22 - MILENA. A VIDA POR UM FIO.

Um conto erótico de Nassau
Categoria: Heterossexual
Contém 6629 palavras
Data: 04/01/2025 23:30:26
Assuntos: Heterossexual, livro

CAPÍTULO 22

Milena sentiu que a consciência lhe escapava e a única coisa que conseguiu pensar foi:

“Que droga morrer agora. A vida nessa ilha estava tão boa!”

Em meio a esse pensamento, a última coisa que ela viu foi um vulto negro se aproximando e acreditou ser o líder da alcateia. Nem mesmo o alívio da pressão em seu peito pelo fato do lobo que a atacava não estar mais ali foi sentido por ela que já perdera o sentido.

Em um segundo Milena ia ser morta e no segundo seguinte o lobo que seria seu algoz gania de dor e rolava em meio ao capim. O lado direito de seu corpo apresentava um rasgo que ia desde a junção da pata dianteira até o início de sua calda e as vísceras ensanguentadas saiam por ali manchando o capim de vermelho.

Chantal acabava de entrar na luta.

A pantera, depois de abater o primeiro lobo, atacou o que tentava dilacerar o pescoço de Henrique com uma patada e, passando sobre o corpo dele, abocanhou a cabeça do lobo que se aproximava pelo outro lado e esmagou a cabeça do mesmo com sua presa atingindo o cérebro do animal que caiu morto na mesma hora.

Um uivo alto se ouviu e os demais lobos que se aproximavam deram meia volta e fugiram na mesma direção que o gado tinha seguido. Eles tinham desistido de exterminar os humanos, mas não de atacarem o gado. Eram onze lobos famintos e furiosos corriam desesperado atrás de comida sem saber que Chantal os perseguia, pois a pantera foi a primeira a disparar atrás deles quando abandonaram o local da batalha.

Diana percebeu o quadro e foi até o local onde se atirara do lombo de Ventania encontrando sua pena. Imediatamente ela segurou a pena e ficou concentrada e, quando o Henrique lhe perguntou o que ela estava fazendo, ela explicou:

– Avisando ao Áquila que a Chantal é amiga. Ia ser muito ruim se ela fosse atacada pelas mesmas.

Henrique entendeu que a providência era necessária e voltou correndo para onde o corpo de Margie jazia ensanguentado, curvou-se sobre ela e encostou o ouvido em seu peito. Quando aprumou o corpo, falou com urgência na voz:

– Ela ainda está viva. Temos que levá-la até a praia com urgência.

Diana correu até onde ele estava e passou a examinar os ferimentos de Milena, logo informando:

– São ferimentos profundos, mas o mais perigoso é esse na perna. Parece que atingiu uma veia e não para de sangrar. Se não fizermos alguma coisa, ela não vai sobreviver até chegarmos à praia. Precisamos fazer um torniquete, só que não tem como fazer isso? Nem roupas nós temos.

Só nessa hora que o Henrique se deu conta que estavam os três nus, pois foram atacados enquanto estavam em meio a uma transa. Então ele pensou por alguns segundo e a solução lhe veio à mente:

– Pegue a rédea da Ventania. Aquela corda pode ajudar.

Diana obedeceu e logo voltou com a corda que entregou para o Henrique e depois foi pegar sua faca que estava no chão e entregou a ele. O rapaz fez três voltas com a corda na coxa de Milena, acima do ferimento e deu um nó. Depois pegou um pedaço de pau, passou pelo nó e torceu enquanto falava:

– Temos que nos lembrar de afrouxar a corda a cada quinze minutos. Se não fizermos isso, ela pode entrar em choque.

No mesmo instante em que Henrique e Diana cuidavam de Milena, os quatro amigos que vinham em seu auxílio atingiram uma clareira e por pouco não foram atropelados por algumas vacas, seguidos de seus bezerros que se dividiram do grosso do rebanho e foram ao encontro deles. Nestor e Na-Hi com suas agilidades se esquivaram com facilidade, mas Cahya ficou paralisada ao se ver em perigo e só não foi atropelada porque Margie se atirou contra ela fazendo com que ambas caíssem no chão e a ruivinha se agarrou nela e relou para trás de uma árvore frondosa, salvando assim a sua vida.

Porém, atrás daquelas vacas e suas crias vinham os onze lobos restantes e, ao notarem a presença dos humanos atacaram imediatamente.

Nestor e Na-Hi se atiraram ao encontro deles com suas lanças e abateram dois, com o rapaz ainda conseguindo atingir a um terceiro com sua mão livre o atirando de encontro a uma árvore, onde ele bateu e depois escorregou para o chão ganindo alto. Enquanto isso, Margie já tinha abatido mais um.

Os lobos recuaram para se reagrupar e voltaram a atacar, agora enfrentando o alvo já prevenido. O lobo que primeiro atacou Na-Hi saltou para atingir o seu peito com as patas dianteiras e assim derrubá-la no chão. Na-Hi aguardou até o último segundo e quando já ia ser atingida deu um salto virando uma pirueta completa e o lobo passou por baixo dela e quando ela caiu no chão, já em pé, atingiu o lobo mais próximo com um pontapé na base do crânio com um golpe tão violento que o estalo de ossos se partindo foi ouvido acima dos rosnados ferozes dos lobos. O animal atingido não emitiu nenhum ruído e já caiu morto.

Enquanto isso, Nestor já tinha abatido outro lobo. Só que sua faca ficou presa no corpo do animal e quando ele puxou, ela se desprendeu do cabo e ele ficou apenas com um pedaço de pau na mão, o que não o impediu de usá-lo para acertar a cabeça do lobo mais próximo. O golpe foi tão forte que o pau se partiu em dois e o lobo caiu com a cabeça deformada.

Enquanto isso, o lobo que saltou sobre Na-Hi foi atingir o solo próximo a Cahya que, quando foi salva por Margie, tinha perdido sua faca e, mesmo que estivesse com a arma, não saberia o que fazer com ela. Quando viu os caninos do animal na sua frente, ela começou a espernear em uma tentativa inócua de se defender, pois depois de se esquivar uma primeira vez, o lobo atacou e agarrou sua perna fechando as mandíbulas e começou a arrastá-la. Cahya gritou, porém, seus companheiros estavam empenhados em defenderem suas próprias vidas.

Margie já tinha abatido mais um lobo, mas agora estava à volta com dois que a atacavam em conjunto como se fossem treinados para isso, pois nenhum deles fazia um ataque direto e se mantinham separados em uma distância que, se atacasse a um, ela estaria exposta ao ataque do outro. Sabendo disso, ela segurou firmemente o cabo de sua lança improvisada e foi caminhando lentamente para trás.

Foi Na-Hi que viu Cahya sendo arrastada e correu para ela acertando um golpe mortal no animal, enquanto o Nestor abatia mais um lobo e depois começou a caminhar em direção ao lobo negro que não participava da luta. Ele ficava em pé observando o desenrolar dos acontecimentos e nunca se aproximava.

Enquanto Na-Hi examinava o ferimento de Cahya que estava com a panturrilha da perna esquerda dilacerada, três coisas aconteceram de forma simultânea. A primeira foi que o lobo negro, em vez de atacar Nestor, virou-se com uma rapidez extraordinária depois de encará-lo por alguns segundo e fugiu a uma velocidade que nem mesmo a agilidade de Nestor que foi ao seu encalço foi suficiente para alcançá-lo. A segunda foi que os lobos que acuavam Margie atacaram. Os dois ao mesmo tempo e ela se concentrou no que estava a sua direita conseguindo atingi-lo mortalmente, mas já sabendo que não se livraria do outro. A terceira foi que o segundo lobo não chegou nem perto de atingir Margie. Ele foi impedido quando estava no meio do salto que dava para atingir o pescoço da garota quando um vulto preto, surgindo do meio do mato, o atingiu com as patas estendidas desviando o seu salto. Era Chantal que chegara no último instante e salvara a vida de Margie. O lobo atingido não teve a menor chance e foi eliminado da forma preferida pelas onças que é a de morder a cabeça de suas presas e fincar seus dentes nos crânios, o destroçando e atingindo seus cérebros.

A luta terminara. Vinte e seis lobos estavam mortos e um havia fugido. Na-Hi lamentou por ter sido o líder da alcateia aquele que escapara:

– Porra que azar. – Falou ela para espanto de Nestor e Margie, pois Na-Hi não costumava falar palavrões. Mas ela não se importou com a expressão deles e continuou: – Justo o líder que fugiu. Isso ainda vai ser um problema.

– Como assim? Agora ele está sozinho.

– Ele vai voltar. – Afirmou Na-Hi com a certeza de quem sabe das coisas.

– Pode ser que volte. – Comentou Margie que parecia não dar importância a esse fato. – Mas só vai fazer isso quando conseguir juntar outro bando. Ele é um covarde e nunca participa da luta.

– Como assim, Margie? – Como você pode afirmar isso? – Perguntou Na-Hi.

– Porque eu já conheço esse filho da puta. Ele estava entre os lobos que atacaram Chantal e deu da outra vez. Foi ele que matou meu filho. Quando só restava ele, o covarde fugiu.

Na-Hi escutou aquilo e ficou pensativa. Depois falou com voz pesarosa:

– Eu tinha certeza que ele voltaria. Agora eu sei que vai voltar, mas só vai fazer isso quando conseguir reunir outra alcateia. Talvez demore um pouco.

– Aquele lobo é um ‘sétan’ (demônio em sundanês). – Falou Cahya entre um gemido de dor e outro.

Cahya, sem saber, acabara de batizar o lobo negro que, a partir desse dia, quando citado, tinha o nome de Sétan usado para se referir a ele.

Entretanto, o grupo não teve como continuar a conversa, pois assim que Cahya acabou de falar, ouviu-se o som do galope de um cavalo e ficaram em guarda. Raio entrou a clareira em uma velocidade tão grande que só não atingiu alguém porque era Na-Hi que estava na posição em que o cavalo passou e ela conseguiu se esquivar com um gracioso salto para a direita. O cavalo passou por ela antes de frear bruscamente obedecendo ao comando de Henrique que o montava segurando o corpo ensanguentado de Milena à sua frente.

– Meu Deus! – Foi o que ele ouviu de Margie, Na-Hi e Nestor que falaram ao mesmo tempo quando viram o estado em que Milena se encontrava.

Só Cahya não disse nada. Em vez disso, ela olhou para Henrique, torceu a boca e depois falou:

– Aonde vai com essa... essa... – E depois, sem completar essa frase, iniciou outra, desta vez gritando com Henrique: – E POR QUE VOCÊS ESTÃO PELADOS? O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO?

A reação de Cahya estava acima da capacidade de Henrique de ter paciência com ela. Não só ele, mas também os outros três ficaram horrorizados com a insensibilidade dela que parecia não se importar com o estado de Milena. Mas foi o Henrique que explodiu:

– VAI TOMAR NO CU CAHYA. A MILENA ESTÁ MORRENDO E VOCÊ QUER SABER AONDE EU VOU? VÁ SE FODER.

Cahya abriu a boca para também gritar alguma ofensa, mas foi impedida por Na-Hi que se colocou diante dela e falou de forma severa, porém em baixo volume:

– Cale a boca, Cahya. Você não percebe que a Milena está morrendo?

– Que morra. Essa vadia.

Mas Na-Hi não ouviu a ofensa de Cahya ou, se ouviu, não deu importância. Ela já tinha se virado e examinava os ferimentos de Milena. Então falou:

– Vá Henrique. Resta muito pouco tempo. E não se esqueça de que você tem que parar de tempos em tempos para soltar o torniquete e depois voltar a apertá-lo,

– Eu sei, Na-Hi. Quanto tempo você acha que vou gastar para chegar à Enseada.

– Enseada?

– É. Na praia. A Milena que chama assim.

– Se esse cavalo for muito rápido, você pode fazer o percurso em três horas. Mas isso se ele estiver descansado, o que eu não sei.

Como se tivesse ouvido o problema exposto por Na-Hi, Tornado apareceu na lareira e se posicionou ao lado de Henrique enquanto sua cabeça ficou muito próxima ao corpo ferido de Milena. Na-Hi pareceu perceber no mesmo instante que havia ali uma ligação especial e ordenou:

– Vai Henrique. Agora você tem uma chance. Muito pequena, mas tem. Quando o baio estiver cansado, abandone a ele e monte o negro. Ele está aqui para isso.

– E como eu vou saber quando o Raio vai se cansar?

– Você não vai precisar. Esse cavalo preto vai saber.

– Tornado. O nome dele é Tornado. – Depois roçou os pés na barriga de Raio que imediatamente partiu a galope, enquanto ele gritava para Na-Hi: – Vão ajudar a Diana. Ela está vindo logo atrás.

Na clareira ficou um silêncio pesado que foi quebrado por Cahya:

– Henrique gritou com Cahya.

Mas Henrique já estava ia longe. Ele sequer percebeu que Cahya também está machucada.

– Você vai viver, Cahya. – Falou Na-Hi enquanto tirava a camiseta que usava deixando seus pequenos seios à mostra e a usou para cobrir o ferimento de Cahya. Enquanto fazia isso, ela falou: – E fique feliz por ele ter apenas gritado. Eu acho que você merecia mais. Você não percebeu que a Milena pode morrer?

A forma tranquila que Na-Hi falou felizmente perfurou o véu de insensibilidade que o ciúme de Cahya criou e ela começou a chorar. Mas a coreana tinha como principal característica a capacidade de agir e perguntou:

– Margie, Nestor, vocês estão bem?

– Estou ótima. – Respondeu Margie.

– Nenhum arranhão. – Falou Nestor.

– Então vão. Caminhem na direção em que veio o Henrique que vocês encontrarão Diana. Vejam no que podem ajudar.

Os dois obedeceram e saíram dali correndo. Não andaram quinhentos metros e encontraram Diana que montava Ventania mantendo um trote lento. Diana apeou quando chegou próximo a eles e abraçou Margie e depois Nestor com os olhos em lágrimas. Mas foi Nestor que fez com que ela reagisse pedindo que ela contasse o que tinha acontecido. Diana fez um resumo do que tinha visto e Nestor decidiu o que precisavam fazer:

– Volte até onde aconteceu o primeiro ataque e verifique o estrago que os lobos fizeram. Nós vamos dar uma olhada por aqui.

– Não é preciso que eu volte. – Disse Diana mostrando a pena que trazia em sua mão para o Nestor.

Nestor apenas assentiu com a cabeça e Diana, segurando a pena, se concentrou. Imediatamente, Áquila que planava sobre eles virou-se para o noroeste e começou a voar rapidamente. Menos de cinco minutos depois a Diana saiu do transe que ela estava desde que passara a se comunicar com a águia e falou com a voz chorosa:

– A Tempestade e o Furacão estão mortos. A Tempestade é mãe do Furacão. Os dois estão mortos. Além deles, os lobos também mataram dois bezerros e uma vaca.

– Vamos voltar até o lugar onde vocês estavam acampados e pegar suas coisas.

Diana desceu do lombo de Ventania e começou a andar, sendo seguida por Margie, Nestor e Ventania. Logo chegaram ao local, se depararam com o bezerro preso no cercado de corda que foi improvisado para prendê-lo e do lado de fora, encostada na corda para permitir que o bezerro mamasse, estava sua mãe.

Mas foi outra coisa que chamou a atenção de Margie que, ao ver apenas uma cama improvisada não se conteve em comentar sorrindo:

– Hum! Parece que a coisa por aqui foi boa.

Talvez Margie tenha tentado melhorar o clima de pesar, porém, o efeito foi o oposto, pois Diana, ao ouvir a ruiva, foi até ela e abraçou enquanto dizia entre soluços:

– A minha... Amiga vai... Morrer.

Margie trocou um olhar com Nestor que tinha a mesma expressão de surpresa que ela. Diana, embora nunca implicasse com Milena, o que não significava muito porque a angolana nunca implicava com ninguém, não mantinha com a garota ferida uma amizade tão grande assim e aquela reação dela era muito estranha. Mesmo assim, o Nestor se aproximou, colocou a mão em um ombro de Diana e falou:

– Não vai não, Diana. O Henrique está levando ela para a praia. Lá ela vai se curar.

– Ele não vai conseguir chegar a tempo. Ela está muito ruim. E o cavalo não vai aguentar manter uma velocidade alta por muito tempo. Principalmente levando duas pessoas.

– Vai sim. O Tornado foi junto.

Ao ouvir isso, Diana parou de chorar e olhou para o Nestor. Em seu olhar havia agora uma esperança que não existia antes. Mas ela não disse nada e foi juntar as roupas esparramadas no chão. Separou a saia e o top de Milena e vestiu as dela enquanto seus amigos a observavam. Foi Margie que não resistiu e perguntou:

– Qual o lance do cavalo preto e a Milena.

– Tornado. O nome dele é Tornado. A Milena batizou a todos eles. Essa égua é a Ventania e o cavalo baio é o Raio. O lance do Tornado com Milena é igual ao seu com Chantal.

Só foi falar o nome de Chantal e se ouviu um tropel de cavalo. Olharam naquela direção e viram o Relâmpago fugindo desesperadamente de alguma coisa enquanto relinchava. Ventania, ao ouvir o pedido de ajuda do filho, se afastou em direção a ele. Foi Diana a primeira que viu Chantal correndo atrás do potro e gritou para a Margie avisando. A ruivinha olhou naquela direção e falou;

– Não se preocupe. A Chantal não vai atacar o cavalo.

– Ela pode não atacar, mas a Ventania vai atacar a ela.

Margie olhou e descobriu o que Diana queria dizer. Ventania não parou ao chegar próximo ao filho e continuou correndo deixando claro que ia enfrentar Chantal. Imediatamente, Margie gritou para Chantal fugir, mas a pantera apenas se desviou de Ventania que vinha ao seu encontro e correu até onde estava a garota da qual se aproximou lentamente e se deitou aos seus pés. Ventania desistiu de atacar, se aproximou do potro e ficou olhando para a cena do acampamento.

– Se esses cavalos vão conviver com a gente, precisam aprender a serem amigos.

– Isso seria fácil se a Milena estivesse... – Diana não conseguiu completar a frase, pois ao falar o nome da amiga voltou a chorar e, dessa vez, seu pranto era desesperado, fazendo com que Nestor e Margie se aproximassem novamente dela.

Nestor fez menção de que ia dizer alguma coisa, mas Margie falou para ele com movimentos labiais sem emitir nenhum som:

– Deixe que ela chore.

Foram necessários mais de trinta minutos para que Diana se acalmasse. Pedindo desculpa para Nestor e Margie ela lhes disse que estava na hora de agir. Soltaram o bezerro, guardaram as cordas junto com as roupas de Milena e de Henrique e os cantis e iniciaram a marcha que os levariam de volta à Enseada. Quando começaram a andar, Margie perguntou:

– Que história é essa de Enseada?

– Isso é coisa da Milena. Ela se refere ao nosso acampamento como a Enseada. O Henrique e eu entramos na onda dela e também começamos a usar esse nome.

– Pois eu acho um bom nome. Enseada. – Falou Nestor pronunciando o nome como se quisesse sentir a forma como ele soava.

– Eu também acho. – Concordou Margie. Além disso, já passou da hora de darmos um nome para aquele local.

Por sugestão de Nestor, Diana convocou Áquila para verificar tudo o que se passava à volta deles enquanto Chantal, atendendo a uma ordem de Margie, caminhava distante deles. Essa providência se mostrou bastante útil. Com a visão de Áquila e a ação de Chantal que empurrava as reses desgarradas em direção a eles enquanto Ventania se encarregava de fazer que elas se juntassem à outra que conduziam, chegaram à clareira aonde Na-Hi e Cahya esperavam por eles, além da vaca e do bezerro que eles tinham encontrado no acampamento, encontraram mais cinco cabeças, sendo elas duas vacas paridas e suas respectivas crias e um bezerro perdido. As reses eram conduzidas por Ventania que parecia saber o que fazer enquanto Relâmpago tentava atrapalhar, fazendo com que a égua o ameaçasse com mordidas por mais de uma vez e Nestor comentasse:

– Esse potro está parecendo muito com o Neve. Está sempre aprontando.

– Ai meu Deus! Mais um não.

– Eu não concordo com isso. O Neve só age daquele jeito porque tem muita energia.

Diana e Nestor trocaram um olhar cúmplice daqueles que denunciam que não acreditam no que alguém está falando.

Quando atingiram a clareira, Cahya estava deitada com a cabeça apoiada no colo de Na-Hi que, sem se mover, perguntou:

– São só esses?

– Esses o que? – Pergunto Diana.

– Essas vacas. É muito pouco para alimentar os filhotes.

– Não se preocupe com isso. Nós tínhamos um touro e vinte e duas vacas, com dez delas paridas, cinco amojando e sete solteiras. Contando os bezerros totalizava quarenta e três. Dois bezerros e uma vaca foram mortos pelos lobos que também mataram uma égua e um potro. Nós temos agora trinta e nove.

– Eu só estou vendo seis. – Falou Na-Hi desanimada.

– Eu também, – rebateu Diana, – mas as outras devem estar em algum lugar entre aqui e a praia. Só temos que encontra-las.

– E como é que vamos fazer isso?

Diana estava estranhando aquela atitude de Na-Hi. Entretanto, preferiu não falar sobre isso e apenas explicou seu plano:

– Muito fácil. Áquila os encontra e a Ventania se encarrega de trazê-las até nós.

Como não tinha mais nada a fazer ali, eles recomeçaram a marcha. O dia já ia pela metade e dificilmente eles chegariam à Enseada naquele dia, principalmente se tivessem que ficar parando para juntar as reses desgarradas, o que levaria tempo. Ela estava errada.

Na medida em que avançavam, o rebanho foi engrossando. A operação levada a efeito por Áquila que ia localizando o gado, Chantal que os tocava com habilidade na direção certa e Ventania que concluía a operação, eles avançavam sem problemas. Quando faltava apenas um quarto para chegar ao destino e o sol já atingia o poente, as últimas vacas foram encontradas. Agora só faltava o touro. Na-Hi, que era a que conhecia melhor a paisagem mais perto da Enseada, resolveu que deveriam seguir até o final da jornada. Ela tomou essa decisão depois que um cavalo surgiu à frente deles. Era o Raio que, depois de ter sido deixado por Henrique que passou a montar Tornado, foi ficando para trás e parou definitivamente depois de algum tempo, permanecendo no mesmo lugar.

Ao ver a comitiva se aproximar, ele foi se juntar a eles. Justamente nessa hora, Cahya dava sinais de que não estava mais aguentando a caminhar e Diana conseguiu fazer com que o cavalo permitisse que ela fosse colocada em seu dorso.

Assim, quando chegaram à Enseada, de acordo com os cálculos de Na-Hi, a hora estimada era de vinte e duas horas.

Obedecendo as instruções de Diana, eles deixaram o gado no descampado que forma a colina que descia em direção à montanha e correram para o acampamento onde foram encontrar Milena que, apesar de já apresentar melhoras em suas feridas e sem sangrar, ainda estava desacordada.

A cena que encontraram era de cortar o coração. Estendida sobre uma cama feita de palha e coberta com folha de bananeira estava o corpo inanimado de Milena e ao lado dela se encontravam o Ernesto e a Pâmela. O rosto do homem revelava seu desespero e o de Pâmela era de pura tristeza. Na ponta da cama estava Tornado com a enorme cabeça a poucos centímetros do cabelo de Milena que haviam sido lavados por sua madrasta. Quando Na-Hi se aproximou o Ernesto falou se dirigindo a ela com sua voz triste e cansada:

– Estava esperando você chegar para tirar esse cavalo daqui.

Na-Hi olhou para a Diana que balançou a cabeça em negativa e depois se voltou para o Ernesto e falou:

– Esse cavalo não vai sair daí, Ernesto. Ninguém vai conseguir isso.

– Então o mate. Faça qualquer coisa. Mas eu quero esse animal longe de sua filha.

– Receio que isso também não vai ser possível. – Respondeu Na-Hi

Quando Diana notou que o Ernesto olhava para ela com uma expressão que era um misto de tristeza e raiva, interferiu na conversa e falou:

– Esse cavalo salvou a vida da Milena mais de uma vez. Ele enfrentou os lobos e depois, mesmo já no limite de suas forças, cavalgou para trazê-la até aqui.

– Isso sem falar que matar o cavalo ou mesmo levá-lo para longe daqui seria para a Milena o mesmo que matar a Chantal significaria para a Margie.

– Você está dizendo que esse cavalo e minha filha tem...

– Exatamente. – Falou Na-Hi antes do Ernesto concluir sua frase. – Esse cavalo é mais uma prova de que essa ilha é mágica. E tem mais, ele é o líder da tropa. Com ele vieram mais um cavalo, uma égua e um potro. Teria sido mais, mas os lobos mataram a outra égua e o filho dela.

Emocionado, Ernesto se virou para Tornado e foi se aproximando lentamente dele. A única reação do cavalo quando o homem ficou na sua frente foi abaixar a cabeça e permitir que sua cabeça fosse acariciada enquanto um pai emocionado falava baixinho:

– Desculpe...

– Tornado. A Milena deu a ele o nome de Tornado. – Informou Diana quando viu que Ernesto tinha interrompido sua frase por não saber como se dirigir ao animal.

Ele então continuou:

– Desculpe Tornado. Desculpe e muito obrigado. Você foi um bom garoto.

Ao ouvir isso, Tornado encostou a testa no peito de Ernesto e o empurrou. Ele, assustado, perguntou:

– O que foi isso agora? O que eu fiz de errado?

– Você tem que dizer que ele é um bom cavalo e que é lindo. – Disse Diana e ao ver que Ernesto olhava para ela com uma expressão de incredulidade, sorriu e completou: – Não me olhe assim. Quem colocou essa mania nele foi sua filha.

– Tudo bem Tornado. Está tudo bem. Você é um bom garoto e é lindo.

O cavalo balançou levemente a cabeça e permitiu que Ernesto fizesse carinho em sua cara. Pâmela, vendo aquela cena, se aproximou, mas Tornado deu dois passos atrás e ela, sem que ninguém lhe orientasse, repetiu a mesma sequência que o marido e só depois disso Tornado deixou que ela se aproximasse mais dele que, indo além das ações de Ernesto, abraçou a enorme cabeça do cavalo e começou a dar beijinhos em sua cara, assim como fazia Milena.

Mais tarde, durante a madrugada do novo dia que já terminava com o lusco fusco da madrugada fornecendo uma tênue claridade, Ernesto e Pâmela ainda permaneciam ao lado do corpo inanimado de Milena, Margie dormia enroscada com Neve enquanto os outros filhotes dormiam próximos a eles, Na-Hi e Cahya estavam deitadas no local que ocupavam todas as noites com a coreana tentando consolar a amiga que não parava de chorar e Nestor e Diana dormiam na mesma cama, mesmo sem terem transado, quando a calma do local foi quebrada de repente.

Do lado sul da Enseada veio o barulho de galhos sendo quebrados e cascos atingindo o chão. Quando Margie, que era a que ficava mais perto daquele lugar acordou e se levantou assustada, o corpo enorme do touro apareceu entre as árvores e avançou contra ela. Com a agilidade que ela adquirira depois de se ligar à Chantal, ela se desviou facilmente da investida do touro que continuou a correr. Na-Hi já estava em pé e preparada enquanto Diana e Nestor tentavam se levantar.

Mas o touro não continuou a correr na mesma direção. Em vez disso, ele fez uma curva para a esquerda e foi em direção ao local onde estava Milena. Ernesto, com uma velocidade incompatível para a sua idade, se posicionou na frente da cama da filha demonstrando que estava disposto a enfrentar o touro ou até morrer para proteger a ela.

Não foi preciso que o Ernesto ou Na-Hi, que corria desesperadamente naquela direção, fizessem alguma coisa. Ernesto viu de relance o vulto negro de Tornado passando por ele e indo ao encontro do touro e quando estavam a menos de dez metros um do outro, o cavalo se levantou sobre a pata traseira e relinchou. O som do relincho do cavalo encheu todo o ambiente e o touro estacou na mesma hora. Tornado então voltou a ficar apoiado nas quatro patas e foi se aproximando lentamente do boi que bufava, enquanto outro vulto negro passava velozmente por Margie, vindo da mesma direção em que o touro tinha aparecido, passou por Margie em uma velocidade que até mesmo para uma onça seria normal, mas não atacou. Ela parou atrás do touro e adotou a posição de ataque, com o corpo abaixado e as patas traseiras dobradas para impulsionar seu corpo caso fosse preciso saltar.

A cena ficou congelada. Ninguém fazia qualquer movimento a não ser o touro que se limitava a escavar a areia da pedra com uma de suas patas dianteiras. Entretanto, não demorou muito para que Raio e Ventania surgissem por entre a mata e se posicionassem atrás do touro começando a se aproximar dele lentamente e, quando estavam a cerca de três metros, o touro começou a se movimentar em passos lentos. Com os cavalos andando atrás dele para que ele não parasse e Tornado ficando sempre em uma posição que o deixasse entre o touro e Milena, foram conduzindo o bovino na direção da mata. Quando ele despareceu entre as árvores, Raio e Ventania continuaram atrás dele, enquanto Tornado voltava a ocupar a sua posição na cabeceira da cama de Milena e Ernesto e Pâmela olhavam para ele com uma expressão de espanto. Mas era um espanto repleto de admiração e gratidão.

Dois dias depois Milena ainda não havia voltado a si. Todos os seus ferimentos estavam curados e apenas pequenos marcas mais claras eram vistas em seu corpo. Mas isso não queria dizer que seu estado não fosse grave e o clima na Enseada era de tristeza e preocupação.

Henrique tomou para si a obrigação de cuidar do gado e ficava o dia inteiro onde eles estavam, aparecia no acampamento para se alimentar e voltava para lá. Chegou até mesmo a improvisar uma cama embaixo de uma árvore, a única que existia no alto da colina, e lá passava as noites, tendo como única companhia Afrodite que só se separava dele quando sentia fome.

No horário em que todos estavam almoçando, o barulho de cascos e mato sendo quebrado assustou a todos e por pouco não foram atropelados por Relâmpago que passou por eles como se estivesse fugindo de algo terrível e, antes que se recuperassem da surpresa, surgiu o Neve perseguindo o potro que correu pela praia até próximo ao curso d’água que, depois de cair em uma pequena cachoeira do lago, desaguava no mar ao lado da formação rochosa que limitava o lado norte da Enseada.

Relâmpago parou, deu meia volta e ficou apoiado nas duas patas traseiras enquanto movimentava as dianteiras no ar. Depois voltou a firmar as quatro patas no chão, bateu com a pata esquerda em uma pedra, abaixou a cabeça e atacou. Imediatamente Neve interrompeu sua corrida, virou para trás e fugiu ao ver que o potro partia para cima dele. Na-Hi falou para Margie:

– Faça alguma coisa, Margie? Eles estão brigando.

– Estão nada. Só estão se divertindo. – Respondeu Margie despreocupada.

– Pode até ser, mas eu duvido que isso vá dar certo. Não demora e eles arrumam problemas. – Alertou Diana.

Como se para confirmar a previsão de Diana, o albino passou por baixo da proteção que fora construída como um abrigo para os filhotes e o Relâmpago, vindo atrás e por não conseguir passar por baixo por causa do seu tamanho, tento saltar por cima, porém, a largura da proteção era maior do que ele poderia saltar e o desastre aconteceu. O filhote de cavalo caiu sobre a barraca a demolindo.

Margie correu desesperada em direção ao local, pois ela sabia que pelo menos três dos filhotes de Chantal estavam ali naquela hora e ficou aliviada quando os viu saírem por entre as folhas de palmeiras trançadas e capim seco que havia desabado sobre eles. A ruivinha se aproximou e, ao ver que os filhotes não estavam machucados, mas apenas assustados, gritou por Neve.

Foram necessárias várias ameaças para que Neve surgisse com a cara mais lambida do mundo e, como sempre fazia quando sabia que tinha feito algo errado, correu para ela na intenção de lhe fazer festa. Margie ralhou com ele:

– Não adianta me agradar, seu fingido. Vai brincar com esse potro no mato. Se vocês causarem estragos nessa praia de novo, eu juro que você vai se arrepender.

Imediatamente o filhote de pantera albino deu meia volta e correu para as árvores, seguindo o mesmo caminho que Relâmpago fizera antes.

Menos de quinze minutos foi o suficiente para que Margie se arrependesse de mandar Neve brincar na mata. O Henrique ainda estava almoçando quando parou de repente e perguntou:

– O que foi isso? Vocês estão ouvindo?

– É O GADO! – Gritou Diana já se levantando.

A prova de que havia alguma coisa errada acontecendo no pasto ficou evidente quando Tornado, que nunca se afastava do corpo de Milena, deu meia volta e desapareceu entre as árvores. Pensando que se tratava do ataque do lobo sobrevivente, ou talvez de outra alcateia, Henrique deixou a vasilha de comida do lado e saiu correndo atrás de Tornado. Diana, por outro lado, foi até sua pena e se concentrou em ver pelos olhos de Áquila que agora estava sempre por perto e o que viu a deixou irritada, fazendo com que ela gritasse com Margie:

– PORRA MARGIE. É SUA CRIA E AQUELE IMBECIL DAQUELE CAVALO. SE ELES MACHUCAREM ALGUMA RÊS, EU JURO QUE VOU PASSAR A USAR UM CASACO BRANCO E PELUDO. EU VOU MATAR O NEVE.

Margie, sabendo que Diana jamais faria isso e que aquilo era motivado por sua raiva, se preocupou apenas em correr para o local onde ficava o gado, mas chegou tarde. Assustado com a presença de Neve e Relâmpago que apareceram de repente correndo em direção a eles, o gado estourou e naquele momento já iam longe. Ela ficou ainda mais irritada com Neve quando ouviu Diana, que a tinha seguido, dizer ao seu lado:

– Puta que pariu. Vamos gastar pelo menos uns três dias para juntar esse gado de novo.

Margie gritou por Neve que dessa vez sentiu, pela entonação da voz de Margie, que estava encrencado e fez algo que nunca havia feito antes, fugindo dela. Relâmpago, vendo seu companheiro de travessuras fugindo, foi atrás dele.

Margie resolveu não seguir Neve, o que não queria dizer que ela não estava preocupada. Tanto é que pediu para Diana:

– Você pode mandar o Áquila ir ver para onde eles vão?

– Agora não dá, Margie. O Áquila está seguindo o rebanho que o seu filhinho espantou. – E depois, com a voz mais calma. – É bom você tomar cuidado garota. Esse seu filhote ainda vai te causar muitos problemas.

– Ele é só uma criança, Diana. Dá um desconto.

– Desconto? Por acaso os outros não são crianças? Você não vê nenhum dos outros filhos de Chantal bagunçando as coisas. Enquanto isso é difícil o dia que o Neve não arruma uma confusão.

– Tadinho dele. Ele faz isso porque é diferente dos outros. – Falou Margie com ternura na voz.

– É. Ele é diferente. – Depois de falar, Diana ficou pensativa por um curto tempo e depois perguntou: – De todos os filhotes, o Neve é o que mais mama em você, não é?

– É. Ele só mama em mim. Nunca provou o leite da mãe biológica dele.

Diana riu do fato de Margie se referir a Chantal como mãe biológica para impedir que a outra pensasse que ela também não fosse a mãe. Depois que acabou de rir, falou:

– Só você mesma. Olha, eu acho que o fato de ele só mamar o seu leite fez com que ele adquirisse algumas características suas. Ele age igualzinho a você.

– Isso é mentira. Eu nunca fui de fazer...

– Não, né? Nunca foi. A quem você quer enganar.

– Para Diana. Já não chega você ficar implicando com o Neve, agora vem com essa história de que a culpa é minha!

– Hã hã. – Se limitou a dizer Diana concordando o que era isso mesmo que ela pensava.

Mas o castigo aos dois filhotes não demorou. Primeiro foi Relâmpago. No final da tarde ele apareceu na praia cercado por Tornado e Ventania que forçavam-no a andar em direção ao mar. Quando o potro viu que estava sendo conduzido para dentro da água tentou fugir, mas Ventania o impediu dando-lhe uma mordida leve no pescoço. Sem saída, ele foi entrando na água até o ponto em que fosse obrigado a nadar e, todas as vezes que tentava ir em direção à areia, era empurrado para a parte funda novamente. Somente quando o potro, já sem forças, estava quase se afogando, Ventania e Tornado afrouxaram o cerco e deixaram que ele saísse da água. O potro pisou na areia, balançou o corpo para tirar o excesso de água e saiu andando lentamente, tendo Ventania logo atrás, enquanto Tornado ia ocupar o lugar de onde dificilmente saia. Ao lado de Milena.

Neve, que seguira Relâmpago quando ele foi capturado por sua mãe, o seguiu a distância e, depois de assistir o castigo com companheiro, tentou voltar para o mato, mas já era tarde. Margie já tinha visto a ele e o chamou:

– Vem aqui Neve. E nem pense em fugir que só vai fazer com que as coisas piorem para o seu lado. – E depois, dirigindo-se para Na-Hi que assistira ao castigo do potro, pediu: – Cahya, por favor, me empreste a Ruta por alguns minutos?

– O que você pretende fazer com a Ruta?

– Com a Ruta nada. Só preciso que vocês levem o Neve para dar um passeio.

Entendendo o que Margie pretendia fazer e achando que era merecido, Cahya se concentrou e logo Ruta apareceu próximo à praia acompanhado de outros três golfinhos. Margie pegou o Neve no colo e entrou no mar com ele que, ao ver para onde ela estava indo, começou a se contorcer, enquanto ela falava:

– Não adianta nada reclamar agora. Você não gosta das coisas erradas? Então eu vou te ensinar como fazer isso.

Acabando de falar isso, jogou o filhote na água que logo foi cercado pelos golfinhos que, usando seus narizes, começaram a empurrá-lo para longe da praia.

Foram muitos minutos até que Neve pudesse voltar para a praia. Os golfinhos o deixavam por conta própria e ele tentava chegar à areia nadando, mas sempre era empurrado de volta para o fundo. Somente quando ele já estava se afogando por não ter mais forças para nadar, foi que os golfinhos o empurraram na direção contrária e o abandonaram na parte rasa.

O albino repetiu o processo de se livrar da água acumulada e, como seu pelo era maior do que o do cavalo, o que se viu foi um spray de água espirrando para todos os lados. Depois ele saiu cabisbaixo, mas quando Ares se aproximou dele com curiosidade, ele rosnou ameaçadoramente para o irmão. Margie, vendo aquilo, gritou com ele:

– Eu estou te vendo Neve. Pare de bancar o espertinho e some da minha vista antes que eu te jogue no mar de novo.

Neve voltou a caminhar, dessa vez agachado como faz um gato quando está assustado e se dirigiu ao abrigo destruído, se enfiando entre palhas e capim e desaparecendo da vista, enquanto os humanos, menos Margie e Cahya, gargalhavam ao ponto de sentirem suas barrigas doerem.

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NOTA:

Se você leitor quiser receber fotos referentes a esse conto, basta enviar e-mail que eu respondo enviando.

As fotos que eu tenho são:

Mapa com a rota Marítima

Mapa com a rota Marítima com anotações

Vista da Enseada a partir do mar.

Formação rochosa ao norte da Enseada

Lado Sul da Enseada

Cachoeira

Montanhas e nuvens a oeste

Praia dos Tubarões

E-mail: willianwallace1300@gmail.com

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Comentários

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Nassau ainda não havia comentado, mas o que comentar desta obra?, a não ser que ela é bastante intrigante e nos chama a não parar de lê-la com muita avidez.

Ela é ao mesmo instigante e intrigante, pois nos obriga a botar o tico & teco para trabalharem, mas é, com já disse, muito gostosa de ler.

Parabéns pela obra.

vou te enviar um e-mail para receber todas fotos que você puder enviar.

Gratidão.

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Obrigado Budha.

Já enviei as fotos. Qualquer comentário a respeito delas, pode escrever por aqui ou através do e-mail. Qualquer um dos meios usados será respondido.

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Nassau, não sei se o conto é criação sua, publicação de algo já existente ou adaptação de alguma obra, mas é de longe a melhor de suas publicações. Deixou Horizonte Perdido, perdido...rs. Parabéns, vou te mandar um e-mail e desejo receber todas as fotos que você puder mandar. Muito obrigado por nos proporcionar uma leitura tão agradável, amigo!

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A criação é minha. De Horizonte Perdido só me inspirei no nome Shangri-lá.

Eu que agradeço a sua gentileza em ler e comentar.

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