Segredos de Família - Capítulo 28: O plano

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 1171 palavras
Data: 08/01/2025 22:53:06

Era quase inacreditável como minha vida tinha mudado nos últimos dois anos. Quando paro para pensar, parece que o Yago que eu era ficou perdido em algum lugar entre o Rio de Janeiro e esse oceano que me cerca agora. Dois anos vivendo ao lado de Marc, completamente afastado de tudo o que eu conhecia, carregando um peso que às vezes parece insuportável.

Eu estava sentado na borda de um iate luxuoso, observando o mar que parecia não ter fim. O sol estava alto, refletindo na água cristalina. A tranquilidade aparente daquele lugar era um contraste gritante com o caos dentro de mim. Marc, como sempre, estava ao telefone, negociando algum novo esquema. Ele parecia tão confiante, tão confortável nesse mundo de ilegalidade e poder.

Eu, por outro lado, estava completamente vazio.

Dois anos. Era esse o tempo que eu estava vivendo com Marc. Tempo demais longe de tudo e de todos. Longe do Rio, da minha família, e, principalmente, de Cadu. Só de pensar nele, meu peito apertava de um jeito que às vezes me fazia perder o ar. Ele era tudo o que eu queria, mas tudo o que não podia ter. Não depois de tudo o que aconteceu.

Quando minha mãe adoeceu, quando o câncer avançou mais rápido do que qualquer um poderia prever, eu me vi sem escolhas. Marc prometeu que cuidaria de tudo: os tratamentos, as despesas, o conforto que ela precisava. E ele cumpriu. Durante esses dois anos, minha mãe recebeu dinheiro regularmente. Depósitos misteriosos, presentes caros, tudo o que era necessário para que ela não precisasse de nada.

Mas o preço disso foi alto.

Eu me vendi para Marc.

Ele não fazia questão de esconder sua obsessão por mim. Eu era dele, como ele fazia questão de repetir sempre que surgia uma oportunidade. E, nesses dois anos, eu aprendi a fingir. Fingir que estava tudo bem, que eu não queria fugir, que não me sentia preso. Era a única maneira de sobreviver.

Marc achava que estávamos isolados do mundo, que ninguém poderia nos alcançar. Vivíamos fora do Brasil, viajando de um lugar para outro, sempre um passo à frente da polícia. Ele era um homem procurado, e a cada dia parecia mais confiante de que nunca seria pego.

Mas ele estava errado.

Eu já sabia como acabar com tudo isso. Passei esses dois anos aprendendo, observando. Marc confiava em mim o suficiente para me incluir em seus negócios. Comecei a entender como ele operava, onde estavam os esconderijos de dinheiro, quem eram seus contatos. E agora, finalmente, tinha um plano.

Faltava pouco para eu colocar tudo em prática.

Enquanto Marc falava ao telefone, eu deixei meus pensamentos vagarem. A lembrança de Cadu era como uma faca afiada, sempre cortando fundo. Eu me perguntava onde ele estava, o que estava fazendo, se ainda pensava em mim. Será que ele me odiava? Provavelmente. E ele tinha razão. Eu não merecia nada além disso.

– Yago, você está me ouvindo? – A voz de Marc me tirou dos pensamentos.

Levantei os olhos para ele. Ele estava sentado em uma cadeira de couro branco, com um copo de uísque na mão, parecendo o retrato do poder e da confiança.

– Sim, estava só pensando no próximo passo.

Marc sorriu. Ele adorava quando eu mostrava interesse nos negócios.

– Bom. Gosto de ver você envolvido. É assim que construímos algo sólido, entende? Nós dois, juntos.

Forcei um sorriso, mas, por dentro, tudo o que eu sentia era nojo. Ele acreditava nessa ideia distorcida de que éramos parceiros, de que tínhamos algo especial. Mas a verdade era que eu só estava ali porque precisava estar.

Olhei novamente para o horizonte. O mar parecia infinito, assim como essa prisão disfarçada de luxo.

O plano já estava claro na minha cabeça. Eu sabia exatamente o que precisava fazer. Já tinha informações suficientes para destruir Marc, para garantir que ele fosse preso por muito tempo. E, com isso, talvez eu pudesse, de alguma forma, reparar parte do estrago que causei.

– Você está distraído de novo – Marc comentou, se aproximando. Ele colocou uma mão no meu ombro, me encarando com aquele olhar possessivo que me fazia querer desaparecer. – O que está acontecendo com você?

– Nada. Só estou cansado.

– Cansado? Você tem tudo aqui, Yago. Tudo o que alguém poderia querer. Não deveria se sentir assim.

"Eu tenho tudo, menos liberdade", pensei, mas não disse nada.

Marc voltou para o telefone, e eu aproveitei o momento para me afastar. Caminhei até a proa do iate e encostei na grade, respirando fundo. O ar fresco não fazia muito para aliviar o peso que eu sentia.

Fechei os olhos por um momento e deixei as lembranças tomarem conta. Pensei no Rio, na minha mãe, no rosto de Cadu. Ele ainda era meu maior arrependimento, a ferida que nunca cicatrizava.

Marc desligou o telefone e se aproximou de mim novamente.

– Estamos quase prontos para dar o próximo passo, Yago. Em breve, ninguém poderá nos alcançar.

Mal sabia ele que, em breve, tudo o que ele construiu desmoronaria.

Olhei para ele e forcei um sorriso, assentindo. Ele parecia satisfeito, achando que tinha tudo sob controle. Mas, por dentro, eu contava os dias.

Era só uma questão de tempo.

E, quando chegasse a hora, eu estaria pronto.

Os dias que antecediam meu aniversário de dezoito anos pareciam se arrastar como nunca. Cada amanhecer era um lembrete doloroso de que eu ainda estava preso naquele inferno dourado. Mas eu sabia que o tempo estava ao meu favor. Eu escolhi essa data específica por um motivo: meu aniversário seria o dia em que eu finalmente me livraria de Marc.

O presente que eu me daria não seria uma festa ou um presente material. Seria a liberdade.

Meu plano vinha sendo cuidadosamente arquitetado há meses. Desde o momento em que percebi que Marc confiava em mim o suficiente para compartilhar os segredos de seus negócios, comecei a armazenar cada detalhe. Contas bancárias, transações suspeitas, nomes de cúmplices, tudo isso foi registrado e enviado ao Tenente Erick, com quem eu havia entrado em contato secretamente há quase um ano.

Nossos contatos eram esparsos e arriscados. Usávamos um aplicativo criptografado, e eu enviava informações de locais diferentes, sempre apagando qualquer vestígio. Erick sabia o quanto essa operação era delicada. Ele entendia que uma falha poderia significar minha morte.

Marc, no entanto, não era burro. Ele sentia quando algo estava fora do lugar. E nos últimos dias, percebi que sua desconfiança crescia. Ele começou a fazer perguntas, observava meus movimentos com mais atenção. Ainda assim, eu mantinha a fachada, fingindo ser o parceiro perfeito, enquanto preparava a armadilha que o levaria à ruína.

Na noite anterior ao meu aniversário, eu estava sentado no deck do iate, observando as estrelas. Marc estava em uma chamada de negócios no interior da cabine, e eu aproveitei o momento para enviar uma última mensagem a Erick.

"Tudo pronto. Amanhã, às 15h. Enviarei as coordenadas. Preparem-se."

Minutos depois, a resposta veio:

"Entendido. Estaremos prontos. Tenha cuidado."

Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade. Amanhã, tudo acabaria.

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Comentários

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Muito bom, precisar conta como tudo aconteceu, até chegar ao ponte de arma o plano de destruir o Marc

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