Sou cheff de um dos restaurantes mais famosos (e caros) da cidade. O Toulose fica na também famosa AOA – sigla idiota para Avenida Oceano Atlântico, que pegou porque os ditadores de moda achavam muito grande o nome oficial. O diferencial do Toulose, além dos preços e da imbecilidade de ser um ristorant e não um restaurant, é sua localização: no alto de um prédio de doze andares. Sua primorosa vista de boa parte da cidade, além do por do sol e do nascer da lua sobre o mar, confere-lhe ares de point de endinheirados. A discrição de não haver câmeras, anima a presença de casais que não podem aparecer ou ter suas presenças ali registradas pelo que quer que seja.
Apesar de parecer, não sou uma pessoa chata, turrona ou algo assim. Tenho 32 anos, cheguei há dez, no Toulose, como aprendiz de garçom, especializado em lavar pratos, e uma década, muito esforço e as lições de cozinha de meu pai, em casa, me levaram ao ponto mais desejado: um profissional disputado pelo mercado. E ser um cheff de cozinha que se disputa, num ambiente profissional tão exigente, não era para qualquer um. Era pra mim. Sem família nem rabichos afetivos, dedicava-me cento e dez por cento ao trabalho. Em mais uma década, esperava ser um dos donos ou o único.
O restaurante não abria na segunda-feira, que era o dia de recarregar as baterias para a vibrante semana que viria. A começar pela cozinha: eu pessoalmente me encarregava das compras de carnes, peixes e verduras, logo de manhãzinha, para garantir os melhores produtos. Ao chegar do mercado, por volta das sete horas, a tempestade que se fazia anunciar desde a madrugada desabou com força quando parei o carro na frente do vistoso prédio.
Ao desembarcar e me encaminhar à entrada, dei com dois garotos, evidentes remanescentes da farra da madrugada, denunciados pela roupa de noite que trajavam, protegendo-se da chuva, sob a ampla marquize. Deveriam ter por volta de 18 a 20 anos, corpos definidos, cabelos alourados por alguma tinta vagabunda, claramente gays, pelos afetados trejeitos com que conversavam e se tocavam o tempo todo. Falavam sobre como era foda o restaurante daquele prédio, que dava pra ver o mundo e chegar perto do céu.
Fui-me deixando ficar ali, rindo-me por dentro, enquanto batia minha roupa chapiscada das gotas que eu recebera ao descer do carro, e ouvindo o alumbramento verbal do que explicava ao outro o que provavelmente jamais presenciara. Não sei bem que sentimento me aflorou naquele momento, que quis aproveitar o dia nulo e proporcionar aos dois rapazes uma experiência única, de conhecer o restaurante e apreciar a vista.
Cumprimentei-os, apresentei-me e fiz o convite. No início meio ressabiados, mas logo conquistados pelo encantamento da proposta, toparam. Entrei com eles, e o trajeto no elevador foi de inúmeras perguntas: pareciam duas crianças curiosas antes de entrarem num brinquedo desejado. Eu, simpático, respondia-lhes com entusiasmo, não me furtando a olhadelas esquivas a suas bundinhas redondas e suas rolas acomodadas em calças de flanela ou algo assim.
Chegando à varanda envidraçada, evidentemente fechada por conta da tempestade que rolava lá fora, os dois se alvoroçaram diante da deslumbrante visão, e rebolavam seus corpos juvenis, e riam e davam gritinhos de admiração sempre que identificavam raros pontos lá embaixo, embaçados pelo branco da chuva que caía.
Preparei um drinque simples, mas gostoso, e degustamos, diante da vidraça e da vista do mar revolto, sacudido pelo vento e pela tempestade que sobre ele caía. A chuva descia, retorcida para a rua, violentando e estorcendo as árvores – principalmente os coqueiros – da beira mar. Era uma sensação única ver a chuva como de sobre ela, os garotos estavam encantados com isso, e cada vez mais eufóricos. Conquistada a confiança, eu também fazia parte íntima da conversa e dos toques constantes com que se falavam.
Eu sentia meu pau endurecer a cada toque, a cada risada. Os lábios naturalmente carnudos deles e os sorrisos que neles se formavam constantemente me encantavam. Talvez a ficha dos dois não houvesse caído ainda, embotados que estavam pela sensação de novidade que experimentavam. Mas, ao me chamarem a atenção para uma pequena cachoeira que a água fizera num muro, lá embaixo, encostei-me sobre o corpo de um deles para ver melhor e meu pau se pronunciou no macio da bunda de um deles. Sem alarde, mas claramente entrando na onda, o novinho empinou a bunda e a roçou sobre minha pica, enquanto continuava apontando as coisas que via, lá embaixo.
Agora os movimentos e intenções eram bem outros. Continuávamos os três admirados com a percepção da tempestade sobre a rua, a praia e o mar, empolgados com o que a natureza nos presenteava lá fora, mas tocando-nos acintosamente, esfregando nossos corpos com cada vez mais ousadia e intensidade. Eu já sentira a pressão da rola rígida de um deles sobre minha bunda, e outro já enchera sua mão em torno de minha genitália.
Nesse ritmo ascendente, a paisagem inóspita, molhada e bela lá de fora foi deixando de ser centro das atenções – embora a ela sempre remetíamos nossos olhares e comentários – e passamos a nos acariciar cada vez mais com mais arrojo, ao ponto de em pouco estarmos de roupas ao chão, nus e abraçados, aos beijos e chupões. Minha rola rígida encontrou o buraco branco do falso galego a minha frente e pus a estocá-lo, enquanto minhas mãos acariciavam ora seus mamilos tesos ora sua pica feito rocha; eu beijava e roçava minha língua na sua nuca, fazendo-o gemer em falsete.
Foi quando senti o outro amigo buscando-me o cu e entrando suavemente em mim, sem movimentos, aproveitando os meus comendo o seu amigo. Um sofá ali perto recebeu nossos corpos, em fúria luxuriosa, e por minutos Baco comandou as ações daqueles três homens que se fodiam, no alto da chuva. Os rebentes da tempestade lá fora pareciam ecoar os solavancos de nossos corpos, rolas, cus e bocas, que se misturavam com sofreguidão. O barulho incessante da água rivalizava com os gemidos ofegantes e as putarias que brotavam de nossas bocas. Até mesmo o raio que cruzou o céu, secundado pelo forte trovão, pareceu coincidir com o início dos nossos gozos elétricos e urros de enorme prazer, com que chegávamos ao clímax daquela deliciosa suruba.
Deixei os dois exaustos, jogados sobre o sofá em que nos comêramos, e fui à cozinha, preparar um caldo frugal, mas muito gostoso e revitalizante, que eles devoraram (e repetiram), felizes e reconfortados. Ficamos mais algum tempo, embebidos com a paisagem da enxurrada lá fora, nus e abraçados, acariciando-nos, vez ou outra nos beijando, fazendo comentários aleatórios e idiotas, plenamente felizes.