— Samuel, onde está o Gustavo?
— Oi, amor. — Samuel ficou surpreso com Bruno chegando ali, mas já desconfiava que algo ia dar errado desde o momento em que viu Gustavo entrando na toca.
— Amor, o caralho! Onde está meu irmão? — Bruno estava impaciente, só queria pegar o irmão e sair daquele lugar imundo.
— Fala onde ele está!
— Não sei, o Leão que sabe.
— Leão? O que esse desgraçado quer com meu irmão?
Samuel deu de ombro, ele sabia sim onde o irmão de Bruno estava, mas não ia desobedecer a ordem do seu patrão.
— Ei, aonde você vai? — Bruno passou por Samuel como um tiro, não dando tempo de segurá-lo.
A toca era a casa do Leão, onde ele fazia seus "negócios". Leão era o chefe do tráfico na comunidade e mandava em tudo, mas Bruno não tinha mais medo dele. Já tinha perdido esse medo há muito tempo.
— Bruno, você não pode entrar aí! — Samuel gritou, mas Bruno parou e se virou.
— Vai a merda!
A toca era uma casa agitada, parecia uma boate, com todo tipo de pessoa, até um bar onde alguns bêbados, inclusive o pai de Bruno, iam. Bruno já estava cansado de ter que pegar o pai ali e arrastá-lo para casa, de tanto que bebia e não conseguia voltar para casa sozinho.
Leão ficava em um quarto mais afastado. Bruno conhecia bem o caminho e não se importou com os olhares sérios ou surpresos das pessoas que o viam entrar sem ser avisado.
Na porta do quarto do Leão, Bruno não hesitou. Ele ia fazer de tudo para encontrar seu irmão, mesmo que tivesse que enfrentar aquele bandido.
Para surpresa de Bruno, Leão estava só de cueca, deitado na cama com o celular na mão. Quando o viu, abriu um sorriso safado.
Bruno ficou constrangido, fazia tempo que não o via.
-— Olha quem apareceu? — Leão, que na verdade se chamava Jonas, se levantou da cama e se aproximou de Bruno.
Jonas era incrivelmente bonito, talvez até mais do que Bruno lembrava. Seu corpo era musculoso e vantajado, com tatuagens espalhadas por seus braços e peito, cada uma contando uma história de sua vida agitada. Sua pele morena era impecável, com um tom dourado que parecia brilhar à luz fraca do quarto. Ele tinha um olhar penetrante, um charme natural que fazia qualquer um se sentir atraído, e esse detalhe não passou despercebido por Bruno. Ele sentiu um leve arrepio e, sem querer, uma excitação que ele não esperava, mas que surgia involuntária.
Jonas se aproximou mais, o sorriso safado no rosto, como se soubesse exatamente que estava provocando o Bruno.
— Jonas, onde está meu irmão?
— Hã, veio procurar o irmãozinho? Achei que queria me ver, relembrar nosso passado...
— Passado? Eu não tenho nada para relembrar, só quero saber do meu irmão.
— Que pena, estava com tesão aqui sozinho, ia chamar alguém logo para me aliviar. -Ele segurou seu pau por cima da cueca e não teve como Bruno não olhar para o membro duro do bandido. Mas sentiu nojo da cara de Jonas.
— Por favor, o que você fez com meu irmão? — Bruno engoliu em seco e se controlou. A raiva era maior que o tesão, e ele lembrou o motivo pelo qual terminou com Jonas no passado.
— Está fazendo um trabalho para mim. — Leão falou sem sentir remorso ou medo, enquanto Bruno quase perdeu as pernas.
— Trabalho? Você ficou louco?
— Por que não? Você acha que seu irmão não pode trabalhar para mim?
— Não, ele não é um bandido.
— Olha, Bruno, no passado eu aceitava você falar assim comigo. — Jonas se levantou e se aproximou de Bruno, chegando perto demais, o que fez ambos ficarem um pouco ofegantes. — Mas hoje, você tem que cuidar com as palavras.
— Por quê? Você não é meu dono, nunca foi e nunca vai ser.
— Já fui sim, lembra de quando eu te pegava de quatro e te fazia a minha putinha? -A boca de Jonas estava bem perto, sua voz era rouca e sensual, Bruno sentia o hálito de cigarro e menta que ele exalava. Aquilo o deixava confuso com seus sentimentos.
Bruno então se afastou e se sentou em uma poltrona próxima.
— Jonas, eu te conheço desde criança, crescemos juntos, você conhece minha família e jantou várias vezes com a gente. Por que está fazendo isso? Ele é só uma criança.
Jonas resolveu pegar mais leve, parando de provocá-lo e decidindo falar sério.
—Você acha que eu o o obriguei a vim aqui e me pedi um emprego? Fiz isso para ajudar você, sei que não está sendo fácil e você ainda nem pagou a parcela da dívida do mês.
Sim, Bruno devia para ele, mas a dívida quem fez foi o seu pai, aquele inútil um dia perdeu tudo em um jogo de cartas e teve que perdi emprestado para o leão, e aconteceu que sobrou para Bruno pagar.
—A por favor, até parece que você se preocupa comigo.
-— Não, eu não me preocupo. — Jonas se sentiu magoado, mas por que Bruno acreditaria nele? Muitas coisas aconteceram ao longo dos anos, e a confiança em Jonas estava em baixa.
— Por favor, só traz meu irmão de volta.
— Sim. — Desanimado, Jonas pegou o celular e enviou uma mensagem, que logo foi respondida.
—Pronto, pode ir. — Leão se deitou na cama e ligou a TV, ignorando Bruno.
— Obrigado, e eu vou te pagar amanhã. — Bruno estava saindo quando Leão o chamou.
— Espera.
— O que foi? — Bruno ainda sentia algo por aquele homem, mas escondia melhor do que Jonas percebia.
Jonas abriu a gaveta da cômoda ao lado da cama e pegou um chaveiro. Ele o segurou na mão, observando Bruno com um olhar que misturava nostalgia e uma sinceridade que quase doía. Bruno, sem querer, fixou os olhos no chaveiro, e uma sensação apertada tomou conta de seu peito. Era uma lembrança de algo que ele tentava esquecer, mas que Jonas teimava em trazer de volta.
— Só para te mostrar que eu nunca te esqueci. — Leão disse, sua voz carregada de algo entre arrependimento e possessividade.
Bruno permaneceu em silêncio, os olhos fixos no chaveiro. Sentiu a garganta apertar, como se não conseguisse engolir a dor que surgia. Não respondeu, apenas virou as costas e saiu, a sensação de um vazio crescente em seu peito.
****
— Eu te mato! -Do lado de fora ele encontrou Gustavo, estava um pouco sujo e parecia meio assustado.
— Como você descobriu? — Gustavo tinha um pouco de medo de Bruno, mas a admiração pelo irmão mais velho sempre foi muito maior.
— Em casa, conversamos.
Eles saíram da toca. Bruno ia na frente, quase correndo, seus punhos cerrados e os passos pesados. Cada movimento dele exalava ódio, o tipo de ódio que ele sentia não só pelo que Jonas tinha feito, mas pela situação em que estavam. O morro parecia engolir os dois, e Gustavo temia o que estava por vir.
Ele sabia que ia levar um sermão pesado ao chegar em casa, e foi exatamente isso que aconteceu.
Bruno quase o jogou dentro do quarto, trancando a porta atrás de si. Ele começou a falar, as palavras saindo de sua garganta como um furacão. Dizia tudo o que estava guardado: o quanto estava decepcionado, o quanto ele se matava de trabalhar para sustentar a casa, e como, agora, o irmão estava se afundando nesse mundo de crime. As palavras eram duras e cortantes, e Gustavo, com o coração apertado, sentiu as lágrimas queimando os olhos. Não chorou muito, mas a dor foi profunda.
— Fala, Gustavo. Por que você fez isso? Por que aceitou esse emprego?
Gustavo limpou rapidamente as lágrimas, com vergonha de mostrar a fraqueza. Olhou para Bruno, com os olhos marejados.
— Estávamos sem comida... o papai pegou o dinheiro, como sempre... Eu sabia que, quando você voltasse, ia ficar bravo, então... pedi o emprego para o Leão. Eu ia usar a diária para comprar a janta, e, se sobrasse, ajudava a pagar as contas.
Aquelas palavras atingiram Bruno como um soco no estômago. Foi um golpe baixo, não só pela situação, mas pelo peso de saber que o irmão, mesmo com boas intenções, estava se perdendo nesse caminho. Tudo por culpa daquele pai irresponsável, aquele maldito que não parava de ferrar com todos.
Bruno se sentou ao lado de Gustavo, puxando-o para um abraço apertado. Era um abraço sincero, longo, cheio de frustração e amor. Eles eram os dois sobreviventes dessa vida difícil, órfãos do afeto e da estabilidade, tentando se manter à tona. Mas, no fundo, sabiam que ninguém disse que seria fácil.
— Mano, olha para mim. — Bruno segurou o rosto de Gustavo com as mãos, seus olhos buscando os dele. Com o polegar, limpou a lágrima que ainda escorria pelo rosto do irmão. — Obrigado, obrigado por tentar me ajudar... mas tem outros jeitos de me ajudar. Se você quiser trabalhar, tudo bem, mas se entrar nesse mundo, você vai acabar preso ou morto. Eu não quero te perder, tá me ouvindo?
Gustavo olhou para o irmão, sentindo o peso das palavras, mas, ao mesmo tempo, a tentação do dinheiro fácil. Ele sabia que Bruno tinha razão, mas a necessidade era grande demais.
— Leão me pagou a diária... podemos comprar a janta? — Gustavo tirou 150 reais do bolso e mostrou para Bruno. Quando Bruno olhou aquele dinheiro, se sentiu tentado, mas o nojo tomou conta de seu corpo.
— Esse dinheiro é sujo, Gustavo. Dinheiro de drogas e violência. — Bruno respondeu com a voz firme, mas a dor estampada no rosto.
— Mas esse dinheiro vai nos alimentar, Bruno. É uma questão de sobrevivência... Por favor, vamos...
Bruno suspirou fundo, sentindo a pressão. Sabia que estava cedendo, mas não podia negar que a situação estava difícil demais.
— Tudo bem... mas que seja a última vez. Amanhã, eu vou falar com o meu chefe e ver se ele precisa de um ajudante. Você aceita?
— SIM! — Gustavo respondeu empolgado, quase como se tivesse encontrado uma saída, um pouco de esperança no meio da escuridão.
— Vai no mercado e compra algo para comer. — Bruno disse, a raiva diminuindo, mas a preocupação ainda estampada em seu rosto.
****
—Amanhã sua dívida vence com o leão, já pensou como você vai o pagar? -Bruno foi na sala e ficou na frente da tv, onde seu pai estava assistindo alguma porcaria.
—Sai da frente.
Bruno se virou de costa e tirou a tv da tomada.
—Seu monte de merda, liga essa tv.
—A única merda aqui é você, agora me fala como você vai pagar?
—Vou dar meu cu na esquina.
—Ninguém vai pagar para comer seu cu velho.
—Já o seu eles pagam, não é? Putinha de macho. -O Pedro sabia que seu filho era gay a muito tempo, ele pelo menos não se importava com isso, aliás com o que ele se importava?
Bruno olhou com ódio para aquele homem que tinha que ser o provedor da casa, mas na verdade era somente um peso morto que colocava a família inteira em perigo.
—Um dia... -Bruno respirou fundo. -Escuta bem o que eu vou te dizer, um dia você vai precisar de verdade da nossa ajuda, mas sabe o que vai acontecer? Você vai está sozinho, sozinho sem ninguém para te socorrer.
—Que bom, pelo menos vou ter paz nessa bosta de vida.
—Paz é algo que você nunca vai ter. -Bruno saiu dali e não sabia o que fazer para pagar a dívida, pensou em pegar um adiantamento no serviço, mas não, já tinha pegado quase que todo seu salário.
Ele ficou na cama por horas sem saber o que fazer, ele não tinha opção, então tomou um banho e se arrumou, ele se odiou por isso, essa era a única solução naquele momento.
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