Oi, meus caros leitores. Então, estou super feliz em estar postando a história dos irmãos Guedes. Só queria pedir para quem está acompanhando que postasse um comentário, curtisse ou indicasse "A Lua que eu te dei" para outros leitores. Segue o capítulo:
***
Já faziam sete dias que deixamos nossa casa para trás e nos aventuramos na estrada. Uma semana dentro do Leopoldo e já era possível sentir o peso da rotina limitada de um motorhome. Não tínhamos pressa para chegar na Argentina, mas, aos poucos, começávamos a sentir falta das regalias da vida urbana.
A energia elétrica era racionada, assim como a internet, que parecia ser um luxo distante. Postar um vídeo era um parto. Para economizar, nos acostumamos a desligar tudo à noite para poupar bateria, e eu precisei me disciplinar com as edições dos vídeos, usando o mínimo de energia possível. Era frustrante, mas ao mesmo tempo libertador.
— Cara, dá pra acreditar que já faz uma semana? — Benê perguntou, enquanto preparava um café na minúscula cozinha do Leopoldo.
— Nem parece. — respondi, olhando para as imagens que editava no laptop. Os vídeos ainda não tinham viralizado, mas os comentários dos nossos parentes e amigos nos incentivavam a continuar.
As roupas térmicas e os cobertores especiais ajudavam a suportar o frio intenso, mas o que realmente me aquecia era a lembrança de Omar. Aquela noite em Pomerode tinha sido especial, não só pela transa — que, convenhamos, foi incrível —, mas também pela sensação de ter um momento só meu em meio à confusão da viagem.
Benê, claro, não perdia a oportunidade de me provocar.
— Tá pensando no Omar de novo, né? — ele soltou, com um sorriso travesso.
— Vai cuidar do seu café, Benê. — retruquei, mas não consegui conter um sorriso.
— Só tô dizendo... se você não tivesse voltado pro motorhome, eu ia chamar a polícia. — ele riu, jogando um pano de prato em mim.
Para fugir das provocações, decidi ceder a mais uma das vontades de Benê e desviamos nosso trajeto para visitar Gramado, a famosa Europa brasileira. A cidade era uma pausa perfeita para o nosso estilo de viagem: romântica, charmosa e cheia de lugares fotogênicos.
Ao chegarmos, fomos direto para o Lago Negro. A vista era deslumbrante, com as árvores refletindo na água e os pedalinhos em forma de cisne flutuando graciosamente. Benê, é claro, queria fazer vídeos de tudo.
— A gente devia andar nesses pedalinhos. — ele sugeriu, já com a câmera em mãos.
— E congelar no meio do lago? Prefiro ficar aqui em terra firme. — brinquei, mas ele já estava negociando com o responsável pelos pedalinhos.
Gramado era tudo o que eu precisava para recarregar as energias. As ruas iluminadas, as casas em estilo alpino e o cheiro de chocolate quente eram um abraço acolhedor depois de dias na estrada. Decidimos passar duas noites na cidade para explorar tudo com calma e recuperar o fôlego antes de continuar rumo ao Chuí.
À noite, enquanto editava mais um vídeo, Benê sentou ao meu lado com uma expressão rara de seriedade.
— Ei, tô orgulhoso de você. — ele disse, do nada.
— Por quê?
— Sei lá, por estar curtindo essa viagem do jeito certo. Mesmo com as minhas loucuras e o frio. — ele sorriu.
Eu ri e balancei a cabeça.
— E você acha que eu tenho escolha?
Apesar da brincadeira, o que ele disse ficou comigo. Talvez estivesse certo. Talvez eu estivesse aprendendo, finalmente, a viver o momento.
A rotina na estrada começava a me mostrar o quanto era possível encontrar novas experiências — e pessoas — em cada curva. Depois de tantos dias de viagem, decidi experimentar algo novo e baixei o Vrinder, um aplicativo de encontros para gays. A ideia parecia divertida, e eu ri da ironia ao escolher uma foto sem camisa para o perfil, quando, na verdade, o motorhome estava abarrotado de roupas pesadas por causa do frio.
Em questão de minutos, meu celular começou a pipocar com notificações. Convites, curtidas, mensagens... Era como se a cidade toda tivesse decidido me notar de repente.
— Não sabia que você fazia tanto sucesso, irmão. — Benê provocou, enquanto mastigava uma barra de cereal.
— Cala a boca. — retruquei, embora fosse impossível conter um sorriso.
Entre os perfis, um chamou minha atenção: "Gente Boa Versátil". A foto mostrava um homem alto, forte, com algumas tatuagens estrategicamente espalhadas. A caveira no pescoço dava um toque de mistério. Conversamos rapidamente, e o papo fluiu tão bem que marcamos de nos encontrar em um café no centro de Gramado.
Quando Diego chegou, era exatamente como na foto: imponente e charmoso. Trocamos algumas palavras e, inevitavelmente, contei sobre minha viagem até a Argentina.
— Você está viajando com seu irmão? — ele perguntou assustado.
— Sim.
— Não imagino fazendo uma viagem dessa em família. — comentou, antes de dar um gole no café quente.
— E como é morar em uma cidade tão linda? — perguntei.
— Muito bom. É uma cidade ótima para quem trabalha com turismo. Eu coordeno um passeio turístico na cidade. — Diego explicou me mostrando o seu cartão.
— Um ótimo negócio.
Diego, curioso, pediu para ver o motorhome. Claro que o convite tinha segundas intenções, e eu, aproveitando que Benê estava ocupado visitando outra atração turística, levei Diego até o Leopoldo.
— Uau, isso aqui é incrível. — Diego disse, passando a mão pelo interior do motorhome e tirando uma foto.
Logo, a conversa deu lugar a beijos intensos. O frio lá fora contrastava com o calor crescente dentro do Leopoldo. Foi a primeira vez que transei no motorhome, e a experiência foi... inesquecível. Entre gemidos abafados e risos, tivemos não uma, mas três sessões de sexo.
— Isso foi muito melhor do que eu esperava. — ele disse, enquanto se vestia.
— Concordo. — respondi, com um sorriso satisfeito.
Antes de partir, Diego seguiu nosso perfil de viagem no Instagram e me desejou sorte no trajeto até a Argentina.
Quando Benê voltou, todo animado com sua visita à fábrica de chocolate, encontrou uma cueca esquecida no chão do motorhome.
— Ah, que isso, Joaquim! Já tão largando roupa por aqui? — ele exclamou, segurando a peça de roupa com a ponta dos dedos.
Meu rosto ficou vermelho instantaneamente.
— Deixa isso aí e vai lavar a louça.
— Relaxa, irmão, sou mente aberta. — ele zombou, colocando a cueca sobre o ombro, como se fosse um troféu.
— Benê, se você não parar, eu te jogo pela janela do Leopoldo.
Mais tarde, enquanto Benê preparava o jantar — fígado acebolado, arroz e purê de batata —, cantarolava baixinho The Scientist, do Coldplay, eu tentava ignorar os olhares provocadores dele.
— Sabe, você não é o único que se diverte. — Benê soltou, casualmente, enquanto mexia na panela.
— Como assim? — questionei, tirando os olhos do notebook.
— Lá na fábrica de chocolate... Eu fiquei com uma garota.
Arqueei as sobrancelhas.
— Sério?
— Sério. Ela era muito simpática, e acho que vou seguir o Instagram dela também.
— Olha só, tem mulher doida para tudo. — brinquei, e nós dois caímos na gargalhada.
Por mais que as provocações fossem constantes, aquele momento reforçou algo importante: estávamos vivendo nossas vidas, aproveitando a viagem, e encontrando pequenas felicidades pelo caminho. Editei o vídeo da Fábrica de Chocolate, inclusive, ganhei alguns bombons trufados. O sono me pegou e desmaiei na cama. Nem me importei com o frio.
Infelizmente, o descanso durou pouco.
Acordar com Benê surtando de madrugada por causa de uma camisinha foi apenas o prólogo do caos que estava por vir.
— Isso é inadmissível! — exclamou meu irmão, segurando o preservativo com nojo.
— Para de drama, cara. São quatro da manhã. — pedi, ainda sonolento.
— Drama? Drama? — enquanto jogava o preservativo no lixo. — Depois vamos ter uma conversa séria, mocinho. — lavando a mão na pia. — Água gelada da porra.
Depois de uma noite interrompida por uma discussão boba, decidimos seguir viagem direto para Chuí. Benê, como sempre, assumiu seu papel de organizador oficial, espalhando documentos pela mesa do motorhome enquanto eu dirigia pelo litoral do Rio Grande do Sul.
A chegada em Chuí foi empolgante. Eu mal tinha estacionado o Leopoldo e já estava com a câmera na mão, gravando curiosidades sobre a cidade.
— Chuí e Chuy são nomes com a mesma origem indígena, mas refletem as línguas de cada lado da fronteira. — expliquei, apontando para os letreiros que demarcavam o Brasil e o Uruguai.
Benê, claro, não perdeu a chance de me zoar.
— Só espero que o seu namoradinho da última parada não tenha deixado algo comprometedor no motorhome. Tipo... D-R-O-G-A-S.
Ri e virei a câmera para ele, registrando sua expressão exagerada e o tom conspiratório.
— Por que está soletrando, idiota?
— Vai que tem escuta! — ele respondeu, sério, mas ao mesmo tempo ridículo.
Nosso momento de comédia foi interrompido por um barulho forte de batida, e meu coração disparou.
Deixei a câmera no suporte do vidro e saímos correndo, pensando que alguém tinha colidido com o Leopoldo. Mas não, encontramos um rapaz caído no chão, perto de uma bicicleta destruída. Mais ao longe, um carro desaparece em alta velocidade.
— Será que ele morreu? — perguntou Benê, com a voz trêmula.
— Não sei. Vamos chamar a polícia. — respondi, já pegando o celular.
— Não precisa de polícia! — exclamou o rapaz, levantando-se de repente.
O susto foi tanto que Benê pulou no meu colo como se eu fosse um super-herói. A cena era cômica demais para o momento, e o próprio acidentado soltou uma risada antes de cambalear e começar a chamar por algo ou alguém.
— Piccolo? Piccolo! — ele gritava, com os olhos vasculhando os arredores.
— Quem é Piccolo? — perguntei, enquanto colocava Benê de volta no chão.
— Meu gato.
Olhamos para onde ele apontava, uma caixa de transporte quebrada no chão. Meu coração apertou com a possibilidade de que o bichano tivesse se machucado ou, pior, fugido assustado. Antes que pudéssemos ajudar, o rapaz tentou andar, mas caiu desmaiado.
— Droga, e agora? — falei, olhando para Benê, que parecia tão perdido quanto eu.
— A gente leva ele pro Leopoldo? — sugeriu meu irmão, hesitante.
Olhei para o rapaz desacordado e depois para o motorhome. Não havia outra opção. Colocamos o ciclista na cama e vasculhamos a área em busca de sinais do tal Piccolo, mas o gato parecia ter desaparecido.
Dentro do Leopoldo, o rapaz começou a murmurar algo incoerente enquanto eu e Benê trocávamos olhares apreensivos.
— Se ele acordar achando que a gente sequestrou ele, você resolve, tá? — Benê disse, apontando para mim.
— Ótimo. Porque claramente eu sou o responsável pelas cagadas da viagem. — comentei, enquanto pegava o kit de primeiros socorros.
— O que vai fazer?
— Limpar esses machucados, Benedito. — expliquei, sem paciência para os surtos dele. — Calma, moço.
Enquanto eu cuidava dos ferimentos do ciclista, o meu irmão pegou sua mochila e achou uma carteira. O nome do rapaz era Roberto Klein e vinha de uma cidade chamada Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul.
— Bem, pelo menos, demos um nome ao defunto. — soltou Benê, que me fez revirar os olhos.
— Benedito, para de falar merda e vai atrás do gato. Ele deve tá assustado ou machucado. Vai! — exclamei.
— Tudo eu, tudo eu. — disse um mal humorado Benê, saindo do Leopoldo em busca do bichano.
Olhando para aquele estranho desacordado no meu banco, uma coisa era certa: a aventura na estrada estava longe de ser previsível. E agora tínhamos um ciclista misterioso — e talvez um gato desaparecido — como parte do caos.