O plano era simples: uma noite tranquila. Nada de balada, nada de encher a cara, só alguns jogos e conversar. Foi assim que a Carol vendeu a ideia quando me chamou para visitar a república dela.
Eu havia conhecido a Carol durante o programa de "adoção de calouros". No curso de contabilidade, onde a maioria esmagadora era de homens, foi uma surpresa quando vi que o calouro que eu deveria ajudar a se adaptar era uma caloura. E, ainda por cima, uma caloura lindíssima.
Carol era baixinha, magra, com o cabelo liso e escuro. O tom moreno de sua pele, os olhos puxados e os traços suaves criavam uma mistura única, fazendo-a parecer um pouco uma índigena.
Eu até tentei puxar conversa, joguei umas indiretas, usei todas as oportunidades para ver se saía algo. Mas, Carol era prática: me jogou direto na “friendzone”, sem escalas. E era isso. Não tinha volta.
Por outro lado, a “friendzone” tinha suas vantagens. Eu era praticamente um frequentador VIP da república, conhecendo todas as meninas que moravam lá. Inclusive, foi a Carol que me apresentou a Júlia, uma cearense maravilhosa que eu ficava sempre que tinha uma chance.
Quando cheguei à república naquele fim de tarde, Carol, Júlia e outra moradora, Renata, estavam na piscina, rindo de algo. As três usavam biquínis que deixavam bem claro que o dia tranquilo que eu planejava já ia começar testando meu autocontrole.
– Pô, por que vocês não me avisaram que tavam nadando? Se tivessem falado, eu tinha trazido shorts e toalha – reclamei, já sentindo o olhar curioso delas me avaliando.
– Toalha, eu empresto. – Carol respondeu com um sorriso despreocupado, enquanto saía da piscina e pegava uma cerveja na mesa próxima.
– Shorts? Pra quê? – Júlia completou, me olhando de cima a baixo. – Entra de cueca mesmo, Rafa. Ninguém aqui vai julgar.
As três trocaram olhares cúmplices e riram. Conhecendo Carol e as amigas, eu sabia que não era brincadeira. A casa delas tinha uma pegada bem liberal. As festas que elas davam terminavam costumeiramente com gente pelada na piscina, sem ninguém achar nada de mais. Mesmo assim, a sugestão de Júlia me deixou um pouco sem jeito, me senti em inferioridade numérica.
– Sei não… vai que vocês espalham um vídeo meu na internet – tentei desconversar, rindo.
– Ah, para com isso, Rafa. Pessoal da internet nem ia ligar, não teria muito o que ver no vídeo. – Júlia respondeu, fazendo Renata cuspir a cerveja de tanto rir. Apesar da promessa de um dia tranquilo, era óbvio que as três já estavam bebendo há um bom tempo.
Não esperei outro convite. Tirei a blusa e a calça, entrando no clima e fazendo um strip-tease improvisado. As três começaram a assobiar e soltar provocações, me chamando de gostoso entre risadas. Com uma cerveja na mão, mergulhei na piscina e me juntei a elas, pronto para aproveitar aquela tarde ensolarada.
– Tá confortável demais, hein, Rafa? – Carol brincou, apoiando os braços na borda da piscina. – Na próxima você já traz as suas coisas e vem morar aqui.
– Confortável nada! Tô aqui sobrevivendo no meio de vocês. É muita personalidade junta pra mim – respondi, tentando disfarçar o quanto estava aproveitando aquele momento.
Renata nadou até mim e me empurrou levemente pelo ombro, rindo.
– Para de ser besta. A gente não morde… quer dizer, nem sempre.
Eu posso até ser uma pessoa confiante sobre minhas questões, mas tudo tem um limite. Nessa hora, já estava com um frio na barriga, pensando como seria fazer um ménage com as três. Ao invés de ficar excitado, uma voz surgia na minha cabeça dizendo que meu pau não seria suficiente e que era melhor sair dali antes que as coisas pudessem esquentar mais.
Percebendo que estava quieto demais, Júlia se aproximou e me abraçou, dizendo que eu era um ótimo amigo. Coisa típica de quem já tinha bebido um pouco demais.
Quando nos soltamos, ela permaneceu perto, encostando a cabeça no meu ombro de um jeito casual, mas cheio de intenção. Passei o braço pelos ombros dela, sabendo exatamente o que ela estava fazendo. Ela estava marcando território, deixando claro para as amigas que eu era dela.
Pelo menos aquilo diminui um pouco a minha ansiedade. Por debaixo d'água, Júlia roçava a perna na minha, enquanto a mão dela descansava no meu colo. Fiquei na minha, tranquilo, até para respeitar as outras moradoras da casa, mas feliz que mesmo se não rolasse nada com as três, a Júlia brincaria comigo aquela noite.
O tempo esfriou e saímos da piscina. A próxima atividade do dia já estava definida: uma partida de truco. Júlia me escolheu como dupla dela, enquanto Carol e Renata se juntaram para ser nossas adversárias.
Sabendo que a Carol era super competitiva e que as meninas estavam bem mais embriagadas do que eu, joguei de forma bem casual, sem me preocupar muito em ganhar ou perder. Perdemos duas partidas seguidas, e Renata disse que só continuava a jogar se fosse “valendo”.
Meus olhos brilharam. A oportunidade perfeita para apimentar as coisas estava surgindo. Só faltava decidir qual seria a “punição” para dupla perdedora.
– A dupla que perder tem que se beijar? – Júlia sugeriu.
– Ah, mas aí o Rafa só sai ganhando – retrucou Renata, apontando o óbvio. – Se perder, ele assiste um showzinho, se ganhar, ele beija a Júlia. Não tem graça nenhuma.
– Justo – respondi, tentando parecer racional, mas mal conseguindo conter a animação com o rumo da conversa. – Se vocês perderem, vocês se beijam. Agora, o que vocês querem se a gente perder?
Renata e Carol foram até a cozinha, ficaram cochichando e rindo enquanto planejavam a nossa punição. Júlia, ao meu lado, já parecia prever que viria alguma ideia absurda.
Quando voltaram, Carol, com a maior cara de quem estava segurando o riso, se aproximou e soltou:
– Beleza. Se vocês perderem… a Júlia tem que colocar um dedinho no seu brioco.
A mesa inteira explodiu em risadas, menos eu, que fiquei entre a indignação e a dúvida se aquilo era sério. Júlia se virou para mim, fingindo estar pensativa, e disse:
– Acho que consigo viver com isso. E você Rafa? Vai encarar?
Aceitei. Até porque, não tinha como eu perder. Estava prestes a usar a “estratégia do tio Phil” com elas.
Se você já assistiu Um Maluco no Pedaço, provavelmente vai saber do que eu estou falando. Tem um episódio clássico em que o Will Smith perde o carro apostando na sinuca no bar, e o tio Phil aparece para salvá-lo. Primeiro, ele finge ser um completo novato, perdendo de propósito. O adversário, achando que estava lidando com um amador, aumenta a aposta. E é aí que o tio Phil mostra suas verdadeiras habilidades, jogando como um mestre da sinuca, recuperando todo o dinheiro perdido – e ainda saindo no lucro.
Foi assim que me senti quando aceitei aquele jogo. Elas não tinham nenhuma chance de ganhar.
– TRUCO! – Carol berrou, batendo a mão na mesa, sem perceber que eu havia embaralhado aquela rodada.
– SEIS! – Júlia retrucou, e eu mal contive o riso. Ela estava apostando com nada na mão, a sorte era que eu tinha o Zap.
– NOVE! – Carol gritou extremamente confiante.
– DOZE! – pedi, pronto para bater o Zap na testa das duas.
– Eu não tenho nada amiga. É com você. – Renata disse, olhando para a parceira.
– Vamo? – Carol perguntou – Eu acho que ele tá blefando.
– Foda-se, vamos ver. – Renata respondeu, dando de ombros.
Carol mal conseguia disfarçar a frustração depois que revelei o Zap. Júlia pulou nos meus braços e comemorava abraçada a mim.
– Não acredito… – Carol murmurou, jogando as cartas na mesa e afundando o rosto nas mãos.
– Não só acredite, como eu espero um show bonito agora, hein – Júlia provocou, pegando o celular e fingindo que ia gravar.
– Tá, tá… mas só um selinho. Não vou te beijar de língua, sua vaca – Carol disse para Renata, rindo..
– Selinho? Ah, não… Isso nem conta – Júlia reclamou, cruzando os braços e fazendo beicinho. – Vocês prometeram um beijo, não só encostar os lábios!
– É tão ruim assim me beijar, Carol? – Renata perguntou, arqueando a sobrancelha, antes de segurar o rosto da amiga e puxá-la para um beijo de verdade.
Carol tentou resistir no início, mas Renata não estava para brincadeira. Com uma das mãos na nuca e a outra firme na cintura de Carol, Renata conduzia o beijo, que claramente não era cinematográfico. Aos poucos, Carol se soltou, deixando as mãos deslizarem pela cintura da amiga, tornando o momento ainda mais espetacular.
– Tá bom, né, gente? – Júlia interrompeu, batendo palmas devagar e quebrando o clima. – A aposta era pra vocês se beijarem, não pra transarem na nossa frente.
Carol e Renata se afastaram, visivelmente sem jeito, mas com sorrisos que não conseguiam esconder. Sentaram-se novamente, ajustando os cabelos e fingindo que nada tinha acontecido, enquanto eu tentava disfarçar a felicidade de quem poderia assistir aquilo por mais algumas horas.
– Dobro ou nada – Carol disparou de repente, ainda incomodada com a derrota. – Se a gente ganhar, a Júlia tem que comer o Rafa com aquele vibrador gigante dela.
Júlia ficou vermelha na hora, arregalando os olhos, claramente indignada.
– Porra, Carol! Precisava contar isso pra todo mundo? – Júlia gritou, batendo no braço da amiga, enquanto eu segurava o riso.
– Ei, calma aí, gente – eu intervi, tentando manter o controle da situação. – Mas daí se aumentou demais a aposta. E se vocês perderem, qual vai ser a prenda?
Júlia, ainda irritada, respondeu sem pensar muito:
– As duas vão ter que chupar o Rafa!
– Eu topo – disse Renata, sem nem piscar. – E aí, Carol, vai correr?
Carol bufou, cruzando os braços e olhando para mim. Depois de alguns segundos, revirou os olhos e jogou as cartas sobre a mesa e disse:
– Tá bom. Mas só porque a gente vai ganhar dessa vez.
Eu apenas sorri. Sabia que, no estado em que elas estavam, seria como tirar doce de criança.
<Continua>
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