Depois que decidi romper com Selena, passei por alguns momentos difíceis.
Bem, dizer que eu rompi com ela não é lá muito honesto de minha parte, para falar a verdade, nós nunca tivemos nada. Selena era só uma leitora que me procurou para escrever a história de quando ela, novinha, casada, linda e tesuda, sentiu um desejo incontrolável de dar a bundinha, mas não conseguiu.
Ricardo, seu marido, foi o primeiro a dar prá trás na hora de fazer ela dar por trás, quer dizer, ele não topou enrabar Selena, alegando questões morais e afirmando que jamais comeria a bunda da futura mãe de seus filhos.
Isso era inacreditável, digo, se vocês por acaso chegassem a dar uma olhadinha no traseiro daquela morena encantadora, entenderiam do que falo. Eram umas nádegas polpudinhas e redondas, durinhas, na medida certa, nem grandes demais, nem pequeninas.
Custando a acreditar no que Selena relatou, fui navegar em suas redes sociais para ver se podia mesmo ser real e terminei obcecado - eu me tornara quase um perseguidor, sempre, procurando se ela postava uma foto nova, se fazia uma atualização e, principalmente, torcendo para ela voltar a me procurar - mesmo depois de brigarmos e ela ter me demitido.
Minha vida se tornara um inferno, eu já não dormia, nem comia, só ficava olhando suas fotos, imaginando como seria se eu fosse o escolhido para comer seu traseirinho tentador. E o pior de tudo não era isso, a história de Selena estava ficando boa e eu queria muito terminar de escrevê-la - e com uma curiosidade pra lá de mórbida ao ouvi-la contar como foi quando finalmente conseguiu realizar o desejo de dar por trás pela primeira vez.
Por isso que eu terminei com Selena antes mesmo de começarmos. Também havia um certo receio dela revelar-se uma doida psicótica, igualzinho à Rosário, a primeira mulher que me pediu para escrever um conto sobre uma aventura sexual: essa foi uma fase bem ruim da minha vida que terminou muito mal e que não tinha a menor vontade de repetir.
Mas isso não vem ao caso, voltemos ao que aconteceu depois que decidi não mais pensar em Selena. As primeiras horas da manhã seguinte foram tensas, a todo momento eu sentia um impulso de voltar a procurar por ela, mas resisti bravamente. Tentei escrever umas coisas, mas minha mente não estava clara e eu seguia pensando em sua bundinha.
Quando por fim estava vencendo a batalha, recebi um novo e-mail de Selena: “Oi, tudo bem? Pensei bem e decidi dar a você mais uma chance. Te espero no mesmo café para continuarmos a conversa, afinal, precisamos terminar de escrever a minha história.”
Merda, porque sou tão idiota? Bastou Selena assoviar que fui como um cachorrinho encontrá-la. No caminho, essa ideia me incomodou mais e mais, de forma que, quando cheguei, estava decidido a cavar fundo - e não me importava caso Selena me odiasse.
Quando a vi sentada, de saia verde-água deixando os coxões de fora com a pele bronzeada, eu até fraquejei, mas mantive a determinação. A garçonete jeitosinha da trança grossa e negra veio anotar o pedido e achei que tinha piscado um olho pra mim. Nem nos demos ao trabalho de pedir café, Selena foi direto ao blood-mary e eu pedi um scotch.
Apesar de não ter nenhuma fome, vendo que a tal garçonete não arredava pé e que fazia cara de poucos amigos para Selena, com a boca torcida e uma das sobrancelhas finas levantadas, pedi uma porção de empanadas argentinas só para tirar a morena jeitosinha do nosso lado e podermos retomar o assunto de onde paramos.
- Que bom que você veio. Hoje vamos falar sobre a primeira vez que tomou na bundinha?
- Como é? Eu ouvi bem?
- Ouviu. Se quiser mesmo que eu continue a escrever, vai ser do meu jeito, sem frescura!
- Tá bem. Vamos terminar logo então. O que você quer saber?
- Já finalizei a parte inicial da história, agora temos que ir direto ao ponto, ou seja, você chifrando o Ricardo e sendo enrabada por outro cara. Como foi isso?
- Desculpe, mas não foi tão simples. Eu tive que me esforçar para… Bem, você sabe o quê.
- Você não conseguiu ser enrabada logo de cara? Muito bom mesmo. Isso dá mais conflito à trama. Me conta, quem era o sortudo?
- Foi o Beto.
- Fale-me sobre ele. Quem era, porque o escolheu, alguma característica especial…
- Beto é o melhor amigo do Ricardo, tipo amigão desde a infância. Foi ele quem nos apresentou, mas o Beto que dava em cima de mim antes de casarmos. O escolhi por isso.
- Pôrra Selena, você está de sacanagem?
- Como assim? Eu juro, ele e o Ricardo eram unha e carne! Além do mais, o Beto era nosso padrinho, pra alguma coisa isso deveria servir!
- E você foi pedir justamente a ele pra comer a sua bunda? Que espécie de mulher é você?
- Olha, tenta entender. Se eu ia trair o Ricardo, precisava ser alguém da confiança dele, assim meu marido não ficaria ressentido! Achei que o Beto era uma opção lógica, ora bolas!
Esse foi o primeiro alerta, mas nem me dei conta. Uma mulher como aquela achar normal chamar o padrinho para comer sua bunda maravilhosa, definitivamente, não era coisa de gente normal. Olhando o salão, pude notar que até a garçonete jeitosinha havia sido surpreendida ao escutar tal loucura, a julgar pela maneira como arqueava as sobrancelhas. Mas, ainda assim, ignorei meus instintos e dei seguimento à conversa.
- Sei. A história só melhora. E como foi? Você disse “Aí Beto, tá a fim de me enrrabar hoje?”
- É claro que não. Eu aproveitei um dia que o Ricardo foi trabalhar e liguei pro Beto, dizendo que estava com um problema em casa e pedi pra ele vir ajudar.
- Só isso? Ele nem sequer perguntou nada?
- Na verdade, ele insistiu bastante para saber o que era, mas só comentei que tinha um problema. Preparei tudo, coloquei o melhor jogo de cama e vesti uma lingerie especial que comprei para a ocasião. Nossa, modéstia à parte, eu estava muito tesuda…
- Peraí! Se eu entendi bem, você planejava consumar a traição dando a bunda na cama em que dormia com o marido?
- Sim, uai! Era algo novo e eu precisava me sentir segura, num ambiente familiar!
- Acho meio estranho mas, se foi assim que aconteceu, quem sou eu para opinar, não é?
- Só que não aconteceu!
- Como assim? O Beto também não quis desvirginar sua bunda? Taí, é difícil de acreditar, dois caras refugando te comer por trás. Afinal, o que acontece com a nova geração?
- Pois então, eu também não acreditei! O Beto ficou cabreiro logo quando chegou, assim que me viu naquela lingerie.
- Ah, eu achei que você tinha colocado alguma coisa por cima da lingerie…
Esse foi o segundo alerta, que eu também ignorei. Por acaso alguém recebe o padrinho de casamento em casa só de lingerie? Selena estava dando todos os sinais de ser meio fora da casinha, mas eu seguia tão envolvido com a história que nem percebia!
- E pra que ia colocar roupa, se meu objetivo era que ele tirasse? Como dizia, ele ficou todo desconfiado. Quando contei que o problema era o Ricardo negar o sexo anal, sendo que eu o havia chamado ali para resolvermos isso, o Beto ficou todo indignado, dá para imaginar?
- Na verdade, até que dá. Você, um mulherão, convoca o melhor amigo do seu marido, padrinho de vocês, recebe o cara em casa só de lingerie erótica… E ainda por cima diz que precisa que ele coma a sua bunda? Isso parece armadilha de uma doida psicótica!
- Você está exagerando! Eu nunca disse que era uma lingerie erótica!
- Ah, tá, e por acaso era uma lingerie normal?
- Não… Comprei numa sex-shop, mas nunca tive a oportunidade de usar com o Ricardo…
- Doida psicótica total.
- Doido psicótico é você, que pergunta um monte de coisa inútil, como se sentisse prazer em me ver falando sobre isso!
A garçonete apareceu na mesa com outra rodada de bloody-mary e scotch. Ao deixar os drinks, pediu que fôssemos mais discretos, pois todos os clientes do café escutavam enquanto discutíamos sexo anal, algo bem inapropriado num estabelecimento de classe.
Era difícil atender ao seu pedido devido ao problema de audição de Selena, o hábito de falar alto entre nós já havia se instalado e era complicado conversar baixinho sobre dar a bunda, ainda mais quando começamos a discutir a possibilidade real dela ser meio louca. Pedi desculpas à garçonete, tomei o scotch de um trago e tentei emendar as coisas.
- Me desculpe. Para dizer a verdade, eu sinto mesmo um certo prazer em te ver falando sobre dar a bunda. Façamos assim, somos os dois uns malucos psicóticos, tá legal?
- Que engraçado, você é mais maluco do que eu!
- De repente eu sou mesmo. Sabia que eu vasculhei as suas redes sociais?
- Você o quê?
- Pesquisei sobre você e terminei nas suas redes sociais. Eu queria ver como era o tal do Ricardo, mas acabei olhando suas fotos. Até escolhi as duas que eu mais gosto.
- Está vendo? Doidinho, doidinho.
- Sabe que eu até fiz uma lista de coisas que eu gosto e que não gosto sobre você?
- E posso saber quais foram?
- As coisas que me agradam ou as que me desagradam?
- Não, bobo. Quero saber quais são as suas fotos prediletas!
- Porquê? Além de doida psicótica, você também é narcisista?
- Não, besta. Eu tenho uma teoria e queria comprovar… Anda, diz logo, quais são as fotos?
- Aquela do biquininho branco em Ubatuba e a do pijaminha cor-de-rosa, na qual você aparece visivelmente sem roupa de baixo.
- Merda!
- O que foi agora? O que eu fiz?
- Nada. É que nestas fotos estou de frente pra câmera. Você não escolheu fotos da bunda!
Alerta número três - e o pior é que eu já tinha me dado conta de que ela não era mentalmente estável, mas decidi ignorar. Eu digo que estava praticamente perseguindo-a nas redes sociais e sua preocupação era se olhei para sua bunda? Doida psicótica total! Mas eu apelo à sua compreensão, ela era linda, uma mulher de presença marcante - e possivelmente até você também ignoraria todos estes sinais para estar ao lado dela.
- É verdade. Vai saber porquê, Selena, você tem uma bundinha tão linda…
- Não, ela é feia. Por isso o Ricardo e o Beto não quiseram comê-la. Minha bunda é feia!
- Selena, não reparei na sua bunda, mas sou capaz de imaginar que ela é maneira, sem grandes problemas. Deixa de ser paranóica, o Ricardo não quis te comer porque tem um bloqueio moral e o Beto deu pra trás porque é o melhor amigo do seu marido, só isso.
- Você acha mesmo? Jura que não tem nada errado com a minha bunda? Mas você nunca a viu! Que idiota eu sou, como você poderia saber?
- É isso mesmo, fica tranquila, eu não tenho como saber. Vamos voltar à sua história?
- Você quer ver a minha bunda? A gente pode ir ali no banheiro e…
Pronto. Selena estava tendo ideias um tanto disruptivas em relação a mim, um cara de quem ela nem gostava, mas mesmo assim considerava entrar no banheirinho e mostrar seu lindo traseirinho virgem para que eu pudesse analisar e emitir minha opinião estética.
Ora, não sejam tolos, isso de opinião estética era uma bobagem, é claro. Para mim aquilo não passava de um artifício de Selena para que eu a comesse por trás e, assim, realizasse aquele seu desejo doido que ninguém mais quis concretizar.
Bem, nesse ponto eu também não posso me fazer de tolo, o fato é que eu comeria muito a bundinha de Selena em qualquer circunstância, independentemente das implicações que isso trouxesse - e é aí que morava o perigo.
Ah, se ao menos Selena não desse sinais de ser uma maníaca psicótica como Rosário, aquela outra mulher com quem eu me enrolei no passado quando fui escrever uma história que ela tinha para contar - e que tanto me custou para que largasse do meu pé…
(CONTINUA, ESSA FOI A PARTE 2/4)