Segui andando até nossa casa, eu sinceramente não sabia o que fazer. Não estava mais tão por cima quanto antes, diante de tudo que Carla fez, apesar de que, sinto no fundo que fiz movido a raiva, carência e principalmente impulso. Mas uma parte de mim dizia, será que não foram estes os mesmos sentimentos de Carla, quando me traiu com alberto? Só confrontando-a, para descobrir.
Cheguei em casa, e não a encontrei. A casa estava vazia. Mas as coisas de Carla ainda estavam lá, eu aproveitei para fazer as minhas malas. Pois estava mesmo decidido a ir embora. Depois que fiz as malas, eu saio do quarto, e na cozinha, estava Carla. Parecia me esperar, estava ansiosa, trêmula, e ao mesmo tempo receosa de perguntar onde eu fui. Não sabia o que falar para ela.
Depois de tudo o que aconteceu, sentar ali, naquela cozinha, parecia surreal. Carla estava na minha frente, cabisbaixa, e o ar ao nosso redor era quase palpável de tão pesado. Eu nunca imaginei que a pessoa com quem eu dividi tantos sonhos pudesse ser a mesma que agora estava diante de mim, pedindo desculpas por algo que quebrou não só minha confiança, mas também minha alma.
— Cristiano, eu… não sei nem como começar — disse ela, com a voz trêmula. Suas mãos estavam unidas sobre a mesa, tremendo ligeiramente. Eu a encarei por um momento, tentando controlar a raiva e a tristeza que pulsavam dentro de mim como uma tempestade.
— Talvez comece dizendo por quê, Carla. Porque, sinceramente, eu ainda não consigo entender. Você mentiu para mim, e não só isso. Você fez isso com ele. Com Alberto. Meu amigo. Ou pelo menos, quem eu achava que era meu amigo. Por que na verdade, ele é um grande filho da puta.
Ela respirou fundo, como se estivesse buscando coragem em algum lugar profundo dentro de si. Dava para ver que Carla estava arrependida, os olhos não paravam de chorar, ela então finalmente se abriu.
— Cristiano, eu… não sei o que dizer. Foi um erro, um momento de fraqueza. Eu não estava pensando claramente. Eu só me deixei levar, talvez, pelo fato de a tempos não estar sendo o centro das atenções em algum lugar...
— Um momento de fraqueza? — interrompi, minha voz subindo um tom. — Um momento? Você sabe o que mais me machuca, Carla? Não foi apenas a traição em si. Foi a mentira. Você olhou nos meus olhos e me fez acreditar que estava ajudando Alberto com aquele teatro ridículo de fingir ser a namorada dele. E tudo isso para quê? Para encobrir o que vocês estavam fazendo pelas minhas costas?
Ela começou a chorar, mas eu não tinha mais energia para me importar naquele momento. Eu também estava destruído. Para falar a verdade, não conseguia encontrar justificativas para toda aquela situação.
— Cristiano, eu sei que não há desculpas para o que fiz. Eu sei disso. Eu me odeio todos os dias por ter te machucado assim. Mas… por favor, me escuta. Me deixa tentar consertar isso.
— Consertar? — soltei um riso amargo. — Você acha que alguma coisa pode consertar isso, Carla? Você destruiu tudo. A confiança, o respeito… o nós.
Ela levantou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas, mas também de uma determinação que me pegou de surpresa. Principalmente com a fala dela.
— Eu não vou desistir de nós, Cristiano. Eu não posso. Eu te amo. Mesmo agora, depois de tudo, eu ainda te amo.
Aquelas palavras me atingiram como uma faca. Eu sabia que ela estava sendo sincera, mas isso apenas tornava tudo mais difícil. Como eu podia acreditar novamente em alguém que havia me destruído assim? Fora que, antes de encontra-la agora, algo aconteceu. Eu sentia, ao menos naquele momento, que não haveria volta para nós.
— Carla, eu… preciso ser honesto com você. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Eu sabia que o que estava prestes a dizer mudaria tudo, mas também sabia que não podia mais viver com esse peso. Talvez alguns julgassem que eu não devia me justificar para Carla, mas ela merecia mesmo uma resposta.
Ela franziu a testa, confusa. — O que você quer dizer?
Desviei o olhar, encarando a mesa por um instante antes de finalmente criar coragem. Respirei fundo, e tomei toda a coragem necessária para finalmente dizer a ela o que precisaria ser dito.
— Eu e a Camila… aconteceu algo entre nós.
Carla ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse tentando processar o que eu acabara de dizer. Então, seus olhos se arregalaram, e sua expressão mudou de tristeza para choque.
— Camila? Você e a Camila? O que… o que você está dizendo, Cristiano? E quem é essa Camila?
— Foi um momento de fraqueza. — Minha voz era um eco do que ela mesma havia dito minutos antes. — Camila foi uma grande amiga que a vida me trouxe, depois que descobri sua traição. Eu a conheci num bar, ela trabalhava lá. Fui ver ela, precisava desabafar. Eu estava destruído, Carla. Camila estava lá, tentando me consolar, e eu… eu me deixei levar. Acabamos transando, e foi muito bom. Mas ela...
Ela balançou a cabeça, incrédula. — Então você me traiu também? Você acha que isso… iguala as coisas?
— Não. — Respondi imediatamente. — Para Camila, inclusive, isso igualaria as coisas, tanto que ela me pediu para voltar, e aceitar você de volta, que isso nos faria se igualar nas situações, mas eu discordo. Não estou dizendo que foi certo. Mas sabe o que percebi depois disso? Que nada disso resolve a dor. Não resolve a traição. Apenas cria mais.
Carla levou as mãos ao rosto, soluçando. Ver aquela cena me destruiu ainda mais. Eu nunca quis machucá-la assim, mesmo depois de tudo. Mas também sabia que precisava ser honesto.
— Cristiano… — ela disse, entre soluços. — Se você também errou, por que nós não podemos tentar? Por que não podemos superar isso juntos?
Me aproximei dela, segurando seus ombros com delicadeza, mas minha expressão era séria.
— Porque o que aconteceu entre nós quebrou algo muito maior do que a confiança, Carla. Quebrou o respeito. E, sem isso, não existe relacionamento que possa sobreviver.
Ela me encarou, os olhos cheios de dor. — Então… é isso? Você vai me deixar?
Assenti lentamente, sentindo meu coração se partir ainda mais com aquela decisão.
— Eu não quero mais viver com essa dor. Não quero transformar nossa história em algo que só nos machuca. Você merece alguém que consiga te perdoar. E eu… eu preciso de tempo para me encontrar novamente.
Carla abaixou a cabeça, derrotada. — Eu te amo, Cristiano. Mesmo agora, depois de tudo.
— E eu também te amo, Carla. Mas às vezes, o amor não é suficiente.
Sem olhar para trás, peguei minhas coisas e saí pela porta. O ar da noite estava frio, mas, ao mesmo tempo, trazia um estranho senso de alívio. Era o fim de algo, mas também o começo de outra coisa. Procurei um lugar para ficar, recomeçar a vida. Pouco tempo depois, estava ali, morando sozinho, e vivendo a vida sozinho. Não soube mais de Carla, mas estava pensando em procura-la para assinar o divórcio, e assim deixa-la livre para procurar alguém melhor, e que eu pudesse fazer o mesmo. Mas não sei por que, não o fiz.
Seis meses depois, eu estava sentado em um banco de uma pequena praça perto do meu novo apartamento. A vida tinha seguido em frente, mas de uma forma lenta, como se eu ainda estivesse reaprendendo a andar. Os dias eram menos dolorosos agora, mas a cicatriz permanecia. Meus colegas tentavam me apresentar mulheres, mas eu rechaçava sair com alguma outra. Eu não estava pronto ainda para um novo relacionamento.
Uma coisa que eu gostava de fazer todos os dias, era dar de comida aos pombos no parque. Estava ali fazendo isso, em mais um fim de tarde, em um dia que estava de folga. Enquanto observava o pôr do sol, ouvi uma voz familiar.
— Cristiano?
Levantei os olhos e a vi. Carla. Ela estava parada ali, segurando uma sacola de compras. Parecia diferente — mais forte, mais serena. E sinceramente, mais sexy. O tempo fez muito bem a ela. Sua mão, que segurava as compras, ainda permaneciam com a nossa aliança, a mesma que eu havia dado a ela quando nos casamos. Ela parecia outra em quase tudo. Mas seus olhos ainda carregavam algo que eu conhecia tão bem.
— Carla… — murmurei, surpreso. Não sabia o que dizer.
Ela deu um pequeno sorriso, hesitante. — Eu não achei que fosse te encontrar aqui.
— E eu não esperava te ver. Como você está?
— Melhor. Um dia de cada vez. E você?
Assenti lentamente. — Melhor também.
Ela olhou para o horizonte, o sol pintando o céu de tons de laranja e vermelho.
— Eu sempre gostei desse lugar. — Sua voz estava calma, quase nostálgica.
— Eu sei. — Sorri levemente. — Foi por isso que vim para cá.
Carla virou-se para mim, surpresa, mas não disse nada. Por um momento, apenas nos encaramos. Havia tantas coisas não ditas, mas, ao mesmo tempo, algo naquele silêncio parecia suficiente.
Quando ela finalmente se afastou, senti algo estranho dentro de mim. Talvez fosse um resquício de esperança. Talvez fosse apenas paz. Mas, naquele momento, percebi que o futuro ainda era incerto, e talvez houvesse uma porta entreaberta para nós. O tempo diria.