A Inglesa
Parecia um dia qualquer. Uma tarde morna, meio abafada, prenúncio de uma noite chuvosa. Um início medíocre para uma história que iria ficar arraigada em minha memória pelos anos que se seguiram.
Eu havia conseguido um emprego em uma cidade do interior, não deveria ter mais do que vinte mil habitantes. Muitos fazendeiros, pecuaristas, o que indicava que eu poderia ganhar bem. Um amigo de um amigo havia me convidado , inicialmente com uma conversa de que eu ganharia bem sendo autônomo, mas eu fui categórico. Ou eu teria uma a remuneração garantida ( na época equivalente a cinco mil dólares), ou não me daria ao trabalho de sair da capital.
O cargo era para administrar um hospital de médio porte, e eu tinha uma boa experiência na área. Não vou entrar em detalhes das atividades, visto que não é o assunto em questão. Mas posso dizer que fiz um bom “pé-de-meia” no tempo que trabalhei lá.
Um dos diretores costumava viajar ao exterior algumas vezes ao ano, não apenas para assuntos médicos, mas também relacionados a um desses clubes de serviço internacionais, e na ocasião havia passado uns dois meses na Inglaterra. Até aí tudo bem. A esposa e filhas dele estavam acostumadas com essas viagens dele, desta vez elas haviam ficado em casa.
Pois bem... justamente nessa tarde morna e abafada, o Ênio ( esse era o nome dele) chegou na minha sala, fechou a porta e falou em voz baixa, com uma cara de quem havia aprontado alguma.
- Meu amigo, preciso de um enorme favor.
- Depende. Tenho que saber o que é para depois responder.
- É uma questão importantíssima.
- Deixe de suspense, diga logo qual o problema.
- Eu preciso que você vá até o aeroporto receber uma pessoa.
- O aeroporto?? Mas fica a duas horas e meia daqui! E eu estou cheio de trabalho!
- Olha, eu não posso ir pessoalmente, a Eliane vai me matar!
- Ênio, explique logo o que houve!
- Eu nunca iria imaginar que ELA viria até aqui, nesta cidadezinha!
- Ela quem?
- A Liz...é uma inglesa que eu conheci na viagem. Começamos a conversar em uma reunião, e...
- Já sei. Conversa vai, conversa vem, acabou na cama.
- Foi. E depois ficamos juntos alguns dias.
- Mas você não falou que era casado? Que deveria ser somente sexo?
- Ah, você sabe como é... eu disse que meu casamento andava meio abalado, coisas assim.
- E anda abalado?
- Claro que não! Eu nunca pensaria que ela viria aqui! Mas se a Eliane descobrir, aí a coisa vai ficar preta!
- E como é que você foi dar seu endereço para ela?
- Eu não dei, mas ela deve ter descoberto , afinal passamos muito tempo juntos. Ela pode ter olhado na minha mala quando eu estava tomando banho, tinha nome e endereço na tarja.
- E por que cargas d´água ela iria vir aqui, atrás de você?
- Bom... meu inglês não é lá grande coisa, ela pode ter entendido alguma coisa da maneira errada.
- Tá, mas e o que é que eu tenho a ver com essa história?
- Você está solteiro. E pode ir receber a moça no aeroporto no meu lugar.
- E como vou saber quem é ela?
- Vai saber. Ela é muito linda, parece uma atriz de cinema.
- Tudo isso?
- Pois é.
- E o que eu faço com ela?
- Tente explicar a ela que eu vou dar um jeito de encontrá-la depois, afinal eu disse a ela que era casado.
- Tá, mas onde eu levo essa moça?
- Na sua casa, ué.
- Mas não pode ser em um hotel?
- Não, nesta cidadezinha todo mundo fica sabendo de tudo. Se for na sua casa, pode passar por sua nova namorada.
- Epa. E o que ela vai pensar a respeito?
- Não sei, sinceramente não sei. Só sei que estou em apuros e só você pode me ajudar. Por favor!
A expressão dele me causou pena. Mas admito que também estava quase gargalhando por dentro.
- Está bem, Ênio. A que horas chega o vôo?
No horário combinado, fui dirigindo até o aeroporto. Quando o vôo chegou, fiquei esperando no hall de desembarque. Fiquei observando as pessoas. A maioria, típicos brasileiros, alguns com cara de alemão, outros de polonês.
De repente, vi aquela figura esbelta, caminhando elegantemente , carregando uma mala e uma valise. Só podia ser ela! Parecia aquela atriz, a Elizabeth Hurley. Muito linda mesmo, fiquei impressionado.
Eu me apresentei a ela, dizendo em inglês que a estava recepcionando no lugar do diretor.
- Oh, what a pity ! Why didn´t he come?
Tentei explicar, durante o caminho eu imaginei várias maneiras de fazê-la entender a situação, mas era complicado. Como é que eu iria convencê-la a ir até a minha casa, sem que ela pensasse que era algum tipo de assédio?
Quando chegamos à cidade, parei bem em frente ao hospital, e fui até a entrada, falei um pouco em português com a recepcionista, e voltei ao meu carro, dizendo que o Ênio não estava, havia ido a uma cidade vizinha para uma reunião. Então, fomos até a minha casa, que ficava a duas quadras dali. Eu a ajudei a carregar a mala até a porta , e pedi que se sentasse no sofá da sala.
- Please, can you explain what is happening?
-( Por favor, pode me explicar o que está acontecendo?)
Tentei tranquilizá-la, ofereci a ela água ou um suco, mas ela falou:
- I´d rather have a pint of beer, if you don´t mind.
- No problem at all, madam.
Peguei uma cerveja na geladeira.
Devagar, fui explicando que o Ênio estava muito atarefado e só poderia vir mais tarde, que ele havia me pedido para ir buscá-la no aeroporto, e tentei entabular uma conversa para saber mais a respeito dela, e também em que ponto houve a confusão que a levou a fazer uma viagem tão longa para encontrar esse homem.
Liz era uma mulher muito inteligente, e logo entendeu o que estava acontecendo.
- He does not have any problem with his marriage, isn´t it?
- It´s complicated.
- ( a partir de agora, vou traduzir para facilitar o entendimento do conto).
- Você não precisa ficar defendendo seu amigo.
- Mas ele não disse a você que era casado?
- Ele disse que tinha um casamento problemático. E ele deu a entender que estava separado, em uma fase liberal.
- Liberal, no sentido de que ele estava saindo com outras pessoas?
- Isso. Pensei que ele estaria morando sozinho, aí eu viria visitá-lo e passar um tempo com ele, viajar e conhecer o país. Mas sem nada mais sério.
- Então você não veio para ter um relacionamento mais prolongado com ele?
- Não, mas na verdade ele me convidou para vir.
- Ele não me falou isso.
- Ele disse que “qualquer dia ( Anytime) eu poderia vir conhecer o país e nos encontrarmos de novo”.
- Ah. Brasileiro tem isso, fala “qualquer dia”, mas não é qualquer dia. É meio como “Sometime”.
- Então ele não me convidou de verdade.
- Convidou, eu acho, mas não esperava que viesse tão cedo.
- Temos um problema.
- E qual é?
- Minha passagem de volta é só daqui a um mês. Então, é melhor eu ir para um hotel, depois passear pelo seu país, embora eu achasse que teria companhia para me mostrar os lugares .
Ela estava visivelmente decepcionada.
- Calma! Ênio disse que era para eu dizer... que você era minha namorada.
- Namorada?
- Desculpe, é que eu sou solteiro, e aí a esposa dele não iria matá-lo.
- E ela faria isso? Matá-lo?
- Não, é força de expressão.
- E o que você sugere?
- Não sei, vou tentar falar com ele. Ele me colocou nessa enrascada, agora precisa resolver isso.
- Desculpe. Eu não queria ser um incômodo para ninguém.
- De jeito nenhum, na verdade foi um enorme prazer conhecer você. É muito inteligente, e , se me permite dizer, muito linda.
- Obrigada. Você é um homem educado.
Liguei para o telefone de Ênio, mas ele não atendeu da primeira vez. Fiquei conversando com Liz, e admirando aquela bela mulher, tentando imaginar o motivo dela ter se aventurado a vir a um país desconhecido, em uma cidade do interior, para encontrar um homem casado, em quem eu não via nada de mais.
Ela me falou a seu respeito. Estava estudando no Royal College ( não vou dizer o curso para não entregar a moça), tinha 28 anos, e havia saído de um relacionamento ruim há cerca de um ano. Havia resolvido não ter mais um amante fixo, porém tomava muito cuidado com quem ficava. Ênio tinha uma boa conversa, e – ela confidenciou – era agradável na cama, porém deixava a desejar em alguns pontos, por algum preconceito de origem religiosa. Deduzi que talvez fosse sexo oral ou anal.
Liguei de novo, e Ênio me perguntou como eu havia me saído com a moça. Falei que ela havia interpretado o “qualquer dia” como se ela pudesse vir quando quisesse, e ela veio. E que ela achou que ele tinha um relacionamento liberal.
- Ih, nem de longe, minha mulher ficaria furiosa se descobrisse. Você não consegue convencê-la a dizer que é sua namorada?
- E por que não vem aqui falar com ela?
- Não dá. A Eliane me conhece muito bem, só pela minha expressão hoje ela disse “Aí tem!” Inclusive ela me pediu para convidar você para jantar , naquele restaurante. E eu já falei que você foi buscar a namorada.
- Sacanagem! Mas tudo bem, vou ver o que posso fazer.
Pensei um pouco, e resolvi fazer uma proposta para a Liz. Eu ainda não tinha tirado minhas férias, e tinha dinheiro suficiente para viajar pelo Brasil.
- Liz, se você quiser, eu posso acompanhá-la nesta sua estada no Brasil, as viagens por minha conta. Mas eu gostaria que você ficasse comigo aqui por uns dias, eu direi que você é minha convidada, não namorada.
- Você quer livrar a cara do seu amigo. Ele não merece.
- Não é bem isso. Eu estou pensando em você, e não nele. Aliás, Ênio e Eliane nos convidaram para jantar em um restaurante, hoje à noite.
- Ah. Preciso tomar um banho e me arrumar, então. Mas acho melhor eu ir para um hotel.
- Não precisa, Liz. A casa tem três quartos, e tem uma suíte separada, onde você pode ficar. Juro que não vou nem chegar perto.
- Não precisa ser tão medroso, eu sei me cuidar. Onde é o quarto?
Eu a acompanhei até a outra suíte, que ficava mais aos fundos da casa. Felizmente, havia uma diarista que havia limpado tudo uns dias antes. Mostrei tudo a ela. Liz havia trazido seus shampoos, creme dental, cosméticos. Depois, saí e ela foi se arrumar.
Quando chegou a hora de ir ao jantar, fiquei de boca aberta. Ela estava estonteante! Um belo vestido, e com um perfume delicioso.
- Você está ainda mais linda, Liz!
- Obrigada.
Notei um sorriso malicioso em seus lábios. Desconfiei o que ela queria fazer.
- Ah. Mais uma coisa: não sou sua convidada, sou sua namorada. Tudo bem ?
- Quem dera! Você é muita areia pro meu caminhão.
Ela sorriu , desta vez de maneira espontânea. Será que eu tinha alguma chance?
Chegamos ao restaurante. Embora fosse uma cidade do interior, tinha um bom padrão, para servir bem à classe abastada. Liz fez questão que entrássemos de braços dados.
Eliane e Ênio já estavam lá, e a expressão deles beirou ao espanto.
- Nossa! Que mulher linda!
- O nome dela é Liz, Eliane. Ela veio da Inglaterra.
Ênio me olhou com um ar meio zangado, mas logo se controlou, para que sua esposa não percebesse.
- Pleased to meet you.
- Ela disse “prazer em conhecê-los”.
Liz soube disfarçar muito bem, olhava mais para mim do que para eles. Não era o caso do meu amigo.
- Ênio, cumprimente a moça. Afinal ela veio de longe, e você fala inglês.
- Ah...nice...nice to meet you too.
Ela estendeu a mão, e ele a apertou discretamente. Eliane se aproximou dela, e fez menção de dar os tradicionais três beijinhos no rosto, mas se atrapalhou, não era o costume inglês. Em seguida, puxei uma cadeira e Liz se sentou.
O jantar estava bom, um filet mignon com batatas duchesse , e um vinho francês, Pinot Noir, que nossa convidada adorou. Ela se portou bem como uma namorada, segurava minha mão, tocava no meu rosto, até mesmo limpou uma gota de vinho no canto da minha boca com a ponta do lenço.
Ênio olhava se entender. Eliane estava curiosa.
- Como se conheceram?
- Internet – disse ela. Ela falou que ambos pertencíamos a um grupo que discutia cinema, éramos fãs do David Lynch e Stanley Kubrik, começamos um namoro virtual e depois nos conhecemos pessoalmente há algum tempo.
- Foi antes de eu vir trabalhar aqui – acrescentei. E tentei desviar o assunto, para não haver nenhuma contradição. No geral, correu tudo bem, apesar do mau humor do Ênio, que transpareceu em vários momentos.
Terminado o jantar, nos despedimos. Eliane parecia meio desconfiada, olhou de um jeito diferente para o marido. E ele tentava disfarçar seu ciúme.
Chegamos à minha casa, e assim que entramos ela começou a rir.
- It was so funny!
- Você é uma grande atriz, representou muito bem o papel de namorada.
- Não foi difícil. Você é bem apessoado, e é muito agradável estar com você.
- You too.
- U2?
- Não, a banda não, você também ( mantive a piada em inglês, se não, não faria sentido)
Rimos juntos.
- Bem, é hora de dormir. Amanhã cedo eu faço o café da manhã.
- Então, boa noite. Durma bem.
Fui ao meu quarto, e adormeci. Acordei algum tempo depois, com a campainha. Levantei , já desconfiando de quem poderia ser.
- Ênio?? A esta hora?
- O que foi que aconteceu naquele jantar? Estava gozando da minha cara?
- Claro que não! Você disse para fingir que ela era minha namorada! E, afinal, por que está aqui? E a Eliane?
- Eu disse a ela que precisava ver um paciente no hospital. Cadê a Liz?
Ele foi entrando, e olhou no meu quarto.
- Ela não está aqui, meu caro. Não houve nada de mais. Ela está na outra suíte, ali atrás.
Ele foi até lá e bateu na porta.
- Liz!
- GO AWAY!
- Liz, please!
- Go away! Let me sleep!
Ele estava nervoso, olhou para mim com raiva.
- Você falou alguma coisa!
- Não falei nada. Ela é que não deve ter gostado de suas mentiras. Você realmente achou que ela aceitaria ser uma “amante secreta”?
- Não tente nada com ela. Vou resolver isso amanhã.
- Tudo bem, se ela aceitar...
- Você nem a conhece, só falou com ela hoje.
- Mas já vi que ela é uma mulher inteligente e decidida.
Ênio saiu , contrariado. Voltei ao meu quarto, para tentar dormir de novo.
Dali a pouco, ouvi batidas na minha porta. Era ela.
- Liz? Você precisa de alguma coisa?
- Não. Mas eu quero sua ajuda para me livrar dele.
Ela se sentou na cama.
- Como assim?
- Eu me enganei ao vir para cá, e não quero mais saber dele. Vou aceitar sua oferta e viajar com você.
- Mesmo? Mesmo sem me conhecer direito?
- Eu não falei sobre os filmes do Kubrik e do Lynch por acaso, lá no jantar . Eu vi os DVDs na sua prateleira. E eu também gostei de você.
- Eu também gostei de você.
Ela se deitou ao meu lado, conversamos mais um pouco, e ela dormiu. Nem pensei em ousar nada, apesar do baby-doll curto que ela vestia, expondo suas pernas e boa parte do peito. Decidi dormir.
De manhã cedo, ela ainda estava dormindo . Levantei e fui fazer o café. Eu sabia que o “British Breakfast” ( café da manhã britânico) era bem farto, com fatias de bacon, salsichas, ovos, morcela, feijão cozido, tomates e cogumelos, torradas e uma bebida quente, como café ou chá. Eu não tinha cogumelos, nem feijão enlatado ou morcela , então fiz o que tinha.
- How cute ! Senti o cheiro de longe! Obrigada!
Ela me deu um beijo no rosto, quase nos lábios.
- Você costuma fazer uma caminhada de manhã?
Confessei que não , mas disse que a acompanharia . Sugeri uma estrada quase sem movimento, que passava perto de um morro , perto de casa.
Caminhamos por cerca de meia hora. Ela estava bem em forma, eu já estava cansado quando voltamos.
- Você precisa caminhar mais, faz bem para a saúde.
Depois , tomei um banho e fui para o hospital. Ela ficou em casa. Quando cheguei à minha sala, Ênio já estava lá. Não deixei que ele começasse a falar.
- Escute aqui. Eu estava tranquilo no meu canto, e você veio com essa história de ir buscar a Liz no aeroporto.
- Mas...
- Nem comece. Você também disse que ela não poderia ir para um hotel, e também que era para ela se passar por minha namorada. Ela entendeu a situação e interpretou muito bem o papel. Não venha dar uma de amante ciumento, pode ficar bem calmo.
- Espere aí. Eu...
- Espero nada. Você aprontou com a moça, agora ela disse que não quer mais saber de você. E eu vou tentar compensar isso , levando-a para conhecer algumas partes do Brasil até chegar a hora dela ir embora.
- Como é?
-O vôo de volta dela é para daqui a um mês. Não faço ideia do que você falou a ela, mas agora decidi tirar minhas férias e acompanhá-la, mostrando alguns pontos turísticos.
- Mas assim, de repente? E o hospital?
- Eu sempre tenho tudo organizado. Posso resolver praticamente tudo online, embora eu tenha direito às minhas férias.
- E como eu fico nessa?
- Fica com a Eliane. A menos que queira uma confusão no seu casamento. Imagine se a Liz fosse uma “barraqueira” e contasse tudo no jantar de ontem.
- Não quero nem pensar.
- Então diga à sua esposa que eu e Liz vamos viajar juntos.
- E você vai trepar com ela. Se é que já não trepou.
- Não fizemos nada. E nem sei se vamos fazer. Ela é uma boa moça, e até agora demonstrou ser bem equilibrada, exceto pelo impulso de vir até aqui.
- Sacanagem.
- Sacanagem, nada! Se você souber de outro jeito de resolver o problema, diga logo!
Ele ficou pensando. Foi até a janela lateral, e passou um tempo olhando a paisagem.
- Não consigo pensar em nada. Não posso mesmo comprometer meu casamento.
- Então está decidido. Vou falar com a Liz, e vamos viajar.
- Onde vocês vão?
- Isso eu ainda vou ver.
Voltei para casa. Liz estava em frente ao meu computador, acessando um programa de tradução inglês-português.
- Olá.
- Está tentando aprender português?
- Estou. Se vou viajar com você, tenho que saber alguma coisa.
- Tudo bem. O que acha de começarmos por São Paulo? É uma cidade grande, com muitos pontos turísticos.
- Too big, muito grande. Ouvi muito falar na Bahia.
- Uma boa ideia. Vou ver se consigo passagem para amanhã.
Na manhã seguinte, fizemos as malas e fomos até o aeroporto. Fomos até Salvador, ficamos em um hotel na praia de Itapuã, construído atrás de uma casa que foi de Vinícius de Moraes. Eu sugeri que pegássemos quartos separados, mas ela disse que não era preciso, que sabia que eu iria me comportar.
Almoçamos moqueca de camarão, acarajé, vatapá, entre outras coisas.
- Desse jeito, vou engordar.
- Que nada, do jeito que você caminha e faz exercícios, vai estar sempre em forma.
Passeamos bastante. Fomos até a praia do Forte, e comentei que ali perto havia uma praia de nudismo, Massarandupió. Ela ficou animada.
- Quero ir até lá e ficar pelada.
- Vamos primeiro comprar um bom protetor solar, se não você vai ficar vermelha como um pimentão.
Chegamos lá, era uma praia com pouca estrutura, apenas um bar com guarda-sóis , ficava após um riacho, subindo uma duna alta, que dava uma certa privacidade ao lugar.
Nua, Liz era ainda mais linda. Fiquei admirando aquele corpo perfeito, ela sorria , alegre por estar bem à vontade.
Voltamos a Salvador no final da tarde, e aproveitamos o pôr do sol em Itapuã.
- Como deve ser “Fazer amor numa rede”?
- Como na música?
- É , “Tarde em Itapuã”.
- Não sei , nunca tentei. Deve ser desconfortável.
- Hum.
- Hum, o que?
- Aposto que você já fez.
- Não provoque, Liz. Você sabe que é linda, e eu estou fazendo de tudo para me controlar.
- Você é um cavalheiro. Se fosse outro, já vinha para cima.
- Procuro ser.
- E se eu disser que não precisa?
Ela me deu um beijo na boca. Nos abraçamos, e entrelaçamos nossos corpos.
- Eu estou me apaixonando, minha linda. E se não durar?
- Que seja infinito enquanto dure...
- Andou lendo coisas do Vinícius.
- Andei. O hotel está cheio de referências.
- Então, que seja infinito enquanto dure. Falei isso com uma pontinha de dor no coração.
Voltamos ao hotel, jantamos, depois fomos para o quarto. Tomamos banho juntos, nus, nos beijando e abraçando longamente.
Eu a ajudei a se enxugar. Depois, levei-a à beira da cama, e fiz com que se deitasse, com as pernas abertas para fora da cama. Comecei a beijar seu corpo lentamente. Os lábios, o rosto, o pescoço, os ombros, os seios, os mamilos tesos, seu ventre, o umbigo, passando a língua pela face interior de suas coxas até chegar ao seu monte de Vênus e à sua bocetinha, que beijei, lambi e chupei, depois lambendo ritmadamente seu clitóris, segurando suas nádegas com força . Ela estremecia, suspirava, sussurrava palavras em inglês.
Subitamente, ela arqueou o corpo, endurecendo e apertando minha cabeça entre suas coxas, depois tremendo espasmodicamente. O fôlego a abandonou. A este orgasmo, seguiu-se outro, e mais outro. Então, ela pediu:
- Quero sentir você dentro de mim.
Penetrei lentamente seu túnel sedoso e cálido, depois fui estocando com movimentos suaves. Ela suspirava lindamente.
Eu não estava com pressa. Enquanto a penetrava, minhas mãos deslizavam por seu corpo, acariciando e apertando sua pele. Ela estava alucinada de excitação. Fui acelerando os movimentos, até que ela atingiu um devastador orgasmo. Ela gozava com suspiros e soluços intensos, estremecendo inteira. Foram orgasmos sucessivos, enquanto eu me controlava para prolongar aquele êxtase.
Enfim, ela desfaleceu, prostrada, ofegante, completamente suada.
- Ah amor, eu nunca gozei tanto na minha vida!
- Não acredito, mas fico agradecido pelo elogio.
- Juro, é verdade! Os homens que conheci só pensavam neles.
- Até o Ênio?
- Não me fale esse nome, nunca mais.
Ela ficou meio emburrada.
- Esqueça o que eu falei.
- Ele é um jerk. Mas foi graças a ele que encontrei você.
Liz me abraçou bem forte. Dormimos daquele jeito. Depois, ela se virou com
a bundinha encostada no meu membro. Não demorou para que meu membro enrijecesse novamente. Ela percebeu, e ficou roçando suas nádegas nele. Peguei um lubrificante, que já havia deixado na mesinha de cabeceira, e passei em seu anelzinho e na cabeça do cacete.
- Devagar, por favor. Seu membro é grande, vai doer.
- Se for com jeitinho, não dói.
- Mentiroso.
- Não estou mentindo, você vai ver.
Fui introduzindo a glande bem devagar, parando por alguns segundos , depois continuando. Ela gemeu.
- Estã doendo?
- Não, continue. Está gostoso.
Continuei dessa maneira até entrar tudo, encostando as bolas . Ela manipulava seu clitóris, e eu passei a me movimentar dentro dela, devagar. Não precisei acelerar, ela gozou bem forte, com um gemido alto, endurecendo o corpo. Continuei , agora estocando mais rapidamente, e ela atingiu o clímax novamente.
Desta vez, ela apagou mesmo, com meu membro ainda dentro dela. Mas eu fiquei acordado mais um tempo. Havia me apaixonado pela inglesa, e seria difícil aceitar apenas “infinito enquanto dure”. Eu já pensava em pedir para que ela ficasse aqui no Brasil.
De Salvador, fomos para João Pessoa, na Paraíba. Ela queria ficar nua em Tambaba. Como tinha a pele bem clara, nesses dias pegou apenas um bronzeado leve, sem marcas.
A seguir, fomos para o Rio de Janeiro, imperdível para qualquer turista de fora. Corcovado, Cristo Redentor, Búzios, Copacabana.
- Sinceramente, gostei mais da Bahia. Foi onde me apaixonei por você.
- Sério, Liz?
- Sério. Pena que temos pouco tempo sobrando.
- Você vai ter mesmo que ir embora?
- Claro que vou. Royal College, lembra? Minhas férias estão terminando.
- Infinito enquanto dure.
- É.
Ela disse isso com lágrimas nos olhos. Mas ela tinha razão. Precisava retornar ao seu país, e eu para a minha vidinha monótona, que eu mesmo havia escolhido por causa de dinheiro. Mas de que valia estar ganhando tão bem, e não estar feliz?
- Liz... e se eu fosse com você?
- Acho que não daria certo. Você vive em um país lindo, com praias lindas, muito sol. Londres está sempre nublada, e as praias não têm areia , só pebbles ( pedregulhos).
- Mas a Inglaterra está perto de outros países que têm praias. Tenho um dinheiro aplicado, o rendimento poderia me sustentar por lá.
- Amor... não sei...
- Entendi. Você não quer se apegar a ninguém depois daquele mau relacionamento. E, realmente, pode ser que depois você deixe de gostar de mim, ao me conhecer melhor. Vamos aproveitar o tempo que temos, então.
Resolvemos esquecer o futuro. Fomos a Minas Gerais, conhecemos o famoso Clube da Esquina, que tornou famosos Milton Nascimento, Beto Guedes,Lô Borges, entre outros . Ela passou a gostar da boa música brasileira. E ela sabia que eu também apreciava os grupos britânicos, como Pink Floyd, Genesis, Yes, Beatles.
Aproveitamos para fazer muito sexo, de todas as maneiras, por horas e horas. Depois de descansar um pouco, passear novamente. Liz conheceu também Curitiba, Balneário Camboriú e a Praia do Pinho, que ficava perto. Mais um bom período de nudez total, ela gostou tanto que ficamos três dias lá.
Enfim, chegou a hora de retornar a Londres. Levei Liz até o aeroporto, ela me abraçou e me beijou apaixonadamente, ficando grudada em mim o tempo todo, até a hora do embarque. Cheguei a pensar em comprar uma passagem, mas desisti, melhor ficar no “Infinito enquanto dure” mesmo.
Depois que o avião decolou, senti um vazio imenso. Eu esperava que ela sentisse o mesmo.
Retornei à cidadezinha e ao hospital. Quando cheguei, Ênio veio me procurar.
- Nossa, que cara é essa? Ela deixou tanta saudade assim?
- Não.
- Vocês terminaram? A viagem não foi bem?
- Foi como eu disse. Acompanhei a moça na viagem, e foi só.
- Vocês não treparam? Duvido!
- Ficamos em quartos separados.
- Ela deixou um contato? Será que eu posso...
- Ela não deixou nada. E disse que não quer saber de você.
- Eu sei que fui sacana, eu mereço essa.
- Merece mesmo.
Nos dias seguintes, pensei muito. E decidi que já era hora de sair daquela cidade. Voltei para a capital.
Contrariamente ao que havia dito ao Ênio, eu tinha o telefone e endereço de Liz, além dos perfis em duas redes sociais. Notei que ela postava imagens dos locais que havíamos visitado, e em outras fotos ela sempre estava sozinha.
Resolvi arriscar, comprei passagem para Londres, e cheguei de surpresa lá. Fiquei hospedado em um hotel perto da Euston Station, eu sabia que ela morava lá perto. Ao final da tarde seguinte, passei perto do endereço onde ela morava.
( neste ponto, um escritor sacana deixaria um “final aberto”, mas não vou fazer isso)
Foi então que eu a vi. Estava vindo em minha direção, no final da quadra, mas estava distraída, poderia passar por mim sem me perceber. Quando eu estava bem perto dela, esbarrei propositadamente. Ela se virou bruscamente, me encarou, e começou a chorar, ela se agarrou em mim, me abraçou, beijou meu rosto, meus olhos, minha boca. E disse, quase sussurrando:
“Infinito enquanto infinito”.
FIM