O motorhome estava parado no acostamento, e não por escolha. Era isso ou continuar escutando os barulhos estranhos que o motor começou a fazer, como se Leopoldo estivesse tentando imitar um helicóptero falhando. Benê já estava impaciente antes mesmo de estacionarmos.
— Joaquim, tem certeza que você sabe o que está fazendo? — ele perguntou, segurando Piccolo no colo. O gato parecia igualmente cético.
— Claro que sei, Benê. Eu fiz aquele curso básico de manutenção de veículos, lembra? — repliquei, me esforçando para parecer confiante enquanto abria o capô.
— O curso que você abandonou na metade? — ele retrucou, levantando uma sobrancelha.
Ignorei. Peguei meu celular e comecei a procurar um vídeo tutorial. Não era a primeira vez que tentava parecer mais capacitado do que realmente era.
— Ok, o primeiro passo é... localizar o problema. — declarei, tentando afastar a nuvem de fumaça que subia do motor.
— Isso eu também sei, Einstein. O problema é que o carro não anda. — Benê zombou, recostando-se no veículo com um sorriso irônico.
— Você tá aqui pra ajudar ou pra atrapalhar? — perguntei, já de cabeça enfiada no motor.
Tentei seguir o vídeo, mas o que parecia fácil nas mãos do mecânico profissional era quase impossível para mim. Mexi em fios, conferi o nível de óleo, até soltei uma peça pequena que não sabia como colocar de volta.
— Joaquim, você tá brincando de LEGO com o motor do carro? — Benê perguntou, claramente se divertindo às minhas custas.
— Cala a boca, Benê! — retruquei, limpando a testa suada com o antebraço.
Foi nesse momento que Beto, que estava quieto o tempo todo, finalmente resolveu intervir. Ele desceu do motorhome, deu uma olhada rápida no motor e suspirou.
— Dá licença, Joaquim. — disse, com a calma de quem sabia o que estava fazendo.
— Vai resolver o problema com sua aura mística ou algo assim? — Benê provocou, mas Beto apenas ignorou.
Ele começou a examinar as peças com precisão, enquanto eu tentava decifrar onde tinha errado. Em poucos minutos, ele soltou o filtro de ar e mostrou para nós.
— Tá vendo isso aqui? — ele perguntou, segurando o filtro cheio de sujeira. — Esse é o culpado. É só limpar ou trocar.
— Claro, era exatamente isso que eu ia dizer. — tentei disfarçar, mas Benê já estava rindo.
— Tá bom, engenheiro. Vou fingir que acredito. — Beto respondeu com um sorriso de canto.
Com o problema resolvido, Benê quis comemorar à sua maneira.
— Beleza, Beto. Hoje à noite eu sou o chef. Vou fazer hambúrgueres. Vou lá no mercado buscar os ingredientes. — anunciou, já pegando uma mochila.
Enquanto Benê saiu, Beto foi tomar banho, já que estava com graxa até os cotovelos. Eu aproveitei o tempo para editar o vídeo da viagem, ou pelo menos tentei.
O som da água no chuveiro portátil era constante, mas minha atenção estava dividida. Não era culpa minha. O espaço no motorhome era pequeno, e Beto, recém-saído do banho, se movimentava pelo ambiente com a toalha jogada no ombro. Ele escolhia roupas limpas e vestia cada peça com uma calma que parecia ensaiada.
Tentei focar na tela do notebook, mas meus olhos teimavam em segui-lo. Cada movimento dele parecia calculado. O ombro largo, o abdômen definido, o jeito como os cabelos molhados pingavam um pouco de água no chão.
— Tá tudo bem aí, Joaquim? — ele perguntou, puxando uma camiseta pela cabeça.
— Hein? Ah, sim, claro! Só... editando aqui. — respondi rápido demais, voltando a olhar para o computador como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
No momento em que achei que tinha me safado, Piccolo decidiu entrar em cena. O gato pulou em cima do meu notebook, fechando o vídeo que eu tinha acabado de salvar.
— Pelo amor de Deus, Piccolo! — exclamei, assustado, enquanto Beto ria do outro lado do motorhome.
— Parece que até o gato sabe que você precisa de uma pausa. — ele comentou, já vestido e com um sorriso tranquilo.
O sorriso dele era tão natural que me deixou mais desconcertado do que qualquer outra coisa naquele dia. Eu apenas balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos e focar na noite de hambúrgueres que nos aguardava.
A paixão de Benê pela gastronomia não surgiu do nada. Ele sempre teve uma conexão especial com nossa mãe, Ruth. Era comum vê-los juntos na cozinha, ela ensinando algum prato especial e ele absorvendo cada detalhe como uma esponja. Enquanto isso, eu ficava no sofá, com uma mistura de admiração e ciúme.
Ruth era o tipo de pessoa que fazia magia com ingredientes simples. Quando ela cozinhava, a casa inteira se enchia de cheiros que nos faziam esquecer qualquer problema. Mas eu, mesmo amando estar perto dela, às vezes me sentia à margem, como se os dois tivessem uma linguagem própria que eu nunca entenderia.
Benê sempre demandou mais atenção dos nossos pais. Ele tinha um jeito de monopolizar o espaço e o carinho, e eu... bem, eu acabava aceitando. Não porque não me importava, mas porque ele sempre parecia precisar mais.
Estava perdido nesses pensamentos quando fui arrancado do meu devaneio pelo som da porta do motorhome se abrindo com força.
— Hora do hambúrguer! — Benê anunciou com uma energia que parecia inesgotável, carregando sacolas cheias de ingredientes.
— Você tá montando uma lanchonete ou o quê? — perguntei, enquanto ele colocava os sacos na bancada.
— Só confia. Hoje vai ser histórico. — ele respondeu, já começando a organizar tudo com uma precisão que beirava o obsessivo.
No camping, encontramos uma churrasqueira comunitária. Benê assumiu o controle da cozinha improvisada, enquanto eu e Beto ficávamos como assistentes. Ele era metódico, até demais. Pesou cada porção de carne, cortou os ingredientes com perfeição e organizou os pães de forma simétrica na mesa.
— Ele nasceu pra isso. — comentei baixinho para Beto, que apenas riu.
— E você nasceu pra quê? — ele provocou.
— Pra ser o irmão mais bonito. — devolvi com um sorriso, arrancando uma risada dele.
No meio do preparo, quem aparece? Tereza e Salomão, o casal que conhecemos na praia. Foi um reencontro inesperado, mas bem-vindo. Eles traziam mais bolo de chocolate, como bons vizinhos de camping.
— Vocês têm sorte de terem um chef particular. — Tereza comentou, observando Benê trabalhar com a atenção de um cirurgião.
— Ele leva isso mais a sério que a própria vida. — respondi, e Benê revirou os olhos enquanto ajustava a grelha.
Para agradecer o bolo, Benê preparou hambúrgueres caprichados para os dois, que saíram mais que satisfeitos. A noite foi regada a cerveja e conversas. Benê acabou apagando cedo, exausto, deixando Beto e eu sozinhos.
Sentados do lado de fora do motorhome, o clima era estranho. Não podíamos ignorar o elefante na sala — ou, melhor, no estacionamento.
— Então... sobre o que aconteceu naquela noite. — comecei, encarando a lata de cerveja nas minhas mãos.
— Ei, guri, não precisa ficar estranho. Foi só... algo que aconteceu. — Beto respondeu, olhando para as estrelas, evitando contato visual.
— Só algo que aconteceu? — perguntei, sentindo uma mistura de alívio e decepção.
— Não estou dizendo que não significou nada, Joaquim. Só acho que a gente devia ser honesto. Isso é novo pra mim. — ele admitiu, finalmente me olhando.
— Pra mim também. — confessei, quase num sussurro.
Por um momento, o silêncio falou mais do que qualquer palavra. Então, ele deu um sorriso de canto, aquele que parecia desarmar qualquer resistência que eu pudesse ter.
— Só não quero que isso complique as coisas. — ele disse, com a voz mais suave.
— E se eu não quiser evitar complicações? — perguntei, encarando-o.
A proximidade aumentou, como se algo invisível nos puxasse. Um beijo era inevitável, e quando aconteceu, foi cheio de urgência e de tudo que seguramos nos últimos dias.
O espaço no Leopoldo parecia pequeno demais para o que estávamos sentindo. Foi no banheiro do camping que tudo aconteceu, com a discrição que a situação exigia, mas sem perder a intensidade.
Depois, ficamos em silêncio por alguns minutos, tentando processar. Não sabia o que aquilo significava para o futuro, mas, por enquanto, não me importava. Estávamos juntos, e isso era o suficiente.
Manhãs no motorhome sempre começavam com o Piccolo miando e pulando de um lado para o outro, mas, naquele dia, algo em mim estava diferente. Talvez fosse o clima fresco, talvez fosse... bom, o que aconteceu na noite anterior. Resolvi aproveitar a inspiração e preparar o café da manhã para os dois.
Piquei frutas, fiz café, e coloquei algumas torradas na frigideira. Não era nada gourmet como os pratos do Benê, mas era o suficiente para encher a mesa com aromas convidativos.
Benê foi o primeiro a aparecer, com a cara amassada de sono, o cabelo desgrenhado parecendo um ninho de passarinho.
— Bom dia, Bela Adormecida. — brinquei, servindo-lhe uma caneca de café.
Ele se sentou e coçou os olhos, mas congelou quando percebeu algo ao seu lado. Uma largatixa, morta e perfeitamente imóvel, repousava na almofada próxima.
— Joaquim! O QUE É ISSO?! — gritou, empurrando a almofada para longe.
Beto, que estava lavando o rosto, apareceu na porta do motorhome com um sorriso divertido.
— Presente do Piccolo. Parabéns, Benê, vocês finalmente estão fazendo as pazes.
— Presente?! — Benê apontou para a lagartixa, incrédulo. — Eu só quero viver sem ser atacado por ele!
— Melhor aceitar. É o jeito dele de dizer que gosta de você. — respondi, segurando o riso.
Apesar do início caótico, o clima estava tranquilo. Até que decidi ligar a internet via satélite. Meu celular, que estava esquecido no canto da mesa, começou a vibrar descontroladamente com notificações.
Curioso, peguei o aparelho, e foi como abrir uma caixa de Pandora. Mensagens, menções, e uma avalanche de notificações tomaram a tela. Meus dedos tremeram, e antes que pudesse reagir, deixei o celular cair no chão.
— Que foi isso? — Benê perguntou, levantando-se rapidamente. Ele pegou o telefone antes que eu pudesse impedi-lo. — MEU DEUS, JOAQUIM! — gritou, os olhos arregalados enquanto lia as mensagens.
— O que aconteceu? — Beto perguntou, chegando até nós.
Benê virou o celular para mostrar a tela. Lá estava o motivo do meu pânico: alguém havia redescoberto o vídeo que meu ex-namorado postou no último ano. Pensei que havia sido deletado. Só que agora ele estava de volta, mais popular do que nunca.
— O pai disse que o vídeo havia sido excluído! — Benê exclamou, ao mesmo tempo em que eu me levantei tão rápido que quase derrubei a mesa.
O cheiro de torradas queimadas começou a encher o motorhome, mas ninguém parecia notar. A pressão no meu peito aumentava, cada mensagem parecendo gritar comigo, mesmo que eu não pudesse ouvi-las.
— Joaquim... calma. — Beto tentou se aproximar, mas eu já estava na porta.
— Eu não consigo... preciso de ar. — foi tudo o que consegui dizer antes de sair correndo para fora do motorhome, o ataque de pânico me dominando por completo.
O vento frio da manhã cortava meu rosto enquanto eu tentava recuperar o fôlego. O céu parecia girar, as vozes de Benê e Beto vinham abafadas ao fundo. Eu precisava de espaço, precisava pensar.
O vídeo estava fora de controle, e agora, minha vida também.
***
AdamPereira - O cara é ator pornôLuciahtinha - Deve rolar maior putaria nesse motorhome
MysticaMoon - Qual é o problema? Atores pornô são gente como a gente.
OlavoGildo - Deixando de seguir esse canal. Pensei que vocês fossem garotos de Deus. Soloportugues - Queimem no inferno, viados!!!!!!!!Mariadefatima - Deixando de seguir.
FredSilva - Deixando de seguir também. Decepção. Péssimo exemplo para as crianças.
Dianarainha - Que passivo gostoso. Sabia que esse Joaquim gostava de morder a fronha.
Gaydecalcinha - Esse irmão dele tem cara de que soca gostoso, eu quero.
Gauchodoagro - O Roberto é da minha cidade. Sabia que tinha fugido pra ser gay.
BrunaTavares - Decepção. O homem nasceu para deixar com uma mulher. Parando de seguir.
KatianeFigueiroa - Queima cabaré. Tô adorando os edits com a cara do Joaquim levando vara!!!!!