Obsessão. Parte 5.

Um conto erótico de Lukinha
Categoria: Heterossexual
Contém 3923 palavras
Data: 25/01/2025 15:18:53

Preparei e tomei um café forte, para me acordar de vez, encarar o dia que tinha pela frente. Cada movimento precisava ser calculado, cada palavra dita com cautela. Mas uma coisa eu tinha certeza: não seria mais o Miguel passivo, que aceitava ser esmagado. Eu precisava estar no controle.

A primeira ligação que fiz foi para o advogado:

— Eu tenho algo, mas preciso saber se vale a pena usar. Vamos nos encontrar hoje. Quero resolver isso.

Depois, respirei fundo e decidi que, enquanto aguardava a "amiga" cumprir sua promessa, eu mesmo começaria a investigar. A verdade total sobre Leandro, Mina e Viviane não viria até mim tão facilmente, mas eu estava disposto a cavar fundo até encontrar tudo o que precisava.

Eu sabia muito bem a quem recorrer. Ele já tinha me ajudado antes. Tomei um banho para despertar de vez, me arrumei e fui ao encontro de Rodrigo, o investigador particular que me ajudou a revelar a traição de Mina e Leandro.

Entrei no seu escritório e ele atendia um cliente. A secretária me pediu para aguardar. O lugar era discreto, com móveis antigos e cheiro de café forte. Não demorou muito para que eu fosse atendido.

Rodrigo, um homem de meia-idade com barba grisalha, estava sentado atrás de sua mesa bagunçada. Ele ergueu os olhos ao me ver entrar.

— Miguel. Não esperava vê-lo tão cedo. O que aconteceu agora? — Ele perguntou, já acenando para que eu me sentasse.

Me sentei, cruzando os braços, minha expressão sombria.

— Quero que você faça uma devassa completa. Quero saber de tudo sobre Mina, Leandro e Viviane. Quem são de verdade, o que estão escondendo, qualquer coisa que me possa ser útil.

Rodrigo arqueou as sobrancelhas.

— Isso é um pedido sério. Nós já revelamos a traição, você acha que tem mais? Está disposto a lidar com o que quer que eu encontre?

— Não tenho escolha, Rodrigo. Eles destruíram minha vida. É a minha vez de colocar as coisas no lugar.

O investigador assentiu, puxando um bloco de notas.

— Certo. Preciso de todos os detalhes que já têm, qualquer pista ou comportamento suspeito. Quanto mais informação, melhor.

Contei sobre o vídeo misterioso e a mulher anônima que havia enviado as provas. Ele ouviu atentamente, anotando tudo.

— Essa mulher … ela pode ser uma peça importante. Pode ser alguém que conhece muito bem o Leandro ou a Mina. Se conseguir mais informações sobre ela, me avise imediatamente.

— Vou tentar. Mas, por enquanto, concentre-se nos três. Quero saber de tudo: contas bancárias, negócios, traições, dívidas … não poupe esforços. — Pedi

Rodrigo deu um sorriso discreto.

— Vai ser caro.

— Dinheiro não é problema. Quero resultados. Vou te dar acesso ao meu histórico financeiro da época de casado também. Seu olhar é mais aguçado do que o meu para procurar inconsistências.

Me despedi do Investigador e voltei para a distribuidora. Era meu primeiro dia como responsável geral da empresa e tinha que manter a postura.

Eu ainda aguardava a ligação da mulher misteriosa com as provas que ela havia prometido.

Dias depois, meu advogado ligou com boas notícias.

— Miguel, conseguimos reverter parcialmente a liminar. Você terá direito a visitas supervisionadas com sua filha dois finais de semana por mês.

Eu suspirei aliviado. Não era perfeito, mas era um começo.

— Isso é melhor do que nada. Obrigado. E sobre a venda da minha parte na farmácia?

— Já estou cuidando disso. Tenho um comprador interessado e vou enviar os documentos para avaliação.

— Perfeito. Quero isso resolvido o mais rápido possível.

— Só um aviso, Miguel: Mina vai reagir. E não vai ser bonito.

Meu advogado estava certo. Dias depois, assim que fora notificada das minhas intenções, Mina apareceu de surpresa no meu apartamento. Autorizei sua entrada e ela bateu à porta com força, os olhos brilhando de raiva. Abri a porta, sem surpresa ao vê-la naquele estado.

— Que diabos você pensa que está fazendo, Miguel? — Ela gritou, entrando na sala sem ser convidada.

— Boa noite pra você também, Mina — Respondi com sarcasmo, me divertindo.

— Não me venha com ironia! Você está vendendo sua parte da farmácia? Como se atreve? Essa empresa era para ser minha no acordo do divórcio! Você me prometeu.

— Primeiro: você está contestando o acordo. Segundo: você tentou usar a nossa filha para me manipular. E, por fim, terceiro: você tentou manchar o meu nome, mesmo que eu tenha cometido erros para te proteger … você acha mesmo que merece algum tipo de tratamento especial, diferenciado …

— Você é um egoísta! Está fazendo isso só para me atingir! — Mina aproximou-se, me interrompendo, os olhos cheios de fúria.

— Egoísta? — Eu dei uma risada amarga. — Quem foi egoísta, Mina? Quem destruiu nossa família, nossa vida? Se você está tão preocupada com a farmácia, compre minha parte. Tenho certeza de que seus lucros com Leandro podem cobrir isso.

Mina ficou sem palavras por um momento, mas logo recuperou a compostura.

— Você vai se arrepender disso, Miguel. Eu vou garantir que você não tenha paz. Leandro não significou nada, eu já disse. Eu o demiti.

Eu a encarei friamente.

— Já passei do ponto de temer você, Mina. Faça o que quiser. Não tenho mais nada a perder.

Ela respirou fundo, tentando controlar a raiva, mas saiu batendo a porta com força.

Sentei-me no sofá, a cabeça latejando. Mesmo com tudo o que acontecia, senti um leve alívio ao saber que poderia ver minha filha, mesmo que sob condições. Porém, algo me dizia que aquela batalha estava longe de terminar.

No dia seguinte, eu estava totalmente acomodado em minha nova sala, que antes era a sala do meu pai, já lidando com todas as obrigações como novo chefe da distribuidora, revisando documentos do processo de venda da farmácia, quando o telefone tocou. Era Ana, minha secretária.

Hesitei antes de atender, já antecipando que não seria uma ligação tranquila. Tínhamos acabado de revisar a agenda do dia e não tinha nada de importante, ou que merecesse minha atenção imediata.

— Ana, o que foi? — Eu disse tentando soar normal, apesar da tensão e da sensação ruim que eu sentia.

— Miguel, eu não queria incomodá-lo, mas você viu o que a Mina postou nas redes sociais? — A voz dela soava séria, quase preocupada.

Eu franzi a testa.

— Não. O que foi agora?

— Bom... ela está fazendo um drama público, dizendo que você está tentando tomar a farmácia dela. Estão comentando bastante, e ... honestamente, não achei que fosse ficar tão feio.

Senti meu estômago revirar.

— Eu a bloqueei. Traga aqui, quero ver.

Segundos depois, ela entrou com o celular na mão. Ana clicou e, imediatamente, fomos recebidos pelo rosto cuidadosamente maquiado de Mina, com uma ensaiada expressão de sofrimento.

O vídeo começava com um suspiro profundo, seguido de palavras doces e carregadas de emoção.

— Olá, meus queridos… Hoje é um dia muito difícil para mim. Eu não costumo compartilhar problemas pessoais aqui, mas … — Eu praticamente bufei ao ouvir aquilo, pressionando o dedo contra a mesa enquanto ela continuava. — … sinto que preciso desabafar.

Eu assisti ao vídeo inteiro, sentindo a raiva crescer a cada segundo. Mina falava sobre sua dedicação à farmácia, seu esforço em criar um ambiente seguro para a filha, e sobre como o "ex-marido cruel" estava tentando destruir tudo isso.

Pausei o vídeo e passei a mão pelo rosto, tentando conter a irritação.

— Isso é inacreditável.

— Tem mais. Ela também postou uma foto no feed. Você precisa ver a legenda. — Ana falou, hesitante.

Ela abriu a foto para me mostrar: Mina sorria ao lado da placa de inauguração da farmácia, com a legenda cuidadosamente manipulada:

"Há anos, dei tudo de mim para construir esse espaço com amor e dedicação. Hoje, ele está ameaçado, mas eu não vou desistir. Meu trabalho é minha paixão, minha vida. Obrigada a todos que estão comigo neste momento difícil”.

Aquela foto estava alterada, não era verdadeira. Na foto original, eu estava do outro lado da placa. Era uma foto para marcar aquela data feliz, a conquista da Mina feita com o patrocínio da minha família. Apertei o celular com força.

— Ela realmente não tem limites.

— E os comentários ... — Ana continuou, quase com receio de provocar mais frustração. — … Todos estão do lado dela. Estão chamando você de monstro, de egoísta.

Ela me entregou o aparelho e eu cliquei nos comentários, vendo a enxurrada de mensagens de apoio.

“Força, Mina! Não deixe ninguém destruir o que você construiu”.

“Ele não tem coração! Pense na sua filha, ele deveria proteger vocês, não as atacar”.

“Estamos do seu lado, Mina! Injustiça tem limites”.

Eu ri, mas de nervoso.

— E ela responde com corações e agradecimentos … Claro.

— Miguel, eu sei que isso é difícil, mas você precisa se manter firme. Não responda nada, não caia no jogo dela. — Ana me aconselhou.

— Eu sei, Ana. É exatamente isso que ela quer, que eu exploda, que perca o controle. Mas não vou lhe dar essa satisfação.

Ainda não tinha acabado. Ana tinha mais a mostrar. Nos stories dela, uma frase de efeito piscava na tela:

"Quem tenta apagar a luz dos outros só revela sua própria escuridão".

Eu ri de novo, desta vez com um misto de desprezo e resignação. Eu já sabia que Mina era uma especialista em manipulação. Ela estava jogando para o público, construindo a imagem da vítima perfeita, enquanto eu era pintado como o “vilão”.

Por causa dos perfumes, que ela mesma fazia, um hobby que virou trabalho, Mina tinha uma boa base de seguidores, quase cinquenta mil naquele momento. Era muita gente sendo manipulada.

Mas, eu também sabia que aquilo não mudava os fatos. Ela poderia manipular as redes sociais, mas não mudaria a realidade dos tribunais. Eu respirei fundo, abrindo o aplicativo de mensagens no meu celular e escrevendo uma mensagem para meu advogado:

— Preciso que você veja as redes sociais da Mina. Está ficando sério. Ela está usando mentiras contra mim. Veja se podemos usar algo a nosso favor?

Depois de enviar a mensagem, fechei os olhos por um momento, tentando conter a frustração. Eu sabia que a batalha estava longe de terminar, mas também sabia que Mina não era tão intocável quanto aparentava.

— Vou voltar ao trabalho, chefe. Você fica muito melhor nessa sala. Parabéns, novamente. Você merece. E como Mina disse: Não deixe que ela apague sua luz. — Ana saiu fechando a porta atrás de si.

Eu desbloqueei os perfis da Mina nas redes sociais e encarava a tela do computador irado, meus olhos fixos nos comentários venenosos das postagens de Mina. Eu sentia a raiva pulsar, mas sabia que não podia perder a cabeça. Havia um processo em andamento, uma filha a proteger.

Fiquei ali, lendo e remoendo aquele golpe inesperado por quase uma hora, até que uma nova chamada de Ana, minha secretária, me trouxe de volta à realidade.

— Desculpe incomodar, Miguel, mas tem alguém aqui para vê-lo.

Eu franzi o cenho, curioso.

— Quem é?

— É ... Carolina. Carolina Martins.

Precisei de um momento para processar o nome. Carolina? Eu mal me lembrava dela. A última vez que a vira, ela ainda era uma adolescente, sempre à sombra do irmão, Leandro. Eles estavam todos na nossa formatura do ensino superior, cercados de familiares e amigos, um tempo em que eu achava que minha vida estava no caminho certo.

— Carolina Martins? Irmã do Leandro? — Eu perguntei, confuso.

Ana confirmou.

— Ela disse que é importante. Devo deixá-la entrar?

Eu hesitei. Não fazia ideia do que Carolina poderia querer, mas algo aguçou a minha curiosidade, e eu concordei.

— Pode mandar entrar.

Alguns segundos depois, Carolina entrou no escritório. A mulher que surgiu era completamente diferente da imagem que eu tinha guardada na memória. Ela estava deslumbrante. Alta, com uma postura confiante, cabelos longos e castanhos que caíam em ondas suaves até os ombros, olhar marcante que parecia captar cada detalhe ao seu redor. Ela vestia um vestido preto ajustado, elegante sem ser exagerado e saltos que só aumentavam sua presença. A adolescente tinha dado lugar a uma mulher de tirar o fôlego.

Me levantei da cadeira, surpreso.

— Carolina ... Nossa, faz tanto tempo? Não sei nem o que dizer.

Ela sorriu, um sorriso que parecia carregar uma mistura de nostalgia e mistério.

— Faz tempo mesmo. Desde a formatura de vocês, não é? Você mal me reconheceu, não foi?

Eu ri sem jeito, passando a mão pela nuca.

— Para ser honesto, não. Você mudou muito. Quero dizer, claro que mudou, era uma adolescente naquela época. Agora ... — Eu parei, percebendo que estava soando estranho. — Bom, agora você é uma mulher.

Ela riu, uma risada leve, mas com um tom provocativo.

— Sim, já faz um bom tempo. E você, Miguel? Parece que sua vida deu algumas voltas inesperadas, não é?

Eu suspirei, imaginando que ela estava a par da situação pelas redes sociais e indicando a cadeira em frente à minha mesa.

— Você não imagina o quanto. Mas o que te traz aqui? Não me lembro de termos tido muito contato naquela época.

Carolina sentou-se, cruzando as pernas com um movimento fluido, elegante, mas que parecia calculado.

— Não tivemos mesmo. Eu era só a irmã mais nova do Leandro, a garota que ficava na sombra dele e dos amigos dele. Mas isso não significa que eu não observasse tudo.

Eu arqueei uma sobrancelha.

— Observasse?

Ela inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando o quanto deveria revelar.

— Miguel, vim aqui porque quero ser direta com você. Sou eu.

— Você? — Eu repeti, confuso.

— A pessoa que te mandou o vídeo. As fotos. As mensagens.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando absorver o que acabara de ouvir. Pisquei algumas vezes, encarando-a, antes de perguntar:

— Você está dizendo que foi você quem me enviou tudo? Ajudou a desmascarar a Viviane, a Mina … o seu próprio irmão ...

Ela assentiu, os olhos fixos nos meus.

— Sim.

— Mas ... por quê? — Perguntei, ainda tentando entender a motivação dela. — Você sempre foi próxima do Leandro, da sua família. Por que está se voltando contra ele?

Carolina inclinou-se levemente para frente, os olhos brilhando com algo que parecia uma mistura de indignação e determinação.

— Porque ele não é mais o mesmo irmão que eu tinha. Faz anos que vejo como ele trata as pessoas ao redor dele, como ele se tornou ... podre. A Viviane, então? É o tipo de pessoa que consegue tirar o pior dele. E Mina ... bem, como você já sabe, ela nunca foi tão inocente quanto parece.

Eu cruzei os braços, ainda desconfiado. Aquilo parecia mais um desabafo do que uma afirmação.

— E o que você ganha com isso? Por que se arriscar ... se envolver?

Ela riu, mas havia um tom amargo em sua risada.

— Você acha que estou fazendo isso por altruísmo? Não. Estou fazendo isso porque quero ver o Leandro pagar por tudo o que fez. Porque quero que ele saiba que nem todo mundo vai abaixar a cabeça para ele.

Eu ainda estava processando as palavras dela. A situação parecia tão surreal, mas ao mesmo tempo, eu podia ver a sinceridade nos olhos dela. Ela realmente acreditava no que estava dizendo.

— E por que me ajudar? — Eu perguntei, a voz mais suave.

Carolina deu de ombros, um leve sorriso surgindo.

— Talvez porque eu acho que você merece. De todos ali, você sempre foi o mais genuíno. E eu não suporto ver o que eles estão tentando fazer com você.

Eu balancei a cabeça, ainda incrédulo.

— Eu não sei o que dizer.

— Não precisa dizer nada agora. Só saiba que não vou parar. Ainda tenho muito mais coisas para mostrar. — Ela se levantou, ajeitando o vestido com elegância. — Mas preciso que você continue firme. Sem explosões, sem cair no jogo deles. Preciso que confie em mim.

Eu a observei por um longo momento antes de assentir.

— Certo. Vou confiar em você. — Falei sem muita convicção.

Carolina sorriu novamente, desta vez mais calorosamente.

— Ótimo. Porque eu sou a melhor aliada que você pode ter agora.

Carolina começou a caminhar em direção à porta, mas algo em mim não queria deixá-la sair. Havia tantas perguntas rodopiando na minha cabeça. A maneira como ela falava, como parecia tão confiante, mas, ao mesmo tempo, carregava algo de pessoal naquela história … Eu precisava de mais respostas. Além do mais, ela ainda não havia me dado as provas que prometeu.

— Espera, Carolina. — Minha voz soou firme, mas cheia de curiosidade. Ela parou no mesmo instante, virando-se para me encarar, uma sobrancelha levemente arqueada.

— O que foi? — Ela perguntou, como se já soubesse o que viria a seguir.

— Como exatamente você conseguiu essas provas? Os vídeos, as fotos … Você disse que quer ver o Leandro pagar, mas isso não explica como conseguiu esse material. — Cruzei os braços, sustentando o olhar dela.

Ela hesitou por um momento. Era um daqueles silêncios que pareciam durar uma eternidade, mas, que na verdade, não passaram de alguns segundos.

Finalmente, ela suspirou, caminhando de volta para a cadeira e sentando-se novamente.

— Está bem. Vou te contar. — A voz dela soou séria, sem as nuances provocativas de antes.

Fiquei em silêncio, esperando, enquanto ela ajeitava o vestido, claramente organizando os pensamentos antes de falar.

— Depois que o Leandro e a Viviane se divorciaram, ele decidiu voltar para a cidade, como você sabe. Os dois se separaram de forma … tensa, para dizer o mínimo. Viviane praticamente o expulsou de casa. — Ela riu sem humor. — Então, ele me pediu ajuda com a mudança. Eu fui até lá porque, bom … apesar de tudo, ele ainda é meu irmão.

Carolina parou por um instante, o olhar perdido, antes de continuar.

— Enquanto organizávamos as coisas, o Leandro estava uma pilha de nervos. Não parava de reclamar da Viviane, do quanto ela era manipuladora. Ela também resmungava sobre você e a Mina, e ficava dizendo que ia dar a volta por cima. Eu só ouvia, sabe? Não tinha muito o que falar.

Ela fez uma pausa e me olhou, como se esperasse algum sinal para continuar. Assenti, encorajando-a a seguir.

— Foi quando eu encontrei alguns pen drives no fundo de uma gaveta. Estava misturado com papéis e coisas que pareciam não ter nenhuma importância. Perguntei para ele o que era, e ele só resmungou algo como “deve ser lixo, pode jogar fora”.

Ela deu um sorriso leve, mas havia algo sombrio naquele gesto.

— Minha curiosidade falou mais alto. Peguei os pen drives e coloquei no bolso. Eu estava precisando de algum armazenamento externo para os trabalhos da faculdade e achei que, no máximo, teria alguma coisa boba, arquivos antigos. Talvez algo que ele nem sabia que estava lá. Mas quando cheguei em casa e conectei no computador …

Ela parou novamente, respirando fundo. Eu percebi que aquele momento ainda estava fresco em sua memória, como se estivesse revivendo cada segundo.

— O que você encontrou? — Perguntei, ansioso, minha voz baixa, mas carregada de expectativa.

— Tinha de tudo, Miguel. Vídeos, fotos, mensagens. Coisas que ele nunca deveria ter guardado, muito menos esquecido em um pen drive. Eram provas das traições dele, da Viviane e da Mina. E não apenas contra você, mas até com outras pessoas. Era ... nojento.

Carolina estava visivelmente magoada com o irmão. Eu poderia, se fosse inteligente, explorar aquele sentimento. Ela continuou:

— Quanto mais eu via, mais nojo eu sentia. Tenho certeza de que aqueles pen drives eram da Viviane. Leandro não esqueceria uma coisa assim.

Senti minhas mãos formigarem de raiva só de imaginar. Carolina olhou diretamente para mim, como se quisesse que eu entendesse a gravidade do que ela estava dizendo.

— E você decidiu me enviar o material. Por quê?

Ela respirou fundo, ajeitando o cabelo para trás dos ombros.

— Porque eu entendi que você merecia saber a verdade. Sabia que ele estava destruindo a sua vida enquanto seguia impune, se fazendo de bom amigo, abusando da sua generosidade. Eu queria que você tivesse algo para se defender.

— E o Leandro? Ele sabe que você tem isso? — Perguntei, tentando entender os riscos que ela estava correndo.

Carolina balançou a cabeça.

— Não. Ele nem imagina. E nem pode saber. Você não pode deixar que ele descubra, Miguel.

— Por que me contar agora? — Insisti, tentando encontrar alguma brecha, algo que me mostrasse se havia outra motivação por trás disso tudo.

Ela deu de ombros, mas havia algo de vulnerável na expressão dela.

— Talvez porque eu precise que você confie em mim. Talvez porque estou cansada de guardar isso sozinha.

Eu a encarei por um longo momento. Havia sinceridade nos olhos dela, mas também um peso, como se aquilo estivesse corroendo-a por dentro.

— Carolina, isso que você fez … é arriscado. Muito arriscado.

Ela deu um pequeno sorriso, um misto de ironia e determinação.

— Eu sei. Mas alguém precisava fazer.

Fiquei em silêncio, absorvendo tudo. A mulher à minha frente não era a mesma adolescente tímida que eu conhecera anos atrás. Ela era forte, determinada, e, de alguma forma, parecia ser a aliada que eu jamais esperaria encontrar.

— Obrigado por me contar. — Minha voz saiu mais suave, carregada de gratidão genuína.

Ela levantou-se novamente, parecendo satisfeita.

— Só me prometa que vai usar isso da maneira certa, Miguel. Não deixe que eles ganhem.

Meu telefone tocou, interrompendo a conversa. Sorri ao ver no visor quem me ligava. Fiz sinal para Carolina esperar.

— Rodrigo? Até que enfim. Alguma novidade?

A resposta do investigador foi imediata.

— Sim. E acho que você vai querer ouvir isso pessoalmente.

— Ok! Vou até você assim que terminar uma reunião importante que estou tendo no momento.

Nós nos despedimos e desligamos. Eu respirei fundo. As coisas estavam acontecendo muito rápido.

Voltei minha atenção para Carolina novamente e a encarei por um longo momento, absorvendo tudo. Era uma história complexa, cheia de reviravoltas e riscos, mas ao mesmo tempo tinha algum sentido. O que não fazia nenhum sentido para mim, era ela querer expor o irmão, o motivo de me ajudar a equilibrar a balança.

— Certo, Carolina. Eu vou confiar em você. Mas quero uma coisa. — Eu disse com determinação.

— O que seria? — Ela perguntou, curiosa.

— Quero tudo. Todos os arquivos, tudo o que você encontrou. Preciso analisar isso com o meu advogado e decidir como agir daqui em diante.

Ela hesitou por um instante, mas então, concordou.

— Está bem. Vou preparar tudo para você. Mas, Miguel, preciso que me prometa uma coisa.

— O que exatamente?

Ela respirou fundo antes de responder, o olhar sério.

— Que vai usar isso com sabedoria. Que vai acabar com eles, mas sem cair na lama junto.

Eu não hesitei.

— Pode confiar. Vou garantir que a verdade seja usada para limpar a sujeira deles, sem que eu perca a minha dignidade.

Carolina sorriu de forma quase imperceptível, como se estivesse satisfeita com minha resposta. Ela se levantou novamente, ajeitando o vestido.

— Então, acho que estamos entendidos. Te entrego tudo até o final da semana.

— Ótimo. Estarei esperando.

Ela deu alguns passos em direção à porta, mas parou novamente, olhando por cima do ombro.

— E, Miguel … não se esqueça: eles não têm limites, mas você tem aliados agora. — Ela me olhou com uma ternura diferente, uma pontada de safadeza no olhar. — Ah, e eu mereço um jantar de agradecimento, não mereço?

Com isso, ela saiu, antes que eu respondesse, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Ela merecia muito mais do que um jantar. A lembrança daquela adolescente magrela e desajeitada, não condizia com a atual realidade daquela mulher linda e sensual que se apresentava no presente.

Enquanto processava tudo, um misto de alívio e preocupação tomava conta de mim. Carolina havia se tornado uma peça inesperada e poderosa nesse tabuleiro. A questão era: até onde essa aliança poderia me levar?

De qualquer forma, o expediente estava chegando ao fim e eu estava ansioso para saber o que Rodrigo, meu investigador, tinha descoberto. O que ele tinha para me mostrar?

Continua …

Revisão: Id@

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Comentários

Foto de perfil de Fabio N.M

A atitude da Mina me lembrou o caso da Mariana Ferrer. Não importa se você é inocente, se o tribunal da Internet te declarar culpado, sua vida acaba.

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Aliada importante e imprescindível!

Curioso pra saber as armações do trio diabólico e o porque romperam entre si e se de fato romperam mesmo!

Agora, o que pode sujar a reputação de Miguel. Deve ter mais armação aí e das bravas...

Cada vez melhor esse enredo!

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Caro Lukinha,

Tenho acompanhado este conto desde o início e aoalesar de não comentar sempre que você posta (o tempo tem sido muito escasso), não deixo de admirar o seu trabalho.

É um enredo belíssimo e digo, como advogado, acontece! Eu mesmo já estive dentro de uma situação parecida, na condição de advogado, é claro, e a tensão é bastante presente.

Parabéns!

Fora algumas críticas quanto a atuação do advogado do personagem principal (muito acomodado, ao meu ver), de resto está magnífica. Eu já teria conseguido reverter a liminar bem no início, mas isso sou eu! Pede para o Miguel me contratar que eu resolvo isso rapidinho... Garanto!

Forte abraço,

Ah, e estreladissimo, é claro.

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Aí tem nova chance para o protagonista de se dar bem uma ótima e surpreendente trama

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Suspense total, tomara que ele desmascare todos e ainda pegue a irmã do cara.

3 estrelas.

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Quem acha que essa não é a irmã do cara ou que pelo menos está envolvida também??

O que ele quis dizer sobre o pedido que fez, mas que não caísse junto com eles?

Ele está certo em desconfiar. Ninguém da nada para alguém de graça!!!

Agora sobre a Mina, que mulherzinha...ou ela é péssima, ou a coisa é tão séria em relação a Viviane e Leandro, algo em que ela se meteu e afundou como uma areia movedissa.

Vamo ver no que vai acontecer!!

Muito boa história, vc é fantástico. P alguém que curte boas histórias, isso é um prato da melhor qualidade!!

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Esse história tá ficando sinistra ! É cada reviravolta 🫣

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Miguel começando a entender as regras do jogo !!!

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