Uma História de Amor Parte 3
— A recepção aos calouros 01
*Apenas uma observação antes de retomar a história, não mencionei o nome da universidade em Campinas porque não estudei lá.
Tudo o que irei relatar será baseado em minhas experiências na faculdade onde estudei.
Acredito que essa observação seja válida, pois minha intenção é transmitir ao máximo a experiência real que vivi, mesmo em um contexto fantasioso.
……
(Dani)
MarçoPrimeiro dia de aula
Retomando de onde paramos…
Levantei da cama rapidamente, cuidando para que o resquício da porra de meu “primo amante “ não escorresse pelas minhas pernas e deixasse algum rastro no chão. Fui direto ao banheiro, sentindo meu corpo quente e dolorido, mas com uma sensação de satisfação difícil de explicar.
Diante do espelho, observei meu reflexo. O cabelo desgrenhado, marcas de chupões espalhadas pelo pescoço e pelos seios, e meus lábios levemente inchados como se fossem vítimas de picadas de pernilongos – só que o culpado não era necessariamente tão “longo”.
Deixei escapar uma risadinha enquanto olhava para baixo. Minha bucetinha raspada estava avermelhada, os lábios externos ainda edemaciados de tanto "trabalho". "Definitivamente pronta para a faculdade," pensei, com um sorriso satisfeito no rosto.
Peguei meu rádio e coloquei um CD com a gravação da minha playlist favorita para tocar. O som preencheu o ambiente, misturando nostalgia e excitação. Antes mesmo de entrar no chuveiro, ouvi a porta do banheiro ao lado se fechar e, logo depois, a trilha sonora se repetir. Era Tati.
Tati, minha prima e companheira de todas as horas, também estava se preparando. Ela era incrível: meiga, inteligente, um tanto introspectiva, mas sempre uma presença confiável. "Sabe de tudo que faço, mas nunca se mete," pensei. E isso incluía as aventuras mais ousadas que tive com as veteranas da faculdade no último ano.
Ela era linda, mais alta do que eu – para ser justa, bem mais alta – com aquele corpo atlético de quem joga vôlei quase profissionalmente. Mas seu jeito reservado me fazia desconfiar às vezes. "Será que é falta de interesse nos meninos ou só timidez?" Eu nunca perguntei.
Entrei no box e liguei a água um pouco mais quente que o normal, deixando o vapor começar a tomar conta do espaço. A playlist continuava a tocar, preenchendo o ambiente com uma batida sensual que combinava perfeitamente com o momento.
-Tati, você está ouvindo isso também? - gritei, batendo na parede que separava os dois banheiros.
-Óbvio, né? Eu que gravei esse CD para a gente! - ela respondeu, com a voz abafada pela água.
A primeira música do dia não poderia ser outra: “like a virgin”, de nossa eterna diva, Madonna.
A água do chuveiro começou a correr, e o som era quase hipnótico. Ao entrar sob a ducha, deixei a água já morna cair sobre minha cabeça, escorrendo por cada curva do meu corpo e arrepiando minha pele. A sensação era um misto de choque e prazer, como se meu corpo despertasse de algo mais profundo.
Peguei o chuveirinho, ajustando o jato para uma intensidade mais forte. Direcionei primeiro para os ombros, sentindo o alívio da água massageando os músculos tensos, depois deixei que o jato deslizasse pelo centro do meu peito, acompanhando cada movimento com as mãos ensaboadas.
Meu toque era cuidadoso, quase ritualístico, enquanto espalhava a espuma lentamente, aproveitando cada detalhe da minha própria pele.
Quando o jato alcançou minha barriga, um arrepio percorreu minha espinha. Deixei o chuveirinho parado ali por um momento, sentindo a pulsação da água contra mim, enquanto meus dedos exploravam suavemente o contorno dos quadris e desciam pelas coxas. As gotas escorriam, se misturando ao sabão e seguindo os caminhos naturais do meu corpo.
Ao inclinar o chuveirinho para a parte interna das coxas, iniciei aos poucos a aproximação daqueles jatos de água até que finalmente o alvo principal foi atingido. Após um leve arrepio pelo contato ríspido da com minha vagina que ainda estava sensível, consegui controlar a intensidade desses jatos direcionando eles aos poucos para meu pontinho mais específico. O lugar onde o prazer se torna único. Um suspiro escapou antes que eu pudesse me conter. Não era só a sensação física; era o calor crescente que vinha com os pensamentos que me invadiam.
Imagens rápidas de momentos passados – o toque e imponência de Tony… os olhares famintos e desejosos de Bernardo – me fizeram fechar os olhos e deixar a mente vagar enquanto a água fazia o resto. A imagem ilusória dos dois finalmente me fudendo juntos foi o catalisador que tanto precisava.
O sabonete nas minhas mãos virou um aliado, escorregando de forma sutil e deixando minha pele mais sensível a cada movimento. Quando alcancei a curva da minha cintura, meu toque ficou mais lento, quase hesitante, como se quisesse prolongar a expectativa.
A música no rádio parecia ficar mais alta, acompanhando o ritmo que eu mesma criava. Meu coração batia mais rápido, e a mistura de água, espuma e pensamentos proibidos transformava o banho em algo que transcendia o simples ato de me limpar.
A água escorria pelas minhas coxas enquanto eu passava o sabonete, lavando cada parte com cuidado. Passei pelas pernas, pelos quadris, e finalmente cheguei aos seios, onde brinquei um pouco mais, como sempre fazia. A sensação familiar que busco desde a infância após descobrir a verdade utilidade do chuveirinho, veio como uma explosão, e eu sorri, satisfeita, sabendo que o dia mal tinha começado.
Quando finalmente desliguei o chuveirinho, um sorriso leve surgiu nos meus lábios. O calor do momento ainda permanecia em mim, como uma lembrança íntima que não precisava de palavras para ser guardada.
Após sair do chuveiro me sentindo renovada. Tati já estava se arrumando no quarto ao lado, e nossa tia, com o celular em mãos, mal podia esperar para tirar fotos.
-Meninas, vocês estão lindas! Vem cá, deixa eu registrar esse momento! - ela disse, animada, enquanto apontava a câmera para nós.
-Tia, pelo amor de Deus, nada de desenhos ou frases no rosto. As veteranas proibiram isso - eu avisei, rindo.
-Tudo bem, mas só uma fotinho para mim, pode ser? - ela insistiu, e nós cedemos. Afinal, era nosso primeiro dia oficial como universitárias.
A preparação para o trote estava a todo vapor. Sabíamos que nossas roupas seriam rasgadas, os sutiãs provavelmente destruídos, mas estávamos empolgadas. Mesmo com as histórias assustadoras que circulavam sobre o que poderia acontecer, havia algo reconfortante em saber que estaríamos juntas.
-Tati, você acha que vão pegar pesado com a gente?- perguntei, enquanto ajustava minha blusa no espelho.
-Depende. Você consegue ficar quieta e não chamar atenção? Porque eu vou tentar passar despercebida. - ela respondeu, me lançando um olhar cúmplice.
-Difícil, né? Minha cara não ajuda. - brinquei, e ela riu.
Apesar de nossas diferenças, saber que teria Tati ao meu lado tornava tudo mais fácil. Ela era meu equilíbrio, meu freio nas situações impulsivas. E, acima de tudo, era a pessoa em quem eu mais confiava no mundo.
…….
(Duda)
MarçoPrimeiro dia de aula
(Ainda em São Paulo)
Retomando de onde paramos…
O momento em que desci as escadas carregando minha bagagem parecia um divisor de águas, uma despedida carregada de simbolismo. Não era apenas uma viagem ou uma mudança de endereço; era um adeus à rotina familiar que sustentou minha vida até agora.
Jamais imaginei que deixaria meu pai sozinho, pelo menos não antes de me casar. Ele passou por tanto sofrimento…Carregou a dor de uma traição devastadora nas costas, suportando anos de descaso por parte da minha mãe, que o abandonou sem olhar para trás, sem um pingo de arrependimento. Eu tinha apenas 12 anos quando tudo aconteceu, jovem demais para entender a profundidade das feridas que ela deixou.
Meu pai sofreu, não só pelo que viveu, mas porque teve que continuar. Criar um pré-adolescente rebelde, amargurado e confuso foi mais uma das batalhas que ele enfrentou.
Por anos, direcionei minha raiva para a pessoa errada. Não conseguia enxergar o quadro completo, a verdade por trás da separação. Meu pai nunca quis me envolver nos detalhes, nunca quis me colocar contra minha mãe, por mais que tivesse motivos.
Foi minha avó materna (sim a mãe de minha mãe), que em um momento de descuido – ou talvez de indignação acumulada –, que despejou a verdade sobre mim. A traição. O abandono. Tudo o que minha mãe fez para destruir o homem que eu tanto admiro. Foi como um tapa na cara que, ironicamente, me fez despertar.
Hoje, meu pai é meu maior orgulho. Meu exemplo, minha bússola. É a pessoa que tento imitar, não apenas pela resiliência, mas pela generosidade que mantém, apesar de tudo. E, mais do que isso, ele é meu amigo. Talvez o melhor amigo que já tive.
A vida, no entanto, não foi só de cicatrizes para ele. Há três anos, Débora entrou na nossa história. Uma mulher incrível. Nissei, forte e cheia de energia, acabou de completar 40 anos. Ela parecia ser de outro mundo, com sua leveza e presença marcante. Professora de dança de salão no clube que frequentamos e instrutora de crossfit, Débora exalava vitalidade. Mas o que mais importava não era isso. Era o brilho nos olhos do meu pai, algo que eu não via desde antes de tudo desmoronar.
Débora também trazia suas marcas. Um casamento fracassado e anos de sofrimento, assim como ele. Juntos, encontraram uma forma de curar as feridas e recomeçar. Eles se salvam mutuamente, e isso me conforta. Saber que meu pai não estará sozinho me dá uma certa paz. Mesmo assim, não consigo evitar a pontada de insegurança. Vou estar longe, em uma vida nova, distante do que me é familiar.
Ao cruzar a sala e ver o sorriso calmo do meu pai, com Débora ao seu lado, percebo que talvez eu esteja pronto. Eles me ensinaram, cada um à sua maneira, que recomeços são possíveis. Que a dor não é um ponto final, mas uma vírgula na história.
Me aproximei de forma desajeitada, tropeçando no próprio equilíbrio por conta da quantidade absurda de coisas que carregava ao mesmo tempo. Meu pai, observando minha falta de coordenação motora momentânea, veio prontamente me ajudar.
Sem hesitar, pegou as duas mochilas que eu mal conseguia segurar embaixo das axilas e as largou no chão, aliviando meu peso. Depois, pegou as malas mais pesadas que eu carregava nas mãos.
— Filho, deixa comigo. A Débora quer se despedir. Ela não vai poder viajar com a gente, mas quer falar com você.
Instintivamente, larguei minha bagagem com ele e fui ao encontro dela. Débora estava ali, quieta, esperando.
Até hoje, lembro da música baixa que tocava ao fundo, carregando o ambiente com uma estranha solenidade. Era uma peça clássica, que ela usava nas aulas de valsa lá no clube.
Ela não falou nada. Apenas me pegou pela mão e logo após me puxou pela cintura. Senti meu quadril ser pressionado pelo o seu, com um encaixe perfeito entre nossas pélvis. Tentei me desencaixar, mas ela me segurou com as duas mãos abraçando meu pescoço, porém, antes fez questão de mostrar como queria que a segurasse pela cintura, praticamente a abraçando do mesmo jeito que fez com seus braços em meu pescoço.
Ao sentir que nossas pélvis pareciam estar perfeitamente em sintonia, juntamente com a pressão daquele momento, me fez involuntariamente enrijecer meu membro que se encontrava no meio de minhas pernas.
Tentei entender o que ela queria com aquilo, mas antes que pudesse me afastar, ela segurou meus ombros e me olhou nos olhos.
— Fica tranquilo, querido. Tá tudo bem. Continua.
Eu não se foi por causa de seu cheiro, ou a sensação de estar abraçando seu corpo perfeito. Ou os discretos movimentos de seu quadril, roçando o meio de suas pernas bem no meio das minhas, sei apenas que estar desse jeito por conta da namorada do meu me parecia simplesmente errado.
Meu rosto deve ter entregado o que eu sentia, porque Débora sorriu, com um olhar que parecia analisar cada detalhe da minha reação.
— Eu tinha certeza de que você tinha herdado muita coisa de seu pai — disse ela, com um tom que mesclava brincadeira e sinceridade.
A frase me deixou visivelmente desconfortável, mas antes que eu pudesse responder algo, ela deu um passo para trás, mantendo a mesma expressão tranquila.
— Não fica assim — continuou ela, com um tom mais sério. — Eu só queria confirmar uma coisa antes de conversar com você.
Débora então aproximou-se novamente, segurando meu rosto com as duas mãos, agora de forma carinhosa.
— O que aconteceu naquela viagem… você teria evitado aquele momento se tivesse usado a sunga que te dei de presente.
Queria que o chão me engolisse naquele instante. Mas Débora manteve sua calma, como se estivesse habituada a lidar com meu desconforto.
— Sabe, eu sempre quis ter um filho. Quando descobri que não podia, pelo menos não de forma natural, meu antigo casamento só piorou. As situações abusivas apenas aumentaram, adicionando ainda mais desgaste emocional por conta daquela revelação.
Ela começou a chorar. Vi as lágrimas escorrerem por seu rosto e, sem pensar muito, puxei-a para mais perto, enxugando seu rosto com uma mão trêmula. Não consegui segurar as minhas próprias lágrimas.
— Eu… eu… sinto muito.
Pateticamente foi a única forma que consegui me expressar naquele momento.
— Você sabe que não tenho a intenção de tomar o lugar de sua mãe…mas, por favor, entenda o quanto te amo. Como se fosse meu filho. O filho que não consegui ter naturalmente.
Abraçamo-nos de novo, dessa vez com lágrimas de verdade, sem constrangimento, só emoção. Depois de alguns minutos, ela me soltou e mudou de tom, trazendo-me de volta à realidade.
— Duda, me escute. Como sua amiga e também como mulher, eu posso te dizer algo que talvez ainda não tenha percebido: você tem algo que te dá uma vantagem em relação a imensa maioria dos outros homens, que você nem imagina.
Pensei em interrompê-la, mas ela foi mais rápida:
— Ainda mais nessa idade em que nós meninas estamos com o hormônio estourando, ao mesmo tempo que nossa curiosidade está a todo vapor.
Ela sorriu, mas dessa vez seu semblante era mais leve.
— O erro de muitos homens é achar que nós não gostamos de sexo. Ou não nos excitamos e queremos o imprevisível, até mesmo a falta de pudor e impulsividade.
— Eu não sei como te responder — comecei, hesitante, mas, dessa vez, Débora não me interrompeu. — Estava claro para mim que tudo foi armado por ela. Nunca passou pela sua cabeça ter alguma coisa comigo. Eu que fui ingênuo.
Falar aquilo foi como um alívio. Colocar os sentimentos para fora me trouxe uma leveza inesperada. Débora, porém, não parecia satisfeita em deixar o assunto por ali e continuou:
— Você ficou usando aqueles bermudões que vão quase até o joelho, provavelmente até com cueca por baixo, certo? Mesmo num lugar onde até top less as meninas faziam…
Não consegui responder. O silêncio entre nós dois era mais eloquente do que qualquer palavra. Débora soltou uma risada curta, talvez para aliviar a tensão.
— Deixa eu te contar uma história, rapidinho. Na primeira vez que levei seu pai para conhecer minha casa lá em Maresias, foi num feriado em que dois casais de amigos também estavam por lá.
Ela então me puxou pela mão e me guiou até o sofá, indicando que eu me sentasse ao lado dela.
— Todos fazíamos crossfit na época, e seu pai ainda não tinha começado a malhar. Eu sabia que ele poderia ficar constrangido. Infelizmente, a autoestima dele tinha sido bastante abalada por causa do relacionamento anterior…
Débora fez uma breve pausa, como se estivesse escolhendo bem as palavras, antes de continuar:
— Enfim, estávamos entre três casais, todos praticantes de crossfit. Dois deles eram personal trainers, musculosos, altos… tinha tudo para ser desconfortável para ele. Então, achei melhor sugerir que usasse uma sunga, em vez de bermuda. E sabe o que aconteceu? Isso mudou tudo.
Ela riu de leve ao terminar a frase e me lançou um olhar cúmplice.
— A reação das minhas amigas, a curiosidade delas… bem, digamos que eu fiquei com ciúmes pela primeira vez na vida.
A confissão me fez rir junto com ela, e o clima ficou mais leve.
— Claro, Duda, só aparência não faz ninguém ser irresistível. — Ela sorriu, com aquele jeito descontraído que só Débora tinha. — A gente gosta de caras seguros, mesmo que sejam tímidos. De quem é ousado e não se deixa intimidar pelas situações. Lembre-se disso, sempre.
Apesar do peso da conversa, percebi que ela queria apenas me passar uma lição. Agradeci a ela e tentei demonstrar que havia entendido o que queria me ensinar.
Débora então me deu um beijo na bochecha e falou:
— Eu te amo. Nós te amamos. Estamos aqui e sempre estaremos para o que precisar. Não se isole, não pense que iremos te reprimir ou te julgar, seja qual for o motivo. Mas… também não deixarei seu pai simplesmente passar a mão na sua cabeça se aprontar. Divirta-se e seja o homem que sei que é.
Abraçamo-nos mais uma vez, agora sem ereção ou qualquer outra bobagem. Éramos apenas mãe e filho nos despedindo. Mas ter certeza de sermos também amigos, me deixava ainda mais seguro.
Entrei no carro sentindo-me mais forte, como se aquele diálogo tivesse renovado algo dentro de mim. A nova vida que se iniciava parecia menos assustadora agora.
……
(Dani)
Saímos de casa em cima da hora. Culpa do Bernardo e do meu tio, que insistiram em tirar mais algumas fotos.
Tivemos que correr para não ficarmos para trás. Afinal, ninguém quer ser o calouro que chega tarde na aula inaugural. Se isso acontece, pode esquecer qualquer chance de passar despercebido no trote.
A sala de aula era maior do que as outras, ou pelo menos foi essa a impressão que tive. Devia comportar cerca de 80 alunos, além de alguns veteranos que se acomodaram no fundo, provavelmente para observar e rir dos novatos.
O diretor e alguns professores começaram com apresentações formais e enfadonhas. Eles falavam, mas a única coisa que eu sentia era uma mistura de ansiedade e tédio. A ansiedade era pela novidade; o tédio, pelos discursos.
De repente, meus olhos varreram o ambiente, buscando algo – ou alguém. Foi quando o vi. Tony estava sentado nas primeiras fileiras. Estava lindo, usando uma camiseta da faculdade e um colete azul claro com a inscrição “Comissão de Recepção dos Calouros 2004”. Sorri automaticamente ao vê-lo.
A poucas cadeiras de distância dele, na mesma fileira, estava Fernanda. Linda como sempre, vestindo a camiseta com o nome da turma dela, com as cores da faculdade. Fernanda era do terceiro ano, como Tony.
Assim que os discursos da direção terminaram, foi a vez dos representantes da atlética tomarem o palco.
A apresentação foi comandada por Artur, o diretor de esportes, um cara moreno, musculoso e incrivelmente bonito e “bombado”. Pra falar a verdade nunca vi tantos caras musculosos numa única sala. Confesso que “pensamentos” me fizeram umedecer minha calcinha neste momento.
Ele mostrou vídeos dos treinos esportivos, falou sobre os projetos sociais e fez questão de apresentar a bateria da faculdade – que, por sinal, dava para ouvir lá de fora. Confesso que, naquele momento, uma onda de pensamentos pecaminosos passou pela minha cabeça. Só Deus sabe como segurei as rédeas.
Artur finalizou o discurso com um aviso importante:
– Precisamos nos preparar para a Calomed! É uma competição entre calouros de faculdades de medicina. Algumas modalidades já têm voluntários suficientes, mas ainda temos lacunas em outras. Precisamos preencher essas vagas para que a recepção de vocês, que acontece nas ruas em frente à faculdade, possa começar.
Um silêncio constrangedor tomou conta da sala. Foi quando a porta se abriu. Três pessoas entraram. Dois eram veteranos, usando o mesmo colete azul claro da comissão. Mas o terceiro era um calouro. Coitado, pensei. Ele era de estatura mediana, usava óculos, com um rosto bonito, mas um estilo simples. Um "normalzinho", como diriam.
Imediatamente, atrás de mim, ouvi uma risada e um grito que veio lá do fundo:
– Olhem só! É o cara que o Thomas falou! Aquele que segurava a mão da amiguinha enquanto ele metia!
Virei para trás, tentando identificar de onde veio a frase, e percebi que alguns veteranos estavam de pé, do lado oposto à entrada. Meu coração disparou. Antes que pudesse processar, Tony levantou-se e, com a pose de líder que só ele tinha, soltou sua fala:
– Calouro burro! Você chegou atrasado. Vai perder essas sobrancelhas por causa disso.
A tensão tomou conta da sala. Tony era imponente, intimidava só com o olhar. Muitos calouros pareciam assustados. Eu acho, porém, que muitas meninas molharam a calcinha também, assim como eu fiz. Na verdade, minha umidade apenas aumentou.
O calouro atrasado, no entanto, surpreendeu a todos. Ele parecia calmo. Respondeu sem pestanejar:
– Estava ajudando o Vinícius e o Paraguai a descarregar algumas coisas na república.
Vinícius, que estava próximo ao palco, pegou o microfone das mãos de Artur, demonstrando autoridade. Ele se apresentou:
– Bom dia, pessoal. Sou Vinícius, presidente da atlética. E, de fato, o Duda estava nos ajudando. Ele ficará morando comigo, com o Paraguai e outro colega na república.
Os veteranos murmuravam entre si. Era óbvio que ninguém esperava que o calouro tivesse algum tipo de "apoio oficial". Vinícius, com um olhar tranquilo, completou:
– Pode se sentar, Duda.
Duda, sem opções, ocupou a cadeira vaga à minha frente, bem ao lado da minha prima.
Vinícius retomou a palavra:
– Vamos ao que interessa. – Ele apontou para o slide na tela. – Precisamos de voluntários para preencher as lacunas nos esportes da Calomed. Aqui nesta faculdade, é obrigatório participar de pelo menos uma modalidade ou integrar a bateria. Se não houver voluntários suficientes, vamos preencher as vagas com aqueles que não se inscreverem em nada.
A tensão na sala ficou ainda mais palpável. Calouros cochichavam entre si. Vinícius, percebendo o desconforto, acrescentou:
– A vida social da faculdade depende muito dessas participações. Não é obrigatório, claro. Mas a atlética sempre lembra dos alunos mais proativos quando surgem descontos em festas, eventos e produtos. Pensem nisso.
Dei uma risada discreta. Por dentro, pensava: “Agora tô ferrada. E não no bom sentido.”
….
(Duda)
Chegamos na casa onde iríamos ficar por volta das 7 horas. A aula inaugural estava marcada para as 8.
Tocamos a campainha, e um rapaz enorme, com certeza com mais de dois metros de altura, pele bem escura, cabelo raspado e levemente musculoso, nos atendeu. Apesar de seu físico, sua expressão era leve, tranquila. Ele parecia feliz em nos ver.
— Por favor, amigos, podem entrar.
Seu sotaque denunciava que provavelmente ele não nasceu em nosso país. Meu pai me entregou uma mala grande e algumas sacolas antes de voltar ao carro para pegar o restante das bagagens.
A casa ficava em uma rua relativamente tranquila, não tão perto da faculdade como eu esperava. Era enorme, mas térrea. Tinha uma área externa maravilhosa, com churrasqueira, uma piscina não muito grande e um jardim um pouco malcuidado.
Por dentro, a sala tinha poucos móveis: um sofá, um banco de madeira e uma TV enorme. Entre o sofá e a TV, havia dois videogames de marcas diferentes. A mesa de jantar era pequena, no máximo para quatro lugares, de madeira simples, assim como as cadeiras. Uma sala enorme, mas com tão pouca mobília. Foi aí que entendi o que significava morar numa república: teríamos apenas o suficiente para sobreviver e, em alguns momentos, nos divertir. Não era um lugar para se pensar como lar, mas algo temporário.
Estava com esses pensamentos na cabeça quando dois outros rapazes apareceram na sala com algumas caixas de cerveja nas mãos.
— Muito prazer, meu nome é Vinícius — disse o primeiro, surpreendendo-me com sua forma amistosa.
Eu o reconheci de algum lugar, mas não lembrava de onde. Ele era alto (pelo menos mais alto que eu), musculoso, sem exageros, pele clara, cabelo um pouco longo e bagunçado, parecendo aqueles jogadores argentinos dos anos 90.
Ao lado dele, o outro rapaz parecia ser estrangeiro. Pensei, de cara, que ele pudesse ser paraguaio, e não deu outra. Realmente era, tanto que seu apelido era Paraguai.
O rapaz que nos atendeu se chamava George, um angolano que veio fazer estágio no curso de Educação Física e, em troca da moradia, se propôs a treinar o time de basquete da faculdade.
— Isso me economiza um bom dinheiro — disse Vinícius, depois de me apresentar.
Pensei que meu pai iria entrar para se despedir, mas ele tinha compromissos e precisou correr de volta para São Paulo. Despediu-se apenas por mensagem, embora tivéssemos conversado bastante no caminho.
— Sei que você está nervoso, ansioso. Mas não se preocupe com a gente. Temos regras simples de convivência, e aqui não temos essa história de veterano e calouro. Muito pelo contrário, a nossa principal regra é: um por todos e todos por um. Meio brega e antiquado, mas funciona.
— Exatamente, cara. Aqui somos uma família — completou Paraguai, com quase nenhum sotaque.
Eu acabei me atrasando para a aula inaugural porque ajudei Vinícius a levar as caixas de cerveja para o local onde a atlética faz seus eventos.
— Esse negócio de pedágio é só para entrosar vocês mais rápido e, claro, levantar uma grana. As cervejas conseguimos de um fornecedor, com desconto — explicou ele, rindo.
Eu ri, nervoso. Não pela informação, que era óbvia, mas pela confirmação de que haveria trote e tudo que isso implica.
— Não fique preocupado, meu amigo — começou Paraguai. — O segredo é não demonstrar resistência no começo. Os veteranos também têm regras. A confusão geralmente acontece no fim, quando alguns idiotas já estão bêbados.
— Uma dica de ouro, mas de graça: seja proativo. Não fuja das brincadeiras. E, quando precisarem de voluntários para esportes, se ofereça. Eu te conheço porque meu time jogou contra o seu clube. Sei que você é do esporte.
Meu pai já tinha me dado essa dica, mas ouvir isso de Vinícius e Paraguai me trouxe uma enorme tranquilidade.
Quando chegamos à aula inaugural e um cara chamado Tony tentou me intimidar, eu nem me preocupei. Mesmo com algumas brincadeiras sobre o que aconteceu comigo naquela viagem (com o idiota do Thomas e a outra que nem gosto de falar o nome) não me abalou. Respondi com segurança e logo me sentei.
Antes de sentar, notei que atrás de mim estava uma garota linda. Na verdade, a energia que ela transmitia já fazia qualquer um se “animar”. Ao meu lado, outra menina, igualmente bonita, me deu um sorriso diferente, que me fez sentir seguro.
A lista das modalidades para que nos voluntariássemos estava passando de mão em mão, até que Vinícius voltou a falar:
— Pessoal, vocês estão de parabéns. Temos só um “buraco”, na equipe de xadrez. Como nos jogos principais, a Intermed, precisamos completar a equipe. Precisamos de dois voluntários, que jogarão o individual da Calomed e completarão o time para a Intermed. Alguém se voluntaria?
Eu fiz aulas de xadrez desde os cinco anos. Joguei no clube até os 16, quando parei por falta de tempo na agenda. Outras atividades pareciam mais interessantes.
Levantei a mão e expliquei minha situação.
— Muito bom! Estão vendo? O Duda já está em pelo menos cinco esportes e, mesmo assim, se voluntaria para o que menos temos adeptos.
Um silêncio se instaurou, até que duas outras voluntárias se manifestaram, para surpresa de todos: a garota que estava atrás de mim, Dani, e a que estava ao meu lado, Tati.
Os diretores se reuniram, porque, para a Calomed, eram apenas duas vagas (a disputa era em equipe, mas um dos jogadores jogaria duas vezes), e éramos três.
— Vocês duas sabem jogar ou só estão se voluntariando por pressão? — perguntou Tony, mal-humorado.
Um rapaz gordinho e simpático (cujo apelido era gordito) e que estava com uma camiseta
do quinto ano, pegou o microfone.
— Duda joga comigo agora, cinco minutos corridos, só para avaliarmos o seu nível. Se tivermos um jogador bom para a Intermed, além de mim, ele fica no xadrez. É um esporte que todo mundo deixa de lado, mas valem os mesmos pontos dos outros.
Ele puxou uma mesa da primeira fileira e me chamou. Trouxeram as peças e começamos. Confesso que esse não era o trote que eu esperava, mas o desafio me fez jogar sério.
Gordito jogou de brancas e fez o lance inicial e4. Usei a defesa francesa e, no meio do jogo, consegui vantagem ao abrir um buraco no centro para um ataque duplo de torres. No final, sacrifiquei minha dama para conseguir um xeque-mate em três lances. Gordito desistiu antes.
Foi estranho jogar xadrez na frente de tantos alunos. Sabia que a maioria não estava nem aí, mas, ao mesmo tempo, foi prazeroso e me senti bem.
No final, ficou decidido que Tati jogaria xadrez, enquanto Dani pegaria provas de atletismo.
Depois, fomos para a “recepção” oficial. Nos dividiram em grupos de 10, intercalando meninos e meninas, e seguimos na tradicional posição de “elefantinho”, o que gerou muitas risadas.
A recepção foi animada e, sinceramente, muitas coisas maravilhosas e inesquecíveis aconteceram…
Contínua…