Quando me sentei no sofá ao lado de Miguel, a atmosfera no apartamento parecia pesada, quase sufocante. Não era apenas o calor do Rio naquela noite, mas algo mais profundo. Aquele peso que carregava nos ombros desde que saí do consultório da doutora Mônica.
– Eu só quero ver um filme e pedir uma pizza – falei, tentando soar casual, mesmo que meu tom denunciasse o quanto eu estava desgastado.
Miguel se virou para mim, seus olhos estreitando-se como se pudessem enxergar direto na minha alma. Ele segurou minha mão com firmeza, seus dedos quentes contra a minha pele.
– Já entendi tudo – disse ele, com um sorriso ligeiramente amargo. – Tá em um daqueles dias, né? Não tira o Gustavo da cabeça e quer me usar só pra não se sentir sozinho. Acertei?
As palavras dele acertaram em cheio, como um soco no estômago. Mesmo sabendo que era verdade, ouvir aquilo em voz alta fez algo em mim se partir. Ele tinha razão, e isso me deixava envergonhado. Eu o chamei porque precisava de alguém, mas, no fundo, sabia que Miguel não poderia preencher aquele vazio.
– Você está certo, eu não... – comecei, mas minha voz falhou antes que eu pudesse terminar.
Antes que eu me afundasse ainda mais naquela culpa, Miguel me puxou para perto, envolvendo-me em um abraço caloroso. Ele era forte, maior do que eu lembrava quando éramos mais novos, e seu cheiro era um misto de perfume amadeirado e algo único dele, algo familiar.
– Relaxa, Leozinho – disse ele, sua voz suave como um sussurro, enquanto passava a mão pelas minhas costas. – Se é filme que você quer, vamos ver o catálogo inteiro da Netflix.
Miguel se afastou ligeiramente, apenas o suficiente para me encarar com um sorriso travesso, aquele que sempre parecia dizer que ele sabia algo que eu não.
– Afinal, eu falei pra minha mulher que ia estar de plantão hoje – continuou, com um tom brincalhão. – Então, a noite é nossa.
Por um instante, um misto de sentimentos me invadiu. Uma parte de mim estava grata por Miguel estar ali, por ele sempre aparecer quando eu precisava, mas outra parte sabia que eu não merecia aquela dedicação. Ele tinha uma vida, uma esposa, e ainda assim largava tudo para vir até mim.
– Você devia estar com ela – murmurei, mais para mim mesmo do que para ele.
Miguel riu baixo, balançando a cabeça enquanto pegava o controle remoto.
– Talvez, mas você sabe como é. Sempre volto pra você, não importa o que aconteça.
Aquelas palavras, embora ditas de maneira casual, pesavam no ar. Ele sabia exatamente o que dizer para me confortar, mesmo quando eu não merecia.
Enquanto ele procurava algo para assistirmos, olhei para ele, analisando os detalhes do homem que Miguel havia se tornado. Ele ainda tinha aquele ar despreocupado, mas seus olhos, mais maduros, carregavam histórias e dores que eu talvez nunca entenderia completamente. A barba estava bem-feita, e os músculos que antes eram definidos apenas pelo futebol agora tinham sido esculpidos pela vida adulta. Era impossível ignorar como ele era bonito, mas isso só tornava tudo mais complicado.
Eu afundei no sofá, observando-o com o controle em mãos, e me perguntei, mais uma vez, como havíamos chegado ali. O passado continuava a me perseguir, mesmo quando tudo o que eu queria era um pouco de paz.
Enquanto o filme passava na tela, eu não conseguia me concentrar. As imagens e os sons mal faziam sentido. Minha mente estava a mil, rodopiando entre as lembranças do que eu havia contado para a doutora Mônica e as que ainda estavam enterradas, longe de serem tocadas. Olhei de relance para Miguel, que parecia envolvido no filme, mas algo no jeito que ele mexia na barba de leve me dizia que ele também estava perdido em seus próprios pensamentos.
– Você não tá prestando atenção – ele disse de repente, sem desviar os olhos da tela.
– O quê? – fingi surpresa, mas ele apenas sorriu, virando-se para mim.
– Você sabe o que eu disse. Quer conversar, Léo? Sobre qualquer coisa?
Suspirei, afundando mais no sofá e balançando a cabeça.
– Não... não agora. Não é o momento.
Miguel assentiu, mas sua expressão ficou séria. Ele passou a mão pela nuca, um gesto que eu conhecia bem – ele estava nervoso.
– Tudo bem – disse ele após alguns segundos. – Mas tem algo que eu preciso dizer.
Olhei para ele, surpreso. A seriedade no tom de Miguel me deixou alerta.
– O que foi?
Ele ficou em silêncio por um tempo, olhando fixamente para o controle remoto em suas mãos, como se aquilo pudesse lhe dar coragem. Quando finalmente levantou os olhos, havia algo neles que fez meu coração apertar.
– Eu queria pedir desculpas. Pelo que eu fiz naquela época.
Minha respiração travou. Não precisava de explicação para saber que ele estava falando do passado, mas o que exatamente ele queria dizer?
– Miguel...
– Eu me arrependo tanto, Léo – ele me interrompeu, sua voz embargada. – Todos os dias, desde que aconteceu, eu me culpo. Eu fico pensando como seria se eu tivesse agido diferente, se eu não tivesse sido tão...
Ele parou, virando o rosto como se estivesse com vergonha. Eu podia ver seus olhos brilhando, e meu peito apertou ainda mais.
– Tão o quê? – perguntei, minha voz quase um sussurro.
Miguel balançou a cabeça, uma lágrima escorrendo por sua bochecha.
– Tão idiota, tão egoísta. Eu fiz coisas que nunca deveria ter feito, e mesmo que você diga que está tudo bem, eu sei que não está.
Eu queria dizer algo, mas nada vinha à minha mente. Era raro ver Miguel tão vulnerável. Sempre o conheci como alguém forte, quase inabalável. Agora, ele estava ali, despido de todas as armaduras, pedindo perdão por algo que eu ainda não conseguia entender completamente.
– Miguel, eu...
Antes que pudesse continuar, ele passou a mão pelos olhos, tentando conter as lágrimas, e olhou para mim com um sorriso melancólico.
– Eu sei que não dá pra mudar o passado. Mas, se eu pudesse, eu mudaria tudo, Léo. Tudo.
Eu senti um nó se formando na garganta. Não sabia o que dizer. O silêncio entre nós era pesado, mas, ao mesmo tempo, parecia dizer mais do que qualquer palavra poderia.
Miguel aproximou-se, lentamente, como se estivesse esperando que eu o afastasse. Mas eu não o fiz. Quando seus lábios tocaram os meus, foi suave, quase hesitante. Era um beijo carregado de sentimentos conflitantes – arrependimento, carinho, saudade.
Quando nos afastamos, ele encostou a testa na minha, seus olhos fechados.
– Eu só quero que você saiba que eu nunca quis te machucar – ele murmurou, sua voz quebrada.
– Eu sei, Miguel – respondi, mesmo sem ter certeza se era verdade.
Ficamos ali, nos olhando, até que ele me puxou para perto de novo. Desta vez, o beijo foi mais intenso, como se ambos estivéssemos tentando esquecer tudo o que nos separava. Suas mãos estavam quentes em minha cintura, enquanto eu sentia o peso do mundo desaparecer, ainda que por alguns instantes.
Eventualmente, fomos para o quarto. O ambiente era pequeno, com paredes claras e móveis simples, mas naquela noite parecia ser o único lugar no mundo onde eu queria estar. Deitamos na cama, e ele me abraçou, seus braços fortes me envolvendo de um jeito que fazia tudo parecer mais fácil.
Enquanto eu sentia sua respiração contra meu pescoço, o cansaço finalmente começou a me vencer. Mas, antes de adormecer, uma última pergunta ecoava em minha mente: Será que eu não deveria seguir em frente? Esquecer Gustavo e apenas seguir?
Enquanto os beijos ficavam mais intensos, eu sentia o peso do dia, da consulta e das lembranças começando a escorrer para fora de mim. O toque de Miguel, tão familiar, tão carinhoso, tinha o poder de me desconectar de tudo. Era como se, por um momento, o mundo inteiro deixasse de existir, e só restássemos nós dois.
Ele segurou meu rosto entre as mãos, seu polegar deslizando suavemente pela minha bochecha. Não havia pressa nos movimentos dele, apenas uma calma reconfortante. Nossos corpos foram se aproximando mais, e, quando percebi, minhas mãos estavam puxando a camisa dele, revelando sua pele quente e marcada por tatuagens que eu conhecia de cor.
– Você tá bem? – ele perguntou baixinho, os olhos fixos nos meus.
Assenti, sem conseguir formular uma resposta. Estava bem naquele instante, mas a verdade é que não queria pensar. Não queria lembrar.
Miguel sorriu de lado, um sorriso pequeno, mas que tinha uma espécie de ternura que me desarmava. Ele tirou minha camisa com a mesma calma de antes, seus dedos roçando minha pele de um jeito que me fazia esquecer de tudo, menos dele. Quando me puxou para mais perto, nossos corpos se encaixaram de um jeito natural, quase como se fossem feitos para aquilo.
Senti o calor do seu peito contra o meu, sua respiração pesada no meu ouvido, mas, ainda assim, algo dentro de mim estava desligando. Por mais que os carinhos dele fossem intensos, cheios de sentimento, o cansaço estava vencendo. Fechei os olhos, deixando que ele continuasse a me beijar e me tocar, mas sem conseguir mais corresponder com a mesma intensidade.
Miguel parou de repente, afastando o rosto só o suficiente para me olhar.
– Léo – ele chamou, a voz carregada de cuidado. – Se você quiser parar, é só dizer. A gente não precisa fazer nada.
Abri os olhos lentamente, vendo a preocupação nos dele.
– Tá tudo bem – ele continuou. – Se você quiser, a gente pode só ficar aqui. Passar a noite juntos.
Assenti em silêncio, sentindo um alívio que não sabia que precisava. Ele sorriu novamente, dessa vez mais aberto, e me puxou para um abraço apertado.
Deitamos na cama, e Miguel me envolveu com seus braços fortes. Seu cheiro, sua presença, o calor do seu corpo – tudo isso parecia funcionar como um calmante para mim. Enquanto ele passava os dedos pelos meus cabelos, ouvi sua voz, baixa e quase num sussurro:
– Depois de tanto tempo, é bom dormir com alguém assim. Te ter aqui ameniza muita coisa, Léo.
Não respondi, mas me aconcheguei ainda mais no peito dele, deixando que aquelas palavras fossem a última coisa que escutei antes de adormecer. E, pela primeira vez em muito tempo, o peso da culpa e das memórias não foi suficiente para me impedir de descansar.
A noite passou de forma tranquila. Pela primeira vez em semanas, dormi profundamente. Miguel ao meu lado parecia trazer uma paz que eu nem sabia que precisava. Quando acordei, a luz do sol já invadia o quarto, atravessando as cortinas parcialmente fechadas e banhando o ambiente com um tom dourado. Senti o calor do peito dele sob meu rosto, e por um instante, fiquei ali, apenas ouvindo o som ritmado da respiração dele, tentando prolongar aquele momento de calma.
Mas a tranquilidade foi interrompida pelo som insistente de um telefone vibrando. Miguel se mexeu levemente, esticando o braço para o lado, sem abrir os olhos. Pegou o celular e atendeu com a voz rouca de sono:
– Oi, amor.
Fiquei imóvel, sentindo meu estômago afundar. A palavra "amor" ecoou na minha mente. Olhei para o telefone na mão dele e vi a foto de uma mulher sorridente na tela. Ele disse algumas palavras rápidas, mencionando que o "plantão" demorou, mas que já estava indo para casa.
Quando desligou, Miguel me olhou e abriu um sorriso pequeno, como se tentasse aliviar o peso do momento.
– Acho que você precisa ir – falei, tentando manter a voz firme.
– Eu não preciso ir, Léo – ele respondeu, se sentando na cama e me olhando sério. – Eu posso ficar. Eu largo tudo. A gente pode começar do zero, ter uma vida juntos. Só precisa me dizer que quer.
Por um momento, tudo ao meu redor pareceu congelar. As palavras dele eram intensas, e o olhar que me lançava era cheio de uma vulnerabilidade que eu não via com frequência. Mas, ao mesmo tempo, senti um peso enorme no peito.
– Miguel... – comecei, respirando fundo. – Eu gosto muito de você. Muito mesmo. Mas não seria justo. Não com você.
Ele franziu a testa, confuso, mas esperou que eu continuasse.
– Eu ainda não superei o Gustavo. Eu sei que parece absurdo, que faz anos, mas tem uma parte de mim que ainda tem esperança, ainda se prende ao passado. E eu não posso arrastar você pra isso. Não seria certo.
Miguel balançou a cabeça lentamente, parecendo absorver minhas palavras.
– Léo, você precisa aprender a se amar mais – ele disse, a voz carregada de emoção. – Você tá se torturando por algo que talvez nunca volte. Eu entendo que dói, mas e você? Quando vai parar de se machucar pra tentar segurar algo que só te destrói?
As palavras dele me atingiram como um golpe. Por mais que eu não quisesse admitir, ele estava certo. Eu sentia as lágrimas escorrendo antes mesmo de perceber que estava chorando.
– Eu sei que é difícil – ele continuou, se aproximando e segurando meu rosto entre as mãos. – Mas você não tá sozinho. E você não precisa passar por isso sozinho.
Ficamos em silêncio por alguns instantes, o peso do que ele disse pairando entre nós. Então, Miguel se inclinou e me beijou. Desta vez, o beijo tinha algo diferente, mais intenso, mais desesperado, como se ele quisesse me transmitir tudo o que sentia através daquele momento.
O clima entre nós começou a mudar. As mãos dele deslizaram por meu corpo, e eu não resisti. Deixei-me levar por aquele instante, tentando apagar tudo da mente e focar apenas nele. As carícias ficaram mais intensas, e dessa vez, nenhum dos dois parecia disposto a parar.
Mas, mesmo no calor do momento, uma parte de mim sabia que aquela conexão, por mais real que fosse, ainda não era suficiente para preencher o vazio que eu carregava.
Miguel se inclinou sobre mim, e nossos lábios se encontraram novamente, dessa vez com uma intensidade que parecia engolir o tempo ao nosso redor. Não havia pressa, apenas o desejo de explorar cada momento, como se cada toque pudesse carregar o peso de tudo o que não dizíamos. Suas mãos passeavam pelo meu corpo com uma segurança desconcertante, cada movimento desenhando caminhos que me faziam prender a respiração.
Sua boca desceu pelo meu pescoço, depositando beijos demorados e quentes. A sensação era quase hipnotizante, e eu me permiti fechar os olhos, focando apenas no toque dele contra a minha pele. Suas mãos se moviam devagar, deslizando por minhas costas, puxando-me para mais perto, como se não pudesse haver espaço algum entre nós.
Eu sentia o calor de sua pele contra a minha, nossos corpos colados em uma intimidade que parecia ao mesmo tempo natural e avassaladora. Miguel inclinou minha cabeça levemente para trás, seus lábios explorando o caminho entre o meu ombro e o pescoço, enquanto suas mãos deslizavam para minha cintura, os dedos traçando linhas invisíveis que faziam meu corpo reagir involuntariamente.
– Você está bem? – ele perguntou em um sussurro, a voz rouca ecoando no silêncio do quarto.
Assenti, sem confiar na minha própria voz, e deslizei as mãos por seus braços, sentindo a tensão dos músculos sob minha palma. Era reconfortante e ao mesmo tempo excitante perceber o quanto ele estava presente, o quanto cada movimento parecia focado em mim, como se nada mais existisse além daquele momento.
Miguel continuou a explorar, sua boca encontrando a curva do meu ombro enquanto suas mãos subiam lentamente, firmes e ao mesmo tempo incrivelmente gentis. Quando seus olhos encontraram os meus, havia algo neles que me desarmava completamente: cuidado, desejo e uma intensidade que parecia capaz de quebrar qualquer barreira que ainda restasse em mim.
Eu o puxei para mais perto, nossos corpos se alinhando de forma quase perfeita, e a sensação de sua respiração contra minha pele fez um arrepio percorrer minha espinha. Ele percebeu e sorriu, um sorriso pequeno, quase imperceptível, mas cheio de significado.
– Eu nunca quero que você sinta que precisa se segurar comigo, Léo – ele disse, sua voz baixa, mas firme, enquanto seus dedos desenhavam círculos lentos em minha cintura.
– Eu só... – comecei, mas as palavras morreram na garganta.
Miguel colocou um dedo sobre meus lábios, silenciando-me gentilmente, antes de substituir o gesto por um beijo lento, que parecia falar tudo o que as palavras não conseguiam. Meu coração batia descompassado, e, naquele momento, eu apaguei todos os pensamentos da mente. Não havia Gustavo, passado ou futuro. Havia apenas Miguel e o calor do momento.
Ele me deitou devagar na cama, sua respiração misturando-se à minha enquanto continuava a explorar meu corpo com uma precisão quase estudada, como se cada movimento fosse feito para me fazer esquecer qualquer outra coisa. Suas mãos subiram, encontrando minhas costelas, meu peito, seus dedos traçando uma linha que me fez arfar.
Quando senti seu toque no rosto, abrindo um espaço para que nossos olhares se encontrassem novamente, algo em mim cedeu completamente. Não havia espaço para dúvidas ali, apenas o desejo de me entregar, mesmo que fosse por uma manhã.
Miguel parou por um instante, os lábios ainda pressionados contra a minha pele, mas seus movimentos cessaram. Ele ergueu o rosto, e nossos olhares se encontraram mais uma vez.
– Você quer continuar? – perguntou, a voz rouca, mas carregada de cuidado. Suas mãos acariciaram meu rosto com uma ternura que parecia desarmar qualquer resistência que eu ainda pudesse ter. – Porque, se não quiser, a gente para.
Olhei para ele, sentindo o peso daquela pergunta. Por um momento, considerei recuar, mas algo dentro de mim não queria parar. Eu queria aquilo. Queria ele. Queria apagar tudo o que estava me prendendo ao passado e viver o presente com ele.
– Quero – respondi, minha voz baixa, mas firme o suficiente para dissipar qualquer dúvida.
O sorriso de Miguel foi pequeno, mas carregado de significado, e ele me puxou de volta para si, nossas bocas se encontrando em um beijo que parecia incendiar tudo ao redor. Não havia mais hesitação, apenas o desejo de nos perdermos um no outro.
Suas mãos voltaram a explorar meu corpo, cada toque mais profundo, mais certo. O calor de sua pele contra a minha era avassalador, e eu me permiti ser levado por aquela onda. Quando ele deslizou os dedos pelas laterais do meu corpo, senti como se estivesse sendo desenhado por ele, cada linha marcada por uma mistura de cuidado e urgência.
Miguel me deitou na cama, ajustando nossos corpos de maneira que parecíamos feitos para nos encaixar. Sua respiração era quente contra o meu pescoço, enquanto seus lábios traçavam um caminho de beijos demorados e quentes. Minhas mãos exploravam as costas dele, sentindo cada músculo tenso sob meus dedos, enquanto o calor entre nós se intensificava.
Eu me perdi na sensação de estar ali, de ser completamente desejado e, ao mesmo tempo, cuidado. Miguel não se apressava, cada movimento parecia calculado para me fazer esquecer o mundo.
– Você é incrível, Léo – ele sussurrou contra a minha pele, sua voz rouca e cheia de emoção.
Suas palavras me fizeram fechar os olhos por um instante, absorvendo tudo o que estava acontecendo. Não era só desejo; havia algo mais ali, algo que tornava cada toque mais profundo, mais significativo.
Nossos movimentos se tornaram mais intensos, mais ritmados, como se estivéssemos dançando em perfeita sintonia. Eu não queria que aquilo acabasse, mas também sabia que, quando terminasse, eu estaria diferente. Miguel estava me mudando, de alguma forma, me ajudando a me libertar, mesmo que fosse apenas por aquela noite. Ter Miguel entrando em mim era uma das melhores coisas que me acontecerá nos últimos meses.
Quando finalmente chegamos ao ápice daquele momento, meu corpo cedeu completamente ao dele. Fiquei ali, ofegante, com o rosto enterrado em seu pescoço, sentindo o calor e o cheiro dele, enquanto sua mão acariciava minhas costas em movimentos lentos e reconfortantes.
Miguel beijou o topo da minha cabeça e me puxou ainda mais para perto, como se quisesse garantir que eu não escaparia.
– Você é tudo o que eu preciso, Léo – ele sussurrou, e suas palavras ficaram ecoando na minha mente enquanto eu fechava os olhos, sentindo-me mais completo do que em qualquer outro momento da minha vida.
E, naquele instante, não pensei no passado, nem no futuro. Havia apenas nós dois, ali, juntos, vivendo aquele momento. E, pela primeira vez em muito tempo, isso foi o suficiente.
O silêncio dominava o ambiente, quebrado apenas por nossas respirações ofegantes. O calor ainda parecia pairar no ar, nossos corpos relaxados, suados, como se tivéssemos descarregado toda a energia acumulada. Eu estava deitado sobre o peito de Miguel, ouvindo os batimentos fortes do seu coração. Era um som reconfortante, quase hipnotizante, e por um momento, quis congelar o tempo ali.
Miguel acariciava minhas costas com movimentos lentos e reconfortantes, enquanto seus dedos deslizavam pela minha pele. Ele quebrou o silêncio, a voz rouca e carregada de emoção.
– Então... O que você quer que eu faça, Léo? Quer que eu volte pra casa?
Levantei o rosto para encará-lo, o brilho de seus olhos parecia me implorar por algo que eu não sabia se poderia dar.
– Miguel... Nós já conversamos sobre isso. Eu não posso deixar você fazer isso. Não posso ser o motivo pelo qual você abandona sua vida, sua mulher, tudo. Não seria justo com você... nem comigo.
Miguel segurou meu rosto com ambas as mãos, os olhos fixos nos meus, como se quisesse cravar aquelas palavras em mim.
– Então me promete uma coisa – disse ele, sua voz carregada de seriedade. – Se um dia você desistir do Gustavo, se resolver seguir em frente... promete que vai me dar uma chance? Uma chance de ficarmos juntos, de sermos felizes.
Engoli em seco, sentindo o peso daquela promessa. Eu sabia que, para Miguel, aquilo significava mais do que eu podia compreender naquele momento.
– Eu prometo, Miguel. Se algum dia eu conseguir... você vai ser o primeiro a saber.
Ele fechou os olhos por um momento, como se estivesse absorvendo minhas palavras, e depois sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero.
Depois disso, levantamos e fomos tomar banho. A água quente relaxava nossos corpos, mas o ambiente era mais silencioso agora, como se ambos estivéssemos tentando processar tudo o que tinha acontecido. Vestimos nossas roupas em silêncio confortável, trocando olhares que diziam mais do que qualquer palavra poderia expressar.
Já prontos, caminhamos até a porta. Miguel parecia hesitar, como se não quisesse cruzar aquele limite entre o que havíamos vivido e o que nos esperava lá fora. Paramos em frente à porta, e eu coloquei a mão na maçaneta, mas não a girei imediatamente.
– Miguel... – comecei, mas ele não me deixou terminar.
Ele segurou meu rosto e me puxou para um último beijo, um beijo lento, cheio de emoções que pareciam querer ultrapassar o tempo e o espaço. Quando nos afastamos, percebi que ele olhava fixamente para mim, um misto de saudade e esperança em seus olhos.
Foi então que ouvimos alguém pigarrear.
Meus olhos se arregalaram e Miguel virou-se para a porta, onde Eduardo estava parado, com os braços cruzados e um olhar confuso, quase divertido.
– Eu espero não estar interrompendo nada – disse Eduardo, arqueando uma sobrancelha e olhando de Miguel para mim.
Senti meu rosto esquentar instantaneamente. Miguel deu um passo para trás, recompondo-se, enquanto Eduardo continuava a nos observar com aquele ar curioso.
– Eduardo... – comecei, tentando pensar em alguma coisa para dizer.
– Bom, acho que isso explica muita coisa – Eduardo disse, mas não parecia zangado. Seu tom estava carregado de ironia, mas também de algo que não consegui identificar. – Mas então, não vai dar um abraço no seu irmão?