047 estava em um quarto luxuoso e confortável, um contraste gritante com a cela úmida e escura da Instalação Nº 7. Ele ainda se sentia atordoado com a mudança repentina de ambiente. Agora, limpo e vestido com uma túnica branca, semitransparente, que pouco escondia de seu corpo, ele explorava o aposento. Móveis finos, roupas limpas. Tudo era estranhamente novo e intimidador.
Ele tocou a superfície macia da túnica, sentindo a textura do tecido contra a pele. Era uma sensação estranha, quase esquecida. Na Instalação, o conforto era um luxo inexistente. Aqui, parecia ser a norma. Ele se aproximou da janela, observando o movimento lá embaixo. Não havia sinais de caos ou desespero, apenas uma cidade que, de alguma forma, parecia funcionar.
Seus pensamentos voltaram para Anya. O que ela queria dele? Por que o trouxera para o Palácio? Quanto tempo iria ficar ali? Ainda voltaria para a instalação? Como os outros homens ficaram? Eram muitas perguntas e poucas respostas.
Passos no corredor o tiraram de seus devaneios. A porta se abriu e Kaleb entrou, seu rosto impassível como sempre.
A Suprema Anya requisitou sua presença - disse ele, com uma voz neutra. - Venha comigo.
047 assentiu e seguiu Kaleb para fora do quarto. Eles caminharam em silêncio pelos corredores opulentos do Palácio, passando por Guardiãs em seus uniformes negros e por servas de castas inferiores, que se apressavam em suas tarefas. 047 notou os olhares que as servas lançavam a ele, uma mistura de desejo, curiosidade e um certo temor. Algumas, mais ousadas, fixavam o olhar em seu pau, visível sob a túnica fina, sorriam e passavam a língua nos lábios, ele com certeza era fonte de desejo daquelas mulheres, afinal, passado alguns anos após o início da pandemia, homem era um item raro no mundo, as mulheres estavam sedentas, essas de castas inferiores tinham mais dificuldade ainda de ter algum relacionamento, muitas alcançaram a maioridade e nunca tiveram a chance de segurar um pau.
Kaleb, percebendo tudo isso, lançou lhe um olhar de advertência.
Mantenha a cabeça baixa - disse ele, em voz baixa. - E não fale com ninguém, a menos que seja ordenado. Aqui, você deve ser invisível, a menos que a Suprema deseje o contrário.
047 assentiu, entendendo a mensagem. Ele precisava ser cauteloso.
Enquanto caminhavam, Kaleb explicou, de forma sutil, que 047 agora era um "protegido" de Anya, e que isso lhe conferia certos privilégios, mas também grandes responsabilidades. Focou a conversa em termos amplos de "serviço" e "dever". A interação entre eles era cautelosa, com Kaleb mantendo uma certa distância e formalidade, como se estivesse cumprindo um dever, mas não demonstrando hostilidade.
Você tem muita sorte, 047 - disse Kaleb, num tom formal. - A Suprema se interessou por você. Isso é uma honra que poucos homens recebem. Não desperdice essa oportunidade.
Eu entendo - respondeu 047, embora sentisse um arrepio de apreensão. Ele não via sua situação como sorte, mas sim como um perigo disfarçado.
Kaleb o conduziu até um jardim exuberante, um verdadeiro oásis no meio do Palácio.
O jardim era um espetáculo à parte. Fontes de água cristalina, flores exóticas e árvores frutíferas criavam um ambiente de paz e tranquilidade, um nítido contraste com a realidade do lado de fora dos muros do Palácio. Anya os esperava, sentada em um banco de mármore. Ela estava vestida de forma mais informal, mas ainda irradiava poder e autoridade. Ao vê-los, ela fez um sinal para que Kaleb esperasse.
Sente-se, 047 - disse ela, indicando um banco próximo.
047 obedeceu, sentindo-se tenso sob o olhar penetrante de Anya.
Imagino que você esteja se perguntando por que eu o trouxe aqui - começou Anya, sua voz suave, mas firme.
Sim, Suprema - respondeu 047, mantendo a voz neutra.
Quero você perto, 047 - disse ela.
Ela se levantou e começou a caminhar pelo jardim, suas mãos entrelaçadas nas costas. 047 a acompanhou com o olhar, sem saber o que dizer.
Você já deve ter percebido que as coisas aqui são diferentes da Instalação - continuou Anya. - Aqui, nós valorizamos a ordem, a disciplina, a contribuição. Cada um tem seu papel a desempenhar, e os homens, embora em número muito reduzido, não são exceção.
Ela parou diante de uma roseira e tocou uma das flores, delicadamente.
Os Supremos, como Kaleb e agora você, têm um papel especial - disse ela, virando-se para ele. - Vocês estão aqui para servir a mim, e apenas a mim.
Ela se aproximou dele, e seu tom de voz se tornou mais baixo, mais íntimo.
Disseram-me que você andava falando em resistência na Instalação Nº 7 - disse ela, sua voz suave, mas carregada de uma ameaça velada. - Que andava incitando os outros a se rebelarem.
047 sentiu um frio percorrer sua espinha, mas manteve a compostura.
Eu não sei do que a senhora está falando, Suprema - respondeu ele, mantendo a voz firme e o olhar respeitoso, mas sem demonstrar medo. - Eu sempre fui um trabalhador obediente. Nunca causei problemas.
Anya o encarou, seus olhos azuis estreitados, como se buscasse por qualquer sinal de mentira ou hesitação.
É mesmo? - perguntou ela, cética. - Porque os relatórios que recebi indicam o contrário. Dizem que você tem uma certa... influência sobre os outros homens. Que você os liderava em discussões... subversivas.
Isso não é verdade, Suprema - insistiuHá muito descontentamento na Instalação, é verdade. Os homens estão cansados, assustados. Eles falam coisas, rumores se espalham. Eu posso ter tentado acalmá-los, mas isso não significa que eu seja um líder ou que eu apoie qualquer tipo de rebelião.
E que tipo de rumores seriam esses, 047? - Anya perguntou, sua voz incisiva. - Sobre o que os homens discutem quando acham que ninguém está ouvindo?
047 hesitou por um instante. Ele sabia que estava pisando em terreno perigoso.
Eles falam sobre o passado, Suprema - respondeu ele, cuidadosamente. - Sobre como as coisas eram antes do vírus. Alguns falam em escapar, em encontrar um lugar seguro, longe das Instalações. Mas são apenas sonhos, ilusões. Todos sabemos que não há para onde ir.
E você, 047? - Anya o interrompeu, seu olhar fixo no dele. - Você também sonha com essas coisas? Com escapar, com se rebelar?
Não, Suprema - respondeu 047, firmemente. - Eu entendo a importância da ordem, da disciplina. Sem isso, haveria apenas caos. E o caos não beneficia ninguém, nem mesmo os homens.
Anya continuou a estudá-lo em silêncio, avaliando sua resposta. 047 se manteve firme, sem desviar o olhar, transmitindo uma imagem de sinceridade e lealdade.
Eu entendo que a situação é difícil - disse Anya, por fim, seu tom de voz um pouco mais suave. - A perda de tantos homens foi uma tragédia. Uma tragédia que afetou a todos nós, homens e mulheres. Mas precisamos olhar para frente, 047. Precisamos encontrar uma maneira de seguir em frente, de reconstruir. O mundo lá fora é perigoso para vocês. Eu presto um serviço ímpar a humanidade, recolho homens sem qualquer perspectiva de vida, ofereço-lhes comida, teto, roupas, e ainda mais, dou mulheres para chupar o pau de vocês todos os dias, não era isso que antes da pandemia vocês queriam?
Sim, Suprema - concordou 047.
Então 047, qual o descontentamento? - continuou Anya. - Você e os outros Supremos têm um papel crucial a desempenhar. Vocês são a chave para o nosso futuro.
Ela se aproximou dele novamente, e seu tom de voz se tornou mais baixo, mais confidencial.
Você entende a sorte que tem de estar aqui, 047? - perguntou Anya, de repente, virando-se para ele. - Aqui, no Palácio, você está seguro. Você é cuidado. Você tem um propósito.
Ela se aproximou dele novamente.
Você já deve ter percebido que aqui não passará pelos processos de extração como na Instalação. Aqui, os Supremos, como Kaleb e agora você, estão unicamente para me servir - Os olhos de Anya brilham com uma intensidade quase predatória. - Eu detenho seus corpos, 047. Eu os uso da forma que eu quiser, quando eu quiser. Você deve sempre estar solícito a mim, entende? Anya falou isso segurando a cabeça de 047 com as duas mãos e no final deu um leve beijo em sua boca.
047 assentiu, engolindo em seco. Ele entendia perfeitamente.
Seu sêmen ainda será coletado, de tempos em tempos, para análises - continuou Anya. - Mas, fora isso, nenhuma outra mulher está autorizada a tocar em você. Você me pertence agora.
Ela se inclinou, seu rosto a centímetros do dele novamente, segurou sua mão, levou até usa buceta úmida e sussurrou, sua voz carregada de um misto de ameaça e promessa:
Lembre-se disso, 047: seu pau pertence à minha buceta, e nada mais. Qualquer sinal de insubordinação, qualquer tentativa de se comunicar com o exterior, qualquer ato que eu considere uma traição, e as consequências serão severas. Não apenas para você, mas para todos os homens sob minha proteção.
047 sentiu medo nesse momento, mas ele assentiu, demonstrando compreensão.
Sim, Suprema - disse ele. - Eu entendo.
Anya sorriu, um sorriso frio e enigmático, e se afastou.
Bom - disse ela. - Acho que estamos entendidos, então.
Ela fez um sinal para Kaleb, que havia permanecido em silêncio durante toda a conversa, e ele se aproximou, pronto para acompanhar 047 de volta aos seus aposentos.
Kaleb cuidará para que você tenha tudo o que precisa - disse Anya. - E eu o verei em breve, 047. Temos muito trabalho a fazer.
047 fez uma reverência, ainda sem saber ao certo o que o futuro lhe reservava.
Após deixar 047, Anya se dirigiu ao laboratório, o coração de suas operações científicas. O local era muito mais avançado e bem equipado do que o antigo laboratório na universidade. Lena e outras cientistas da Casta Intelectual estavam trabalhando, analisando amostras, operando equipamentos e registrando dados. O ambiente era de intensa atividade e concentração.
Anya observou o trabalho em andamento, fazendo perguntas e dando instruções. Ela queria saber sobre a quantidade de sêmen extraído no mês anterior, os níveis de Fator A encontrados e o progresso no processamento.
Estamos progredindo bem, Suprema - relatou Lena, entregando a Anya um tablet com os dados mais recentes. - A produção está dentro do esperado, mas a demanda por sêmen processado tem crescido rapidamente, especialmente entre as castas superiores.
Precisamos aumentar a produção - disse Anya, folheando os relatórios. - Explore a possibilidade de recrutar mais Sacerdotisas para a extração e treinar mais assistentes de laboratório. E intensifique as buscas por homens com as características que identificamos. Precisamos de mais doadores.
Sim, Suprema - respondeu Lena.
E quanto à taxa de mortalidade dos homens nas Instalações? - perguntou Anya. - Quantos perdemos nos últimos 30 dias?
Lena hesitou por um momento, antes de responder:
Houve um aumento nas últimas semanas, Suprema. Perdemos 15 homens no último mês.
Quinze? - Anya franziu a testa, insatisfeita. - Isso é inaceitável. O que aconteceu?
A maioria sucumbiu a complicações do vírus, Suprema - explica Lena. - Apesar de nossos esforços, a doença ainda cobra seu preço. E alguns... não suportaram o estresse das extrações.
Anya bateu o dedo na mesa, impaciente.
Precisamos encontrar uma maneira de fortalecê-los - disse ela. - Eles são um recurso valioso demais para ser desperdiçado dessa forma. Não podemos continuar perdendo homens nesse ritmo.
Estamos fazendo o possível, Suprema - disse Lena, em tom defensivo. - Mas precisamos lembrar que eles ainda são seres humanos, por mais que...
Anya a interrompe com um gesto impaciente.
Sim, seres humanos - disse ela, com um tom de desprezo na voz. - Mas seres humanos com um propósito muito específico. E precisamos maximizar seu potencial. Quero que você intensifique a pesquisa sobre os efeitos do Fator A. Descubra se há uma maneira de usá-lo para fortalecer os doadores, para que não morram com tanta facilidade.
Já estamos trabalhando nisso, Suprema - respondeu Lena. - Mas os resultados ainda são preliminares e inconclusivos.
Não me interessam desculpas, Lena - retrucou Anya. - Quero resultados. E rápido.
Anya também pergunta sobre o número de homens capturados no último mês.
E quanto às capturas? - perguntou ela. - Estamos conseguindo novos doadores em um ritmo satisfatório?
As equipes de busca têm encontrado cada vez mais dificuldades, Suprema - relatou Lena. - Parece que os homens saudáveis estão se tornando cada vez mais raros.
Dobre os esforços - ordenou Anya. - Reforcem as equipes e expandam o raio de busca. E ofereçam incentivos. Sêmen processado para as equipes que trouxerem mais homens, noites com progenitores para saciar o desejo dessas mulheres. Quero resultados, Lena.
Sim, Suprema - respondeu Lena, curvando-se levemente.
Kaleb, que acompanhava Anya durante a inspeção, observava tudo em silêncio, mas atento a cada detalhe.
Anya se retirou do laboratório, deixando Lena e as outras cientistas retomarem seu trabalho. Enquanto caminhava pelos corredores do Palácio, ela sentia uma mistura de excitação e frustração. Seu plano estava progredindo, mas não rápido o suficiente. Ela precisava de mais homens, mais sêmen, mais poder.
Em seus aposentos, 047 refletia sobre o encontro com Anya. As palavras dela ecoavam em sua mente, uma mistura de promessa e ameaça. Ele se sentia como um leão enjaulado, preso em um ambiente de luxo e poder, mas sem controle algum sobre seu próprio destino.
Em algum lugar lá fora, a resistência lutava por um futuro melhor. E, pela primeira vez desde sua captura, 047 sentiu uma pontada de esperança. Talvez, apenas talvez, ele pudesse fazer a diferença. Talvez seu novo e perigoso papel no Palácio pudesse ser usado para ajudar aqueles que ainda lutavam nas sombras.
Enquanto a noite avançava, 047 permanecia acordado, perdido em pensamentos, planejando seus próximos movimentos, ciente de que, naquele jogo de poder, um único erro poderia custar sua vida. Mas ele estava determinado a jogar. E a vencer.
Continua....