Meu príncipe, meu irmão - Capítulo 22: Beijo roubado

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 4025 palavras
Data: 20/01/2025 14:20:07

Já estávamos no sétimo dia da desintoxicação de Gustavo. Os dias passavam lentamente, cada hora parecia se arrastar em um ritmo torturante. Eduardo, como um relógio, aparecia pelo menos uma vez ao dia para saber como estávamos. Embora dissesse que vinha para ver Gustavo, eu sabia que ele estava preocupado comigo. E, no fundo, eu precisava dessa preocupação.

Os primeiros quatro dias tinham sido brutais, os piores. O corpo de Gustavo enfrentava batalhas internas que quase o destruíam, e meu coração sangrava ao vê-lo daquele jeito. Agora, porém, estávamos entrando no segundo estágio da desintoxicação. Eu já conhecia bem esse momento: a irritação cresceria, o humor dele oscilaria como um pêndulo incontrolável, e sua mente ficaria confusa, perdida entre a abstinência e a realidade. Era como andar sobre cacos de vidro, sabendo que, a qualquer momento, ele poderia se ferir ou me ferir, mesmo sem querer.

Ainda assim, ver Gustavo algemado, como um animal, partia meu coração. Ele estava preso não só fisicamente, mas em sua própria mente, em seus próprios demônios. Eu sabia que precisava me proteger — Eduardo repetia isso sempre que vinha me visitar. Mas dentro de mim, eu tinha a certeza de que Gustavo nunca me machucaria. Só que a abstinência é traiçoeira, e eu não podia arriscar.

Entrei no quarto devagar. Gustavo estava dormindo, sua respiração tão calma que me assustava. Me aproximei, sentindo meu coração apertar ao vê-lo tão vulnerável. Me ajoelhei ao lado da cama e chequei sua respiração. Ele estava bem, mas mesmo assim, meu peito doía ao imaginá-lo lutando contra algo tão maior do que ele.

Voltei para a sala e me sentei no sofá. Peguei o celular e mandei uma mensagem para a diretora da escola em que trabalhava, dizendo que ainda não havia melhorado. A verdade é que, com a ajuda de um amigo de Eduardo, eu tinha conseguido um atestado de afastamento por 14 dias. Sabia que não era certo, mas não tinha outra escolha. Gustavo precisava de mim. Eu não podia focar em mais nada enquanto ele estivesse nesse estado.

Enviei a mensagem e coloquei o celular de lado, pegando meu caderno. A cada página, era como se eu estivesse reescrevendo minha história, costurando memórias que, de alguma forma, me mantinham de pé. Mesmo sem ir às consultas com a doutora Mônica desde que Gustavo voltou, sabia que eventualmente teria que retornar. E, quando isso acontecesse, ele iria comigo.

Abri o caderno na página seguinte e, como um filme, as memórias daquele acampamento voltaram com força. Depois do episódio com Miguel, as coisas tinham se acalmado. Quando disse a Gustavo que queria ter uma família com ele, com filhos, vi algo mudar em seus olhos. Era como se toda a insegurança tivesse se dissipado, e os dias que se seguiram foram perfeitos.

Nossa equipe ganhou quase todas as competições do acampamento, o que nos colocou em primeiro lugar. Gustavo ficava radiante a cada vitória, e eu me sentia orgulhoso de vê-lo tão feliz. Durante o dia, éramos uma dupla imbatível; durante a noite, éramos simplesmente nós.

Lembro-me das noites como se fossem ontem. O brilho das estrelas iluminando a barraca, o som distante do vento soprando pelas árvores, e nós dois, juntos, em um universo que parecia só nosso. Nos beijávamos com a intensidade de quem tem medo de perder algo precioso, nos amávamos como se o tempo fosse parar. E, naquela bolha de felicidade, eu tinha certeza absoluta de que poderia passar o resto da minha vida ao lado dele.

Em.uma das noites, a barraca estava mergulhada em silêncio, iluminada apenas por uma lanterna pendurada no teto, projetando sombras suaves nas paredes de tecido. O som distante de grilos e o murmúrio do vento nas árvores criavam uma melodia calma que contrastava com o turbilhão de emoções dentro de mim. Eu estava deitado de lado, observando Gustavo com atenção.

Ele estava deitado de costas, os braços atrás da cabeça, olhando para cima, mas eu sabia que ele não enxergava nada além dos próprios pensamentos. O rosto dele tinha um brilho dourado suave da luz da lanterna, e eu não conseguia evitar o sorriso que surgia quando reparava em cada detalhe dele: a curva do maxilar, os olhos intensos e, principalmente, aquele sorriso que ele soltava de vez em quando, mesmo quando achava que ninguém estava olhando.

— O que foi? — ele perguntou, virando o rosto para mim e me pegando no flagra.

— Nada — respondi, sorrindo de um jeito bobo. — Só tava pensando em como você é bonito.

Gustavo riu baixo, meio desconfiado, mas o tom rosado que subiu nas bochechas dele me entregava que ele tinha gostado do elogio.

— Você é um bobo.

— Sou, mas só por sua causa.

Me aproximei devagar, sentindo meu coração acelerar conforme nossos rostos ficavam mais próximos. Gustavo ficou me olhando, os olhos dele brilhando com algo que eu não conseguia decifrar completamente, mas que fazia todo o meu corpo vibrar. Quando nossos narizes se tocaram, ele suspirou, e aquele som me desarmou completamente.

— Você não faz ideia do que você significa pra mim, Léo — ele sussurrou, a voz baixa e carregada de emoção.

Eu senti meu peito apertar, como se todas as palavras que eu queria dizer ficassem presas.

— Então me mostra — eu disse.

Foi tudo o que precisou. Ele se inclinou e me beijou, devagar, como se cada movimento tivesse sido ensaiado mil vezes em sua mente. O calor do corpo dele se espalhou pelo meu, e eu senti como se o mundo inteiro tivesse desaparecido, deixando apenas nós dois naquela pequena barraca.

Nossas mãos começaram a explorar timidamente, os dedos dele traçando linhas imaginárias pelo meu rosto, descendo pelo meu pescoço e parando no meu peito, enquanto as minhas se agarravam à camiseta dele, puxando-o para mais perto.

— Você é tudo que eu sempre quis, Léo — ele murmurou contra meus lábios, interrompendo o beijo apenas para me olhar nos olhos.

Eu senti as lágrimas se formando, mas eram lágrimas de felicidade, daquelas que vêm quando você percebe que está exatamente onde deveria estar.

— E você é tudo que eu nunca achei que teria — confessei.

Nos beijamos novamente, mais intenso, mais urgente. O calor entre nós parecia se expandir, preenchendo cada canto da barraca, enquanto nossas respirações se misturavam e nossos corpos se moldavam um ao outro. Ele me deitou no pequeno colchão improvisado e deitou-se ao meu lado, mantendo-me próximo, como se não quisesse que eu escapasse.

Por um momento, ficamos apenas nos olhando, nossas testas coladas, compartilhando um silêncio cheio de significados que nenhuma palavra conseguiria explicar.

— Promete que nunca vai me deixar? — ele pediu, a voz embargada.

Eu segurei o rosto dele entre as mãos, acariciando a pele quente com os polegares.

— Nunca, Gustavo. Enquanto você me quiser, eu estarei aqui.

Ele me beijou de novo, e eu sabia que naquele momento, naquela barraca, nós éramos mais do que dois garotos apaixonados. Nós éramos o mundo um do outro, e nada poderia mudar isso

O acampamento passou mais rápido do que eu esperava. Parecia que, finalmente, tudo tinha se acertado entre nós. A tensão que antes existia entre mim e Gustavo havia desaparecido, e o clima estava leve. A convivência com os outros alunos foi mais fácil, principalmente porque Gustavo estava ali para me enturmar. Ele sempre teve esse dom, uma habilidade natural de fazer as pessoas se sentirem à vontade, e ele usou isso comigo, me apresentando aos outros meninos de uma forma tão tranquila que, em pouco tempo, eu me sentia parte do grupo.

Foi assim que conheci Éric e Pedro, dois garotos que eram amigos próximos de Gustavo, e que ele me apresentou com uma mistura de orgulho e diversão. Eles eram gêmeos, mas com personalidades bem distintas. Éric, o mais alto, tinha um jeito mais calmo, quase filosófico, enquanto Pedro, o mais baixo, era cheio de energia, com um sorriso contagiante e uma língua afiada. Eles vinham do interior do Rio, o que se refletia no jeito deles de falar e na maneira como viam o mundo. Tinha algo tão cativante nas histórias que contavam — do campo, dos animais, das festas populares — que me fazia rir mesmo quando as piadas não faziam sentido.

–Vê se não se perde por aqui, Léo. Aqui tem mais mato do que vaca, – disse Pedro, com seu sotaque carregado de interior, enquanto caminhávamos pela trilha. – Mas eu vou te ajudar. O Éric é mais cabeça, mas eu sou o cara do mapa.

–É, mas o Pedro também é bom em perder coisas, – Éric respondeu, rindo baixinho. –Ele perdeu a chave do carro do meu pai semana passada e a gente teve que voltar até a cidade para buscar.

As risadas eram sinceras e fáceis. Éric e Pedro, apesar da leveza, sempre tinham algo inteligente para falar, o que me fazia apreciar ainda mais sua companhia. Me senti aceito, com um gosto bom de amizade verdadeira, e por um momento, a pressão que eu sentia de ser um intruso desapareceu.

Mas, como sempre acontece, as coisas não podiam ser perfeitas por muito tempo.

No último dia do acampamento, a despedida se aproximava e, com ela, um sentimento de que algo estava errado no ar. Quando subimos no ônibus para voltar, a tensão começou a se formar lentamente. Eu e Gustavo nos sentamos juntos, como sempre fizemos durante toda a viagem, mas havia algo diferente na maneira como ele se comportava. Eu percebi que, enquanto todos estavam conversando ou mexendo no celular, Gustavo não conseguia relaxar. Ele olhava para as janelas, mas a cabeça estava em outro lugar, uma sensação de desconforto pairando sobre ele.

Miguel, novamente, ficou nos observando o tempo inteiro. Eu não sabia o motivo, mas era como se ele tivesse uma fixação em Gustavo. Seus olhos nunca se afastavam, e isso começou a incomodar o Gustavo de uma maneira que eu não conseguia entender direito.

Em um momento, Gustavo se virou para mim, com o rosto tenso e as mãos fechadas.

–Por que o Miguel não para de olhar pra mim? – ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de irritação.

–Eu não sei, – respondi, sem conseguir encontrar uma explicação que fosse razoável. – Não podemos controlar os olhares dos outros, Gus.

Gustavo fez uma careta, e eu vi o desconforto crescer nele. Ele olhava para a janela, tentava focar em outras coisas, mas não conseguia se livrar daquela sensação de estar sendo observado, como se o olhar de Miguel estivesse o atravessando. Eu sabia que ele não estava bem, e isso começou a me incomodar também.

O ônibus seguiu viagem, e por mais que tentássemos ignorar, eu sabia que a tensão entre Gustavo e Miguel estava crescendo. As conversas dos outros meninos, as piadas de Éric e Pedro, que costumavam aliviar qualquer desconforto, não estavam funcionando dessa vez. Eles faziam piadas sobre o acampamento e sobre os professores, tentando quebrar o clima pesado, mas eu sentia que Gustavo ainda estava absorvendo aquele olhar constante de Miguel, como se aquilo fosse uma pressão invisível, que o pressionava mais a cada quilômetro que passava.

Em certos momentos, os gêmeos faziam piadas e trocavam algumas risadas com outros alunos, mas o sorriso de Gustavo estava ausente. Ele tentava se distrair, mas eu podia ver nos olhos dele que aquilo estava incomodando muito mais do que ele deixava transparecer. Ele se movia inquieto no banco, mexia nas mãos, passava os dedos pelos cabelos de maneira agitada.

Quando finalmente o ônibus parou, a viagem chegou ao fim, mas a sensação de mal-estar persistiu. O clima não se dissipou. Eu sabia que a presença de Miguel na nossa viagem não tinha sido o único problema — algo muito maior estava por vir.

Assim que o ônibus estacionou e os alunos começaram a descer, o movimento foi imediato. Todos se apressavam para organizar suas coisas, devolvendo barracas, pegando malas e se despedindo do acampamento. Eu me sentia aliviado por finalmente estarmos de volta à escola, mas a viagem havia deixado um peso em mim — e, claramente, em Gustavo. Ele continuava quieto, com uma expressão fechada, enquanto ajudava a organizar nossas coisas.

— Eu vou ao banheiro rapidinho antes de irmos — falei para ele, já me afastando.

Gustavo hesitou. Ele olhou para mim como se quisesse dizer algo, mas acabou apenas balançando a cabeça.

— Tá, mas não demora — respondeu, com um tom que misturava preocupação e irritação.

Caminhei pelos corredores da escola, seguindo até o banheiro mais próximo. Não havia ninguém por ali, e o silêncio contrastava com a confusão do lado de fora. Entrei no banheiro e fui direto para uma das cabines. Não demorou muito, e quando terminei, abri a porta e dei um passo para fora.

Foi quando o vi.

Miguel estava parado ali, encostado na pia, me observando com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Meu estômago revirou, e a sensação de desconforto que me acompanhou durante toda a viagem voltou com força total.

— Eu não quero conversar com você — disse, tentando passar por ele, mas Miguel não se moveu. Ele ergueu a mão, bloqueando minha passagem.

— Por favor, Léo, me escuta — começou ele, sua voz baixa, quase desesperada. — Eu preciso te dizer uma coisa.

— Não tem nada que você possa dizer que eu queira ouvir — retruquei, mantendo a calma, mas firme. Eu não queria prolongar aquela interação, muito menos dar abertura para ele.

— Eu errei, tá bom? Eu sei disso. Mas… eu preciso que você saiba que… eu gosto de você. Sempre gostei — ele disparou, e sua voz carregava uma sinceridade desconcertante. — Eu sei que não mereço, mas eu amo você.

As palavras dele me atingiram como um soco. Antes que eu pudesse responder, Miguel deu um passo à frente e segurou meu braço. Eu tentei me afastar, mas ele foi mais rápido. Em um movimento que me pegou de surpresa, ele se inclinou e me beijou.

Meu corpo congelou por um instante, a mente em caos, mas logo recuperei o controle. Empurrei Miguel com força, o afastando de mim.

— O que você tá fazendo?! Eu já disse que—

A porta do banheiro se abriu com um estrondo, e Gustavo apareceu. Seu olhar percorreu a cena, do meu rosto chocado ao de Miguel, que ainda estava perto demais de mim. A raiva explodiu nele em um instante. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Gustavo avançou.

— O que você pensa que tá fazendo?! — ele gritou, empurrando Miguel com força.

— Gustavo, espera! Não é o que você tá pensando! — tentei intervir, mas ele estava cego de raiva.

— Não encosta no Léo de novo, seu desgraçado! — Gustavo gritou, desferindo um soco que acertou o rosto de Miguel. Ele cambaleou para trás, mas logo recuperou o equilíbrio.

— Você acha que manda nele?! Você é só o irmão dele, não é dono dele! — Miguel rebateu, segurando o rosto machucado, mas sem recuar.

As palavras de Miguel só serviram para deixar Gustavo ainda mais irritado. Ele foi para cima novamente, e os dois começaram a trocar socos. Eu tentei intervir, puxando Gustavo pelo braço, mas ele estava descontrolado.

— Para, Gustavo! Para com isso! — gritei, mas ele não me ouviu.

Miguel tentou se defender, desferindo alguns golpes, mas Gustavo era mais forte e mais rápido. A cena se desenrolava como um pesadelo, e eu me sentia impotente no meio daquele caos.

Finalmente, com todas as forças que eu tinha, consegui me colocar entre eles. Segurei Gustavo pelos ombros, gritando para que ele parasse.

— Chega! Já deu, Gustavo!

Ele respirava pesado, o rosto vermelho de raiva, mas finalmente se afastou. Olhou para mim, depois para Miguel, que estava encostado na parede, com o rosto machucado e uma expressão de dor misturada com desprezo.

Sem dizer mais nada, puxei Gustavo para fora do banheiro, deixando Miguel para trás. Eu sentia meu coração batendo tão rápido que parecia que ia explodir. Quando finalmente saímos, soltei Gustavo, mas ele ainda estava com o punho fechado e a respiração descompassada.

— Você tá bem? — perguntei, tentando ignorar o nó na minha garganta.

Ele me olhou, ainda furioso, mas também com algo mais em seu olhar. Uma mistura de dor e insegurança. Ele não respondeu, apenas passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar, enquanto eu tentava processar tudo o que havia acabado de acontecer.

O trajeto de volta foi feito em um silêncio tenso. Quando saímos da escola, o pai de Gustavo estava estacionado em frente ao portão em seu carro preto. Ele acenou para nós com um sorriso amigável, completamente alheio à tempestade que se desenrolava entre mim e Gustavo.

— Aí estão vocês! Entrem, vamos embora. Como foi o acampamento? — perguntou ele, enquanto ajeitávamos nossas mochilas no porta-malas.

Subimos no carro, eu no banco de trás e Gustavo ao meu lado, ambos mergulhados em uma atmosfera carregada. Gustavo respondeu com um monossilábico seco:

— Foi bom.

O pai dele, sem perceber o clima, continuou falando, tentando puxar conversa.

— Vocês ganharam alguma competição? Sei que sempre tem essas brincadeiras de equipe, né? — Ele riu, olhando para nós pelo retrovisor.

— Ganhamos quase todas — respondi, tentando manter um tom natural para desviar a atenção do comportamento de Gustavo, que apenas olhava para frente, tenso.

— É, o Gustavo sempre foi competitivo. Desde pequeno, nunca aceitava perder, né, filho? — O pai riu novamente, mas Gustavo apenas resmungou algo inaudível.

De vez em quando, eu sentia os olhos de Gustavo em mim. Não eram olhares furtivos; eram encaradas carregadas de irritação, como se ele quisesse gritar comigo, mas estava se segurando. Cada vez que isso acontecia, meu estômago revirava, e eu desviava o olhar, encarando a paisagem pela janela.

— Vocês acamparam mesmo? Dormiram em barracas? Deve ter sido desconfortável pra caramba, né? Eu não sei como conseguem dormir assim, com esses bichos e tudo mais.

— Foi tranquilo, deu pra dormir bem — respondi, tentando parecer calmo.

Enquanto o pai continuava falando sobre trivialidades, Gustavo permanecia rígido e em silêncio. Eu fazia o possível para manter a conversa fluindo, temendo que o silêncio gritante entre nós dois fosse percebido.

Quando estávamos perto de casa, o pai anunciou:

— Vou deixar vocês dois lá e depois vou buscar a mãe de vocês e o Eduardo, no clube. Eles disseram que iam terminar de jogar tênis e almoçar por lá. Acho que não demoro muito.

— Tá bom — respondeu Gustavo, ainda sem muita emoção.

O carro parou em frente à casa, e nós descemos. Gustavo pegou nossas coisas no porta-malas sem olhar para mim. O pai deu um aceno rápido antes de sair, deixando-nos sozinhos na calçada.

Subimos as escadas e entramos na casa, o clima pesado nos acompanhando como uma sombra. Gustavo largou sua mochila no canto da sala e foi direto para o sofá, sem dizer uma palavra. Eu o observei por alguns segundos antes de perguntar, hesitante:

— Você vai parar mesmo de falar comigo?

Ele me olhou de lado, os olhos apertados de irritação.

— Eu tô muito irritado agora, Léo. Não sei o que dizer sem perder a cabeça.

Respirei fundo, tentando manter a calma.

— Gustavo, não foi culpa minha o que aconteceu! Eu não dei abertura nenhuma. Você viu que eu tava empurrando ele!

Ele se levantou abruptamente, me encarando com o rosto tomado pela raiva.

— Não deu abertura?! Desde o começo, você deixou ele perto demais! Sempre tentando ser bonzinho com todo mundo, né? E olha no que deu!

— Eu tava tentando ser educado, Gustavo! Ele tava sendo um idiota comigo no início e, mesmo assim, eu não fiz nada pra alimentar isso!

— É sempre assim, Léo! Você acha que pode agradar todo mundo e que tá tudo bem. Mas não tá! Olha só o que aconteceu! Ele beijou você! Beijou!

— Eu não pedi por isso! Eu empurrei ele! Você viu! Por que você tá jogando isso em mim? — Minha voz começou a falhar, o nó na garganta apertando.

— Porque você não vê o quanto isso me fere! — Ele apontou para o próprio peito, o tom de voz subindo ainda mais. — Você não sabe o que é sentir que a qualquer momento pode perder a pessoa que ama pra alguém que parece estar sempre esperando uma chance!

— Eu nunca faria isso com você! Por que você não confia em mim? — gritei de volta, incapaz de conter as lágrimas que começavam a brotar.

— Não é sobre confiar em você, Léo. É sobre saber que tem gente como ele por aí! Eu tô cansado de ter que ficar provando que você é meu!

— Eu não aguento mais, Gustavo. — Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, os olhos marejados de lágrimas que eu já não conseguia segurar. — Eu não aguento mais ter que provar o tempo todo que eu amo você. Quantas vezes eu já disse? Quantas vezes eu já mostrei?

Ele franziu o cenho, cruzando os braços.

— E você acha que falar isso de cabeça quente ajuda em alguma coisa? — rebateu. — Se você me amasse de verdade, a sua boca não teria parado na de outro menino.

As palavras bateram como um soco no meu estômago. Foi como se o ar tivesse sumido da sala. Eu fiquei ali, paralisado, encarando Gustavo como se ele tivesse acabado de atravessar o limite que eu nunca achei que ele cruzaria.

— Você realmente disse isso? — perguntei, com a voz quase inaudível.

Ele imediatamente percebeu o peso do que tinha acabado de falar. Seu rosto suavizou, e ele balançou a cabeça, passando a mão pelos cabelos em um gesto nervoso.

— Desculpa... Eu não queria ter falado isso. Eu acho que... Eu passei do limite.

Mas as lágrimas já escorriam pelo meu rosto, incontroláveis.

— Passou do limite? Você acha? — gritei, meu coração transbordando com tudo que eu estava segurando há tanto tempo. — Você é o amor da minha vida, Gustavo! Eu já te disse isso quantas vezes? Eu faria qualquer coisa por você! Qualquer coisa! Se dependesse de mim, a gente já tinha ido embora dessa casa, deixado tudo pra trás e ficado junto de verdade. Mas não depende só de mim!

Gustavo parecia travado, as palavras se acumulando em seus lábios, mas sem conseguir sair.

— Você acha que só eu preciso tomar atitude? — continuei, a voz embargada. — Não, Gustavo! A gente precisa fazer isso juntos! Eu tô pronto pra sofrer o que tiver que sofrer, mas pra que a gente fique junto! Só que eu não posso fazer isso sozinho!

Minhas palavras ecoaram pela sala, um silêncio pesado caindo sobre nós. Gustavo me olhava como se visse toda a dor que eu sentia pela primeira vez. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos meus, e então mais um, até que ele estava perto o suficiente para me puxar.

Sem dizer nada, ele agarrou meu rosto com as mãos e me beijou. Não era um beijo de raiva ou desespero; era um beijo profundo, cheio de tudo que ele não conseguia dizer com palavras. Eu senti meu corpo se desmanchar contra o dele, as lágrimas ainda escorrendo enquanto nossos lábios se encontravam, como se aquilo fosse a única coisa que ainda nos segurava no mundo.

Mas então, um som quebrou o momento.

— Eu posso saber que porra tá acontecendo aqui?

A voz grave e firme do pai de Gustavo fez meu corpo congelar. Meus olhos se arregalaram, e eu me afastei de Gustavo tão rápido que tropecei para trás. Gustavo virou para a porta, onde o pai estava parado, o rosto fechado, os olhos alternando entre nós dois.

O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. Meu coração parecia prestes a explodir, e tudo dentro de mim gritava que aquele era o fim.

Gustavo ficou paralisado, o rosto completamente sem cor, como se tivesse sido pego em flagrante no pior crime possível. Eu não sabia o que fazer, o que falar, minha mente completamente em branco.

O pai de Gustavo estreitou os olhos, a tensão no ar crescendo a cada segundo.

— Vocês vão me explicar isso agora, ou eu vou ter que adivinhar?

Eu engoli em seco, minhas mãos tremendo ao meu lado. Era como se todo o meu mundo estivesse prestes a desmoronar, e eu não tinha ideia de como impedir isso.

Xxxxxx----xxxx

Atenção, como hoje estou em casa (feriado no RJ) se o conto chegar a 27 estrelas até o começo da noite eu posto o próximo capítulo ainda hoje. Ou seja, 2 capítulos no mesmo dia 💕

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 21 estrelas.
Incentive Th1ago a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

UAUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU. DEMOROU PRA ISSO ACONTECER. CREIO QUE VEM MAIS COISAS RRUINS PELA FRENTE. MINHA NOSSA SENHORA TENHA PIEEDADE DE TODOS OS ENVOLVIDOS. NÃO POSSO ACEITAR O COMPORTAMENTO DE MIGUEL. QUE GRANDE BABACA, FDP. MERECE APANHAR MUITO MEESMO PRA APREDER A SER HOMEM.

0 0
Foto de perfil genérica

Este momento já era um facto anunciado que sabíamos que iria acontecer. Até pensei que fosse no acampamento.

A imaturidade adolescente é assim mesmo e, mais uma vez, o Th1ago soube explorá-la muito bem. Claro que as consequências serão um autêntico terramoto que não deixará pedra sobre pedra de tudo o que foi construído até aqui.

0 0
Foto de perfil genérica

o que dá um alento, é mesmo sabendo que acontecu toda essa merda, elss se reencontraram e sabemos que o gustavo não morreu como imaginávamos no começo da história. kkkkkk posta mais que tá bom demais acompanhar essa história.

0 0