Se tudo fosse tão simples e fácil, se a dor não voltasse com tanta rapidez, assumindo a liderança dos sentimentos e o fazendo fraquejar … se a coragem fosse um motor de propulsão para um coração confuso e ferido, dois meses não teriam se passado sem que Celo voltasse para casa e para sua vida. Organizar os pensamentos, lidar com sentimentos conflituosos, o deixava estagnado.
Paul resolveu agir e dar a Mari e a Celo a chance de se encontrarem novamente. Ele se sentia em dívida com o casal e moveu céus e terra para encontrar Celo.
Continuando:
Parte 15: “Nas Noites, Nos Bares, Onde Anda Você”.
Com o apoio da filha, que cuidou dela naquela noite, Mari dormiu bem. Mesmo ainda triste, preocupada com seu casamento, sentindo falta do marido, acordou bem-disposta e precisava agradecer a Luciana, sua terapeuta e amiga.
Mari chegou ao consultório com café nas mãos e uma expressão um pouco mais serena do que no dia anterior. Não havia sessão marcada, mas Luciana a aguardava com um sorriso acolhedor.
— Bom dia, Mari. Veio me fazer companhia pro café? — A Dra. Luciana brincou, apontando para a bebida.
Mari riu baixinho e se sentou na poltrona.
— Achei que era melhor vir aqui do que passar mais uma manhã perdida em pensamentos.
— Eu gosto disso. Tomar a iniciativa é sempre um bom sinal. — Luciana cruzou as pernas e se inclinou para frente, como se o consultório tivesse se transformado na sala de estar de uma velha amiga.
— Passei a noite pensando em tudo o que falamos ontem. — Mari começou mexendo o copo. — E percebi que, por muito tempo, fiquei carregando uma culpa que não era minha.
Mari deu gole lento na bebida, pensando no que dizer a seguir.
— Mas ... ainda sinto dificuldade em entender como seguir em frente sem deixar as mágoas me travarem.
Luciana a observou com um olhar firme, mas compassivo.
— Mari, nunca seja prisioneira do seu passado. Foi apenas uma lição, não uma sentença de prisão perpétua. Você precisa começar a ver os erros e as dores como partes do que te tornou quem você é. Eles te moldam, mas não te definem.
Mari respirou fundo e assentiu.
— Faz sentido, mas, às vezes, eu sinto que faço demais pelos outros. E quando eu erro ou acontece algo que me deixa vulnerável, é como se ninguém estivesse lá por mim.
— Provavelmente, você se sinta assim por ter o hábito de fazer até a parte que não é sua, Mari. — Luciana ergueu a sobrancelha, enfatizando o ponto. — É preciso aprender a dizer “não”, de vez em quando. Faça tudo pelo próximo, menos a parte dele. Se você sempre se anular, as pessoas vão achar que é obrigação sua carregar o mundo nas costas.
— Mas se eu não fizer, quem vai fazer? — Mari rebateu, com um tom meio defensivo, meio inseguro.
— Não existe pessoa certa, Mari. Existe quem quer fazer dar certo. Se você é sempre a que se esforça e nunca recebe reciprocidade, não está lidando com as pessoas certas. Mas, me parece que essa não é a situação agora, certo? — Luciana explicou.
— Acho que eu sempre fiz muito por todos e pouco para quem mais me importava. — Mari concluiu.
— Exato. — Concordou Luciana
Mari ficou em silêncio por um momento, deixando as palavras penetrarem.
— É difícil pensar em mim mesma sem sentir que estou sendo egoísta.
— Se colocar como prioridade não é egoísmo, é amor-próprio. E lembre-se disso: não seja a conveniência de ninguém, seja a importância, ou não seja nada. Se você só é procurada quando é conveniente, essas relações não valem o seu tempo. Contudo, o contrário também é verdade: você tem que retribuir com importância a uma pessoa que te considera importante.
Mari soltou um suspiro, como se finalmente algo tivesse feito sentido.
— Eu sei que você está certa. Só preciso encontrar a coragem de viver isso.
Luciana sorriu e segurou a mão de Mari por um instante.
— E você vai. Porque, lá no fundo, você já sabe o que merece, só está aprendendo a reivindicar. Quando você começar a fazer isso, vai se surpreender com o quanto a vida pode mudar.
Mari sorriu de volta, sentindo que, pela primeira vez em muito tempo, tinha uma faísca de esperança. Após uma risada curta, Mari olhou desconfiada para Luciana.
— Psicologia reversa? Pra cima de mim? — Ela balançou a cabeça. — Celo é tudo o que você descreveu, e mais um pouco. Ele é a pessoa certa. Sempre foi.
Luciana arqueou as sobrancelhas, deixando um sorriso leve escapar.
— Que bom que entendeu. Mesmo que não fosse a minha intenção. Eu conheço o Celo muito pouco, Mari. Mas fico feliz por ter lhe ajudado a enxergar.
Mari apoiou o rosto nas mãos, pensativa.
— O problema não é o que eu sinto por ele. Isso nunca mudou, nem mesmo quando tudo ficou confuso. O problema é ... e se eu não for mais a pessoa certa para ele? E se ele já desistiu de nós?
Luciana segurou o olhar de Mari, serena.
— E se ele não tiver desistido? Você só vai saber se parar de supor e começar a agir. O que está em jogo aqui não é o que você era para ele antes, mas quem você quer ser, daqui pra frente. Não se deixe consumir por esses “e se”. Você já se perdeu neles antes.
— E se ele não me der outra chance? — Mari resmungou, quase como se estivesse com medo de dizer aquilo em voz alta.
— Mais uma vez “e se” ... Se ele não te der outra chance, você vai saber que tentou com tudo o que tinha. Mas, se o que você me disse sobre ele for verdade, e se ele sente por você o mesmo que você sente por ele... então é mais do que possível que ele também esteja esperando por isso. O amor não é perfeição, Mari, é persistência.
Mari olhou para o lado, absorvendo cada palavra.
— Eu só quero continuar a ser importante para ele. Não quero me tornar uma conveniência.
— E não será. — Luciana respondeu com firmeza. — Porque você está começando a entender o que vale a pena. Lembra do que eu disse? Não seja a conveniência de ninguém, Mari. Seja a importância, ou não seja nada.
Mari concordou, fazendo um sinal afirmativo com a cabeça.
— Se Celo é tudo isso para você, então mostre a ele quem você é hoje, com todos os aprendizados e as dores que te transformaram. Pare de fugir disso. — Luciana concluiu.
Mari sorriu, ainda tímida, mas com uma ponta de determinação no olhar.
— Você tem razão. Preciso fazer a minha parte. Parar de me esconder por medo de falhar.
Luciana concordou, inclinando-se para a frente.
— E lembre-se, Mari: existe quem quer fazer dar certo. E, pelo que vejo, você quer. Só falta mostrar a ele o quanto.
Mari respirou fundo, sentindo o peso em seu peito se transformar em uma mistura de ansiedade e esperança.
— Obrigada, amiga. Você sabe como me colocar no eixo.
— Para isso servem as amigas terapeutas. — Luciana sorriu, se levantando para dar um abraço em Mari. — Agora vai. Encontre o Celo e faça o que você precisa fazer.
{…}
O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo a pequena cidade com tons alaranjados. O cheiro de pão fresco vindo da padaria próxima misturava-se ao ar úmido das ruas estreitas. Celo caminhava com as mãos nos bolsos do casaco surrado, os pensamentos tão emaranhados quanto as árvores que sombreavam as calçadas. Ainda ouvia as palavras do dono do bar ressoarem em sua mente, mas a confusão permanecia.
Ele se deteve na ponte de madeira sobre o riacho que cortava a cidade. A água cristalina corria lentamente, em um ritmo que parecia zombar da pressa e do tumulto em sua mente. Enquanto observava o fluxo sereno, ouviu uma voz feminina chamando:
— Celo?
Ele se virou lentamente. Era uma das mulheres da primeira noite, a de cabelo loiro e sorriso insistente. Ele tentou disfarçar o incômodo, mas ela parecia determinada.
— Oi … Você deve lembrar de mim. Eu sou a Júlia. — Ela sorriu, tímida. — Eu só queria … me desculpar de novo por aquela noite. Não sabia que você era casado, de verdade.
Celo respirou fundo, desviando o olhar.
— Tá tudo bem. Não foi culpa sua.
— Você tem certeza? Porque eu me senti péssima depois … Eu só estava tentando me divertir. — Ela hesitou, mas continuou: — Você parecia tão perdido, sabe?
Ele balançou a cabeça, soltando um riso amargo.
— Perdido é pouco.
Ela se aproximou, apoiando-se no corrimão da ponte ao lado dele.
— Eu sei que não é da minha conta, mas … às vezes ajuda, falar com alguém que não tem nada a ver com a situação.
Celo olhou para ela por um instante, como se considerasse a ideia. Seu Zé tinha usado o mesmo argumento para tirar alguma informação dele.
— Eu não consigo entender por que me sinto assim — Celo começou, hesitante. — Não sei por que isso me incomoda tanto … ou porque me sinto traído.
Júlia arregalou os olhos, curiosa.
— Traído?
Ele assentiu, olhando para a água.
— Minha esposa … a Mari … Ela não fez nada de errado. Quer dizer, ela pode até ter feito. — Ele fez uma pausa, buscando as palavras. — Mas eu fugi. Eu não consegui lidar. E agora … agora eu tô aqui, me sentindo um idiota.
Júlia o observava, claramente surpresa pela sinceridade inesperada.
— Fugir nem sempre é a solução, mas às vezes é o que a gente precisa no momento, sabe? — Disse ela, com cuidado.
Celo soltou um suspiro pesado.
— Eu sei que fugir não resolve nada. Mas, frente a situação que eu estava passando, um de já vu, agi de forma intempestiva, pouco pensada. E agora? Voltar com o rabo entre as pernas … também não sei se resolve.
Ela inclinou a cabeça, tentando entender.
— Por que você não tenta? Voltar, digo. Não com o rabo entre as pernas, lógico … — A mulher riu, tentando animá-lo.
— Porque eu acredito que não estou pronto — admitiu ele. — Além do mais, pode ser que ela não me queira de volta. Pode ser que não precise mais de mim.
— Pelo jeito que você fala dela … Parece que ela é muito importante pra você.
— Ela é. Sempre foi.
Júlia sorriu, gentil.
— Então talvez valha a pena tentar. Ou, pelo menos, considerar tentar.
Celo ficou em silêncio, as palavras dela pairando no ar. Ele não sabia se estava mais próximo de uma decisão, mas sentia, mais uma vez, que estava sendo ouvido.
— Obrigado — disse ele, finalmente.
Júlia sorriu, compreensiva.
— Às vezes, só precisamos de alguém pra ouvir.
Ela se afastou, acenando brevemente antes de se perder pelas ruas da cidade. Celo ficou ali mais um tempo, ouvindo o som da água e do vento. Ainda confuso, mas talvez, apenas talvez, começando a enxergar uma luz no meio da névoa.
Celo voltou a caminhar sem rumo pelas ruas da pequena cidade, ainda com as mãos enterradas nos bolsos e os ombros curvados como se carregasse o peso do mundo nas costas. O burburinho suave da praça central e o som distante do riacho não conseguiam penetrar o caos que habitava sua mente. Cada passo parecia arrastá-lo mais fundo em um labirinto de sentimentos conflitantes, e ele não sabia como sair.
A imagem de Mari com Paul na casa de praia, era como um fantasma que o assombrava. Ele fechava os olhos e via, de novo, aquela cena: Mari rindo, leve, entregue. Algo dentro dele queimava ao lembrar disso. "Por que ela nunca foi assim comigo?", pensou, mordendo o lábio inferior com força. A entrega dela, o jeito como parecia tão confortável ao lado de outro homem ... Era como se ele estivesse assistido a um filme em que era o único espectador, incapaz de intervir, condenado a ver algo que jamais poderia esquecer.
Ele sentiu, não só, a raiva borbulhar, como sempre acontecia quando aquelas imagens lhe vinham à mente, mas também o ressentimento. Não era apenas o fato de Mari ter estado com outro homem, mas a percepção de que ela nunca se entregou a ele da mesma forma. “Será que ela desenvolveu sentimentos por ele? Em tão pouco tempo? Eu não fui o suficiente?". Ele se perguntava, os punhos fechando-se ao lado do corpo.
Então, o pensamento deslizou para Anna. Ele se lembrou da noite fatídica, da forma como tudo se desenrolou. No início, tentou justificar: Anna estava bêbada, vulnerável. Mas quanto mais pensava, mais a culpa parecia escorrer por entre suas defesas. Ele estava lá, ele permitiu que aquilo acontecesse.
Não porque Anna era irresistível ou porque ele não tinha escolha, mas porque ele estava frustrado, carente, e talvez até buscando um alívio para a dor que carregava. "Eu não devia ter ficado naquele quarto com ela. Não era sobre ela... era sobre mim. Se ela não estivesse tão bêbada, será que teríamos feito o mesmo?”.
Mas então, o ciclo de pensamentos se fechava, sempre voltando para Mari. "E ela? Ela estava sóbria? Ela escolheu Paul … e se entregou de um jeito que nunca fez comigo". E a mágoa voltava, como uma maré.
Celo sabia que a fuga não resolveria nada, mas o que mais ele podia fazer? Ficar, encarar tudo de frente, parecia impossível. A dor era maior do que ele conseguia suportar.
Caminhou sem rumo, voltando ao mesmo lugar. Sentou-se em um banco próximo à ponte da cidade, olhando novamente para a água cristalina que corria calmamente. Tudo ao seu redor parecia tão simples, tão sereno, enquanto dentro dele tudo era um furacão. Ele queria perdoar, queria entender, mas ainda não conseguia ver como. A “traição” de Mari o tinha despedaçado de um jeito que ele não sabia se seria capaz de consertar.
"Talvez não seja questão de consertar. Talvez eu nunca mais seja o mesmo", pensou, sentindo o vazio crescer. Ele precisava tomar uma decisão, mas não sabia qual. E, naquele momento, aquilo parecia ser a única certeza que tinha.
Naquela indecisão, mais um mês se passou.
{…}
— Paul … — Anna sussurrou, a voz embargada de desejo, enquanto seus dedos se apertavam em torno da borda da mesa de jantar. — Você não cansa, não é?
Ele riu baixinho, o som quente e profundo ecoando no ambiente à meia luz.
— Cansar de você? Impossível. — Seu corpo estava colado ao dela, a pele quente e úmida do banho de ofurô recém tomado.
Anna podia sentir cada músculo duro de Paul se movendo sob suas mãos, o cheiro de lavanda e canela da água perfumada ainda envolvendo-os como um véu sensual. Ele a puxou para mais perto, seus lábios encontrando os dela em um beijo que era ao mesmo tempo suave e avassalador.
— Você sabe o que você faz comigo, Anna … — Ele murmurou, os lábios escorregando pela linha de seu pescoço, criando arrepios que a faziam tremer. — Cada olhar, cada toque … você me tira do prumo, mulher.
Ela riu, leve e sedutora, enquanto suas mãos deslizavam pelas costas dele, sentindo a tensão dos músculos que se moviam sob sua pele.
— Eu te tiro do prumo? Você é quem me deixa sem chão, Paul. Sempre foi assim.
Ele parou por um momento, apenas olhando para ela, seus olhos fixos nos dela com uma intensidade que a fez segurar a respiração. Aquele olhar intenso sempre a pegava desprevenida, como se ele pudesse ver diretamente em sua alma, desvendando cada desejo, cada pensamento oculto.
— Então me mostre. — Ele disse, em voz baixa. — Me mostre o quanto eu te afeto.
Anna sentiu um calor percorrer seu corpo, uma onda febril de desejo que a deixou molhada e tremendo. Ela sabia exatamente o que ele queria, e ela estava mais do que disposta a dar.
Com um movimento suave, ela se afastou, seus olhos nunca deixando os dele, enquanto deslizava pela mesa, o corpo nu, ainda úmido.
— Agora é a minha vez. — Ela disse, a voz suave, mas cheia de determinação.
Paul a observou, sua respiração acelerando à medida que ela se movia, cada gesto deliberado e calculado. Ela era uma visão de pura sedução, seu corpo iluminado pela luz suave das velas, a água ainda brilhando em sua pele. Ele não conseguia tirar os olhos da esposa, cada movimento dela o deixando mais louco de desejo.
— Você é tão linda. Sempre foi, na verdade, mas agora … mais madura, está espetacular.
Anna sorriu, inocente e provocante, e então se aproximou dele novamente, os dedos se fechando em torno do elástico da sunga que ainda cobria sua pélvis. Com um movimento lento e deliberado, ela o puxou para baixo, revelando a parte dele que mais a deixava louca.
— Você está pronto para mim? — Ela perguntou, o seduzindo.
— Sempre. — Paul respondeu, seus olhos nunca deixando os dela.
Anna se ajeitou na mesa, suas pernas se abrindo para ele, convidando-o a entrar no lugar que mais desejava estar. Paul agiu por instinto, suas mãos se fechando em torno de seus quadris enquanto ele lentamente a penetrava, o calor e a umidade dela o envolvendo em um abraço apertado.
— Delícia, amor … — Ele gemeu, sua voz tremendo com o esforço de controlar-se. — Você é tão perfeita.
Ela riu, um som leve e feliz, enquanto se agarrava aos ombros dele, seus corpos se movendo em um ritmo lento e sensual.
— Perfeito é esse pau duro, latejando dentro de mim. Hummm … — Anna gemeu manhosa.
Eles se moviam em sincronia, seus corpos entrelaçados em um abraço apertado, cada movimento intencional e cheio de paixão. Anna podia sentir a força de Paul, cada músculo duro e tenso, enquanto ele estocava com ritmo, o prazer crescendo nela a cada momento que passava.
— Sempre é melhor com você. Temos nossas aventuras, amigos incríveis, mas nada se compara … — Ele confessou. — Você é a melhor.
— Eu amo … — Anna gemeu com uma estocada mais profunda. — Eu amo você.
Paul sorriu, satisfeito, enquanto seus corpos continuavam a se mover.
— Eu te amo também, Anna. — Ele disse, sua voz cheia de sinceridade e desejo. — Sempre vou.
Anna sentia o prazer crescendo dentro dela, um calor que a deixava sem fôlego, cada movimento de Paul trazendo-a mais perto do limite.
— Paul … — ela gemeu novamente, o corpo convulsionando com o prazer. — Eu tô gozando … Ahhhh …
— Goza minha puta rainha … goza pro teu macho …
O prazer explodia entre os dois, e Paul explodia dentro dela. Anna tremia com a intensidade do orgasmo. Paul a segurou com firmeza, girando o corpo da esposa e deixando que ela desmontasse sobre ele.
E eles ficaram lá por algum tempo, a respiração descontrolada, tentando recuperar o fôlego, até que finalmente se separaram.
— Foi incrível. — Paul disse, com a voz cheia de ternura, acariciando o rosto da esposa. — Precisávamos disso. Essa preocupação com a Mari, com o sumiço do Celo, nos está consumindo.
— Sim! Foi perfeito. — Anna respondeu, sua voz suave, cheia de sinceridade.
Eles permaneceram se olhando, por um momento, o amor e o desejo entre eles, tão palpável, que parecia que o mundo ao redor havia desaparecido. E então, Paul sorriu, se preparando para atacá-la novamente.
— Eu quero mais. Que saudade que eu estava de você, meu amor. — Anna pediu.
Mas foram interrompidos pelo toque incessante do celular de Paul. Já era a terceira tentativa.
— Atende, deve ser importante. Temos todo o tempo do mundo. — Anna disse.
— Você tem razão. — Paul concordou. — Já tô voltando, não sai daí. Me espera.
Paul subiu as escadas correndo, pois o celular estava no quarto do casal.
Dez minutos depois, Paul desceu as escadas e entrou na cozinha com um sorriso contido. Anna estava sentada à mesa, preparando um chá, enquanto olhava notícias no celular. Ele parou ao lado dela, observando-a por um momento antes de puxar a cadeira para se sentar.
Paul estava animado, não precisava hesitar:
— Anna, acho que finalmente temos uma chance de consertar tudo.
Anna, ergueu o olhar curiosa:
— Do que você está falando, Paul? Consertar o quê?
— Eu ... eu encontrei o Celo.
Anna, ficou surpresa, mas feliz.
— O quê? Como assim "encontrou o Celo"? Ele está sumido há quase três meses.
— Marcos, nosso mago do TI, conseguiu rastreá-lo. Ele está próximo, numa pequena cidade no estado vizinho.
Anna estava com os olhos marejados.
— Meu Deus, Paul. E você falou com ele? O que ele disse?
Paul acalmou a esposa:
— Ainda não. Acho que ele não quer nos ver, nem pintados de ouro. — Paul até sorriu, mas não havia graça.
Anna se aproximou, abraçando o marido, feliz pela descoberta.
— Isso é incrível, Paul! Você acha que ele está disposto a conversar, pelo menos com a Mari?
Paul franziu a testa.
— Encontrá-lo era apenas o primeiro passo, o que vem a seguir …
Anna o interrompeu, ansiosa.
— Então, precisamos chamar a Mari. Contar logo. Devemos isso a ela.
— Foi exatamente o que eu pensei. Vamos ligar para ela agora.
Anna pegou o telefone na mesa e discou o número da Mari. Depois de alguns toques, foi atendida, e colocou a ligação no viva voz.
— Anna? Que surpresa … — Mari não parecia muito feliz com a ligação.
Anna estava mesmo ansiosa e queria falar logo
— Mari, você não vai acreditar no que o Paul acabou de me contar. Ele encontrou o Celo!
Mari se animou. Sabia que ele estava bem, tinha notícias pelos filhos, mas não conseguia falar com ele diretamente ou obter qualquer informação:
— O quê?! Onde? Como? Você tem certeza disso?
Paul reforçou a informação:
— Tenho Mari. Um funcionário meu rastreou o Celo nas redes sociais. Ele aparece em fotos de moradores de uma pequena cidade do interior do estado vizinho. Ele está tocando em um bar local.
Mari estava aliviada
— Obrigada, Paul! E desculpe estar tão distante de vocês … é que …
Anna a interrompeu:
— Você não precisa se justificar, Mari. Entendemos e nos sentimos responsáveis por tudo o que aconteceu. Só queremos ajudá-la a encontrar seu marido e quem sabe, vocês possam se acertar.
Paul foi mais direto:
— Podemos nos encontrar para planejar como vamos abordar o Celo? Isso se você ainda quiser a nossa ajuda.
Mari sabia que não podia mais vacilar.
— Claro! Isso diz respeito a todos nós. Me deem meia hora e eu vou até vocês.
— Obrigado, Mari. Apesar de tudo, você não deixa de ser gentil. Você nunca nos culpou por nada.
Mari desligou, e Paul e Anna trocaram um olhar cúmplice e esperançoso. Eles sentiam que, mesmo que o caminho ainda fosse longo, estavam finalmente dando os primeiros passos na direção certa, na sua busca por redenção, de corrigir o que achavam que tinham feito de errado.
{…}
Naquele dia, Celo estava realmente saudoso, muito triste. Após largar tudo, mudar de vida completamente, já fazia três meses que ele se apresentava naquele barzinho. A primeira música estava pronta para ser tocada e ela o fazia se lembrar de Marilena, sua amada Mari, com quem estava casado nos últimos vinte e dois anos.
Celo saíra de casa sem olhar para trás, apenas querendo sumir, mas sabendo que não podia. Era impossível esquecer. Mais de vinte anos não se apagam de repente, como um passe de mágica. E as mágoas, dolorosas e incessantes, permaneciam latejando no seu peito. Assim como as alegrias também, tornando os sentimentos conflitantes, uma lembrança constante de que sua escolha pode não ter sido a melhor.
Ele afinou o violão uma última vez, saudou sua pequena, mas fiel plateia e começou a dedilhar a triste melodia nas cordas, cantando a bela letra com a voz um pouco embargada pela saudade e pela frustração:
“E por falar em saudade
Onde anda você?
Onde anda os seus olhos
Que a gente não vê
Onde anda esse corpo?
Que me deixou morto
De tanto prazer
E por falar em beleza
Onde anda a canção?
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia
Sem razão de ser
Da rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia
Me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?”
“Onde anda você”, letra e música de Toquinho e Vinícius de Moraes, representavam perfeitamente o sentimento amargo no peito de Celo.
Numa mesa de canto, protegidos pela pouca luz, Anna e Paul aplaudiam o amigo. Mari também estava ali. A sua Mari, sem conseguir conter as lágrimas. Aquela música era especial, a música que Celo tocou para ela no casamento deles. Sua serenata particular e especial.
Enquanto Celo terminava sua seleção de músicas, já ciente das presenças do casal de amigos e da esposa, Paul esperava o momento certo para ir até ele. Assim que Celo terminou, enquanto ele guardava seu violão no estojo, Paul se aproximou:
— Três meses, cara, é sério? Não podia ter avisado que estava bem? Mari estava angustiada …
Celo não estava a fim de ouvir mentiras. Não acreditava mais na esposa e muito menos no “amigo”:
— Eu imagino o quanto ela está angustiada … em qual momento ela fica pior? Talvez quando vocês desrespeitam o nosso acordo e ela chupa o seu pau escondido? Ou quando está dando o cu para você? Me explique em qual momento exatamente aquela mentirosa fica angustiada?
Celo colocou o violão nas costas e saiu sem esperar a resposta. Paul sabia que ele estava magoado, mas não conhecia a extensão dos problemas entre ele e Mari. Estava surpreso com o tamanho da mágoa do amigo.
Enquanto Paul voltava à mesa, Mari passou por ele chorando, andando rápido para tentar alcançar o marido. Celo estava parado na esquina, mexendo no celular. Ela caminhou decidida até ele:
— Por favor, amor, fala comigo. Eu sei que preciso te explicar muita coisa, ser honesta … por favor, vem comigo, vamos conversar.
Extremamente irritado, Celo foi direto:
— Ok! Então me explica: mais de vinte anos de frescura, me fazendo sentir um traste por tentar coisas novas, destruindo o meu psicológico, para, na primeira oportunidade, fazer tudo o que eu sempre pedi, mas com outro homem. Qual a sua explicação para isso, Marilena?
Mari se engasgou, não esperava aquela atitude tão direta do marido. Ela queria confessar, contar dos seus traumas, mas as palavras não saíam.
Assim que o carro de aplicativo chegou, após quase cinco minutos de espera, sem que Mari conseguisse juntar uma frase decente, Celo não teve mais forças para manter o sarcasmo:
— Você acabou comigo, Mari. Mais de vinte anos juntos, tentando, me esforçando, e o que eu recebi em troca? Mentiras e manipulação. Adeus, Mari.
Celo entrou no carro, deixando Mari aos prantos na calçada. Paul e Anna, alguns metros atrás, ouviram toda a conversa. A amiga correu até Mari, tentando confortá-la:
— Eu prometo, amiga. Acredite em mim. Eu vou trazer o Celo de volta para você. Mas você terá que ser honesta, contar a verdade. É a única forma de recuperar o seu marido.
Decidida, Mari encarou Anna.
— Obrigada, Anna. Vocês me trouxeram até aqui, encontraram o Celo para mim, mas agora, eu preciso agir por mim mesma.
Anna tentou falar alguma coisa, mas Mari não deixou. Ela estava determinada a resolver os próprios problemas
— Peço que voltem para casa, agora. Eu vou ficar por aqui. Celo vai me ouvir. Se vai me perdoar ou não, é outra história. Serei honesta com meu marido, chega de segredos, de esqueletos no armário.
Mari voltou para o bar sem olhar para trás. Ela precisava de informações e não iria parar até encontrar Celo novamente.
Continua …
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