CAPÍTULO 1 – O CALOR DA BAHIA
Salvador fervia sob o sol de janeiro. O verão ali não era brincadeira: o ar denso, o cheiro de maresia e dendê no vento, os corpos suados nas ruas apertadas do Pelourinho. Era aquele calor que deixava qualquer um mole, preguiçoso, com a pele grudando até onde não devia.
No meio desse inferno gostoso de quente, Léo e Rafa estavam largados no barraco de Léo, um sobrado simples na Cidade Baixa. Amigos desde moleques, sempre grudados como unha e carne. Rafa, com 19 anos, era o mais calado dos dois, mas carregava um jeito marrento que só quem cresceu na quebrada sabia ter. Já Léo, 18 anos recém-feitos, tinha um sorriso fácil, sempre rindo de tudo, com um jeito mais solto.
Naquele dia, estavam jogados no chão da sala, ventilador barulhento jogando vento quente. Assistiam qualquer coisa na TV, mas o calor era tanto que só conseguiam reclamar.
— Porra, velho, esse calor tá de matar. — Rafa bufou, tirando a camisa suada e jogando pro lado.
Léo fez o mesmo, ficando só de bermuda. O peitoral de ambos brilhava de suor. Não era nada demais. Já tinham se visto sem camisa mil vezes, na praia, jogando bola. Só que, naquele momento, tinha algo diferente no ar.
Os olhos de Léo deslizaram rápido pelo corpo de Rafa. Só um segundo a mais do que o normal.
Rafa percebeu.
— Que foi, doido? — perguntou, ajeitando-se no sofá.
Léo piscou, fingindo que não entendeu.
— Nada não. Só tava pensando... Tu tá malhando, é? Tá mais troncudo.
Rafa riu, meio sem jeito.
— Um pouquinho só. Mas tu tá com inveja, é?
— Quem, eu? — Léo abriu um sorriso safado. — Se eu malhasse, ia ficar mais bonito que tu, certeza.
— Sonha, rapaz.
O silêncio veio, e com ele, um peso estranho. Léo sentiu o olhar de Rafa nele por mais tempo do que o normal.
De repente, o calor parecia vir de dentro deles, e não do verão soteropolitano.
— Bora dar um mergulho na praia? — Léo sugeriu, tentando dissipar a tensão.
Rafa concordou. Precisavam esfriar a cabeça. Mal sabiam eles que, na verdade, só estavam começando a esquentar.
