Oi, pessoal. Só queria agradecer aos leitores por me acompanharem em mais uma saga literária. Eu sei que esse tipo de romance não é o que o público do site gosta, mas é algo que eu curto ler. Eu agradeço aos dois seguidores que comentaram o história: Sant14 e Pil.lan. Obrigado por tudo!
JOAQUIM
Saí de São Paulo com a intenção de prestar uma homenagem aos meus pais, que faleceram há dois anos. A Argentina era o destino final, mas, no caminho, me perdi e me achei em igual medida. Passei por lugares que não esperava e conheci pessoas que me moldaram para melhor. Seis meses depois, estava de volta a São Paulo, mas não do mesmo jeito que parti. E não estava sozinho.
Comecei a viagem com Benê, meu melhor amigo, em nosso motorhome batizado de Leopoldo. Porém, em algum ponto da fronteira entre Brasil e Uruguai, encontramos Roberto — ou Beto, como ele preferia ser chamado —, um gaúcho que também fugia de seus próprios fantasmas. No final das contas, voltamos à capital paulista em quatro, contando com Piccolo, o gato de Beto, que ganhou fama durante a jornada.
Quando estacionamos Leopoldo na rua em frente à minha casa, uma sensação de final e começo me tomou. Beto estava visivelmente nervoso, talvez mais do que eu. Desde Paulo, meu ex, nunca tinha levado outro rapaz para minha casa. Agora, ali estava ele, ainda ajustando a mochila nos ombros e olhando em volta como se pisasse em solo sagrado.
Entramos, e a primeira coisa que chamou minha atenção foi um mural que minha tia Tereza montou. Fotos, bilhetes e pequenos objetos deixados pelas pessoas que alugaram a casa nesses meses de viagem formavam um mosaico vivo de memórias.
— O que é isso? — perguntou Beto, largando a mochila no sofá.
— A tia Tereza e suas ideias — respondi, pegando minha câmera para fazer um take. — Ela sempre foi muito criativa.
Sim, eu tinha seguidores. Milhares deles. Nossa viagem documentada em vídeos conquistou muita gente na internet. Piccolo, o gato, tinha até um fã-clube. Meu relacionamento com Beto também era um fenômeno online; os seguidores chamavam nosso casal de "Bequim". Já Benê, por sua vez, era o queridinho das redes, considerado o solteiro mais cobiçado.
Enquanto gravava, Benê admirava o mural por longos minutos.
— Cara, isso é incrível — ele disse, apontando para os bilhetes.
Eu olhei para Beto. Ele parecia deslocado, como se estivesse congelado perto do sofá. Piccolo, no entanto, estava desbravando a nova casa, farejando cada canto.
— Bem, perdedores, vou para o meu quarto — anunciou Benê, enquanto subia as escadas. — Preciso de uma punheta em lençóis limpos.
— Bah, guri! — exclamou Beto, ficando vermelho como um tomate.
— Qual é, cunhadinho? Passei meses ouvindo vocês transando. Ah, se os banheiros dos campings falassem! — Benê provocou antes de desaparecer no corredor.
Eu ri, mas notei que Beto continuava tenso. Então me aproximei e o abracei.
— Ei, deixa ele. Percebi que você está nervoso.
— Tú percebeu? Sei lá, Quim. É a sua casa e...
— Nossa casa, gaúcho — cortei. — Essa é a sua casa também. Você não está desamparado. Passamos por tanta coisa juntos. Eu conheço o teu jeitão, mas é tudo no seu tempo. Olha o Leopoldo. Você demorou semanas para se acostumar com ele, lembra?
Beto sorriu.
— Tudo no seu tempo — ele repetiu antes de me beijar.
Ali, no meio da sala, com Piccolo explorando a cozinha e Benê jogado no quarto, soube que havíamos chegado ao final de uma jornada — e ao início de outra.
BENÊ
A casa estava voltando ao ritmo de antes, mas com novas dinâmicas. Depois de seis meses morando no Leopoldo, foi um alívio dormir em uma cama de verdade. Ainda assim, o caos do dia a dia com o Joaquim e o Beto continuava. A decisão de explorar o Brasil para o canal foi um consenso. Queríamos mais histórias, mais aventuras, mas antes disso, precisávamos organizar os conteúdos da viagem para a Argentina. O Quim ficava com as edições mais demoradas, enquanto eu fazia piadas e gravava "takes" espontâneos.
— Escuta, guri! — exclamei, em uma de nossas reuniões. — Se a próxima temporada não tiver minha imitação do Beto falando "piazito", eu não participo. — falei, tentando acertar o sotaque do gaucho e fracassando miseravelmente.
Beto, claro, revirava os olhos e balbuciava um "Deixa o guri".
Enquanto planejávamos os novos passos, percebi que o Beto estava finalmente se sentindo à vontade na casa. Ele e Joaquim eram uma dupla e tanto, mas o que me surpreendeu foi como ele se aproximou de mim. Passávamos horas assistindo aos jogos do Flamengo e, aos domingos, era churrasco no quintal. Nunca vi um gaúcho tão empolgado com carne mal passada quanto ele. Aos poucos, ele parecia menos tenso, como se finalmente estivesse em casa.
Mas havia um problema. E não era o Beto, era o Piccolo. O gato ainda tinha como principal objetivo de vida transformar minha existência em um inferno.
— O gato me odeia! — desabafei depois de encontrar um rato morto na minha cama pela terceira vez na semana.
— Ele gosta de ti. Isso é um presente! — Joaquim riu, segurando a câmera, pronto para transformar meu sofrimento em mais um vídeo.
— Presente? Presente? Acha que um defunto do reino animal é um presente?! — repliquei, mostrando o rato para a câmera.
Beto apareceu na porta, visivelmente desconfortável.
— Desculpa, piá. Vou tentar educar ele. — disse, coçando a cabeça.
— Relaxa, guri! A culpa não é tua. É do teu gato maligno. — respondi, tentando disfarçar o incômodo. Não queria que ele se sentisse mal. Já bastava o que ele enfrentou com o pai.
Ainda penso nas coisas que o Seu Geraldo disse quando "visitou" Beto na Argentina. Lembro de como fiquei ao lado do Joaquim enquanto aquele homem despejava suas asneiras. Foram palavras duras, cruéis, que não faziam sentido para quem conhece o coração do Beto e do Joaquim.
O Beto, por exemplo, é uma das pessoas mais bondosas que já conheci, e é impossível entender como alguém não enxergava isso. Talvez fosse por isso que eu fazia questão de incluí-lo nos churrascos, nas partidas, nas piadas. Ele precisava sentir que não estava sozinho.
E o Joaquim? Bom, ele sempre foi meu motivo de orgulho. Mesmo nos piores momentos, quando ele se afundava em tristeza, eu fazia de tudo para arrancar um sorriso. Aquele jeito energético dele, as piadas sem fim, é tudo que me motiva. Ver ele e o Beto juntos, felizes, me dava a certeza de que fizemos as escolhas certas.
Por fim, enquanto editava mais um vídeo e ouvia os dois discutindo sobre qual era a melhor churrascaria da Argentina, não consegui evitar um sorriso. Nosso próximo destino era o Brasil, mas a maior aventura era viver tudo isso juntos. E, mesmo com um gato que aparentemente tinha um pacto com o demônio, eu não trocaria isso por nada.
— Eita, guri! — exclamou Beto, que usava apenas uma cueca samba canção. — Não vai mais?
— Pra onde?
— O encontro com a guria. Você ficou a semana toda falando dela...
— Luana! — levantei a assustando e sai correndo pelas escadas.
— De nada! — gritou Beto. — Eu continuo a edição.
— Valeu! — gritei de volta, subindo para o meu quarto.
Sair para um encontro parecia uma boa ideia. Depois de meses no Leopoldo, com as paredes estreitas e minha rotina solitária resumida em punhetas no banheiro minúsculo do Leopoldo, achei que estava mais do que na hora de conhecer alguém. Luana parecia a escolha perfeita: sorridente, cheia de vida, e com aquele jeito de quem sabia o que queria. O que eu não sabia era que o destino estava determinado a transformar essa noite num verdadeiro desastre.
O plano era simples: cinema e, se tudo corresse bem, jantar depois. Mas logo no início as coisas começaram a sair dos trilhos. Cheguei para buscá-la de carro, e quando Luana entrou, percebi que meu desodorante tinha decidido tirar folga naquela noite. Tentei abrir discretamente a janela, mas acabei encostando no botão errado e travando todas as portas.
— Tá calor aqui, né? — ela comentou, abanando o rosto.
— Pois é... defeito de fábrica, sabe? — Respondi, tentando rir, enquanto minha nuca já estava mais molhada que as Cataratas do Iguaçu.
No cinema, o pesadelo continuou. A fila estava longa, e quando finalmente fomos pegar os ingressos, eu deixei meu cartão cair dentro da máquina de refrigerante. Passei alguns minutos me equilibrando de joelhos enquanto Luana me olhava, incrédula, segurando um saco de pipoca que, mais tarde, seria a origem de outro desastre.
Na metade do filme, um drama romântico que ela escolheu, decidi ser ousado e passar o braço por seus ombros. Mas ao fazer isso, meu cotovelo acertou o saco de pipoca, que voou sobre a cabeça de um casal na fileira de baixo.
— Acho que a pipoca deles precisava de um upgrade... — Tentei brincar, mas Luana só me lançou um olhar que dizia: "Por que eu aceitei sair com você mesmo?"
Como se não bastasse, no fim do filme, ao me levantar, acabei pisando na barra da minha própria calça, tropecei e derrubei um refrigerante inteiro em cima da bolsa dela.
— Eu não sei se rio ou choro — ela disse, tentando limpar o desastre.
No jantar, a situação piorou. Pedi um prato que não sabia pronunciar e, claro, ele veio com frutos do mar, coisa que eu detesto. Enquanto Luana parecia se divertir com as histórias do dia, eu estava lutando para engolir um camarão borrachudo sem fazer careta.
Depois de deixá-la em casa, me senti um completo idiota. Encostei a cabeça no volante e suspirei. "O que deu errado, Benê? Tudo!" Mas, no fundo, sabia que o problema não era só o desastre da noite.
Ver Joaquim e Beto juntos, com aquela sintonia quase mágica, me fazia pensar se algum dia eu teria algo assim. Não um encontro perfeito, mas alguém que me aceitasse com todos os meus tropeços, gafes, e piadas ruins.
Enquanto dirigia de volta para casa, percebi que, embora a noite tivesse sido desastrosa, ainda assim era mais um passo na busca por algo maior. Não sabia se o amor estava em um cinema, em um jantar ou em algum lugar entre o Brasil e a Argentina, mas estava disposto a procurar. Afinal, se Joaquim e Beto encontraram, por que eu não poderia encontrar também?
"Mas antes", pensei, olhando para o meu reflexo no retrovisor, "acho que vou começar investindo em um novo desodorante."
BETO
O sol tava forte, e aquele calor abafado de São Paulo não ajudava a aliviar o aperto no peito que tínhamos por vender o Leopoldo. Bah, eu nem sei se consigo descrever o misto de sentimentos que rolava entre nós três. Tava ali, do lado de fora da concessionária, enquanto o Joaquim e o Benê faziam aquela despedida toda emotiva com o velho motorhome. Tchê, eu sempre fui mais prático, mas dessa vez... não sei, bateu diferente.
— Então, Joaquim. — o Roberval, dono da concessionária, chamou a atenção dele. O Joaquim olhava o documento de venda do Leopoldo com aquele olhar perdido. Eu conhecia bem, ele tá com os olhos marejados, tentando segurar o choro.
— Está ótimo. — respondeu Joaquim, engolindo em seco.
Eu já sabia que ia ser difícil pra ele. O Leopoldo não era só um ônibus convertido em motorhome. Era uma extensão da família, tchê. O nome, que eu sempre achei estranho, vinha do avô do Joaquim. E ele e o Benê tratavam o ônibus como se fosse um quarto irmão.
O Benê, sempre aquele dramático, foi o primeiro a dar um passo adiante. Ele abraçou a lataria do Leopoldo como se fosse uma despedida de um amigo de longa data.
— Obrigado por tudo. — disse ele, com a voz embargada. — Obrigado por nos abrigar nas noites chuvosas e frias. Obrigado por nos levar em segurança até o Ushuaia.
Já o Joaquim, emocionado, encostou a mão direita no ônibus.
— Só quero agradecer por ter nos ajudado. Sem você, nada disso seria possível.
Os dois ficaram me olhando. Claro que estavam esperando uma reação minha. Dei um passo pra frente, toquei na lataria do Leopoldo e soltei:
— Bah, eu não sei o que dizer pra ti, mas gratidão, Leopoldo. — Minha garganta deu uma travada. Não é muito meu feitio ficar emotivo, mas as memórias invadiram. — Desculpa pelos xixis e garras do Piccolo. Ele não fez por querer.
Saí de lá antes que os guris vissem alguma lágrima rolando. Bah, não queria que me vissem assim. Mas foi só botar o pé pra fora que o Benê, cheio das ironias, veio atrás de mim.
— Fica assim não, cunhadinho. Eu sei que debaixo dessa casca de agroboy existe um coração sensível. — disse ele, me abraçando de um jeito que me fez revirar os olhos.
Eu ri de leve, mas aquele abraço tava carregado de significado. A gente sabia que vender o Leopoldo era o primeiro passo pra nossa próxima aventura. Era o começo de um novo capítulo, percorrendo o Brasil com um motorhome mais parrudo.
O Joaquim saiu da concessionária com o recibo na mão e aquele olhar que misturava tristeza e expectativa. Chegou perto de mim e passou o braço pelo meu ombro.
— Tchê, vamos sentir falta, né?
— Claro, parceiro. Mas o importante é o que vem pela frente. E, bah, com um motorhome decente, a gente chega até o fim do mundo de novo.
Ele sorriu. Um sorriso pequeno, mas sincero. Era o tipo de coisa que me fazia lembrar por que eu tinha me apaixonado por ele. Joaquim é assim, mais emocional, mais de sentir o momento. Já o Benê, coitado, é um neurótico que vive perdido nas próprias ideias. Sem mim, os dois estariam à deriva. Eu era o equilíbrio dessa família meio doidivanas.
— Vamos simbora, gurizada. Temos que pegar a Vanessa no aeroporto. — falei, tentando animar o clima.
— Cunhadinho, a Vanessa tá solteira? — perguntou Benê.
— Olha a língua, Pia. — retruquei. — Inclusive, ela vem com o noivo. — avisei. — Quim, obrigado mais uma vez por aceitar recebê-los.
— Que isso, amor. Sei o quanto a Vanessa é importante para ti. — comentou Joaquim, entrando no carro.
Finalmente, após muitos anos, eu me vejo feliz. E tudo iniciou quando decidi ir para o Ushuaia. Encontrei dois irmãos que mudaram a minha vida. Eu espero agradecer um dia. Espero poder demonstrar o quanto eu amo os dois.
Seguimos para o aeroporto, onde eu fui receber a minha irmã, Vanessa, que veio da cidade de Dom Pedrito para passar as festas de fim de ano. No Réveillon, a gente viajaria para o Rio de Janeiro para passar a virada de ano na praia de Copacabana.
— Ei, guri! — exclamou Vanessa ao me ver. Ela largou a mala e correu na minha direção. — Tú tá lindo, pia. Olha isso, Fernando. — disse, olhando para o noivo.
Fernando era um homem alguns anos mais velho e tinha uma filha de 18 anos, que estava prometida a mim. Graças a Deus, ele entendeu a minha situação e, de quebra, ainda se apaixonou pela minha irmã.
— Joaquim! — ela exclamou correndo para abraçar o meu namorado. — Obrigada por cuidar desse tonto.
— Não por isso, Vanessa. O Beto é um cara incrível. — disse ele, me deixando vermelho. Era a primeira interação deles.
— Oi, cunhadinha. — soltou Benê, fingindo uma vergonha que não existia.
— Benedito, o arranhador favorito do Piccolo! — ela disse para o desgosto do Benê.
Finalmente, os meus mundos estavam se colidindo. Graças a Deus, eles já se conheciam através das redes sociais, mas vê-los ali na minha frente me deixou muito feliz. Confesso que deixei algumas lágrimas escorrerem no meu rosto, o que gerou diversos comentários do Benê.
— E como tá o pai? — perguntei, enquanto aguardávamos o Fernando a pegar o carro alugado.
— Daquele jeito, mas a empresa está bem. Me reuni com as primas e estamos criando uma nova gestão de negócios. Todos nós vamos ter participação nos lucros. Não se faça de orgulhoso, o seu nome já está na lista, as primas fazem questão. — explicou a Nessa, que tocou no meu rosto. — Tú tá feliz, quase radiante. Isso é muito bom. Tú encontrou a felicidade.
— Obrigado por torcer por mim, guria. — eu a abracei.
— Eu daqui e a mamãe do céu. — disse Nessa. — Certeza que ela também está feliz por ti. — acariciando meus cabelos.
Talvez eu tenha muito a mostrar para eles durante a nossa viagem pelo Brasil. Por enquanto, eu só quero aproveitar o meu namorado, meu novo irmão e a presença da Vanessa aqui. Isso é tudo o que eu quero.
JOAQUIM
Hoje completaram seis meses desde que voltamos do Ushuaia. Nesse meio-tempo, vendemos o velho Leopoldo e demos entrada em um novo motorhome. Desta vez, ele será maior, com espaço para três pessoas e, claro, para o Piccolo. Nossa próxima aventura será atravessar o Brasil, do Norte ao Sul. Para isso, priorizamos algo essencial: ar-condicionado.
— Lembrou do ar-condicionado, né? — Benedito perguntou pela milésima vez, encostado na cadeira de praia com o chapéu cobrindo o rosto.
— Sim, Benedito, já está resolvido. — retruquei, revirando os olhos. — Agora dá um tempo, aproveita a praia e vai atrás de um rabo de saia.
— Qual a treta? — Beto apareceu com três caipirinhas, sentando ao nosso lado e me entregando uma.
— O ar-condicionado do novo motorhome. O Benê quer um que congele até pinguim. — expliquei, bufando.
— Relaxa, guri. O próximo Leopoldo vai ter um ar-condicionado de primeira, com bateria própria. Não se preocupa, Benedito. — Betorespondeu enquanto dava um gole na bebida.
O Rio de Janeiro é um lugar espetacular. Depois que nossos vídeos do Ushuaia ganharam força, passamos a produzir conteúdos menores, com dicas e registros de pequenas viagens por perto. Lugares que aceitam pets se tornaram nosso foco, por motivos óbvios. Nem preciso dizer que a viagem do Réveillon também está sendo documentada.
Claro que encontramos o casal Tereza e Salamão, que conhecemos na Argentina. Após uma recuperação lenta, Salamão já estava andando sem ajuda de muletas. Fizemos um vídeo especial contando sobre a história deles e a importância de ter cuidado nas estradas.
— E vocês vão para a praia? — perguntou Tereza, colocando um bolo fresquinho sob a mesa.
— Sim. — respondi. — E vocês?
— Vamos subir a serra. A família do Salamão vai se reunir para celebrar. — explicou Tereza. — Que tal vocês fazerem uma visita?
— Eu topo! — exclamou Benê, que já estava comendo a segunda fatia de bolo.
— Educação, cunhadinho. — pediu Beto, batendo nas costas do meu irmão.
No Rio de Janeiro, ficamos em um apartamento de temporada, cortesia do Fernando, noivo da Vanessa. Ele não só é gente boa como ainda bancou um chef particular para preparar a ceia de Ano Novo.
— Que horas vai sair o rango? — Benê perguntou, jogado no sofá como um tomate assado pelo sol.
— Para de ser mal-educado, Benedito. O Fernando fez isso para que tivéssemos uma noite especial. — reclamei, ajeitando a camisa.
Piccolo aproveitou o momento para saltar no Benê e arranhá-lo, arrancando risadas da Vanessa. Os dois têm uma rivalidade hilária desde sempre, e a viagem de carro até aqui foi um show à parte, com provocações a cada parada.
— É o presente de Ano Novo. — Beto disse, sentando ao meu lado e apoiando a cabeça no meu ombro.
— Por que a gente trouxe essa máquina assassina? — Benê resmungou, levantando e correndo em círculos.
— Ele é da família, pia. — Beto respondeu com um sorriso, dando de ombros.
Vanessa entrou na sala com Piccolo nos braços.
— Vou me arrumar. O chef já terminou a ceia. Ah, e o Piccolo vai ficar no meu quarto. Coloquei um remedinho calmante na ração dele.
— Obrigado, cunhadinha. — Benedito agradeceu teatralmente. — Salvou minha vida. Feliz Ano Novo, assassino.
Para a virada, escolhemos looks simples, mas alinhados. Roberto e eu usamos camisas com estampas parecidas, o que rendeu piadas intermináveis do Benê. Ele, no entanto, nos surpreendeu ao entregar chapéus com o logotipo da nossa produtora: Leopoldo Produções.
Depois da ceia, seguimos para a praia com dois coolers cheios de cerveja e frutas. Encontramos um cantinho mais tranquilo, perto de famílias que faziam piqueniques na areia. Benê levou uma caixa de som e colocou uma playlist que misturava funk, MPB e sertanejo.
Eu estava feliz. Não era a cerveja falando; era a certeza de que estava vivendo o sonho que sempre desejei: desbravar o mundo ao lado do meu irmão e do homem que amo.
Olhei para o lado e vi Beto abraçando Vanessa. Aquilo aqueceu meu coração. Aproveitei o momento e me aproximei do Benê, que dançava animado ao som de Anitta.
— Irmão! — gritei, abraçando-o forte.
— Irmanito! Eu te amito! — ele respondeu, emocionado. — Obrigado por me proporcionar esse ano maravilhoso.
— A gente conseguiu, né? Desbravamos o fim do mundo e realizamos o sonho do pai.
— Ele tá orgulhoso de ti, mano. — Benê colocou a mão no meu rosto, com os olhos marejados. — Tu virou o fio condutor desse sonho. Obrigado!
— E a mãe orgulhoso de você. Sabe, lembro dela toda vez que provo uma comida sua. — revelei.
De repente, Roberto apareceu, visivelmente alegre.
— Eu amo vocês! — ele exclamou, nos abraçando.
— Também te amo, cunhado! — Benedito celebrou, pulando junto conosco.
— Brasil! — gritamos em uníssono, rindo como crianças.
— Cunha, obrigado por ser a nossa ancora. — declarou Benedito, antes de dar um beijo na testa de Beto, que ficou sem graça.
— Eu que agradeço os dois. Sério, guris. Vocês mudaram a minha vida e não fazem ideia quanto e...
— Não. Isso não faz o teu estilo. — Benê o dedo indicador para calar a boca de Beto. — Não quero chorar. Quero beber e ficar desmaiado nessa areia abençoada. — dando três tapinhas no ombro de Beto. — Preciso beber. — indo na direção de Vanessa e Fernando. — Cunhados!
— Deixa ele encher o saco de outra pessoa. — soltei fazendo o Beto rir.
Mais tarde, enquanto admirávamos o céu, Beto segurou meu queixo, apontando para a lua cheia.
— Tá vendo essa lua? — ele perguntou, com um brilho nos olhos.
— Tô, claro.
— Ela sempre esteve presente: no nosso primeiro beijo, na nossa primeira transa, no dia em que você me perdoou. Pra mim, ela é o símbolo do nosso amor.
10, 9, 8...
— Ela é o símbolo do nosso amor. — repeti, encantado.
7, 6, 5...
— Eu te amo demais, piá. — ele confessou, me beijando.
4, 3, 2, 1...
FELIZ ANO NOVO!
Os fogos explodiram no céu, refletindo nos nossos olhares e iluminando a promessa de mais um ano juntos, desbravando sonhos e histórias.