Naomi acabou passando a noite no hospital e eu fiquei com ela. O médico pediu para fazer uns exames só para ter certeza de que ela estava totalmente bem. Graças a Deus, ela estava; o único ferimento mais grave foi o corte na testa, mas era coisa simples e um simples curativo foi o suficiente para tapar os três pontos que ela levou. Talvez ficasse uma pequena cicatriz, mas nada que um pouco de maquiagem não dê um jeito.
A gente foi para o apartamento e fomos fazer umas ligações para contar aos nossos amigos e familiares o que tinha acontecido. Era melhor já acalmar eles antes que a notícia se espalhasse e eles ficassem preocupados. No fim, todos ficaram aliviados com o resultado final.
Achei que Naomi ia estar um pouco abalada, mas ela estava agindo normalmente. Na dúvida, fui perguntar a ela se estava tudo bem, se queria desabafar comigo ou talvez até ir falar com a Drª Leandra, mas ela disse que não precisava, que estava tudo bem com ela e que aquilo não foi novidade para ela. Que já tinha passado por algo bem semelhante e que dessa vez estava sabendo lidar bem com a situação. Lógico que ela iria falar com a Leandra, mas nas suas sessões normais. Não havia necessidade de marcar uma sessão e nem razão para eu me preocupar.
Fiquei bem aliviada e ela perguntou se eu estava bem. Eu disse que estava sim, provavelmente pelo mesmo motivo dela. Que aquilo não tinha me abalado como da primeira vez e que dessa vez Rayssa não era mais um perigo; aquilo, de certa forma, me dava uma sensação de paz e tranquilidade. Era estranho se sentir bem por ter tirado a vida de alguém, mas infelizmente era isso que eu sentia.
Naquele mesmo dia, a gente foi à delegacia dar nosso depoimento e foi lá que fiquei sabendo como Rayssa tinha sequestrado Naomi. Ela estava na porta do prédio do outro lado da rua, sentada na calçada como se fosse uma mendiga. Naomi disse que a viu quando saiu do prédio, mas não a reconheceu porque ela estava de boné e cabeça baixa. Naomi foi à padaria e, quando voltou, Rayssa a abordou. Ela se sentou na calçada um pouco antes do prédio. Quando Naomi passou, ela levantou e já mostrou a arma para Naomi. Fez ela entrar no carro que estava estacionado do outro lado da rua e saíram rápido dali.
Naomi disse que se assustou e pensou em correr, mas sabia que se fizesse isso seria morta ali mesmo. Então, fez o possível para manter a calma e fez o que Rayssa pediu. Ela disse que não tinha ninguém perto delas e que provavelmente ninguém viu o que aconteceu. Ela que foi dirigindo o carro e imaginou que era roubado porque não tinha chaves; Rayssa fez a ligação direta para ele funcionar.
Naomi disse também que Rayssa às vezes não falava coisa com coisa, que provavelmente estava misturando a realidade com as loucuras da sua cabeça. Que no galpão ela ficava conversando sozinha e que Rayssa a agrediu do nada. Ela já estava amarrada quando, um pouco antes da ligação, Rayssa começou a dar tapas no seu rosto e depois desferiu uma coronhada na sua testa com a arma. Ela não falou nada, só bateu nela e depois saiu, que não sabe o motivo específico de Rayssa ter feito isso.
Naomi também disse que tinha certeza de que iria morrer e que, nos momentos que passou ali, só fez rezar e pedir a Deus por um milagre. E que quando ouviu eu chamá-la de traidora, levou um susto, mas logo percebeu o que eu estava tentando fazer e viu que estava dando certo quando sentiu Rayssa apertar sua garganta. Ela disse que foi ficando sem ar, mas que tentou não fazer movimentos bruscos, mesmo com dificuldades de respirar, porque sabia que isso poderia fazer Rayssa se assustar e atirar nela. Mas quando Rayssa gritou, ela apertou muito forte sua garganta e ela não conseguiu ouvir mais nada além do barulho de um tiro. Depois disso, ela só se lembra de acordar na ambulância.
Nossos depoimentos duraram quase o dia todo. Eu fui afastada por 15 dias, como de praxe, e minha arma mais uma vez foi para perícia. Eu falei para o Dr. Paulo que estava pensando seriamente em sair da corporação, que estava cansada daquela vida. Eu não queria matar mais ninguém e nem ficar correndo riscos nas ruas. Ele me disse para eu pensar com calma e que eu não precisava sair da corporação; poderia fazer trabalhos burocráticos na delegacia e trabalhar ali junto com ele. Isso me animou um pouco e eu disse a ele que iria pensar.
A gente foi para o apartamento e, assim que chegamos, Rose ligou. Ela disse que iria começar a trabalhar no mesmo escritório que Naomi. Que já tinha acertado tudo e começaria em fevereiro. Naomi ficou muito feliz de saber que iria voltar a conviver com sua amiga diariamente. Rose disse que no outro dia iria nos visitar e conversar direito com nós duas. A gente só tomou um banho, jantou e foi para a cama. Não demoramos a dormir, estávamos cansadas.
Acordamos no outro dia cedo. Logo pela manhã, Rose veio nos visitar e Denise também. Denise disse que resolveu dar uma chance a Daniela, que elas começaram um namoro e iriam morar juntas o mais rápido possível. Rose disse que reencontrou o rapaz de quem gostava na época do colegial, que trocaram números e ele chamou ela para sair. Ela disse que aceitou e que iriam sair no outro final de semana. Ela parecia bem empolgada e, pelo que ela e Naomi falaram do rapaz, ele era muito gente boa. Isso provavelmente vai dar em namoro.
Passamos a manhã com elas e almoçamos todas juntas. Era muito bom ver todas ali felizes e fazendo planos para o futuro.
As meninas foram embora às 14 horas e Naomi ligou para sua mãe. Ela pediu para a gente ir passar o final de ano com eles; eu queria muito ir e Naomi também. O problema é que Naomi iria voltar a trabalhar dia seis de janeiro, então não poderíamos ficar muito tempo. Mas ela disse que eu podia e deveria ficar com meus pais mais tempo, que ela voltaria sozinha. Eu disse a ela que iria pensar com calma e depois decidir se ficava ou não.
A gente resolveu viajar no outro dia de manhã, então arrumamos nossas coisas naquele dia mesmo. Ligamos para Rose e Denise para convidá-las a ir com a gente, mas nenhuma aceitou o convite; elas queriam passar a virada de ano com a família e era bem compreensível.
Saímos no outro dia bem cedo; o sol ainda nem tinha dado as caras. Eu ainda dormi um pouco no início do caminho e, depois que acordei, fui dirigindo e Naomi tentou até dormir um pouco, mas não conseguiu. Então, a gente foi conversando e Naomi disse que iria trabalhar só na área cível, que era mais lucrativa e menos perigosa. Que ela estava trabalhando nas duas áreas no escritório, mas que iria parar de pegar casos como o meu. Que meu caso foi o último dela na área criminal. Eu gostei da ideia.
Eu falei para ela que estava realmente pensando em sair da Polícia Civil, mas que a proposta de só trabalhar fazendo serviços burocráticos me agradou e que eu provavelmente iria aceitar. Ela disse que não me via trabalhando em uma sala mexendo com um monte de papéis e começou a sorrir. Eu disse que não era algo que eu gostaria de fazer, mas que não queria mais ficar correndo risco nas ruas. O que eu queria era paz para poder viver com ela, casar, construir uma família e ser feliz. Que se para isso eu tivesse que trabalhar em uma salinha mexendo com um monte de papéis, eu iria trabalhar sim. Ela deu um sorriso lindo e disse que me amava, mas que depois a gente resolvia isso.
Chegamos cedo na pousada dos nossos pais; o lugar era muito maior do que pensei e realmente muito bonito. Fomos recebidas por Simone e logo meus pais apareceram. Depois de vários abraços, a gente entrou e foi para a cozinha do restaurante para pôr o papo em dia. Só de ver os sorrisos nos rostos dos meus pais e da minha sogra, eu já sabia que as coisas estavam muito bem.
A pousada estava com poucos hóspedes, mas Simone disse que tinha muitas reservas para a segunda semana de janeiro. Minha mãe disse que ela amou o lugar e até aprendeu a pescar com meu pai. Ver eles felizes daquele jeito era muito bom. Ali, eu tive certeza de que eles iriam viver o resto da vida naquele lugar.
Depois do almoço, saí eu e Naomi para conhecer os arredores da pousada e meu pai foi nosso guia, mas logo ele descobriu que Naomi conhecia o lugar muito mais que ele. Naomi cresceu naquela região e conhecia cada local, cachoeira ou lago que tinha ali.
O lugar realmente era muito bonito e eu prometi a mim mesma que algum dia eu iria morar ali com meu amor. Talvez nem demorasse muito, já que era algo que ela queria também. Mas antes a gente tinha que buscar nossa independência financeira e, infelizmente, isso ainda iria levar uns 5 anos no mínimo. Talvez até mais, já que a gente queria se casar, ter filhos e comprar uma casa grande para construir nossa família. Mas que eu iria morar ali um dia, eu iria.
Passamos a virada de ano no restaurante junto com alguns hóspedes, nossa família e com o tio da Naomi, que veio com a família dele. Foi muito divertido; fazia tempo que eu não passava uma virada de ano tão feliz. Recebemos um monte de mensagens das meninas e de nossos amigos desejando feliz ano novo. Bebemos champagne; o meu, na verdade, era espumante sem álcool, mas estava bom. Nos divertimos muito com nossa família e todos ali. Acabou que a gente foi dormir às duas da manhã e Naomi estava bastante alterada por causa do álcool. Ela queria porque queria fazer amor, mas não conseguiu nem tirar o vestido que usava. Ela apagou tentando fazer isso; eu ri muito dela.
Hoje é primeiro de janeiro de 2025, um novo ano e uma vida nova. Vida nova e cheia de possibilidades. Eu acordei toda feliz, fui à cozinha, tomei café reforçado e pedi para Simone passar um bem forte para eu levar para a filha dela, que provavelmente iria acordar de ressaca. Logo após eu terminar o café, levei o que Simone preparou em um copo para Naomi; nem levei nada de comer porque eu sabia que o estômago dela não iria aceitar nada quando acordasse.
Quando cheguei na porta do quarto, ouvi a voz da Naomi. Ela parecia bem animada falando com alguém ao telefone. Assim que entrei, ela me olhou, abriu o sorriso e disse para a pessoa com quem estava falando que iria me perguntar.
Naomi — Amor, quer trabalhar no meu escritório? Meu patrão disse que te paga o mesmo salário que você ganha e os mesmos benefícios. Na verdade, eu acho que os benefícios, como plano de saúde, são melhores.
Greta — Amor, eu sou formada, mas nunca sequer tive um caso na vida; não sou advogada.
Naomi: — Não é como advogada; é como detetive. Você vai fazer basicamente o mesmo que já faz, porém sem ter que usar uma arma e nem interrogar ninguém. Você vai usar mais uma câmera e alguns equipamentos que o escritório vai oferecer. Por favor, aceita; você vai gostar, amor.
Greta — Seria como um detetive particular?
Naomi — Isso, mas você só vai trabalhar para o escritório. Terá um salário fixo e não terá que lidar com nenhuma pessoa que você vai investigar pessoalmente. Temos muitos casos que precisam desse tipo de serviço e, na cidade, esse tipo de mão de obra está em falta. E os que têm estão se aproveitando da situação e cobrando taxas abusivas. Meu patrão quer ter um detetive particular fixo no escritório.
Greta — Tudo bem, eu aceito. Sempre quis ser uma espiã. kkkkkkk
Naomi riu e voltou a falar com seu patrão e, quando desligou, me deu outra boa notícia: ganhou 20 dias a mais de férias e poderia ficar ali na pousada mais tempo.
Greta — Amor, você acha que isso vai dar certo?
Naomi — Claro que vai! Eu jamais iria falar para você aceitar se eu não tivesse segurança disso. Você é perfeita, você tem experiência, tem conhecimento de leis e vai ser muito útil no escritório. Confia em mim, amor.
Greta — Eu confio, amor; por isso aceitei.
Dei o copo de café para ela e ri muito da careta que ela fez depois de beber uma dose. Me sentei na cama, abracei-a por trás e fiquei fazendo carinho nela. Logo ela se levantou e falou que ia ao banheiro escovar os dentes e tirar o gosto amargo da boca. No fim das contas, ela não estava tão mal como pensei e acho que as boas notícias até ajudaram a melhorar a ressaca dela.
Fiquei ali sentada na cama lembrando de tudo que a gente passou, e não foi pouca coisa, mas no fim deu tudo certo; a gente estava juntas, felizes e com planos ótimos para nosso futuro. Eu iria aposentar minha arma e tinha certeza de que ali, naquele galpão, eu efetuei meu último disparo para salvar a vida dela e termos a chance de realmente sermos felizes, como planejamos desde o início. Agora, só dependia de nós duas e eu tinha certeza de que a gente seria. O nosso amor era muito forte e, de agora em diante, só iria ficar mais forte ainda.
Fui tirada dos meus pensamentos com a porta do banheiro abrindo. Quando olhei, Naomi estava toda nua e com aquele sorriso sapeca no rosto.
Naomi — Feliz ano novo, amor! ❤️
Greta — Feliz ano novo para você também, meu amor! ❤️
Fim!
(Obrigado a quem acompanhou mais essa história! Feliz 2025 e até a próxima! 😉)
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper