As semanas que se passaram desde que Fhelippe conheceu Gustavo haviam sido um turbilhão de emoções intensas e conflitantes. A vida que ele conhecia, simples e previsível, estava sendo invadida por algo que ele não sabia como lidar: um desejo arrebatador por um homem, algo que, apesar de ser natural e quase visceral, não combinava com a visão rígida que ele sempre tivera sobre o que era certo ou errado. Estava em um relacionamento com Bruna, uma mulher por quem sentia carinho, mas não conseguia mais negar a atração que sentia por Gustavo.
Ele tentava, todos os dias, manter a fachada de uma vida normal, uma vida que seus amigos e família esperavam dele. Mas no fundo, sabia que algo dentro dele estava mudando, algo que não conseguia controlar. Fhelippe acordava pensando em Gustavo, e, muitas vezes, antes de dormir, se pegava imaginando os momentos intensos que havia compartilhado com ele. O toque, o olhar, a química... Tudo isso o consumia. Ele sabia que a lealdade a Bruna estava sendo testada, mas a voz de Gustavo, suave e determinada, o chamava de uma maneira que ele não sabia explicar.
Naquela tarde, Fhelippe e Gustavo haviam combinado de se encontrar novamente, dessa vez em um pequeno café no centro da cidade. O lugar era tranquilo, com o som suave de música clássica ao fundo, e uma leve brisa entrava pela janela. Quando Fhelippe entrou, avistou Gustavo em uma mesa no canto, o olhar fixo na xícara de café. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, e, ao vê-lo ali, uma onda de desejo e confusão tomou conta de Fhelippe. Eles trocariam olhares, palavras e talvez, uma vez mais, se perderiam em algo que sabiam ser perigoso.
**– Você está bem? –** Fhelippe perguntou, ao se aproximar de Gustavo.
Gustavo levantou os olhos, e por um momento, Fhelippe viu um brilho de vulnerabilidade ali, algo que o fez se sentir desconfortável e, ao mesmo tempo, profundamente atraído.
**– Eu... não sei mais o que pensar, Fhelippe. –** Gustavo respondeu, sua voz trêmula, mas ao mesmo tempo, carregada de uma sinceridade rara. **– Eu sinto que estou sendo puxado em direções opostas. Uma parte de mim quer muito isso, quer estar com você, mas outra parte... não posso ignorar o que minha família espera de mim.**
Fhelippe sentou-se à sua frente, observando-o atentamente, seus olhos fixos no homem que, sem querer, estava começando a destruir tudo o que ele acreditava ser certo. Ele queria dizer algo, algo que pudesse aliviar aquela tensão crescente entre eles, mas sabia que nenhuma palavra seria suficiente. Tudo parecia preso a um fio invisível, e, se ele ousasse cortá-lo, não saberia o que aconteceria depois.
**– Eu entendo, Gustavo. –** Fhelippe disse, sua voz baixa, quase como um sussurro. **– Eu também tenho medo. Medo de me entregar a isso, a essa... relação. Medo das consequências, das consequências para mim, para você, para os outros. A culpa, Gustavo, é difícil de lidar. E não sei se estou pronto para o peso que isso pode ter.**
O silêncio se estendeu entre eles. Fhelippe podia sentir o peso das palavras, como se a culpa estivesse ali, tomando forma entre eles, preenchendo o espaço entre suas respirações. Ele queria muito tocar Gustavo, senti-lo mais perto, mas sabia que o que estava em jogo não era apenas o desejo, mas a própria vida que ambos haviam construído.
**– Você acha que a culpa vai passar, Fhelippe? –** Gustavo perguntou, levantando os olhos para o homem à sua frente. **– Que se eu for capaz de me convencer de que isso é só uma fase, ela vai desaparecer? Não é assim que funciona. Eu sei disso. E você também sabe.**
Fhelippe desviou o olhar, sentindo o nó em sua garganta apertar. Ele estava começando a se perder nas palavras de Gustavo, na maneira como ele via o mundo. Gustavo não estava apenas questionando suas crenças, ele estava questionando tudo o que Fhelippe conhecia sobre si mesmo.
**– Não sei. –** Fhelippe respondeu, a voz fraca. **– Acho que estou apenas tentando... tentar entender tudo isso. Como se as peças do quebra-cabeça estivessem se encaixando de uma forma que eu não queria. Eu estou com Bruna, Gustavo. Eu a amo de um jeito que talvez não seja perfeito, mas é real. E não sei o que isso significa para mim. Ou para nós.**
Gustavo suspirou profundamente, como se soubesse que essa conversa seria difícil. Mas ele não podia mais ignorar o que estava sentindo, o que estava crescendo entre ele e Fhelippe. Eles estavam flertando com a linha tênue entre a amizade e o desejo, mas algo mais forte parecia empurrá-los em direção ao abismo. E, no fundo, Gustavo sabia que, se não confrontassem os próprios medos, tudo se perderia.
**– Eu não quero ser o motivo para você magoar Bruna, Fhelippe. –** Gustavo disse, a voz carregada de uma sinceridade dolorosa. **– Eu não estou aqui para destruir sua vida. Eu só... só quero ser verdadeiro comigo mesmo. Eu sei que, em algum lugar dentro de mim, isso é real. O que está acontecendo entre a gente. Eu não sei como explicar, mas, se você sentir o mesmo, então por que continuar mentindo para nós dois?**
O tom da voz de Gustavo, firme e vulnerável ao mesmo tempo, fez o peito de Fhelippe apertar. Ele não queria admitir, mas sabia que estava sucumbindo ao que ele mais temia. Gustavo não estava pedindo permissão. Ele estava se entregando àquilo que sentia, sem olhar para trás. E Fhelippe, de alguma forma, também queria fazer o mesmo, mas o medo o paralisava. O medo do que isso significaria para sua vida, para o relacionamento com Bruna, para sua família, para todos os seus valores.
Os dois se olharam profundamente, o silêncio mais pesado que nunca. Fhelippe não sabia o que fazer. Queria beijar Gustavo, se entregar ao desejo que o consumia, mas não podia. Não agora. Ele estava amarrado à sua própria vida, à ideia do que ele deveria ser. E, ao mesmo tempo, não conseguia mais negar o que estava sentindo. O conflito interno estava se tornando insuportável.
**– Eu não posso fazer isso, Gustavo. Não posso... não agora. –** Fhelippe disse, sua voz falhando.
O olhar de Gustavo, antes intenso e cheio de uma paixão silenciosa, agora estava carregado de uma tristeza sutil, mas palpável. Ele sabia que Fhelippe estava se afastando, não porque não sentia o mesmo, mas porque ele estava preso às expectativas da vida que tinha construído.
**– Eu entendo, Fhelippe. –** Gustavo murmurou, levantando-se lentamente da mesa. **– Eu entendo que você não pode se entregar a isso. Não agora. E eu... não posso forçar você a fazer algo que você não está pronto. Só espero que, algum dia, você entenda que isso não é apenas sobre nós dois. É sobre sermos quem realmente somos. Não podemos viver para os outros o tempo todo.**
Fhelippe permaneceu sentado, os olhos fixos no café que agora parecia amargo e sem gosto. Ele sentia o peso da decisão que acabara de tomar. Afastar-se de Gustavo parecia a única maneira de tentar proteger tudo o que ainda restava de sua vida "normal". Mas, no fundo, sabia que aquela decisão não o libertava. Pelo contrário, estava apenas adiando o inevitável.
Gustavo se virou e caminhou até a porta do café. Antes de sair, ele olhou para Fhelippe uma última vez, um olhar que misturava dor e aceitação.
**– Cuide de si mesmo, Fhelippe. –** Gustavo disse, sua voz suave, mas carregada de emoção. **– Eu... eu sei que, de alguma forma, você já sabe o que precisa fazer.**
E com essas palavras, Gustavo se foi. Fhelippe ficou ali, sozinho, a tensão em seu peito agora se transformando em um vazio profundo. Ele sabia que a batalha que havia começado naquele encontro não estava perto de terminar. Havia algo maior em jogo agora. Algo que ele não poderia ignorar por muito mais tempo.