob efeito de ecstasy ou LSD. Eu já não queria ir ao hospital. Não queria ver Naomi; eu estava muito magoada com ela. Como ela pôde deixar Rayssa entrar na nossa casa? Porra, ela tinha me prometido, aí Rayssa mostra um exame de gravidez que poderia ser até falso e ela volta a ser amiga dela.
Eu estava ali parada na porta do pelotão, não sabia onde ir. Artur, acho que viu que eu estava parada ali sem rumo e me ofereceu um lugar para dormir. Eu não queria aceitar; Artur é casado e eu não queria atrapalhar, mas ele acabou me convencendo.
Esperei Artur ir pegar suas coisas e fui para a casa dele com ele. Sua esposa é uma velha conhecida minha e me tratou como uma filha. Arrumou uma roupa para eu vestir depois do banho, jantei com eles, mas não consegui comer quase nada. Não falamos nada sobre o que houve; eles pareciam querer me proteger daquilo tudo. Mas não adiantou. Quando me deitei, tudo aquilo veio à minha cabeça e eu chorei até dormir. No outro dia, eu não trabalhava e fui para minha casa, mas não consegui entrar. Parada ali na porta, sem saber o que fazer, comecei a lembrar de Naomi abrindo o portão e depois do abraço das duas. Uma raiva que eu nunca tinha sentido foi surgindo dentro em mim. Saí dos meus pensamentos com uma ligação de Diana. Ela me disse que estava indo para casa, que Naomi já estava acordada. Eu falei que já estava indo para o hospital.
No caminho, as imagens do abraço, dos beijos e de Naomi com o rosto entre as pernas de Rayssa não saíam da minha cabeça. Por que ela abriu a porcaria daquele maldito portão? Eu sabia que ela estava drogada na hora do beijo e do oral, mas se ela impediu Serginho, por que não impediu Rayssa? Aqueles pensamentos não saíam da minha cabeça. Foi tudo culpa dela; ela quebrou uma promessa novamente, mas foi a última vez que ela fez isso. Eu podia amá-la com todas as minhas forças, mas seria a última vez que eu falaria com ela. Prefiro sofrer do que ficar ao lado de alguém em quem não posso confiar. Porra, ela impediu Serginho, mas se jogou para cima de Rayssa. Ela estava sóbria quando abriu o portão, abraçou Rayssa e a levou para dentro de casa para beber.
Cheguei no hospital e fui falar com a recepcionista. Diana tinha acabado de sair e fui autorizada a subir para o andar onde Naomi estava, depois de mostrar meus documentos e preencher uma ficha. Saí do elevador e fui direto para o quarto. Quando entrei, vi Naomi deitada. Ela me olhou e foi falar algo, mas não deixei. Eu soltei tudo que estava entalado na minha garganta para cima dela.
Falei que ela era uma irresponsável, que deixou Rayssa entrar na nossa casa, que quebrou a promessa e que só não foi estuprada porque eu cheguei a tempo. Fui despejando toda a minha raiva nela. Falei que mesmo drogada, ela impediu Serginho, mas com Rayssa ela quis ficar. Que eu nunca mais queria ver ela na minha frente. Estava praticamente gritando tudo aquilo aos pés da cama dela. Naomi, no início, se assustou, depois tentou dizer algo e eu mandei ela calar a boca, continuei a xingá-la e a falar as merdas que ela tinha feito. Ela nem tentou falar mais nada. Apenas chorava. De tanta raiva, senti uma pequena tontura e quase caí, mas fui amparada por um segurança do hospital e uma enfermeira, que me arrastaram para fora do quarto.
Eles provavelmente ouviram meus gritos e foram ver o que estava acontecendo. Pedi para me soltarem; o segurança disse que ia me soltar, mas era para eu ir embora dali naquele momento. Concordei e, quando ele me soltou, me virei para sair. Quando levantei o olhar, levei um tapa na cara que fez minha cabeça balançar.
Simone — Você me prometeu que ia cuidar da minha filha, sua desgraçada! A vida da minha filha está destruída por sua causa e eu juro por Deus que se você chegar perto dela de novo, eu te mato. Você me entendeu, Greta? Nunca mais ouse se aproximar da minha filha ou eu mato você!
Eu tinha esquecido completamente da Simone e fiquei totalmente sem reação. Ela tinha puro ódio no olhar quando falou aquilo. Não falei nada; ela saiu da minha frente e seguiu em direção ao quarto da filha. Passei a mão no rosto e notei que minha boca sangrava. O tapa foi forte.
Respirei fundo e saí. Não havia mais motivos para eu ficar ali. Tudo tinha acabado e só sobrou dor, tristeza e raiva daquela história de amor que durou muito menos do que eu esperava.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper