Meu príncipe, meu irmão - Capítulo 02: Sorvete de chocolate

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 2059 palavras
Data: 18/12/2024 11:18:33

Depois daquele dia, eu senti que alguma coisa tinha mudado. Algo pequeno, mas que parecia se expandir dentro de mim. As coisas entre mim e o Gustavo estavam diferentes, mas de um jeito bom, ou pelo menos eu pensava que sim. A cada dia, passávamos mais tempo juntos, jogando videogame ou até mesmo estudando. Era como se uma nova versão do nosso relacionamento tivesse começado a tomar forma. Dentro de casa, ele se tornava mais presente, mais paciente. Às vezes, ele me ajudava com a matéria da escola, e eu comecei a me acostumar com o jeito dele de ensinar, sempre tão descontraído e, ao mesmo tempo, tão certeiro nas respostas. Mas era só dentro de casa. Quando chegávamos na escola, cada um seguia a sua vida. Ele tinha os amigos dele, os grupos de sempre, e eu... bem, eu ainda me sentia meio deslocado. Sempre preferi ficar mais sozinho.

Foi assim, nesse ritmo, que as semanas passaram. Mas um dia, algo aconteceu que fez com que as coisas se tornassem um pouco diferentes.

Na escola, um novo rosto apareceu. Era uma garota. Ela era um pouco mais baixa que eu, com cabelo preto liso e uma expressão muito séria no rosto. Era como se ela estivesse sempre pensando em algo, mas não conseguia expressar direito. Ela se chamava Lara, e eu a conheci por acaso no intervalo.

— Oi, você é o Léo, certo? — Ela se aproximou de mim de forma direta, o olhar fixo. Não era tímida, o que para mim, que sempre me esgueirava para os cantos, parecia algo raro.

— Sim, sou eu. E você é...?

— Lara. Eu sou nova aqui. — Ela fez uma pausa e depois continuou, como se estivesse repetindo algo que já tivesse dito muitas vezes. — Eu sou nova aqui, já falei.

Eu ri um pouco, sem saber o que responder. Ela não parecia se importar muito com a reação. A sinceridade dela era... única.

— Ah, sim. Bem-vinda. — Eu disse, meio sem saber o que falar.

Ela me olhou, e parecia analisar a minha expressão. Depois, de repente, soltou:

— Você é esquisito. Não é como os outros meninos. Eu gosto de você, você parece... calmo. Não tem problema em ser calmo. Eu sou calada também, por isso gosto de você. — Ela disse isso com um sorriso estranho, como se fosse uma conclusão que ela mesma tinha tirado.

Eu fiquei em silêncio por um momento, meio confuso. Mas algo na maneira dela de falar, sem rodeios, me fez rir. Ela era tão diferente de tudo o que eu conhecia.

— Então, você também é meio calada? — Eu perguntei, tentando me aproximar.

— Eu falo, mas é sempre sobre o mesmo assunto. Tipo... eu falo sobre animais o tempo todo, ou sobre como as coisas funcionam. Não sei, é só o que eu gosto de falar. E eu falo tudo o que penso, o tempo todo. Não consigo mentir. Por isso eu gosto de você. Você não finge ser legal. — Ela disse, sem fazer questão de suavizar nada, suas palavras saindo de forma tão direta que, pela primeira vez, me senti realmente à vontade.

E assim começou nossa amizade. Nas semanas seguintes, Lara se tornou uma presença constante na minha vida escolar. Eu a via mais como uma amiga que como uma colega, e aos poucos, fomos nos aproximando, ela sempre me dizendo tudo o que pensava, sem filtros, sem rodeios. Eu achava incrível como ela conseguia ser tão verdadeira e ao mesmo tempo tão autêntica.

Hoje, aos 28 anos, escrevendo essa história, sei que Lara está dentro do espectro autista, mas naquela época ainda não falávamos sobre isso, só alguns anos depois ela foi descobrir. Ela foi responsável por me fazer ver o mundo de uma forma diferente, sem as máscaras que todo mundo colocava.

Naqueles dias, minha relação com o Gustavo também parecia estar se tornando mais intensa. Passávamos mais tempo juntos dentro de casa. Eu me sentia mais próximo dele do que nunca. Como se tivéssemos nos reencontrado, de alguma forma. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim começou a perceber que ele estava... diferente. Algo mudou no jeito dele de olhar para mim, como se ele estivesse me observando mais de perto, e isso me fez ficar um pouco confuso.

Certa manhã, acordei e fui para a escola, ainda com os pensamentos sobre o que aconteceria entre mim e Gustavo. Na escola, Lara apareceu logo no intervalo. Ela estava mais animada do que o normal, falando sobre como estava descobrindo coisas novas e como achava que a gente poderia até formar um clube de... "não fingir ser legal." Rimos juntos, e por um momento, parecia que a minha vida estava um pouco mais simples, um pouco mais leve.

Quando a escola terminou, eu saí e fui esperar na porta da escola, como sempre, o Gustavo. Mas, para minha surpresa, ao chegar na porta, vi Eduardo lá, me esperando.

— Oi, Léo. Vamos dar uma volta? — Ele sorriu para mim, um sorriso largo e acolhedor.

Eu olhei para o lado e vi que Gustavo estava se aproximando, sua expressão fechada, como se algo estivesse incomodando ele. Eduardo, percebendo que o Gustavo também estava ali, tentou suavizar a situação.

— E aí, Gustavo, tudo bem? Você quer vir com a gente tomar um sorvete? — Eduardo perguntou, tentando manter a vibe descontraída.

Gustavo fez uma cara de poucos amigos e, sem hesitar, respondeu:

— Não, obrigado. Eu vou voltar para casa. — Sua voz estava levemente ríspida, e eu pude perceber que ele estava incomodado com a situação.

Eduardo, sem perceber a tensão que estava crescendo entre nós, deu de ombros e sorriu para mim.

— Beleza, então. Vamos, Léo. — Ele se virou para mim, e eu não sabia como reagir. A sensação de ver Gustavo tão distante me fez sentir um aperto no peito.

Fui com Eduardo, mas algo dentro de mim estava agitado, algo que eu não conseguia nomear. Olhei para trás uma última vez, e vi Gustavo ainda parado lá, observando. Era como se ele estivesse se afastando, como se alguma coisa estivesse se quebrando entre nós.

A tarde estava agradável, com o sol começando a se esconder atrás das árvores, mas ainda aquecendo a rua. Fui com Eduardo até uma sorveteria perto de casa. Era um lugar simples, mas sempre com aquele ar aconchegante que me fazia relaxar um pouco, como se eu estivesse entrando em um refúgio temporário. O aroma do sorvete fresco e os risos dos outros clientes preenchiam o ambiente de uma maneira que me fazia esquecer um pouco da confusão que estava se formando em minha cabeça.

Sentamos em uma mesa perto da janela, e logo a atendente se aproximou.

— O que vocês vão querer? — ela perguntou com um sorriso simpático.

Eduardo não perdeu tempo. Ele já sabia exatamente o que pedir.

— Um sorvete de cupuaçu, por favor. E de sobremesa, um de bacuri. — Ele sempre teve esse gosto exótico por frutas e sabores que ninguém mais imaginava gostar. Eu me perguntei como ele conseguia gostar de coisas tão diferentes.

Eu, por outro lado, pedi algo mais... comum. Um bom sorvete de chocolate. Ou, às vezes, eu me arriscava no de açaí, mas hoje minha escolha foi bem simples.

— Só um de chocolate mesmo, obrigado. — Eu falei, me sentindo um pouco deslocado ao ver a cara de satisfação de Eduardo com suas escolhas exóticas.

Quando os sorvetes chegaram, nos sentamos e começamos a conversar sobre qualquer coisa. O papo foi indo por caminhos que normalmente tomávamos, como futebol, o quanto o tempo estava mudando, e até o que deveríamos fazer nas férias. Era como se o mundo estivesse em pausa, e por um momento, as preocupações não pareciam tão grandes.

Mas, então, Eduardo colocou a colher de sorvete de lado e me olhou com um olhar que, por um segundo, parecia mais sério. Ele fez uma pausa antes de falar, como se estivesse tentando formular suas palavras.

— Sabe, Léo... Eu te chamei para sair hoje porque estava com saudade de passar um tempo com você. — Ele disse, quase de maneira descontraída, mas havia algo por trás disso. Eu podia sentir que ele estava tentando ser leve, mas eu sabia que havia mais por trás daquela frase.

Eu dei uma risada nervosa e mexi no meu sorvete de chocolate.

— Ultimamente, a gente não tem passado tanto tempo juntos, né? — Eu disse, minha voz saindo mais séria do que eu pretendia.

Ele fez uma careta, como se não gostasse do que estava ouvindo, mas logo sorriu e colocou a mão sobre minha.

— Léo, você sabe que eu jamais te abandonaria, né? Jamais! — Ele fez uma cena dramática, como se estivesse encenando algo para me fazer rir, mas eu sabia que havia sinceridade naquilo. Ele sempre fazia esse tipo de cena, tentando aliviar a tensão.

Eu respirei fundo, olhando para o sorvete derretendo no meu copo. Eu sabia que ele estava tentando fazer tudo ser mais fácil, mas a verdade é que algo estava distante entre nós.

— Não é bem isso, Eduardo. — Eu finalmente falei, as palavras saindo mais pesadas do que eu imaginava. — Se não fosse pelo Gustavo, eu me sentiria tão sozinho... Você estava tão focado na sua vida, nas suas coisas, nas suas festas... e eu... bem, fiquei aqui. — Eu me forcei a encarar Eduardo, mas logo desviei os olhos, sentindo um peso no peito.

Ele franziu a testa, como se estivesse tentando processar o que eu acabara de dizer. Foi então que eu soltei tudo.

— Ultimamente, sua prioridade tem sido só as meninas e as festas, e eu... eu acabei esquecendo que tenho um irmão. Não vou mentir, me sinto tão perdido, às vezes. — Minha voz quebrou um pouco no final da frase. Eu não queria parecer tão vulnerável, mas tudo o que eu sentia parecia escorrer pelas palavras.

Eduardo ficou em silêncio por um momento, olhando para mim com uma expressão de surpresa. Então, ele deu um suspiro pesado e olhou para o céu, como se estivesse tentando se controlar antes de falar.

— Léo, eu nunca iria te abandonar. Você é meu irmão, você sabe disso, né? — Ele disse, sua voz mais suave, tentando me reconfortar. Mas eu sabia que ele estava apenas tentando fazer sentido de tudo.

Eu respirei fundo, minha mente voltando ao Gustavo. Era estranho, porque naquele momento, eu queria que fosse Eduardo quem estivesse lá para me apoiar. Mas ele parecia perdido no próprio mundo, enquanto Gustavo estava se tornando cada vez mais presente.

Quando mencionei o nome de Gustavo, vi a mudança na expressão de Eduardo. Ele franziu a testa de uma maneira que me fez sentir um calafrio. Algo ali não estava certo.

— Gustavo, hein? — Ele disse, meio que torcendo o rosto, como se tivesse acabado de morder um limão. — Você sabe, né, que ele não é seu irmão, Léo. Ele é... só um amigo.

Eu senti um desconforto crescer entre nós, como se algo tivesse sido interrompido no meio da conversa. Eduardo estava claramente incomodado, e eu podia ver o ciúmes se formando, algo que ele jamais admitiria.

— Eduardo, nós somos criados juntos desde que eu era bem pequeno, já está na hora de você superar que a mamãe casou novamente, afinal , às vezes ele me entende mais do que você. — Eu olhei para ele, e logo me arrependi de ter dito aquilo. Mas já estava dito, e eu sabia que ele sentiria algo por causa disso.

Eduardo se afastou um pouco, a expressão dele agora estava distante. Ele deu uma mordida no sorvete, mas parecia que estava saboreando mais o desconforto do que o sabor.

Eu fiquei em silêncio, meu coração batendo mais forte. Eu sabia que ele estava magoado, mas a verdade era que eu também estava. A distância que se formou entre nós dois era algo que nem o sorvete de chocolate poderia derreter.

A conversa seguiu em silêncio por mais alguns minutos. Eu estava tentando juntar as peças de tudo o que estava acontecendo, mas as palavras ainda estavam presas. Ao final, eu apenas olhei para o Eduardo e, com um suspiro, tentei encerrar a tensão.

— Vamos embora, né? — Eu disse, levantando-me, e ele me seguiu, ainda com um semblante fechado, como se a conversa não tivesse acabado para ele. Mas eu sabia que, por hoje, era o que podíamos fazer: seguir em frente, como sempre, sem resolver nada.

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Comentários

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Eu tô lendo por aqui e pelo grupo do telegram que sai mais rápido

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MADA DE EXCEPCIONAL NESTE CAPÍTTULO, APENAS DESCOBRINDO A RIVALIDADE ENTRE IRMÃOS. A DISPUTA DE EDUARDO E GUSTAVO PELAA ATENÇÃO DO IRMÃ. VEREMOS SE ISSO TUDO SE TORNA MAIS INTERESSANTE.

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Que sorte ter dois gostosos com ciúmes por você! Aproveita! Hahaha

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Edu e gu com ciúmes um do outro por causa de ti adorando continua.

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