Amante Secreto: Fabíola (Parte 3/3)

Da série Amante Secreto
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 9976 palavras
Data: 27/01/2025 17:09:06

Parte 3

O céu sobre Pádua estava encoberto, e as nuvens cinzentas pareciam pesar tanto quanto os eventos daquela tarde. Diante da imponente Basílica de Santo Antônio, uma fumaça negra subia em espirais densas, contrastando com a arquitetura histórica e sagrada do lugar. O som de sirenes ecoava pelas ruas estreitas, misturando-se aos murmúrios dos curiosos que se amontoavam atrás das barreiras montadas pela polícia.

No meio da confusão, o que restava de um carro de luxo ardia em chamas, seus contornos agora indistinguíveis. Dentro do veículo, o que aparentava ser o corpo de Giovanni Dorigatti estava irreconhecível, completamente carbonizado. As emissoras de TV já haviam chegado ao local, capturando cada detalhe da cena enquanto anunciavam com urgência:

— Ultime notizie! — anunciava uma repórter, enquanto o carro em chamas refletia em seus óculos — Um atentado em frente à Basílica de Santo Antônio de Pádua chocou a cidade hoje à tarde. A vítima, ainda não identificada oficialmente, mas amplamente especulada como sendo o empresário Giovanni Dorigatti, estava em um veículo que foi alvo de uma explosão. Fontes próximas indicam que o atentado pode estar ligado a disputas dentro do submundo da máfia.

As pessoas nas proximidades murmuravam, chocadas, enquanto algumas tiravam fotos e vídeos com seus celulares. Mas para quem estava no centro daquele tabuleiro de poder e vingança, o incidente não era um choque. Era um movimento calculado.

Do outro lado da cidade, Stefano Meazza estava parado em frente a um espelho alto e ornamentado em seu escritório particular, enquanto um alfaiate ajustava as mangas de seu terno sob medida. Stefano era um homem meticuloso, e mesmo em momentos de tensão, sua aparência impecável refletia sua mentalidade de controle absoluto.

Ele observava seu reflexo com atenção, o sorriso frio e cínico brincando em seus lábios. O telefone em sua mesa tocou, interrompendo o som ritmado da tesoura do alfaiate. Um dos capangas atendeu e, após ouvir a mensagem, aproximou-se de Stefano.

— Signore, Bianca Dorigatti está aqui. Quer vê-lo imediatamente.

Stefano ergueu uma sobrancelha, mas não parecia surpreso.

— Deixe-a entrar — disse, ajustando a posição de sua gravata com um leve puxão. Ele dispensou o alfaiate com um gesto de mão, cruzando os braços enquanto aguardava.

A porta se abriu, e Bianca entrou no escritório. Ela parecia completamente diferente da mulher que Stefano conhecia, a mulher ingênua e apaixonada que havia servido como uma peça útil em seus jogos. Os olhos azuis, antes brilhantes, estavam fundos e sombrios, com traços visíveis de lágrimas recentes. A pele pálida estava avermelhada, principalmente ao redor das bochechas, como se a raiva a consumisse de dentro para fora. Ela estava desarrumada, o cabelo desalinhado, e suas mãos tremiam levemente enquanto ela caminhava em direção a Stefano.

Ele sorriu, aquele sorriso cheio de cinismo e controle, e abriu os braços como se a recebesse de volta ao lar.

— Ah, Bianca, mia cara. Eu já estava esperando por você.

Bianca parou no meio do escritório, suas mãos se fechando em punhos.

— Ele matou meu pai — ela disse, a voz oscilando entre a raiva e o desespero.

Stefano deu um passo à frente, aproximando-se dela com cuidado.

— Bianca — Stefano disse suavemente, estendendo as mãos em um gesto de consolo — Eu entendo sua dor. Perder Giovanni é uma grande tragédia.

— Então faça algo! — ela exigiu, os olhos brilhando de lágrimas — Acabe com Matteo! Ele destruiu tudo, Stefano. Ele matou meu pai! Ele precisa pagar!

Stefano deu um passo à frente, colocando as mãos nos ombros de Bianca. Seu toque era firme, mas tranquilizador, e ele inclinou ligeiramente a cabeça, como se estivesse se solidarizando com sua dor.

— Matteo sofrerá. Aliás, ele já está sofrendo, mais do que você imagina.

Bianca piscou, confusa.

— O que quer dizer?

Stefano sorriu levemente, guiando-a até a poltrona mais próxima e ajudando-a a se sentar. Ele se abaixou levemente, ficando na mesma altura que ela, enquanto falava em um tom baixo e controlado.

— A prima adorada dele está sob meu controle. Ela está segura, por enquanto, mas Matteo sabe que, a qualquer momento, isso pode mudar. Ele está preso em um jogo que já perdeu.

Bianca arregalou os olhos por um momento, mas logo sua expressão mudou para algo mais sombrio.

— Você… você a mantém como refém?

— Eu não diria refém — Stefano respondeu, sorrindo — Eu diria… uma garantia.

Bianca apertou os punhos, mas Stefano continuou antes que ela pudesse falar.

— Não se preocupe, mia cara. Eu tenho tudo sob controle. Matteo aprenderá que as escolhas dele têm consequências. E quanto a você… — Ele inclinou a cabeça, olhando-a com algo que parecia compaixão — Você é leal. A Tommaso. A mim. E eu nunca esquecerei isso.

Ao ouvir o nome de Tommaso, Bianca fechou os olhos, como se estivesse tentando conter uma onda de emoções. Quando Stefano estendeu a mão e a puxou para um abraço, ela não resistiu. Ela se afundou no peito dele, permitindo-se ser envolvida pela falsa sensação de segurança que ele oferecia.

— Você fez tudo o que podia — Stefano murmurou, acariciando levemente o cabelo dela — Agora, me deixe cuidar do resto.

Bianca não respondeu, mas seu corpo relaxou sob o toque dele. Stefano sorriu por cima da cabeça dela, seus olhos brilhando com a satisfação de um manipulador que acabara de conquistar mais uma peça em seu jogo.

**********

O calor sufocante no quarto fazia o ar parecer mais denso, quase impossível de respirar. Fabíola estava exausta. Seus músculos doíam por causa das horas de suspensão, e o suor escorria por seu corpo, traçando linhas invisíveis em sua pele. Seus lábios estavam rachados, e a sede queimava em sua garganta, tornando o simples ato de engolir um desafio. A fome apertava seu estômago com garras invisíveis, mas era o cansaço mental que pesava mais do que qualquer dor física.

Desde que havia sido levada, Fabíola perdera a noção do tempo. As horas pareciam dias, e cada segundo era uma luta contra o medo que ameaçava consumi-la. Ela tentava se concentrar, encontrar forças em lembranças de momentos mais felizes, mas as correntes de sua realidade a puxavam de volta. Stefano estava vencendo. E, o pior, Matteo estava em risco por causa dela.

O som da fechadura girando chamou sua atenção. Fabíola ergueu a cabeça com dificuldade, os cabelos grudados em sua testa por causa do suor. A porta pesada se abriu, e Stefano entrou, sua figura elegante e imponente contrastando cruelmente com o ambiente claustrofóbico e degradante.

Ele estava impecável como sempre, vestido em um terno cinza claro perfeitamente ajustado, e um sorriso frio em seus lábios. Mas não estava sozinho. Logo atrás dele, Bianca entrou na sala. Os olhos outrora vívidos agora carregavam um brilho sombrio, e o sorriso em seu rosto era quase tão sádico quanto o de Stefano

Stefano caminhou até Fabíola, parando a poucos passos dela, enquanto Bianca seguia em silêncio, parando ao lado dele. Stefano fez um gesto amplo com a mão, como se estivesse apresentando uma obra de arte.

— Fabíola — ele começou, o tom de sua voz carregado de satisfação — Você se tornou uma peça valiosa neste jogo. Agora, tenho o prazer de apresentar alguém que compartilha dessa visão — Ele virou-se para Bianca, estendendo uma mão como se a estivesse exibindo — Bianca Dorigatti. A herdeira de I Signori del Grappa.

Fabíola tentou falar, mas sua garganta seca mal produziu um som. Ela tossiu, forçando-se a murmurar.

— Bianca… você é a Bianca?

Bianca inclinou a cabeça, o sorriso em seus lábios se ampliando.

— Estou aqui para ver a queda de Matteo — ela respondeu, a voz carregada de rancor — Depois do que ele fez ao meu pai, é o mínimo que ele merece.

Fabíola arregalou os olhos, balançando a cabeça.

— Isso não pode ser. Matteo não… ele não… Ele jamais faria isso.

Bianca riu, mas o som estava longe de ser caloroso.

— Você ainda o defende? Mesmo aqui, nesta condição? É patético.

— Ele está jogando com você — Fabíola continuou, ignorando a dor que crescia em sua garganta ao falar — Stefano está manipulando você. Não percebe isso?

Stefano soltou uma risada baixa, interrompendo.

— Manipulando? Bianca sabe exatamente o que está fazendo. Non è vero, mia cara?

Ela assentiu lentamente.

— Sì — ela respondeu — Eu sei o que estou fazendo. Estou destruindo quem destruiu minha família. Matteo nunca mereceu minha lealdade ou meu coração.

Stefano deu um passo mais perto de Fabíola, inclinando-se ligeiramente para observá-la mais de perto. Ele manteve o sorriso frio, mas seus olhos estavam fixos nos dela, calculando cada reação.

— Você vê, Fabíola — ele disse, a voz baixa e quase suave — Não se trata apenas de poder. Trata-se de lealdade. De controle. E Bianca entendeu isso. E, quando tudo estiver terminado, La Stella di Piombo será mais forte do que nunca.

Bianca deu um passo à frente, parando ao lado de Stefano. Ela olhou para Fabíola com um misto de raiva e algo mais profundo, algo que parecia ser dor.

— Matteo me usou — ela disse, a voz mais baixa — Ele me traiu quando escolheu seus próprios interesses em vez da minha família. Agora ele vai aprender o que significa perder tudo.

Fabíola olhou diretamente nos olhos de Bianca, ignorando Stefano por um momento.

— Você realmente acredita nisso? — ela perguntou, sua voz mais forte agora — Você realmente acredita que destruir Matteo vai te trazer paz? Porque não vai.

Bianca hesitou por um breve instante, mas Stefano colocou a mão em seu ombro, interrompendo qualquer pensamento que pudesse desviá-la de sua posição.

— Minha querida Bianca — Stefano disse, apertando levemente o ombro dela — Não deixe que as palavras dela a confundam. Você está no caminho certo. Juntos, vamos acabar com Matteo e reconstruir algo muito maior.

Bianca olhou para Stefano, seus olhos encontrando os dele. Por um momento, o ar parecia mudar, carregado de uma tensão silenciosa entre os dois. A forma como ele a tocava, a maneira como ele a olhava, havia algo ali, algo que ambos pareciam entender, mas não queriam admitir.

Stefano sorriu novamente, afastando a mão do ombro de Bianca e dando um passo para trás.

— Você será recompensada por sua lealdade. Tudo o que eu tenho, tudo o que La Stella di Piombo representa, estará ao seu alcance. Basta permanecer ao meu lado.

Bianca assentiu, mas não disse nada. Seu olhar encontrou o de Fabíola novamente, e, por um breve momento, algo vacilou em sua expressão. Talvez fosse dúvida. Talvez fosse culpa. Mas, antes que Fabíola pudesse entender o que viu, Bianca desviou o olhar.

Stefano deu uma última olhada em Fabíola antes de se dirigir para a porta.

— Descanse, Fabíola. Amanhã será um dia longo.

Com isso, ele saiu, Bianca o seguindo de perto. Quando a porta se fechou, Fabíola sentiu o peso de sua situação afundá-la ainda mais. Ela estava presa, sozinha, e Matteo estava caminhando direto para o perigo.

A noite caiu sobre o refúgio de Stefano Meazza, mergulhando o local em uma escuridão tranquila que contrastava com a tensão crescente dentro do escritório. As paredes cobertas de madeira escura refletiam a luz suave do abajur sobre a mesa de Stefano, criando sombras que dançavam ao ritmo do silêncio. Ele estava sentado em sua cadeira de couro, com um copo de uísque na mão, girando o líquido âmbar lentamente enquanto refletia sobre os movimentos que tinha feito no tabuleiro que era sua guerra contra Matteo e os Dorigatti.

Do outro lado da sala, Bianca estava em pé, próxima à janela. O vidro refletia seu rosto, dividido entre luz e sombra, como se representasse o conflito interno que ela carregava. Desde que saíra do quarto de Fabíola, sua mente não parava de girar, mas a proximidade de Stefano parecia oferecer uma nova âncora, uma forma de canalizar suas emoções. Stefano era um homem poderoso, calculista e sedutor, e Bianca sentia-se inevitavelmente atraída por ele, mesmo que parte de si soubesse que estava jogando um jogo perigoso.

— Você está inquieta, Bianca — Stefano comentou, a voz grave e controlada, quebrando o silêncio. Ele ergueu o copo em sua direção, indicando que ela se aproximasse — Venha. Não gosto de ver você tão… distante.

Bianca hesitou por um momento, mas acabou se aproximando, os passos lentos ecoando pelo chão de madeira. Ela parou em frente à mesa dele, olhando para o copo que ele segurava e depois para os olhos dele. Havia algo hipnotizante em Stefano, algo que fazia com que ela se sentisse tanto segura quanto em perigo ao mesmo tempo.

— Estou pensando — ela respondeu, finalmente.

Stefano ergueu uma sobrancelha, colocando o copo sobre a mesa e inclinando-se para a frente.

— Pensando em quê?

— Em tudo — ela disse, desviando o olhar por um momento — No meu pai… no que Matteo fez… no que tudo isso significa para mim.

Stefano observou-a em silêncio por alguns instantes, antes de se levantar lentamente de sua cadeira. Ele caminhou ao redor da mesa, parando ao lado dela, tão próximo que Bianca podia sentir o calor de sua presença.

— Bianca — ele começou, a voz suave, mas carregada de intenção — Você é mais forte do que pensa. Seu pai… ele construiu algo grande, mas você pode construir algo ainda maior. Comigo.

Bianca levantou os olhos para ele, e havia algo novo em seu olhar, algo que ela não conseguia esconder.

— Com você?

Stefano sorriu, aproximando-se ainda mais. Ele levantou uma das mãos, tocando delicadamente o queixo dela, fazendo-a levantar a cabeça para olhar diretamente em seus olhos.

— Sim. Você tem o que é preciso para governar ao meu lado. A força. A inteligência. E, acima de tudo, a lealdade. Juntos, podemos acabar com Matteo de uma vez por todas e transformar La Stella di Piombo em algo que ninguém poderá questionar.

Bianca sentiu seu coração acelerar com as palavras dele. Havia algo intoxicante na forma como ele falava, como se cada palavra fosse uma promessa de poder, controle e um futuro que ela nunca havia imaginado para si mesma. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que Stefano era perigoso, que ele era um homem que não hesitaria em descartá-la se fosse necessário. E, mesmo assim, ela sentia-se atraída por ele de uma maneira que não conseguia explicar.

— Eu sou leal a você, Stefano — Bianca disse, sua voz mais baixa agora, quase um sussurro — Sempre fui. E quero provar isso.

Stefano inclinou a cabeça, os lábios se curvando em um sorriso satisfeito.

— E como você pretende provar isso, Bianca?

Ela não respondeu imediatamente. Em vez disso, deu um passo mais perto dele, o suficiente para que a distância entre os dois fosse quase inexistente. Sua mão subiu lentamente, os dedos trêmulos enquanto ela tocava a barba bem aparada de Stefano, deixando as pontas dos dedos deslizarem suavemente.

— Eu quero ser tudo que você vê em mim — ela disse, a voz carregada de uma vulnerabilidade misturada com determinação — Quero fazer parte disso. Do que você está construindo. Do que você representa.

Os olhos de Stefano brilhavam, mas não havia suavidade neles. Havia cálculo, uma apreciação silenciosa pelo controle que ele sentia que tinha sobre ela. Ele colocou uma das mãos na cintura de Bianca, puxando-a levemente para mais perto.

— Você é muito corajosa, Bianca — ele murmurou, sua voz baixa e provocadora — Mas saiba que, uma vez que entrar neste mundo comigo, não há volta.

Bianca sorriu levemente, e havia algo quase desafiador em sua expressão.

— Eu sei. E estou pronta.

Stefano não esperou mais. Ele inclinou a cabeça para baixo, e Bianca, movida por uma mistura de raiva reprimida, atração e uma confusão de emoções que ela própria não conseguia nomear, puxou-o para mais perto, unindo seus lábios aos dele. O beijo foi um choque, tão intenso quanto o momento que o antecedeu, carregado de tudo o que ambos estavam tentando esconder. Havia uma batalha silenciosa entre desejo e controle, entre entrega e dominação.

O espaço entre eles, outrora carregado de tensão, agora era inexistente. Cada movimento, cada toque era um lembrete de que estavam navegando em águas perigosas, desafiando não apenas a si mesmos, mas o delicado equilíbrio de poder que sustentava tudo ao seu redor.

Stefano deixou que suas mãos deslizassem pelos ombros de Bianca, desabotoando lentamente os primeiros botões da camisa de seda. O busto exposto revelava as provocantes curvas dos seios pálidos que desapareciam sob a lingerie. Bianca não recuou. Pelo contrário, inclinou-se para ele, os dedos finos deslizando por suas costas, arranhando o terno dele como se quisesse marcar sua presença ali.

— Você poderia ter sido minha nora… mas isso não iria te livrar das minhas mãos — Stefano murmurou contra os lábios dela, a voz baixa e rouca, carregada de algo mais profundo do que simples desejo.

— Talvez eu não iria querer me livrar — ela respondeu, sua voz um sussurro, mas cheia de ousadia.

O sorriso de Stefano voltou, mas desta vez havia algo mais sombrio nele.

Seus movimentos eram como uma dança, cada um testando os limites do outro, vendo quem cederia primeiro. Stefano mantinha o controle, seus movimentos calculados, mas Bianca, por sua vez, não era uma participante passiva. Ela desafiava o domínio dele, inclinando-se em sua direção com a mesma intensidade, deixando claro que estava disposta a entrar naquele jogo, e talvez até vencê-lo.

Bianca sentiu a temperatura do ambiente aumentar, mas era impossível dizer se era o calor do espaço ou o fogo que queimava entre eles. Stefano abaixou a cabeça, os lábios roçando suavemente o contorno do pescoço dela, enquanto suas mãos, firmes e confiantes, exploravam a maciez da pele de Bianca.

Ela, por sua vez, arqueou levemente as costas em resposta, seus dedos deslizando para o peito dele, empurrando a gravata para o lado. Não havia palavras, apenas a troca de olhares intensos, os sons abafados de respirações entrecortadas e o som distante do mundo lá fora, que parecia não ter mais importância.

Stefano afastou-se apenas o suficiente para olhar nos olhos dela, seus dedos ainda parados na gola da camisa que ele havia aberto. Ele parecia estudá-la, como se quisesse entender cada pensamento que passava por sua mente.

— Depois dessa noite, não terá volta, Bianca.

— Eu sei — ela respondeu, a voz firme. Não havia hesitação em seu tom, apenas determinação.

Os dois se beijaram novamente, suas respirações se misturando enquanto a sala parecia encolher ao redor deles. Cada movimento era um convite silencioso, cada toque uma promessa implícita de algo mais. As mãos de Stefano deslizaram pela cintura de Bianca, enquanto ela, em resposta, segurava o rosto dele, como se quisesse mantê-lo sob seu controle.

Era impossível dizer quem estava conduzindo o momento, talvez ambos, talvez nenhum dos dois. A linha entre domínio e submissão se tornava mais tênue a cada instante, e a sala, antes fria e austera, agora parecia carregada de uma energia quase palpável.

Bianca fechou os olhos por um momento, permitindo-se sentir o peso daquele instante. Era como se tudo ao seu redor tivesse desaparecido, deixando apenas ela e Stefano naquele espaço. Impulsionando-se, ela sentou-se sobre a escrivaninha, mantendo as coxas à altura do quadril dele, que perdia-se em beijos e afagos em seus seios. Quando abriu os olhos novamente, encontrou os dele fixos nos seus, e por um breve momento, algo novo brilhou na expressão do chefe da La Stella di Piombo.

Sua mão subiu para tocar o rosto dela, o gesto ao mesmo tempo gentil e possessivo.

— Così forte... così ambiziosa. É exatamente por isso que você pertence ao meu lado.

A mão de Stefano deslizou lentamente pelo pescoço de Bianca, descendo até seu ombro e puxando para baixo a blusa aberta. O toque era calculado, controlado, mas também revelava um desejo que ele não se preocupava em esconder. Bianca sentia cada movimento como se estivesse sendo avaliada, como se ele estivesse reafirmando sua "vitória" sobre ela.

Enquanto ele deslizava seus lábios pelos seios dela com a confiança de um predador capturando sua presa, Bianca deixava seus olhos vagarem por um instante pela escrivaninha.

— Eles são tão quentes e macios — Stefano sussurrou entre os beijos nos bicos rosados.

— Você também… é muito quente — Bianca respondeu, a voz baixa como um gemido.

Stefano, completamente imerso no momento, fechou os olhos enquanto se inclinava para beijá-la na barriga. Bianca aproveitou o instante de vulnerabilidade. Seus dedos envolveram o peso de papel, e em um movimento rápido e preciso, ela levantou o braço e desferiu o golpe com toda a força que tinha.

O impacto foi instantâneo. Stefano tentou se segurar na borda da mesa, mas seu corpo já cedia. Ele caiu no chão com um baque surdo, sem tempo de processar o que havia acontecido. Bianca ficou parada por um instante, o peso de papel ainda em sua mão, o coração batendo acelerado enquanto ela observava Stefano imóvel no chão. Respirou fundo, tentando controlar o tremor em suas mãos. Ela sabia que não tinha muito tempo antes que alguém percebesse que algo estava errado. Com as mãos trêmulas, ela pegou o celular e rapidamente digitou a mensagem que havia planejado com Matteo e Giovanni.

🗨 BIANCA: “Stefano está fora de combate.”

Ela enviou a mensagem e soltou o celular na mesa, os dedos ainda tremendo. Do outro lado, Giovanni recebeu a mensagem. O plano de Matteo, de forjar a morte dele, havia funcionado com perfeição, e a próxima etapa já estava em andamento.

Enquanto Bianca se recompunha, Giovanni dava as ordens pelo rádio. Homens estrategicamente posicionados nos arredores das fábricas de tecido de Stefano aproveitaram a tranquilidade e o relaxamento que a notícia da suposta morte de Dorigatti havia trazido e começaram a agir. Em questão de minutos, incêndios foram iniciados em diferentes locais, enviando colunas de fumaça preta para o céu noturno.

O caos se espalhou rapidamente. Os aliados de Stefano, pegos de surpresa, começaram a reagir, mas a vantagem inicial era dos homens de Giovanni. Cada fábrica que queimava representava um golpe direto na base de poder de Stefano, enfraquecendo sua posição e espalhando confusão entre seus aliados.

De volta ao escritório, Bianca ouviu o som de passos rápidos no corredor. Alguém batia na porta.

— Signore Meazza? Va tutto bene? — A voz do capanga de Stefano era alta e preocupada.

Bianca congelou. Ela sabia que, sem uma resposta de Stefano, os homens lá fora começariam a suspeitar. E foi exatamente o que aconteceu.

— Apri la porta! — o capanga gritou. Quando não houve resposta, ela ouviu o som de algo pesado batendo contra a madeira. Eles estavam tentando arrombar.

Bianca olhou para Stefano, ainda desacordado no chão, e depois para a porta que começava a balançar com os impactos. Ela sabia que estava sem saída. Eles a encontrariam ali, e ela seria considerada culpada pelo que havia feito. Mas, ao invés de se desesperar, Bianca se permitiu um momento de aceitação. Ela sabia que estava jogando com a própria vida desde o início, e, se aquele fosse o seu fim, pelo menos teria se redimido.

Ela olhou para o celular sobre a mesa e murmurou baixinho para si mesma:

— Brucia tutto, Matteo. Brucia tutto.

A porta finalmente cedeu, e os capangas de Stefano invadiram o escritório, armas em punho. Bianca ergueu o queixo, pronta para encarar as consequências.

**********

Sirenes do corpo de bombeiros, polícias e ambulâncias ecoavam por toda a cidade. O céu noturno acima do Vêneto era iluminado por colunas de fumaça negra e chamas que subiam alto, engolindo as fábricas de tecido de Stefano Meazza. O ataque coordenado pelas forças de I Signori del Grappa tinha sido meticulosamente planejado, e a primeira fase da operação havia sido um sucesso devastador. Com a base financeira de Stefano sob ataque e seus homens desorientados, era a hora de Matteo e seu grupo avançarem para o golpe final.

Do lado sul da mansão de Stefano, a sede da temida La Stella di Piombo, Matteo liderava um grupo de homens armados. A mansão era um símbolo de poder e opulência, com altos muros de pedra e uma arquitetura intimidante, mas agora, em meio à confusão, as defesas estavam enfraquecidas. O som de tiros ao longe e gritos de comandos ressoavam na noite, enquanto os homens de Matteo avançavam com cautela.

Matteo segurava firmemente sua ARX160, para combates de curta e média distância. Em seu coldre, uma pistola APX, pronta para emergências. Não havia margem para erros. A vida de Fabíola dependia disso.

— O perímetro está seguro, mas não por muito tempo — informou um dos homens de Matteo, sussurrando enquanto gesticulava para um grupo avançar em direção aos portões laterais.

Matteo assentiu, levantando a mão para sinalizar que o restante da equipe se mantivesse em formação. As sombras eram suas aliadas, e a confusão do ataque às fábricas havia distraído os guardas principais da mansão, mas ele sabia que a reação seria rápida assim que percebessem o verdadeiro alvo.

— Avanzate con cautela — Matteo ordenou, sua voz firme, mas baixa, enquanto apontava para uma pequena entrada lateral menos vigiada.

Dois dos homens se aproximaram silenciosamente, cortando a trava da grade. Matteo observava cada movimento, seus olhos varrendo a área em busca de qualquer sinal de perigo. Quando o portão foi aberto, ele deu o sinal, e o grupo entrou em fila, com armas apontadas e prontos para o combate.

Dentro dos muros da mansão, o pânico e a tensão se instalavam. O jardim, antes bem cuidado, estava quase às escuras, com exceção das luzes ocasionais das janelas do andar superior. O som de passos e vozes ecoava de diferentes direções, indicando que os homens de Stefano estavam em alerta, mas ainda desorganizados.

Matteo ergueu o punho fechado, um sinal para o grupo parar. Ele escutou atentamente, inclinando a cabeça para captar o som de vozes próximas. Pelo menos três homens se aproximavam, falando rapidamente em um tom de urgência.

Ele sinalizou para os dois atiradores à sua frente se posicionarem e abriu a mão, indicando que atirassem assim que o grupo inimigo estivesse no campo de visão. Quando os três guardas apareceram, carregando rifles em prontidão, os tiros cortaram o silêncio como lâminas.

Os disparos foram precisos. Dois dos guardas caíram instantaneamente, enquanto o terceiro tentou retornar à cobertura, mas foi atingido antes de conseguir fugir. O som dos tiros ecoou, o elemento surpresa agora havia acabado.

— Eles sabem que estamos aqui — ele disse, virando-se para o grupo — Movam-se rápido. Precisamos chegar ao interior antes que eles reorganizem as defesas.

Os homens de Matteo avançaram com rapidez, atravessando o jardim e se posicionando perto das entradas principais. As portas da ala sul eram a entrada mais vulnerável, e Matteo precisava aproveitar essa brecha antes que mais reforços chegassem.

Ele ergueu a arma e deu dois tiros precisos na fechadura, quebrando-a e abrindo caminho. O grupo entrou rapidamente, espalhando-se pelo salão principal da mansão, que era decorado com móveis luxuosos e lustres extravagantes.

Dentro, o som dos passos ecoava enquanto Matteo dava ordens com sinais manuais. Ele sabia que Stefano provavelmente estava em seu escritório no andar superior, mas o caminho até lá seria perigoso.

Os primeiros minutos dentro da mansão foram marcados por combates intensos. Guardas leais a Stefano surgiram de diferentes corredores, trocando tiros com os invasores. Matteo liderava com uma calma quase sobre-humana, movendo-se com agilidade entre as colunas e usando os móveis como cobertura.

— Cobertura! — Matteo gritou para um dos seus homens, enquanto ele se abaixava para recarregar o fuzil. Ele virou rapidamente, disparando contra dois inimigos que tentavam avançar por trás.

O som das balas ricocheteando contra as paredes e dos gritos de comando tornava o ambiente caótico. Mas Matteo estava focado. Cada passo que ele dava o aproximava de Fabíola, e ele não podia se permitir hesitar.

Depois de limpar o salão principal, Matteo e seu grupo avançaram para a escadaria. Dois homens foram enviados para verificar os corredores laterais, enquanto Matteo liderava a subida para o andar superior.

No topo da escada, mais guardas surgiram, abrindo fogo em um confronto direto. Matteo se abaixou, disparando rajadas curtas com sua ARX160, enquanto seus homens davam cobertura. Um dos guardas atirou uma granada de fumaça, enchendo o corredor de uma névoa espessa, dificultando a visibilidade.

— Pela direita, rápido! — Matteo ordenou, ajustando seu próprio posicionamento.

Ele trocou o fuzil pela pistola APX, mais ágil para o combate em espaços apertados.

Os disparos continuaram, mas a equipe de Matteo conseguiu avançar gradualmente, eliminando os inimigos restantes. Quando chegaram ao final do corredor, Matteo parou em frente a uma porta dupla ornamentada, o escritório de Stefano.

Matteo respirou fundo, sentindo o peso da arma em suas mãos. Ele sabia que Stefano poderia estar do outro lado da porta, provavelmente com mais guardas, mas ele não tinha escolha. Fabíola estava perto, e ele não recuaria agora.

— Prontos? — ele perguntou, olhando para os homens ao seu lado. Eles assentiram, suas expressões determinadas.

Matteo levantou o pé e chutou a porta com força com surpreendente facilidade, abrindo caminho para o confronto final.

O silêncio que encontrou do outro lado foi desconcertante. O escritório de Stefano estava vazio. A opulência da sala permanecia intacta. Não havia nenhum sinal do chefe da La Stella di Piombo, e a porta por onde entrava havia sinais de já ter sido arrombada.

Matteo girou o corpo, apontando a ARX160 para cada canto da sala, verificando se havia qualquer armadilha. Seus homens entraram logo atrás, armas em punho, vasculhando o ambiente.

— Vazio — disse um deles, a respiração ofegante.

— Onde ele está? — Matteo murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.

A mansão estava sob ataque, e o som de tiros e explosões ao longe indicava que o caos ainda reinava lá fora. Stefano não poderia ter deixado o local sem que ele soubesse.

Matteo aproximou-se da escrivaninha, procurando algo que pudesse dar uma pista sobre o paradeiro de Fabíola ou do próprio Stefano. Seus olhos pousaram no peso de papel que Bianca usara para neutralizá-lo, ainda havia uma pequena mancha de sangue fresco no objeto dourado. Matteo estreitou os olhos. Bianca havia agido. Mas onde ela estava agora?

Em um quarto escuro e abafado em outro andar da mansão, Fabíola ainda estava pendurada pelas cordas, o corpo frágil e exausto. Ela não sabia dizer quanto tempo havia passado, mas a fome e a sede eram agora companheiras implacáveis. Seus lábios estavam rachados, e sua respiração era irregular.

Os sons de tiros e explosões ao longe a acordaram de seu torpor. A esperança surgiu em seu coração, misturada com o medo. Ela sabia que Matteo estava vindo, mas não sabia se ele conseguiria encontrá-la antes que fosse tarde demais.

Suas forças estavam no limite. Ela tentou gritar, mas sua voz era apenas um sussurro rouco. O quarto, iluminado apenas por uma lâmpada fraca, parecia uma cela sem fim. Suplicava em silêncio, os olhos fixos na porta.

— Por favor, Matteo... me encontre.

Então, a porta se abriu com um estrondo. O som fez o coração de Fabíola acelerar, a esperança disparando como um raio em seu peito. “Matteo!”, pensou. Mas, quando os homens armados de Stefano entraram, sua esperança se transformou em desespero.

Eles estavam em três, todos vestindo ternos escuros e com armas em punho. Mas o que chamou a atenção de Fabíola foi a figura que arrastavam atrás deles. Bianca.

Bianca foi jogada no chão como um saco de areia. Seu corpo estava coberto de hematomas visíveis, e havia sangue no canto de sua boca e no supercílio. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, a saia e a blusa que usava estavam rasgadas.

Bianca não reagiu enquanto era arrastada, o rosto escondido por seus cabelos desalinhados. Os homens a chutaram uma última vez antes de saírem do quarto, batendo a porta com força e trancando-a atrás de si.

Fabíola, ainda pendurada, observou com horror enquanto Bianca permanecia imóvel por alguns segundos, o corpo estirado no chão. Mas, para sua surpresa, Bianca se mexeu. Lentamente, como se cada movimento fosse uma luta, ela se virou, revelando um sorriso fraco em seu rosto machucado.

— Fabíola… — Bianca murmurou, a voz quase inaudível.

Fabíola tentou responder, mas sua própria voz estava fraca demais. Ela apenas olhou para Bianca, os olhos cheios de perguntas.

Bianca engoliu em seco, forçando-se a sentar-se no chão, mesmo com visível dificuldade. Seus olhos, apesar do cansaço e da dor, brilhavam com algo que Fabíola não esperava: determinação.

— Ele está vindo te salvar — Bianca sussurrou, com um pequeno sorriso.

Após os sons de tiros e explosões que haviam reverberado pela mansão, a ausência de barulho parecia mais ameaçadora do que o próprio caos. Então, o som de passos ecoou no corredor, lentos e deliberados. Era impossível saber quem estava do outro lado da porta. Bianca e Fabíola trocaram olhares rápidos, ambas tentando esconder o medo crescente.

Uma batida na porta quebrou o silêncio, seguida por uma voz grave.

— Está trancada — disse um homem do outro lado. A voz era firme, mas calma, como se estivesse conversando com alguém próximo a ele.

Bianca, reunindo as poucas forças que lhe restavam, levantou-se e foi até a porta.

— Estamos aqui dentro! — ela gritou, a voz rouca e enfraquecida — Estamos presas!

Por alguns segundos, o silêncio voltou. Fabíola sentiu o coração apertar, temendo que a pessoa do outro lado tivesse ido embora. Mas, então, a voz retornou:

— Afaste-se da porta. Vamos arrombá-la.

Bianca deu dois passos para trás, cambaleando, enquanto olhava para Fabíola.

Um impacto forte fez a madeira da porta estremecer. Outra pancada, e uma rachadura surgiu na moldura. Na terceira investida, a porta se abriu com um estrondo, pedaços de madeira voando pelo chão.

Homens armados entraram, varrendo o quarto com os olhos para garantir que não havia ameaças. Fabíola não conseguiu distinguir as silhuetas.

Então, ele entrou. Matteo.

Seus olhos encontraram os de Fabíola imediatamente, e algo dentro dele quebrou ao vê-la naquele estado. Ele deixou a ARX160 pendurada ao lado do corpo e correu até ela, a preocupação estampada em cada linha de seu rosto.

— Fabíola… — Ele murmurou, a voz falhando enquanto se ajoelhava ao lado dela.

Matteo examinou as cordas que a prendiam, suas mãos trêmulas enquanto procurava a melhor maneira de soltá-la sem machucá-la ainda mais. Fabíola tentou falar, mas as palavras não saíam. Ela estava fraca demais, mas seus olhos brilhavam com lágrimas ao ver Matteo.

— Sono qui — Matteo disse, sua voz trêmula. Ele desfez os nós com cuidado, como se temesse que qualquer movimento brusco pudesse causar mais dor — Vou tirar você daqui. Eu prometo.

Quando os últimos nós foram desfeitos, Fabíola caiu nos braços de Matteo, que a segurou com firmeza. Ela estava fraca, mal conseguindo sustentar o próprio peso, mas o calor e a força do abraço dele eram suficientes para fazê-la se sentir segura pela primeira vez em dias. Matteo enterrou o rosto nos cabelos de Fabíola, e ela podia sentir as lágrimas dele escorrendo por sua pele.

— Eu sinto muito — ele sussurrou, a voz quebrada pela emoção — Eu deveria ter protegido você. Nunca deveria ter deixado você passar por isso.

Fabíola tentou responder, mas sua voz saiu como um sussurro quase inaudível.

— Sei venuto… é isso que importa.

Ele se afastou ligeiramente, apenas o suficiente para olhar nos olhos dela.

— Eu vou cuidar de você — ele prometeu, o tom firme — Nada mais vai te machucar. Nada.

Fabíola assentiu fracamente, permitindo-se confiar naquelas palavras.

Enquanto Matteo cuidava de Fabíola, Bianca se encostava à parede, observando a cena com um sorriso cansado. Suas mãos ainda tremiam, e seu corpo doía em cada centímetro, mas havia algo de gratificante em ver que seu sacrifício não havia sido em vão.

Matteo finalmente olhou para ela, a gratidão brilhando em seus olhos.

— Bianca — ele disse, com a voz cheia de significado.

**********

Os dias após a invasão à mansão de Stefano Meazza foram marcados por incertezas. Apesar do ataque bem-sucedido e da destruição de boa parte da estrutura de La Stella di Piombo, Stefano continuava desaparecido. Sua ausência deixava uma sombra pairando sobre o Vêneto. Seus homens, embora desorganizados, começavam a retomar atividades ilícitas nas áreas controladas pela máfia. Era evidente que o poder de Stefano ainda exercia influência, mesmo que ele não estivesse presente.

Enquanto isso, na propriedade de Giovanni Dorigatti, o clima era igualmente tenso. A invasão à mansão de Stefano havia fortalecido a posição de Matteo, que agora era visto como um líder emergente por aqueles que seguiam Giovanni. Mas Matteo não havia saído daquela batalha sem cicatrizes. Fabíola estava em processo de recuperação, e a lembrança dela naquele estado ainda o assombrava. Ele estava determinado a garantir que nada parecido acontecesse novamente, não com Fabíola, não com sua família.

E isso começava com uma reunião.

O escritório de Giovanni Dorigatti, com suas estantes de livros antigos, móveis de madeira maciça e homens posicionados na porta, era o palco da reunião que mudaria o futuro de I Signori del Grappa.

Giovanni estava sentado atrás de sua imponente escrivaninha, mas, pela primeira vez em anos, parecia desconfortável. Suas mãos repousavam sobre a mesa, mas os dedos tamborilavam levemente, denunciando seu nervosismo. Matteo estava sentado em frente a ele, com uma postura que exalava confiança. O prestígio que ele adquirira após liderar o ataque à mansão de Stefano era inegável, e isso parecia pesar sobre Giovanni.

Bianca estava ao lado de Matteo, em pé, com os braços cruzados. Apesar dos hematomas que ainda marcavam sua pele, sua presença era forte.

— Giovanni — Matteo começou, sua voz firme — A invasão à mansão de Stefano foi um sucesso. Destruímos boa parte da estrutura dele e recuperamos Fabíola, mas não foi sem custos.

Giovanni inclinou-se para frente, os olhos estreitos.

— Você quer dizer os custos de guerra? Todos nós tivemos perdas, Matteo. Não foi apenas você.

Matteo sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos.

— Não estou falando apenas da guerra, Giovanni. Estou falando da negligência que levou minha família a ser alvo de Stefano. Estou falando da destruição da minha lavoura. Da segurança que você me prometeu e que nunca foi cumprida.

Giovanni apertou os lábios, mas não respondeu imediatamente. Matteo continuou.

— Eu coloquei minha vida em risco. Coloquei tudo em risco para enfrentar Stefano. E agora, vejo que I Signori del Grappa está enfraquecida, sem direção e sem capacidade de se proteger, muito menos proteger seus aliados.

— E o que você sugere, Matteo? — Giovanni perguntou, tentando manter o tom firme, mas havia um toque de inquietação em sua voz.

Matteo inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos braços da cadeira e cruzando as mãos. Seus olhos encontraram os de Giovanni com uma intensidade que fez o velho mafioso desviar o olhar por um breve momento.

— Eu sugiro que você entregue o comando de I Signori del Grappa para mim — Matteo disse, a voz calma, mas carregada de autoridade.

O impacto das palavras de Matteo foi instantâneo. Giovanni endireitou-se na cadeira, os olhos arregalados.

— Che cosa?

— Você ouviu — Matteo respondeu — Eu quero o controle total da organização. A partir de agora, I Signori del Grappa será minha.

Giovanni bateu a mão na mesa, o som ecoando pela sala.

— Você perdeu o juízo, Matteo? Os Dorigatti construíram essa organização há mais de 70 anos! Ela é minha!

— E onde ela está agora? — Matteo retrucou, levantando-se de sua cadeira. Ele começou a andar pela sala, gesticulando enquanto falava — Sua organização está em ruínas. Você perdeu aliados, perdeu territórios, perdeu respeito. Stefano estava à beira de destruir tudo o que você construiu, e eu fui o único que fez algo para impedi-lo. Eu salvei a sua organização.

— E por isso você acha que pode tomá-la de mim? — Giovanni perguntou, a voz carregada de indignação.

— Eu não estou tomando nada — Matteo disse, parando e virando-se para Giovanni — Eu estou garantindo que ela sobreviva. Você sabe que não tem mais o que oferecer, Giovanni. Não tem recursos, não tem força. Mas eu tenho. Tenho homens… seus homens. E tenho a visão que você perdeu há muito tempo.

Antes que Giovanni pudesse responder, Bianca deu um passo à frente.

— Ele está certo, papà.

Giovanni olhou para ela, chocado.

— O que você está dizendo, Bianca?

— Estou dizendo que Matteo é o líder que precisamos — ela continuou, sua voz firme — Eu vi o que ele fez. Ele salvou Fabíola. Ele enfrentou Stefano. Ele é o único que pode liderar I Signori del Grappa para um futuro que não seja a destruição total.

— Você está me traindo agora? — Giovanni perguntou, a voz cheia de incredulidade.

— Não é traição, papà — Bianca respondeu, a expressão séria — É sobrevivência.

Giovanni passou a mão pelo rosto, exalando lentamente. Ele parecia mais velho naquele momento, como se a pressão dos últimos dias tivesse finalmente quebrado algo dentro dele.

O silêncio que caiu na sala era denso. Matteo observava Giovanni com paciência, mas sua postura deixava claro que não havia espaço para negociações. Bianca permanecia ao lado dele, o olhar fixo no pai.

Finalmente, Giovanni levantou a cabeça, os olhos encontrando os de Matteo.

— E o que acontece comigo? — ele perguntou, a voz mais baixa agora.

— Você se aposenta — Matteo respondeu — Eu cuidarei para que você tenha tudo o que precisa. Sua segurança será garantida. Mas o comando será meu.

Giovanni ficou em silêncio por mais alguns momentos, antes de finalmente suspirar.

— Você está certo — ele disse, com relutância — Eu perdi o controle. E, talvez, você seja o único que pode salvar o que resta.

Matteo assentiu, sua expressão séria. Ele sabia que Giovanni não estava feliz com a decisão, mas também sabia que era a única escolha possível.

Bianca colocou a mão no ombro de Giovanni, como se estivesse tentando oferecer algum consolo.

— É o melhor para todos nós, papà.

Giovanni não respondeu. Ele apenas olhou para Matteo e assentiu levemente, aceitando o que havia sido decidido.

Com a decisão tomada, Matteo sentiu um peso ser aliviado de seus ombros. Ele sabia que o trabalho estava apenas começando, mas, pela primeira vez, sentia que tinha o controle necessário para proteger aqueles que amava.

Enquanto saía do escritório, Bianca ao seu lado, Matteo olhou para o horizonte. O futuro ainda era incerto, mas ele estava pronto para enfrentá-lo. I Signori del Grappa tinha um novo líder, e, com ele, um novo destino.

**********

Os primeiros raios de sol banhavam as colinas do Vêneto, refletindo em tons dourados nas vinhas que sobreviviam à devastação. Apesar da praga que assolara boa parte da lavoura, a beleza da paisagem ao redor da propriedade Colline Marcarini permanecia imaculada. Era um novo dia, e, com ele, um novo capítulo para a família Marcarini e I Signori del Grappa.

O escritório principal da fazenda, que outrora fora o centro das decisões familiares, agora servia como sede da máfia. Matteo havia transferido todas as operações da organização para a propriedade, simbolizando uma nova era. A escolha não foi apenas estratégica, a Colline Marcarini representava o legado da família, e Matteo acreditava que seria o local ideal para construir algo que combinasse tradição, segurança e renovação.

No entanto, a tarefa de reconstruir tudo o que fora perdido era monumental. A praga que devastara a lavoura significava que não haveria colheita naquele ano, o que colocava o futuro do negócio de vinhos em risco. Mas, naquela manhã, enquanto o sol se erguia, Matteo, Fabíola e Bianca estavam reunidos no escritório, discutindo como transformar aquele desafio em uma oportunidade.

Fabíola estava sentada no sofá próximo à grande janela do escritório, olhando para os vinhedos ao longe. Sua recuperação física estava completa, mas o peso emocional de tudo o que havia acontecido ainda pairava sobre ela. Apesar disso, Fabíola demonstrava uma força renovada, um espírito combativo que Matteo não via desde os primeiros dias de sua chegada à Itália.

— Tenho o dinheiro do meu divórcio com Rodrigo. É suficiente para financiar a recuperação inicial da fazenda. Podemos comprar mudas de qualidade, contratar especialistas para garantir que a praga não volte e investir na modernização da produção.

— Fabíola, você não precisa fazer isso — Matteo respondeu, o tom grave — Esse dinheiro é seu. É o que você tem para recomeçar sua vida.

— E recomeçar minha vida significa estar aqui, com você, Matteo — ela disse, a voz firme.

Ele ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela. Havia algo em Fabíola que o deixava sem palavras, algo que ia além de sua beleza ou determinação. Era sua coragem, sua disposição de enfrentar desafios de frente.

Bianca, que estava sentada em uma poltrona ao lado da escrivaninha, observava a interação entre os dois com um pequeno sorriso.

— E se formos além? — ela sugeriu.

Os olhares de Matteo e Fabíola se voltaram para ela.

— Além de recuperar a lavoura, podemos reestruturar toda a operação de I Signori del Grappa — Bianca continuou — Abandonar as atividades ilícitas e transformar a organização em algo legítimo. Podemos oferecer segurança para propriedades rurais em toda a região. Conhecemos os riscos que essas propriedades enfrentam, pragas, sabotagem, ataques de mafiosos como Stefano. Quem melhor para proteger essas terras do que nós?

Fabíola franziu a testa, considerando a ideia.

— Você está sugerindo que I Signori del Grappa se torne uma espécie de empresa de segurança?

— Exatamente — Bianca respondeu — Ainda manteríamos nossa força e organização, mas operaríamos dentro da lei. Seríamos indispensáveis para os vinicultores e fazendeiros da região, e, com o tempo, poderíamos expandir para outras áreas.

Matteo esfregou o queixo, refletindo sobre o que Bianca dissera. A ideia era ousada, mas fazia sentido. Depois de tudo o que havia acontecido, ele sabia que o antigo modelo de I Signori del Grappa estava insustentável. Abandonar as atividades ilícitas seria uma maneira de reconstruir a reputação da organização e garantir sua sobrevivência a longo prazo.

— É um risco — Matteo disse finalmente, olhando para Bianca — Mas talvez seja exatamente o que precisamos.

A discussão continuou por mais algumas horas, com os três elaborando planos e estratégias. A atmosfera no escritório, que no início da manhã era tensa e incerta, agora estava carregada de esperança. Havia um senso de propósito compartilhado entre eles, uma determinação de transformar a tragédia em oportunidade.

Finalmente, Bianca levantou-se e caminhou até o pequeno bar no canto da sala. Ela abriu uma garrafa de vinho, um Marcarini Classic Tinto, uma das últimas remanescentes antes da destruição da lavoura. Ela pegou três taças e as encheu, voltando para entregá-las a Matteo e Fabíola.

— Um brinde — Bianca começou, erguendo sua taça — a um futuro próspero para a família Marcarini e I Signori del Grappa. Que possamos crescer juntos e deixar para trás tudo o que nos destruiu.

Matteo e Fabíola ergueram suas taças, seus olhares se encontrando por um momento antes de voltarem para Bianca.

— A família sempre vem primeiro — Matteo disse, a voz firme.

Fabíola sorriu, seus olhos brilhando com emoção.

— E juntos, podemos superar qualquer coisa.

As taças se chocaram levemente, o som suave ecoando pelo escritório. Cada um deles tomou um gole do vinho, saboreando o sabor rico e encorpado. Era um lembrete do que haviam perdido, mas também do que poderiam reconquistar. A proximidade entre eles era um laço forjado pelo sofrimento e pela determinação.

Matteo olhava para Fabíola e Bianca, sentindo um misto de orgulho e gratidão. Ambas haviam passado por tanto, mas continuavam firmes, dispostas a lutar por um futuro melhor. Ele sabia que não poderia ter feito nada disso sem elas.

Fabíola, sentada ao lado dele, colocou a mão sobre a dele, um gesto silencioso, mas carregado de significado. Matteo olhou para ela, sentindo o calor daquele toque. Bianca observava a cena com um pequeno sorriso, mas havia algo em seu olhar que sugeria mais do que simples satisfação.

— Estamos juntos nessa — Bianca disse finalmente, quebrando o silêncio.

— Sim, estamos — Matteo respondeu, olhando para ambas.

O sol havia desaparecido no horizonte, deixando para trás um céu tingido de tons alaranjados e roxos, enquanto a noite começava a cair sobre as colinas do Vêneto. O escritório, iluminado agora por uma única lâmpada de mesa e o brilho sutil da lareira, parecia ainda mais íntimo.

O vinho na garrafa já estava quase no fim, e os efeitos do álcool começavam a se manifestar. Fabíola estava mais desinibida, rindo suavemente enquanto conversava com Matteo, o corpo mais relaxado do que ele jamais havia visto desde sua chegada à Itália. Matteo também parecia diferente: os ombros, que normalmente carregavam o peso do mundo, estavam mais soltos, e seu sorriso era mais frequente, quase despreocupado.

Bianca, sentada ao lado deles, observava a cena em silêncio. O calor da lareira refletia em seus olhos azuis, mas o brilho natural que costumava estar ali parecia ausente. Ela via a proximidade crescente entre Fabíola e Matteo, o modo como as mãos deles se tocavam casualmente, os olhares trocados que carregavam algo mais profundo do que simples afeto.

Cada gesto entre os dois era como um pequeno aperto no peito de Bianca. Ela ainda tinha sentimentos por Matteo, embora não tocasse no assunto desde a reviravolta em suas vidas. Era algo que ela tentava ignorar, mas, naquele momento, com o vinho turvando sua razão e a intimidade deles se tornando impossível de ignorar, a dor parecia mais evidente.

Bianca desviou o olhar, tentando não encarar a cumplicidade entre os dois. Ela sabia que sua presença ali começava a parecer deslocada, como se fosse uma intrusa em algo que não a incluía. Ela se levantou lentamente, colocando a taça de vinho sobre a mesa e ajeitando o vestido tubinho que se moldava ao seu corpo esguio.

— Acho que já é hora de eu me retirar — disse ela, a voz controlada, mas com um tom que traía o desconforto.

Fabíola e Matteo pararam de conversar e olharam para Bianca. Fabíola percebeu imediatamente a mudança de humor dela, mas foi Matteo quem falou primeiro.

— Bianca, aspetta — disse ele, a voz baixa, mas cheia de significado.

Bianca parou, as costas ainda voltadas para os dois.

— O que foi? — ela perguntou, tentando soar casual.

— Não vá — Matteo disse, levantando-se da cadeira.

Seu tom não era uma súplica, mas um pedido firme, como se houvesse algo importante que ele ainda não havia dito. Bianca virou-se lentamente, os olhos azuis encontrando os dele. Havia algo diferente no olhar de Matteo. Ele não parecia apenas pedir que ela ficasse, havia uma intensidade ali, uma intenção que a fez hesitar.

Fabíola, ainda sentada, olhou para Matteo e depois para Bianca, e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. O vinho fazia sua mente girar com uma coragem que talvez ela não tivesse em outra ocasião. Sem dizer nada, ela estendeu a mão para Bianca, convidando-a a se aproximar.

— Fique — Fabíola disse, sua voz suave, mas carregada de algo que Bianca não conseguia decifrar completamente.

Bianca deu alguns passos hesitantes em direção a eles, seus olhos alternando entre Matteo e Fabíola. Havia algo no ar que a deixava inquieta, uma tensão palpável, mas não ameaçadora. Era como se ela estivesse sendo atraída para um espaço onde as regras não eram claras, mas onde ela também não se sentia totalmente indesejada.

Matteo deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre ele e Bianca. Ele estendeu a mão, tocando levemente o braço dela, um gesto simples, mas que carregava um peso emocional.

— Você não está sobrando aqui, Bianca — Matteo disse, como se tivesse lido os pensamentos dela — Você é parte disso. Parte de nós.

Bianca sentiu seu coração acelerar. “Parte de nós”. As palavras ressoaram em sua mente, confusas e tentadoras ao mesmo tempo. Ela olhou para Fabíola, procurando alguma pista na expressão dela, e o que encontrou a surpreendeu: Fabíola a olhava com o mesmo calor que dirigia a Matteo, um olhar que não era de posse, mas de inclusão.

— Eu não sei o que vocês querem dizer… — Bianca começou, mas sua voz falhou no meio da frase.

Fabíola se levantou, caminhando até ela e pegando sua mão.

— Queremos dizer que você não precisa se sentir sozinha — Fabíola disse, a voz tão gentil que Bianca sentiu um nó se formar em sua garganta — Estamos juntos nisso. Matteo, eu… e você.

Matteo assentiu, aproximando-se das duas, suas mãos pousando levemente nos ombros dela, o calor das mãos dele e o toque suave de Fabíola em sua mão. A proximidade entre os três era quase sufocante, mas, ao mesmo tempo, havia algo incrivelmente reconfortante ali.

Ela fechou os olhos por um momento, permitindo-se sentir a presença deles, o peso emocional do momento. Quando abriu os olhos novamente, encontrou os de Matteo, que brilhavam com uma intensidade que ela não conseguia desviar.

Fabíola, ao lado dela, apertou sua mão levemente.

— Estamos começando algo novo, Bianca — ela disse — E queremos que você faça parte disso.

Bianca sentiu as lágrimas surgirem em seus olhos, mas não era tristeza, era alívio. Alívio por finalmente sentir que havia encontrado seu lugar.

Matteo sorriu, um sorriso genuíno que iluminou seu rosto. Ele se inclinou levemente, pressionando sua testa contra a de Bianca por um breve momento, enquanto Fabíola envolvia ambos com um abraço leve. O clima no escritório parecia mudar. A proximidade entre eles gerava uma tensão que nenhum dos três sabia como explicar ou resolver.

Bianca, ainda com os olhos marejados, deu um pequeno sorriso.

— Acho que esse vinho nos deixou sentimentais demais.

Fabíola riu suavemente.

— Talvez — ela respondeu — Ou talvez tenha apenas nos deixado mais honestos.

Matteo sorriu, e o silêncio que seguiu pareceu ainda mais carregado do que antes. Ele estendeu a mão, tocando o rosto de Fabíola com delicadeza enquanto ela se sentava sobre a escrivaninha envolvendo os quadris dele com as pernas.

Seus lábios se uniram em movimentos urgentes, enquanto ela abria a camisa de Matteo, exibindo o relevo de seu torso, onde se projetava uma pequena faixa de pelos que desciam do umbigo e desapareciam dentro da calça. Ele, tensionando os braços para trás, deixou a camisa aberta escorregar para o chão.

Bianca observava a cena, e, embora sua mente gritasse que ela deveria sair, seu corpo permanecia enraizado no lugar. Ela sentia seu próprio coração acelerar, e um calor familiar subia por sua pele. Era um misto de fascinação e desconforto, ela não sabia como processar o que estava vendo, mas também não conseguia desviar o olhar.

Fabíola, por sua vez, estava imensa naquele momento, sua mente a puxava inexoravelmente para ele. Ela fechou os olhos por um momento, permitindo-se sentir a conexão entre eles, a musculatura vaginal tensionando e se esticando para acomodar o membro rígido que a invadia.

— Ah… Cazzo!

Matteo inclinou-se, suas mãos firmes, mas gentis, segurando-a pelos quadris enquanto intensificava o ritmo das estocadas. Fabíola gemia a cada onda de calor que atingia seu corpo, seus dedos cravando na madeira do móvel enquanto seus olhos fixam nos de seu primo, vendo neles o desejo incontrolável e ardente aumentando. Ela inclinou a cabeça para trás entregando-se completamente.

Bianca sentiu seu coração pesar, mas havia também algo mais. O aperto no peito misturava-se com outra emoção, uma que ela relutava em reconhecer. Ela cruzou os braços novamente, como se estivesse tentando se proteger de algo que estava se formando dentro dela.

Quando Matteo levantou os olhos para Bianca, o que ele viu a surpreendeu. Não era raiva ou desconforto. Era algo mais profundo, mais vulnerável. Ele estendeu a mão para ela, o olhar suave, mas carregado de intenções.

— Bianca — ele disse, o tom baixo, mas firme.

Ela hesitou, mas o olhar de Fabíola a fez parar. Não era um olhar de julgamento ou rejeição. Era um convite.

Matteo estendeu sua mão, segurando pelo queixo a atraindo ela para mais perto sem perder o ritmo. A troca de olhares era intensa e hipnótica. Mesmo sem ele ter dito nada, Bianca sabia exatamente o que ele queria, permitindo ser atraída pelo magnetismo e unindo seus lábios em uma conexão cada vez mais ousada. Suas mãos delicadas, percorriam o torso dele, sentindo a firmeza de seus músculos. Enquanto ajoelhava, Bianca puxou o restante da calça até os tornozelos, contemplando de perto os movimentos à entrada da boceta de Fabíola, que escorria de forma abundante.

A troca de olhares entre eles parecia estender o tempo, como se o mundo ao redor tivesse parado. A chama da lareira dançava ao fundo, lançando sombras que pareciam refletir o turbilhão de emoções que tomava conta da sala. Mateo estabelecia um encaixe perfeito de suas emoções, uma nova aliança entre eles.

Fabíola envolveu os braços ao redor de Matteo, puxando-o para mais perto, contendo o grito que àquela altura do tesão, toda a villa ouviria. Seu corpo se movia com urgência, arqueando à medida que as ondas de calor a atingiam.

— Ah, Matteo…

Ele rugiu intensificando as estocadas, movido pela excitação crescente despertada pela visão luxuriosa do corpo suado dela, seus olhos suplicantes pela promessa do clímax, os seios fartos, macios e quentes que balançavam ao ritmo de seus movimentos, a pele macia eriçando pelo tesão que ardia em seu corpo e os longos cabelos negros que brilhavam ao se mover.

Os gemidos enchiam o escritório enquanto o calor íntimo os envolvia, levando-os ao ápice do prazer. A tensão dos últimos dias e as preocupações do mundo exterior desapareceram, substituídas por uma intimidade intensa.

Para Matteo, a noite ainda não havia acabado. Sentiu o corpo nu de Bianca que o abraçava por trás, movendo seus lábios quentes pelos ombros dele enquanto aguardava sua vez.

Matteo, com reverência, a conduziu pela mão até a escrivaninha, colocando-a de bruços ao lado de Fabíola que arfava, ainda sentindo a energia se dissipando de seu corpo e os espasmos involuntários de suas pernas.

Ele segurou os quadris de Bianca com firmeza, seus dedos deslizando pela sua cintura e apertando levemente, como se quisesse mantê-la fixa no lugar ante a intensidade dos movimentos que se seguiram. Seus lábios exploravam o pescoço dela com beijos que suaves que desciam lentamente, deixando um rastro de fogo e arrepio por onde passavam.

Bianca arqueou as costas instintivamente, os músculos glúteos, tensionando-se ao sentir o membro comprido e grosso de Matteo abrindo caminho dentro dela. A sensação era quase esmagadora, um misto de eletricidade e calor que fazia seu corpo responder com ondas de prazer. Seus dedos agarraram-se à borda da escrivaninha, enquanto seus gemidos vacilavam.

— Fottimi, Matteo…

Ele a puxou para mais perto, os corpos colidindo com uma urgência que deixava claro quem estava no comando. Deslizou uma mão para a base das costas dela, segurando-a firme enquanto aumentava o ritmo de seus movimentos.

Bianca, completamente entregue ao momento e incapaz de conter os pequenos suspiros e gemidos que escapavam de seus lábios, ergueu o quadril, ficando na ponta dos pés, oferecendo o máximo de si. O calor crescia, assim como a intensidade, e o movimentos cada vez mais agressivos a projetava em solavancos sobre o móvel.

Bianca lançou um olhar sensual por cima do ombro, como se o desafiasse a fodê-la com mais força. Matteu intensificou as estocadas, inclinando-se sobre ela enquanto entrelaçar seus dedos nos cabelos loiros dela. Bianca sentiu seu corpo se enrijecer e os gemidos tornando-se mais agudos. Sua respiração mais superficial e descompassada até finalmente as ondas de energia que surgiam de seu ventre explodirem.

Matteo continuou enquanto Bianca ainda estava imersa em seu primeiro orgasmo, seus movimentos truculentos guiando-a para outro clímax, ainda mais arrebatador. Ela gritou seu nome, seus dedos cravando-se na na madeira enquanto seu corpo tremia.

Matteo finalmente alcançou seu próprio orgasmo com jatos abundantes dentro dela, ofegante, inclinando-se sobre a curva das costas de Bianca enquanto seus movimentos desaceleravam. Ambos permaneceram imóveis por um momento, seus corpos ainda entrelaçados, enquanto tentavam recuperar o fôlego.

Fabíola, por sua vez, sentia-se em paz pela primeira vez em muito tempo. Mesmo em meio à tensão, havia uma sensação de pertencimento, de que aquele momento era exatamente onde ela deveria estar.

E Bianca... Bianca, que passara tanto tempo lutando contra seus próprios sentimentos e erros, sentia como se finalmente estivesse encontrando algo da qual pudesse fazer parte, sem julgamento, sem culpa.

Quando o momento passou, o silêncio na sala era diferente de qualquer outro que já haviam experimentado. Não havia desconforto, apenas compreensão. Algo havia mudado entre eles, algo que nenhum deles conseguia descrever, mas que todos entendiam de alguma forma.

Matteo olhou para Fabíola e Bianca, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

Fabíola sorriu de volta, enquanto Bianca, pela primeira vez naquela noite, permitiu-se relaxar completamente. A noite ainda era uma criança, mas todos sabiam que aquele era o início de algo novo.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 18 estrelas.
Incentive Fabio N.M a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 115Seguidores: 148Seguindo: 42Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

Comentários

Foto de perfil de Beto Liberal

Fenomenal

Um romance de ação envolvendo a máfia, que nos deixa tenso o tempo todo

Confesso que na segunda parte, até "pulei" o trecho mais íntimo e erótico, interessado que estava no desenrolar da história.

Esse final, unindo as famílias num triângulo amoroso, e a pronta de um tesão poderoso, foi magnífico

1 0
Foto de perfil de Leon-Medrado

Fabio, excelente terceira parte, completando esta história vertiginosa cheia de histórias do passado, tradições, emoções do presente, ressentimentos, ódios alimentados por personagens densos e intensos, e paixões fervendo como lava incandescente no seio do Vesúvio. Personagens vivendo momentos cruciais de suas vidas. Tem um belo romance romântico, mais do que conto erótico, mas terminou de forma magistral triangulando os personagens chave numa relação de forma muito liberal. Parabéns. Muito bem escrita, e muito bem narrada, ao mesmo tempo, enxuta e intensa. Nota máxima com louvor.

1 0