Ato 14 - Tudo as claras.
Ouço batidas na porta, e quando abro é a polícia.
- Dona Marília?
- Isso, eu mesma
- Podemos entrar ?
- Aconteceu alguma coisa ?
- Aconteceu, e queremos perguntar algumas coisas para a senhora, pode ser ?
- Por favor entrem
Deixei eles sentados na sala e busquei café para todos, eram uma policial mulher e um homem.
- Tem mais alguém na casa com a senhora ?
- Meu filho no quarto com a esposa, e a Lúcia que estava dormindo
- Pode chamar eles por favor
Subi as escadas e gritei pelo Junior e a Lara, entrei no quarto e acordei Lucia, Marcos não estava.
- A polícia está aqui
- Diz que eu saí cedo e você não viu.
Achei estranho, mas imaginei que ela quisesse dormir depois da pancada de perdermos tudo, estamos vivendo com o que consegui vender. Quando retornei Junior e Lara estavam na sala.
- A Lucia não está, saiu e eu não vi.
- Tudo bem, a senhora conhece esse homem ? - mostrou a foto do Marcos
- Sim, ele mora aqui
- Então dona Marília, ele está preso por tráfico e pedofilia, os bens dele foram saqueados e queimados, eu gostaria de saber se a senhora tem alguma ideia ou sabia que ele era pedófilo ou traficante ?
- Não! Nunca passou pela minha cabeça
- Então a senhora não vai se importar se dermos uma olhada nas coisas dele, vai ?
Nessa hora lembrei de Lúcia, como eu ia explicar que ela estava lá?
- Posso só fazer uma ligação para um advogado ?
- Sim senhora
- Moacir? Sou eu Marília, a polícia está aqui querendo revistar a casa, o que eu faço ?
- Permite Lucia, você não tem nada para esconder
Desliguei e permiti e já pensava na desculpa que ia dar quando vissem Lucia no quarto. Eles subiram as escadas e entraram no quarto, Lucia não estava mais lá. Respirei aliviada. Começaram a revistar e acharam numa mala dele uma arma, dinheiro e pen drive cheio de pornografia infantil. Nas coisas da Lucia acharam diversos cartões com muitos nomes.
- A senhora sabia disso?
- Não senhor!
- Mas foi encontrado na sua casa, a senhora vai ter que me acompanhar
Sai de casa para prestar esclarecimento e Moacir me acompanhou, fiquei proibida de deixar a cidade até que tudo fosse provado. Chegando em casa vi Lucia
- O que está acontecendo nessa casa ?
- Eu também não sabia do Marcos
- E esses cartões ?
- Ele deve ter roubado de alguém
Passaram alguém dias e a gente foi visitar Marcos na prisão, ele estava acoado, irreconhecível, e quando tentávamos tocar nele, ele se afastava.
- O que você fez ?
- Vocês precisam me tirar daqui, eu não aguento mais, eles me estupram todos os dias, me batem, por favor me tirem daqui.
- Não dá, vai demorar até conseguir te trocar de presídio
Ele começou a chorar e colocar as mãos no rosto. Parecia não ter forças para combater nada. Quando acabou a visita ele abraçou Lucia e me abraçou sussurrando no meu ouvido "Me perdoa" e senti colocar um papel no meu bolso.
Chegando em casa estava escrito "Cuidado com a Lúcia". Eu não sabia o que aquilo queria dizer, mas logo depois soubemos que ele tirou a própria vida, Lucia não foi ao velório, a família estava muito triste. Eu estava muito mal e voltei antes de terminar, Lucia estava com malas prontas.
- Para onde você vai ?
- Vou sair do pai, você não tá vendo que tem alguém atrás da gente?
- Como assim?
- Você sempre foi muito burra! A humilhação no sexo, você vendo seu ex, as contas vazias, as casas queimadas, a morte do Marcos, ele nunca foi pedófilo, foi tudo armado, se liga caralho!
Eu estava digerindo tudo e lembrei do bilhete
- Tudo isso é culpa sua? - perguntei baixinho
- Como é?
- É culpa sua
- Culpa minha ? Você que é uma lerda do cacete, foi muito fácil de manipular, você foi a presa mais fácil, agora preciso ir
- Você não vai - Corri para fechar a porta
Ela me puxou pelo cabelo jogando no chão, subiu em mim e me deu tapas na cara.
- Sua piranha burra, eu te manipulei, dopei esse merda do teu filho, coloco remédios inibidores todos os dias na tua comida, e você nunca percebeu, você não é nada, é um lixo que traiu o marido, que fodeu com a vida do filho e vai ficar sozinha amargando o pior de tudo.
- Você matou o João Roberto - Falei arregalando os olhos
- Não, aquilo foi sorte, eu só queria que vocês terminassem, você como uma puta burra estava caindo direitinho, ele nunca te traiu piranha, até tentamos que ele traísse, mas ele te amava muito. Eu já enganei muita gente estúpida, mas você foi a mais fácil. No fim que matou ele foi você por ser tão burra e se deixar levar.
Tentei gritar e ela tapou minha boca. Escutei Lara gritando para ela me soltar, ela pegou as coisas e saiu correndo, eu não consegui me levantar.
- Marília! Marília! Você está bem ?
Eu não sabia o que responder
- Meu filho - comecei a chorar
- Ela dopa ele, ela dopa ele e eu nunca percebeu
- Não se preocupa, eu sabia e troquei os remédios, como ele ficou muito tempo tomando, está se recuperando aos poucos.
- Está tudo bem mãe, eu estou lúcido, ainda tenho tonteira por conta dos remédios, mas estou melhorando, comendo melhor
Ouvir a voz do Junior me deu uma satisfação enorme, que me fez melhorar um pouco. Mas fiquei em choque um tempo e desabei a chorar, era como se tudo viesse a tona de uma vez, acabei desmaiando. Acordei no hospital com o som da TV ligada.
"Foi presa tentando sair do país a mulher conhecida como Viúva Negra, ela era procurada pela Interpol por dar golpes em homens, matar eles e ficar com a herança, a última vez que tinha sido vista foi na França, onde matou o marido mas não conseguiu a herança porque a família descobriu antes, ela estava sumida até uma denuncia anônima levar a polícia federal prende-la no aeroporto tentando sair do país com o passaporte de nome Lucia. Ela se chama Maria Velasquez Silva e já usou muitos nomes para dar esses golpes, a Polícia trabalha para saber se ela agia sozinha."
Nesse momento eu quis morrer, troquei tudo por ela e era um golpe que poderia levar a minha morte e a do meu filho. E João Roberto? Uma dor me invadiu o peito, estava sem os inibidores, então todo sentimento de angústia me invadiu de uma vez. Comecei a rezar por ele pedindo perdão, não sei se ele me ouviria.
Junior e Lara vieram me buscar, ele passou a trabalha com Moacir e eu vegetava em casa consumida pela culpa, eu respirava, mas não estava viva. Alguém me orientou ir a Igreja acender uma vela para João Roberto e pedir perdão.
Era uma Igreja dedicada a N. Sra Aparecida, muito bonita. Foi aí até a capela de velas e acendi, sentei para me confessar com o padre que estava naqueles confessionários antigos, não é comum usar mais eles.
- Perdão padre porque eu pequei... Contei tudo e ele permaneceu em silêncio.
De repente ouço uma voz inconfundível...
- João Roberto?
Continua no próximo ato...
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