O sol se punha no horizonte, tingindo o céu de um laranja ardente que espalhava seu calor pelas vielas do Subúrbio Ferroviário. O ar carregado de sal e vida pulsava nas ruas estreitas, misturando o samba que ecoava de uma casa distante com o riso abafado de crianças brincando e o murmúrio das conversas nas esquinas.
Amanda caminhava pela calçada como quem domina o palco, os passos leves e os quadris desenhando um balanço hipnótico, tão natural quanto sedutor. A luz do entardecer brincava com sua pele negra e lisa, um brilho dourado que acentuava cada curva. Seus mamilos desenhavam-se sob o tecido fino da blusa, sugerindo mais do que mostrando, enquanto a saia justa moldava o contorno de suas coxas e quadris, um convite silencioso para olhares que não podiam evitar sua presença. O perfume do mar misturava-se ao cheiro fresco de alecrim que vinha dos jardins, mas nada se comparava à fragrância natural que ela exalava – um aroma que parecia próprio da terra quente que ela pisava.
De longe, Bruno a observava, sentado na escada de casa, os olhos semicerrados como quem não quer parecer interessado. Sua figura esguia era quase discreta, escondida em roupas simples que não faziam justiça ao corpo que carregavam. Sob o tecido largo da camisa, músculos firmes contavam histórias de trabalho duro, e o pescoço longo e os braços fortes sugeriam uma força silenciosa que não precisava ser exibida. Seu rosto, sério e marcado por traços finos, era emoldurado por cabelos curtos e bem cuidados, enquanto a maconha entre os dedos dava-lhe uma aura de descaso calculado.
Ele a seguia com o olhar, sem conseguir desviar, fascinado pelo movimento de Amanda. Havia algo no jeito como ela caminhava, um misto de poder e suavidade, como uma onda que avança sem pedir licença. Quando ela passou perto, a luz dourada do entardecer iluminando cada detalhe de seu corpo, Bruno, pela primeira vez, decidiu não se esconder atrás do silêncio.
— Amanda, espera aí.
Ela parou, virando-se devagar. O gesto, simples, parecia carregado de uma sensualidade que ela dominava com maestria. Seus olhos, brilhantes e penetrantes, pousaram nele com curiosidade, e um sorriso lento, quase provocador, surgiu em seus lábios carnudos.
— Oi, Bruno. Não sabia que você falava.
Ele riu baixinho, tentando disfarçar o nervosismo, mas seus olhos fixaram-se nela, percorrendo o rosto e, inevitavelmente, descendo para os contornos que a luz fazia questão de destacar.
— Eu falo... Só não sabia se devia te chamar.
Ela deu um passo em sua direção, os quadris ainda dançando no ritmo natural de seu corpo.
— E por que resolveu chamar hoje?
Bruno engoliu em seco, a mão apertando o beque quase apagado. Ele deu de ombros, tentando parecer casual.
— Acho que cansei de só observar.
O sorriso dela se alargou, e ela inclinou levemente a cabeça, avaliando-o com os olhos, como quem decifra um segredo. O silêncio que se formou entre eles era cheio de intenções não ditas, uma tensão que parecia crescer com cada segundo.
Eles começaram a conversar, as palavras leves contrastando com o peso de cada olhar trocado. Bruno, com sua postura aparentemente indiferente, não podia disfarçar a maneira como seus olhos acompanhavam os movimentos dela. Amanda, por sua vez, parecia gostar do jogo, aproximando-se um pouco mais a cada gesto, até que a distância entre os dois se tornasse quase inexistente.
Quando finalmente ela se despediu, com um toque breve e casual no ombro dele, Bruno sentiu o calor daquele toque queimar em sua pele, como uma marca que não se apagaria tão cedo. E enquanto ela se afastava, o balanço de seus quadris era a última coisa que ele conseguia enxergar, um movimento que ficaria gravado em sua memória.
O Subúrbio Ferroviário, naquela noite, parecia pulsar diferente. Em algum lugar entre as cores vibrantes do entardecer e os segredos guardados pela noite, algo havia começado – algo que prometia incendiar o que antes parecia apenas cotidiano.