Meu príncipe, meu irmão - Capítulo 11: Passado e presente

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 3446 palavras
Data: 05/01/2025 11:06:30
Última revisão: 05/01/2025 22:24:58

Empurrei Miguel com um movimento brusco, meu coração batendo tão forte que eu conseguia senti-lo na garganta. O quarto parecia ter encolhido, as paredes me comprimindo, e o ar estava pesado, como se me faltasse oxigênio. Eu não conseguia olhar nos olhos dele, mas sabia que sua expressão refletia o mesmo nervosismo que o meu.

Havia um nó na minha mente - um amontoado de pensamentos caóticos que eu não conseguia desembaraçar. O medo de ser descoberto me consumia. Eu já podia imaginar o escândalo que seria se minha mãe soubesse. Não apenas o choque de vê-la decepcionada, mas a vergonha de ser exposto dessa forma. A simples ideia me fazia suar frio.

Miguel parecia querer dizer algo, mas ficou calado. Ele passou a mão pelos cabelos de maneira hesitante, evitando me encarar diretamente. A tensão entre nós era quase palpável, um silêncio tão denso que parecia gritar.

Com passos apressados e inseguros, guiei Miguel até o portão. O som de nossos passos ecoava no corredor vazio, um contraste gritante com o caos interno que eu sentia. Quando finalmente chegamos, ele parou, virando-se para mim. Seus olhos estavam carregados de uma mistura de constrangimento e arrependimento, como se procurasse uma despedida mais significativa do que um simples "tchau".

Sem palavras, ele me abraçou. Foi um gesto breve e desajeitado, quase mecânico, mas eu senti o calor e a confusão no toque. Ele soltou um suspiro antes de se afastar, abrindo o portão e sumindo na rua. Fiquei parado por alguns segundos, olhando para o vazio, tentando juntar coragem para voltar para dentro da casa.

Quando retornei à sala, a cena diante de mim congelou meu sangue. Gustavo estava sentado no sofá, com a postura rígida e as mãos apoiadas nos joelhos. Ele encarava a televisão desligada, mas parecia olhar através dela. O reflexo da luz da janela desenhava sombras ao redor de seu rosto, e seus olhos estavam marejados, brilhando como se estivessem prestes a transbordar.

O coração que já batia acelerado agora estava em desespero. Não sabia se ele havia visto tudo ou apenas uma parte, mas a angústia em sua expressão me fez querer desaparecer.

-Gustavo, eu... - comecei, mas minha voz saiu fraca, hesitante.

Ele levantou a mão, me interrompendo antes que eu pudesse continuar.

-Não precisa se explicar, Léo - disse ele, sua voz baixa, quase rouca, como se cada palavra fosse pesada demais para sair. - Eu não quero ouvir.

A secura em seu tom me atingiu como um soco. Ele se levantou lentamente, passando por mim sem sequer desviar o olhar. O perfume dele, familiar e reconfortante em qualquer outra circunstância, agora parecia um lembrete cruel da distância que havia entre nós naquele momento.

Eu fiquei parado, incapaz de mover um músculo, enquanto ele desaparecia pelo corredor em direção ao nosso quarto. A porta se fechou com um som abafado, mas parecia ter ecoado por toda a casa.

Sozinho na sala, sentei-me no sofá onde ele estivera momentos antes. O calor de seu corpo ainda estava ali, mas era um consolo vazio. Minha mente continuava a se atormentar, imaginando o que ele pensava, o que sentia, e, mais do que tudo, temendo o que viria a seguir.

Quando meus pais chegaram em casa naquela tarde, fiquei ainda mais nervoso. Tentei agir normalmente, mas o medo de Gustavo contar algo me corroía por dentro. Apesar disso, ele não disse nada. Não mencionou o que tinha visto, nem deu qualquer sinal de que iria contar. Na verdade, ele simplesmente me ignorou.

Por um lado, fiquei aliviado, mas, por outro, a indiferença dele era ainda pior do que qualquer bronca ou acusação. Gustavo e eu tínhamos uma conexão especial, e senti que ela havia se quebrado. Ele estava distante, frio, e eu não conseguia decidir se isso me magoava mais do que a vergonha que sentia por ele ter me pegado naquela situação.

O resto do dia foi um tormento. Eu fiquei em alerta o tempo todo, esperando que a qualquer momento minha mãe ou meu padrasto viessem me confrontar. Mas Gustavo permaneceu em silêncio, como se nada tivesse acontecido. Era quase cruel a forma como ele me ignorava completamente, como se eu fosse invisível.

Quando Eduardo chegou em casa, cansado da prova, eu vi ali uma oportunidade de escapar daquela tensão. Inventei que estava com vontade de assistir a O Senhor dos Anéis e o convenci a começar a saga comigo no quarto dele. Eduardo, sempre paciente, topou sem questionar.

O primeiro filme parecia interminável. Apesar de estar ali com meu irmão, a sensação era estranha. Dormir com Eduardo era completamente diferente de dormir com Gustavo. Com Gustavo, eu me sentia seguro, confortável, como se tudo estivesse bem no mundo. O calor do corpo dele, o jeito como ele sempre me abraçava enquanto dormíamos, era algo que me fazia sentir especial, amado. Com Eduardo, éramos apenas dois irmãos dividindo um espaço. Não havia aquele carinho silencioso, aquela cumplicidade que só existia entre mim e Gustavo.

No entanto, eu me agarrei à ideia de continuar assistindo os filmes. Foi a desculpa perfeita para não precisar voltar ao quarto que dividia com Gustavo. Passei cinco noites seguidas no quarto de Eduardo, me acomodando no colchão ao lado da cama dele. Toda noite, dizia que precisávamos terminar a saga, mesmo que, no fundo, eu odiasse cada minuto daqueles filmes longos e maçantes. Até hoje, só de ouvir o nome O Senhor dos Anéis, sinto um arrepio de desgosto.

Na escola, as coisas pareciam ter voltado ao normal, mas dentro de mim, tudo estava diferente. Quando encontrei Miguel no corredor, o chamei para conversar no intervalo. Assim que ficamos sozinhos, ele perguntou ansioso:

-Seu irmão contou alguma coisa?

Balancei a cabeça.

-Não. Ele não vai contar.

Miguel soltou um suspiro aliviado, e logo depois, aquele sorriso despreocupado voltou ao rosto dele. Apesar do alívio, eu sentia uma culpa silenciosa pelo que estávamos fazendo, mas, ao mesmo tempo, não conseguia resistir. Estar com Miguel despertava algo em mim. A adrenalina, a sensação de estar me descobrindo, tudo era viciante.

Às vezes, eu achava que estava começando a gostar dele de verdade. Mas era complicado. Miguel nunca me assumiria. Ele tinha uma imagem a manter - o valentão da escola, o cara que todo mundo respeitava. Nosso relacionamento era um segredo, algo que acontecia em banheiros vazios ou em casa de forma discreta. Ainda assim, eu continuava. Porque, por mais errado que parecesse, eu gostava de como ele me fazia sentir.

Em casa, meus pensamentos não me deixavam em paz. Fazia dias que eu estava preso naquele ciclo, tentando fugir da realidade. Dormir no quarto do Eduardo tinha sido uma boa desculpa, mas agora a saga do Senhor dos Anéis finalmente havia acabado, e eu estava de volta ao quarto que dividia com Gustavo.

Eu não sabia o que sentia. Por um lado, estava aliviado por não precisar mais assistir àquele filme interminável, mas, por outro, voltar para esse quarto me colocava de frente com tudo o que eu estava tentando evitar. Eu sentia falta dele. Da proximidade, das conversas antes de dormir, do toque casual, que para mim significava tanto. Mas, agora, parecia que tudo tinha mudado para sempre.

Foram três semanas de silêncio entre nós. Um silêncio pesado, sufocante. Gustavo mal falava comigo, e quando o fazia, eram palavras curtas, ditas com um tom que me fazia sentir ainda pior. Eu sabia que ele estava magoado, mas também estava confuso. E eu? Eu me sentia perdido, com medo de ter quebrado algo que jamais poderia ser consertado.

Em uma sexta-feira, eu tinha finalmente conseguido pegar no sono, exausto de tanto pensar. Não sei que horas eram, mas fui despertado por um som abafado, quase como um soluço. Levei alguns segundos para perceber que não era minha imaginação. Me virei na cama e, na penumbra, vi Gustavo sentado na beira da cama dele, com os ombros tremendo. Ele estava chorando. Meu coração apertou. Gustavo nunca chorava. Ele sempre foi o mais forte entre nós, aquele que nunca demonstrava fraqueza. Ver ele assim partiu algo dentro de mim.

Levantei devagar, sentindo o frio do piso de cerâmica sob os pés descalços. A penumbra do quarto era quebrada apenas por um filete de luz que escapava pela porta entreaberta, iluminando vagamente os contornos das camas. O silêncio da madrugada era cortado apenas pelo som baixo do ventilador girando e o soluçar abafado de Gustavo.

Ele estava ali, na beira da cama, os ombros curvados e o rosto escondido entre as mãos. Parecia pequeno, frágil, tão diferente do irmão mais velho que eu sempre admirei e vi como um porto seguro. Meu coração apertou, um misto de preocupação e culpa.

Caminhei até ele, com passos suaves para não assustá-lo, e me sentei ao seu lado. O colchão afundou levemente, mas ele não reagiu. Por alguns segundos, fiquei quieto, tentando reunir coragem. Eu sentia a tensão no ar, como se qualquer palavra errada pudesse quebrar algo irreparável.

-Gustavo... o que está acontecendo? - perguntei, minha voz baixa, quase um sussurro que parecia se perder na imensidão daquele silêncio.

Ele tirou as mãos do rosto, mas não olhou para mim. Passou os dedos apressadamente pelas bochechas, como se quisesse apagar qualquer evidência de sua vulnerabilidade.

-Não é nada - respondeu, a voz rouca e hesitante.

Eu sabia que era mentira.

-A gente precisa conversar - insisti, sentindo meu peito apertar ainda mais. - Eu não aguento mais isso, Gustavo. Por favor.

Ele balançou a cabeça, os olhos ainda fixos no chão.

-Eu não quero conversar, Léo.

-Mas eu quero! - minha voz saiu mais firme do que eu esperava, quebrando o tom cauteloso que vinha mantendo. - Você acha que tá fácil pra mim? Eu sinto a sua falta, Gustavo. Eu não consigo mais fingir que tá tudo bem.

Ele suspirou profundamente, como se carregasse o peso de algo muito maior do que conseguia suportar. Finalmente, ergueu o olhar para mim. Seus olhos estavam vermelhos, brilhando de lágrimas que ele parecia lutar para conter.

-Você nunca contou pra mim - começou, a voz trêmula, carregada de mágoa. - Nunca disse nada. Por que, Léo? Por que você nunca confiou em mim?

Engoli em seco, tentando encontrar as palavras certas, mas tudo parecia tão insuficiente diante daquela dor que ele expressava.

-Eu não sabia, Gustavo. Eu juro. Eu fui descobrindo aos poucos, e... eu tinha medo. Medo de mudar o que a gente tinha. Eu não queria que você me visse diferente.

Ele riu, mas era um riso amargo, quase como um reflexo de sua frustração.

-Mas mudou, Léo. Mudou porque você escondeu isso de mim. Porque você preferiu... ele.

A menção de Miguel foi como um golpe. Meu estômago revirou, e eu senti meu rosto queimar.

-Eu não preferi ele - rebati, a voz embargada. - Ele apenas estava ali na hora que eu precisei, na hora que me descobri. E com ele, eu pude ter algo que eu não poderia ter com você.

Gustavo desviou o olhar, mordendo o lábio para conter um novo soluço.

-E é isso que me dói - respondeu, as palavras pesando no ar. - Saber que eu não poderia te dar o que você queria, o que você precisava.

Meu peito apertou ainda mais. Aquele desabafo me atingiu como uma onda, me fazendo perceber a profundidade da dor que ele estava sentindo.

-Eu sinto sua falta - ele continuou, enxugando as lágrimas com a manga da camisa. - Sinto falta do seu abraço, de deitar com você até você dormir, de te proteger dos seus pesadelos. Sinto falta do seu cheiro no meu travesseiro, da sua nuca em meu nariz enquanto te abraço pra você dormir.

A cada palavra, meu coração parecia se despedaçar um pouco mais.

-Eu sinto muito sua falta - ele repetiu, a voz falhando. - Mas saber que, quando você acorda e sai desse quarto, está com aquele menino... isso parte meu coração.

Eu tentei argumentar, mas ele não me deu tempo.

-Porque você tem que ficar com ele? - perguntou, quase desesperado. - Porque não pode ser apenas nós dois para sempre? Você prometeu.

-Porque da mesma maneira que você gosta de chegar na escola e ficar agarrado com aquela menina, eu gosto de ficar agarrado com o Miguel - respondi, tentando manter a calma. - Você não pode pedir que eu abra mão dele enquanto você mesmo tem sua namorada na escola.

Ele me encarou, seus olhos brilhando com uma mistura de dor e determinação.

-Eu largo ela - disse de repente, quase sem pensar. - Podemos ser só nós dois.

Eu o encarei, chocado e sem palavras.

-Maninho... - comecei, tentando manter minha voz firme. - Você sabe que é diferente. Nós sempre estaremos juntos, somos irmãos. Mas precisaremos de outras pessoas, pois nem tudo nós podemos fazer e...

Antes que eu pudesse terminar, Gustavo se aproximou de repente. No calor do momento, ele me beijou.

O mundo pareceu parar. Seus lábios eram macios e quentes, movendo-se contra os meus com uma intensidade que me deixou sem ar. Eu sentia sua respiração entrecortada, o gosto salgado de suas lágrimas misturado ao beijo. Meu coração disparou, e um arrepio percorreu meu corpo inteiro.

Quando ele se afastou, ambos estávamos ofegantes, nossos rostos a centímetros de distância. O silêncio voltou a dominar o quarto, mas, dessa vez, era diferente.

Aquele beijo carregava tudo: dor, saudade, desejo, confusão.

A partir daquele momento, eu soube que nada seria como antes. Era como se aquele beijo tivesse selado algo inevitável, nos jogando em uma direção que eu não sabia onde terminaria. Mas, naquela noite, a única coisa que importava era o quanto eu amava Gustavo. E, pela primeira vez, eu senti que ele talvez me amasse também.

Hoje, de volta aos meus 28 anos, confrontar todo meu passado era bem doloroso. Eu jamais conseguiria fazer isso sozinho, mas graças a Deus eu tinha a doutura Mônica para me ajudar. A sala estava silenciosa, exceto pelo som do relógio que parecia ecoar na minha cabeça. As palavras da doutora Mônica ainda pairavam no ar enquanto ela estendia o caderno na minha direção. A capa preta, já um pouco desgastada, parecia mais pesada do que nunca. Peguei-o, hesitando por um momento antes de apertá-lo contra o peito.

- Aqui está, Léo - ela disse, com a calma que sempre me desarmava. - Eu li tudo o que você escreveu. Dá pra sentir que estamos nos aproximando daquele momento... do dia em que tudo mudou.

Engoli em seco. Sabia exatamente do que ela estava falando. Meu estômago revirou.

- Você acha que está pronto para falar sobre isso? - ela perguntou, inclinando-se levemente para frente. O olhar dela era firme, mas não invasivo.

Eu desviei os olhos, focando na janela atrás dela. Do lado de fora, as folhas da árvore balançavam lentamente ao vento. Não respondi de imediato.

- Eu não sei - murmurei, sentindo o peso das palavras saindo. - Ainda é tão confuso pra mim. Parece... parece um filme em que eu não consigo assistir até o final.

Ela não disse nada no começo. Apenas me observou, como se estivesse me dando espaço para continuar. Mas eu não sabia o que mais dizer.

- Confusão faz parte, Léo - ela disse, finalmente. - Especialmente quando você está revisitando momentos que carregam tantos sentimentos conflitantes.

Suspirei, soltando o ar como se tentasse aliviar a tensão dentro de mim.

- Eu só... não sei se consigo - admiti. - Eu escrevi sobre como tudo começou a mudar entre nós. Sobre o quanto a proximidade com o Gustavo significava pra mim. Mas também sobre o quanto isso... isso me machucou.

Meus olhos estavam fixos no caderno agora. Minhas mãos tremiam levemente enquanto eu o segurava.

- Você sente que, ao revisitar esses momentos, está se punindo? - ela perguntou, com a voz mais suave do que nunca.

Fiquei em silêncio. Porque, no fundo, sabia que ela estava certa.

- Talvez - admiti, por fim. - Mas eu também sinto que, se eu não encarar isso de frente, vou carregar esse peso pra sempre.

Ela assentiu, sem me interromper.

- Eu sei que ainda não é fácil pra você falar sobre tudo o que aconteceu depois daquele beijo - ela disse, mexendo nos óculos e me encarando. - Mas você acha que consegue dar mais um passo?

Fechei os olhos por um instante. Respirei fundo, sentindo a sala ao meu redor ficar sufocante. Quando abri os olhos novamente, percebi que ela ainda me observava, esperando.

- Eu não sei se estou pronto - respondi, minha voz mais baixa agora. - Mas talvez... talvez eu nunca esteja.

Ela sorriu de leve, quase como se quisesse me confortar.

- É um processo, Léo. Não precisa se forçar. Podemos ir no seu tempo. Por enquanto, acho que podemos encerrar aqui.

Levantei os olhos para ela, sentindo um misto de alívio e frustração.

- Então... o caderno vai ficar comigo? - perguntei, tentando mudar o foco.

Ela assentiu.

- Dessa vez, sim. Leve o tempo que precisar para continuar. Você não precisa ter pressa.

Assenti em silêncio, apertando o caderno um pouco mais forte contra mim. Enquanto me levantava para sair, uma parte de mim queria continuar ali. Mas outra sabia que, quanto mais eu demorasse, mais difícil seria.

A noite já havia caído quando saí do consultório da doutora Mônica. O ar do Rio de Janeiro carregava aquele cheiro característico de asfalto quente que começava a esfriar com a brisa da noite. Era terça-feira, por volta das sete horas, e o centro da cidade já estava quase deserto. Algumas luzes amareladas dos postes iluminavam as calçadas quebradas, enquanto eu caminhava em direção ao metrô.

Botafogo parecia tão distante naquele momento, mas a caminhada até o metrô era um ritual que eu quase apreciava. Um tempo para organizar os pensamentos, ou pelo menos tentar. A consulta tinha mexido comigo. Mais uma vez, eu me via obrigado a olhar para partes de mim que preferia esquecer.

As ruas tinham seu próprio ritmo naquela hora. Algumas pessoas apressadas ainda voltavam para casa, enquanto outras vagavam sem rumo. Passando por uma esquina, deparei-me com um grupo de moradores de rua. Eles estavam sentados no chão, ao lado de um prédio antigo, cercados por sacolas, cobertores puídos e restos de comida. Um deles ria alto, enquanto os outros ouviam, como se, por um momento, aquele pedaço de mundo fosse menos cruel.

Parei por um instante, observando. Era estranho pensar nisso: cada pessoa ali tinha uma história. Um passado que os trouxe até ali. Quem eram eles antes? O que perderam ao longo do caminho? Peguei minha carteira no bolso, tirei algumas notas e me aproximei.

- Comprem algo para comer, tá? - disse, entregando o dinheiro a um dos homens.

Ele me olhou surpreso e agradeceu com um sorriso tímido. Balancei a cabeça, sem dizer mais nada, e continuei meu caminho.

No metrô, o som das portas se abrindo e fechando era quase um alívio, preenchendo o silêncio pesado dos meus pensamentos. O vagão estava relativamente vazio. Sentei-me perto da janela, olhando a cidade passar. Mas, no fundo, eu sabia que, por mais que quisesse, aquela noite não seria tranquila.

Eu não ia conseguir dormir sozinho. Estava muito confuso, minha cabeça um caos. Peguei o celular no bolso e abri o aplicativo de mensagens. Olhei para os contatos, hesitando por alguns segundos, antes de escrever:

"Você pode vir até minha casa hoje? Eu preciso de companhia."

Enviei a mensagem antes que pudesse pensar demais.

Cheguei ao meu apartamento em Botafogo por volta das oito. Era pequeno, mas confortável. A sala tinha um sofá cinza claro, uma estante com livros que eu raramente lia e uma televisão que passava mais tempo desligada do que ligada. Na cozinha, preparei algo simples - um sanduíche e um copo de suco.

Estava mastigando distraidamente quando a campainha tocou. Meu coração acelerou. Levantei, limpando as mãos na calça, e fui até a porta. Ao abri-la, dei de cara com Miguel.

Ele estava diferente. O garoto franzino de anos atrás tinha dado lugar a um homem que parecia ter saído de uma capa de revista. Os traços do rosto estavam mais definidos, os ombros mais largos, e havia algo em seu olhar - um misto de intensidade e tranquilidade - que me deixou sem palavras por um momento. Ele ainda tinha aquele sorriso malicioso, mas agora parecia... mais perigoso, de uma maneira estranhamente bonita.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Miguel deu um passo à frente, segurou meu rosto com firmeza e me beijou.

O beijo era urgente, como se ele estivesse tentando me dizer algo que palavras nunca poderiam expressar. Meu coração disparou, e eu me vi correspondendo, como se aquele momento fosse inevitável.

Quando ele se afastou, entrou no apartamento como se já conhecesse o espaço.

- Então, o que vamos fazer hoje? - perguntou, com aquele sorriso que eu conhecia tão bem, enquanto se jogava no sofá como se fosse dono do lugar.

E, por algum motivo, eu me senti um pouco menos sozinho.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 30 estrelas.
Incentive Th1ago a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de Jota_

Thiago! Está me matando ter pouco tempo nas férias pra ler contos, ainda mais quando me deparo com um capítulo desse. Vou ter q ler o seguinte agora...o sono que se aguente hahah

0 0
Foto de perfil genérica

Esse triângulo é tão cheio de eastereggs

0 0
Foto de perfil genérica

Repare que neste capítulo tem uma parte enorme repetida. Reveja isso.

0 0
Foto de perfil genérica

Confesso que a segunda metade deste capítulo me deixou um pouco no vazio. Do final da consulta até a chegada a casa parece tudo repetido. Foi intencional para acentuar o impasse do processo terapêutico? Se foi esta a intenção não resultou pois dá mais a impressão de que, na elaboração do texto em word, foi efetuada uma cópia e colagem (copy-past) com a repetição consequente e inadvertida da metade final do capítulo. Fiquei sem entender nada.

Depois da consulta e do regresso a casa Léo, na maior solidão, faz um telefonema num pedido de socorro. Ao abrir a porta quem surge é o Miguel, numa auréola de beleza e virilidade que deslumbra o Léo. Como se não se vissem há muitos anos.

É um sonho e recordação/repetição do passado com o "dejá vu" caraterístico das sessões de psicoterapia que nos remetem para as nossas culpas eternas? Ou é uma realidade presente conforme se deduz do local do apartamento em Botafogo onde decorre a ação?

Mas não foi o Gustavo quem iniciou sexualmente o Léo? E o título do conto não é "Meu Príncipe, Meu Irmão"? E a única vez em que o Léo ficou mais de 24 horas sem falar com o Gustavo não tinha sido depois da tal catástrofe? Isto não era para nos sugerir que o Léo e o Gustavo acabariam por ficar juntos?

Ou é mesmo a realidade presente com o Miguel? Confesso que repeti a leitura da metade do conto que aparece repetida e fiquei ainda mais confuso com os parágrafos finais em que surge o Miguel quase de paraquedas. E onde fica o Gustavo que nem sequer é irmão do Léo pelo que nem constituiria um obstáculo incestuoso à aproximação dos dois, depois de adultos e independentes?

O enigma faz parte de uma narrativa apaixonante mas é necessário algum cuidado para não deixar o leitor num limbo entre aquilo que se pretende efetivamente transmitir e o que fica expresso na narrativa escrita.

Th1ago. Não interprete este meu comentário como uma crítica demolidora. A realidade é que já nos habituou a um padrão descritivo de uma qualidade à prova de bala. Se fosse um escritor qualquer nem estaria aqui a gastar o meu latim consigo. Só a alta consideração em que o coloco me permite a expressão destas dúvidas.

0 0
Foto de perfil genérica

Meu amor, realmente quando joguei do Wattpad pra cá ele colocou o mesmo pedaço duas vezes, o que deve ter deixado confuso. Vou reeditar o capítulo para ver se melhora a compreensão.

Depois do primeiro beijo dele com Gustavo estamos nos dias atuais, no presente de Léo. Vamos lembrar que a CDC não deixa publicar idades, mas os meninos (Léo e Gustavo) se conheceram muito pequenos e foram criados juntos, como irmãos.

Em relação a quem iniciou o Léo sexualmente, o Léo e o Miguel não fizeram sexo, acredito que pelas repetições possa ter ficado confuso, mas eles apenas estavam se beijando agarrados no quarto.

Em relação a briga delas, eles só ficaram mais de um dia sem se falar uma vez, que foi a narrada em questão.

E sobre onde anda o Gustavo nos dias atuais, vai ter que ler pra descobrir 😂

0 0
Foto de perfil genérica

Acabei de reeditar o capítulo, vê se melhorou a compreensão.

0 0
Foto de perfil genérica

Agora tudo faz mais sentido porque se destacaram dois trechos que dantes me tinham passado completamente despercebidos pela quebra da sequência:

… um dia em que tudo mudou. Engoli em seco. Sabia exatamente do que ela estava falando. Meu estômago revirou.

….. Eu escrevi sobre como tudo começou a mudar entre nós. Sobre o quanto a proximidade com o Gustavo significava pra mim. Mas também sobre o quanto isso... isso me machucou.

0 0
Foto de perfil genérica

Desculpa pela falha bb, vou prestar atenção da próxima vez quando colar o capítulo 😭

0 0
Foto de perfil genérica

DEMOROU MUITO PRA GUSTAVO TOMAR ESSA DECISÃO DE BEIJAR LEO. MAS LEO PREFERIU CORRER PROS BRAÇOS DE MIGUEL. COM CERRTEZA GUSTAVO VAI FICARR DESOLADO SE SOUBER QUE MAIS UMA VEZ LEO PREFERIU MIGUEL. FFIQUEI CURIOSO COM A PROPOSTA DE GUSTAVO EM ABANDONAR A NAMORADA PRA FICAR COM LEO. É PRA SE PENSAR. MUITO CORAJOSO DA PARTE DE GUSTAVO. GOSTEI.

0 0
Foto de perfil genérica

Eles são irmãos poxa, tem que entender a confusão que fica na mente dos meus bebês ♥️

0 0
Foto de perfil genérica

Mais um capitulo estonteante. Nao quero Miguell quero gustavo e leooooo aaaa a a ansioso demais pela continuação.

0 0
Foto de perfil genérica

Calma que agora estamos um pouco nos dias atuais. Mas no passado vai ter bastante #LeGu ♥️

0 0
Foto de perfil genérica

Excelente narrativa,o conto nos prende de maneira a querer sempre mais , parabéns.

1 0
Foto de perfil genérica

A forma narrar é tão cativante e fascinante.

1 0
Foto de perfil genérica

Esse conto tem.mexido comigo de uma impressionante. As relações mais prazerosas são aquelas quem te fazem gozar e sonhar ao mesmo tempo. Esse triângulo de irmão sanguíneo e fraterno, com incesto de todos, além do adolescente viril e um padastro homofóbico é um caldo de ações que te dão curiosidade de saber mais.

0 0
Foto de perfil genérica

Imagina quando você ler o próximo capítulo. Daqui pra frente é só eita atrás de eita.

0 0
Foto de perfil genérica

Tô vendo muita gente ler e não dar as estrelinhas no conto, hein! Hahahaha ❤️

Me conta aqui o que acharam desse capítulo!

0 0