ParteTragédias e puniçõesSérgio)
Saí de casa após receber aquela mensagem, com o coração na boca e um desespero nas veias que fazia cada pensamento parecer um eco distante. Nem me lembrei que era sábado. Quando cheguei à agência e vi as portas fechadas, a realidade me atingiu como um soco seco.
“ Puta que pariu, a porra do banco não abre hoje.” - gritei em silêncio dentro de minha cabeça.
Minha respiração ficou pesada, descompassada, e senti o suor brotando na testa, escorrendo pelas têmporas, frio como gelo. Meu peito subia e descia como se eu estivesse correndo uma maratona. Com um grito abafado, bati as mãos no volante, o som ecoando pelo carro, mas isso não aliviou em nada.
Não adiantava. Sacar o dinheiro era impossível. Primeiro porque o valor que teria que sacar estava muito acima do limite do caixa eletrônico, e segundo, porque a conta poupança tinha restrições específicas. Medidas de segurança que eu mesmo aceitei quando minha equipe jurídica sugeriu, para evitar golpes. Maldita precaução que agora parecia me prender em um labirinto sem saída.
O problema era Sandro. Ele sabia da conta. Sempre soube. Não havia segredos sobre isso em casa.
Senti meu corpo pesar contra o banco enquanto a ameaça dele contra a vida da minha irmã martelava na minha cabeça. Uma onda de pânico começou a tomar conta de mim, apertando meu peito como uma mão invisível. Eu precisava de ajuda. Meu advogado, a delegada que cuidava do caso, qualquer um. Mas o medo... o medo me deixou imóvel, como se eu estivesse preso no próprio carro.
Agarrei o celular e comecei a ligar para amigos em comum, tentando arrancar qualquer informação. Nada. Tudo em vão.
Foi então que, num momento de impulso, me lembrei de Mari. O endereço dela estava num grupo de mensagens antigo. Uma festa de aniversário, talvez? Não importava. Eu só conseguia pensar que, de alguma forma absurda, ela poderia me ajudar.
Liguei para avisar que estava indo, mais para não parecer um louco do que por cortesia. Quando cheguei à rua de sua casa, meu coração parecia um tambor furioso dentro do peito. Desci do carro com as pernas trêmulas, como se nao fossem capazes de sustentar o peso de meu corpo. Por pouco não caí.
Caminhei com dificuldade até a porta. Minha cabeça girava, e percebi tarde demais que havia deixado meu celular no carro. Tudo bem. Não fazia diferença.
Quando alcancei a porta, não precisei tocar a campainha. Mari já estava lá, como se tivesse ficado de prontidão na janela, esperando minha chegada. A porta se abriu de repente, me arrancando um susto que quase me fez dar um passo para trás.
Com certeza era Mari, mas nem de longe parecia a jovem vibrante que eu conhecia. Aquela garota ruiva de olhos castanhos claros, que sempre foi pequena, mas atlética. Ela era o tipo de garota que chamava a atenção por onde passava.
Mas o que eu vi ali era outra pessoa.Ela estava mais magra. Assustadoramente magra. Sua pele tinha um tom pálido, quase doentio, e os olhos, inchados e avermelhados, carregavam um peso que parecia vir do fundo da alma. Havia algo quebrado nela, algo que não precisava de palavras para se fazer entender.
Tentei disfarçar a surpresa, temendo que qualquer reação minha pudesse piorar o estado dela. Mas a verdade era que, ao olhar para Mari, senti como se estivesse vendo meu próprio reflexo, dois destroços de vidas que haviam colidido e implodido.
Ela abriu a porta sem cerimônia, sem cumprimentos ou qualquer sinal de acolhimento. Apenas me deixou passar, como quem oferece um espaço, mas não sua presença. Seus movimentos eram hesitantes, quase automáticos, enquanto eu cruzava o limiar da casa.
A primeira coisa que me chamou atenção foi a imponência do lugar. Era uma casa deslumbrante, digna do bairro Jardins, um dos mais nobres de São Paulo. Lembrei-me de ter ouvido que os pais dela haviam dado a casa como presente após o noivado, dois anos atrás. E, vendo tudo aquilo, era fácil entender o peso simbólico desse presente.
A sala era ampla, com um pé-direito alto que deixava o ambiente respirar. A luz natural invadia o espaço pelas janelas largas, destacando os tons neutros da decoração. Um sofá de couro creme ocupava o centro, acompanhado por uma mesa de centro elegante, com livros de arte e um vaso de flores brancas impecavelmente arranjado. A sala de jantar ficava logo à frente, separada da cozinha por uma bancada de mármore preta que reluzia à luz do dia. Cada detalhe parecia cuidadosamente pensado, desde os lustres modernos que pendiam sobre a mesa até os eletrodomésticos cromados que brilhavam na cozinha.
Uma porta de vidro dupla conectava a área interna ao exterior, revelando um espaço ainda mais impressionante. O quintal era um refúgio. Sofás confortáveis com almofadas claras estavam dispostos em torno de uma mesa baixa, criando um ambiente convidativo. Mais adiante, uma mesa de seis lugares aguardava, cercada por cadeiras de madeira com estofados claros, próxima à área da churrasqueira. E, no centro de tudo, como um convite irresistível ao relaxamento, estava uma piscina azul cristalina, com bordas de pedra que davam um toque rústico ao luxo. Era o tipo de casa que eu sempre sonhara em ter, mas que parecia existir em um mundo muito distante do meu.
Mari me conduziu até o sofá da área externa. A cada passo, seu silêncio parecia mais pesado, carregado de algo que ela ainda não sabia como colocar em palavras. Sentamos. Por um momento que pareceu interminável, fomos apenas duas presenças dividindo o mesmo espaço, sem qualquer troca além do som baixo da água balançando na piscina com a brisa.
Aquele silêncio me corroía. Era como um peso físico no peito. A urgência de falar, de arrancar qualquer informação sobre Sandro, lutava contra a falta de coragem de iniciar a conversa. Minhas mãos repousavam sobre os joelhos, apertando o tecido da calça sem perceber, enquanto meu olhar oscilava entre ela e o chão de madeira polida.
Foi Mari quem quebrou o silêncio, sua voz baixa e vacilante, como quem teme despertar algo adormecido. Quando finalmente começou a falar, suas palavras me atingiram com uma força que eu não esperava. O que ela disse me deixou completamente abismado, incapaz de reagir imediatamente, enquanto tudo dentro de mim começava a desmoronar.
……
(Thaís)
Saindo da casa dos meus pais, fui até uma padaria próxima que servia almoço. Era o tipo de lugar simples, com opções práticas como pratos executivos e os tradicionais PFs, que sempre me lembravam um conforto distante. Pedi um frango à milanesa com purê de batata, mas sabia que meu estômago não estava pronto para aceitar muito.
Olhei para o prato à minha frente, o cheiro agradável tentando, em vão, despertar meu apetite. Cortei um pedaço pequeno do frango, mastiguei sem sentir o gosto. O purê, que pedi como extra, mal passou da metade. Meu corpo estava presente, mas minha mente estava em outro lugar.
Culpa. Era isso que me acompanhava em cada mordida, em cada olhar perdido pela janela da padaria. Eu me sentia afundada em um oceano de arrependimento, com cada onda trazendo lembranças do que deveria ter feito e não fiz. Desde o começo, estava claro quais eram as intenções de Sandro. Não fui ingênua — fui cega por conveniência.
Ele começou a me visitar logo após o “tempo” em meu namoro com Sérgio. Eu deveria ter percebido que cada palavra, cada gesto dele, era calculado. Ele sabia exatamente como manipular minhas fraquezas, como explorar as lacunas que o término havia deixado. Tudo fazia sentido agora: as respostas prontas, a compreensão aparente sobre os problemas entre mim e Sérgio. Ele estava sempre um passo à frente, sempre sabendo mais do que deveria. E eu ignorei todos os sinais.
Minhas escolhas me trouxeram aqui. Escolhas que, na época, pareciam pequenas, mas agora carregavam um peso cruel e irreversível. A culpa não era só minha, mas isso não importava. Era a minha dívida, uma dívida impagável, e eu sabia que só havia uma maneira de saldá-la.
Eu estava disposta a morrer. Não por Laura, necessariamente, mas porque isso parecia o único jeito de compensar os erros que cometi. O único jeito de dar um fim à minha culpa.
Peguei o celular, pensando em ligar para meu marido. Estranhei o silêncio dele. Não era comum. Ele não apenas não respondeu minha mensagem; ele sequer a visualizou. Um nó se formou no meu estômago, e o medo por sua segurança começou a me sufocar. Algo estava errado.
Por um momento, considerei ir ao local combinado antes da hora. A ansiedade me corroía, e eu queria resolver aquilo de uma vez por todas. Mas o risco era enorme. Sandro era imprevisível, e qualquer deslize poderia colocar Laura em ainda mais perigo.
Fiquei na padaria, sentindo o peso da solidão se espalhar por cada parte de mim. O silêncio ao meu redor era opressor, mas ao mesmo tempo, parecia apropriado. Eu merecia essa solidão. Talvez fosse o mínimo que deveria enfrentar, uma penitência silenciosa pelas escolhas que fiz. Essa ideia martelava em minha mente, ecoando como um julgamento constante enquanto eu encarava o tempo passar.
Quando faltava uma hora para o encontro, olhei novamente o celular. Nada de Sérgio. Ele não havia lido a mensagem, e isso me deixou ainda mais angustiada. A ansiedade agora era como uma corrente apertando meu peito.
Coloquei o endereço no Waze. Vinte e cinco minutos de distância. Resolvi que era hora de sair. Não fazia mais sentido prolongar aquele martírio. Levantei-me com passos firmes, mas sem esperança.
Minha vida já não tinha valor para mim. Tudo o que importava era garantir que Laura saísse viva e que Sandro pagasse por tudo. Eu iria acabar com isso, de um jeito ou de outro. Não importava o que viesse depois. Meu futuro era irrelevante.
…..
(Sergio)
Eu poderia perder tempo descrevendo toda a conversa que tive com Mari em detalhes, mas vou resumir. Essa história é importante para o contexto geral, mas se eu mergulhasse em cada detalhe, ficaria exaustiva e mais dramática do que deveria ser. Além disso, Mari me pediu para não expor demais certos pontos quando soube que eu contaria tudo aqui neste site.
De forma breve: Sandro mostrou ser o sociopata que sempre foi. Ele seduziu e manipulou Mari e sua família com perfeição, passando a imagem de um rapaz extrovertido, responsável e respeitador. Tudo o que uma família desejaria para a filha.
Mas, assim que se mudaram após seu pai comprar essa casa para eles, após o anúncio do noivado, o comportamento dele começou a mudar.
Primeiro, pequenos ataques de ciúmes. Esses "detalhes" levaram Mari a se afastar das amigas da faculdade. O isolamento foi só o começo. Logo, ele passou a agredi-la, e a violência crescia na mesma proporção em que a carência emocional dela aumentava.
Mari contou que Sandro fez com ela o mesmo que fez com Thaís, minha esposa. O jeito como ela descreveu seu comportamento era perturbador. Ele usava o sexo não como uma forma de intimidade, mas como um instrumento de domínio. Não era um sexo comum, era carregado de sadismo — o mesmo tipo de perversão que ele impôs a Thaís. Enquanto ela falava, sua voz tremeu, e o olhar fixo no chão parecia uma tentativa desesperada de segurar as lágrimas. Mas, quando começou a descrever os detalhes de tudo o que viveu, desabou.
Mesmo acabada emocionalmente, Mari encontrou forças para me mostrar o "quartinho do sexo". Era um cômodo decorado com uma temática BDSM, como os quartos temáticos de motel, só que carregado de um peso sombrio. As paredes pareciam sufocar, e cada objeto ali tinha a marca do controle e da humilhação que ele exercia sobre ela.
Mas o que realmente me tirou o chão foi o "quarto do castigo". Era ainda mais cruel. Um espaço pequeno, com um colchão sujo jogado no chão e nada mais. Mari explicou, com a voz embargada, que era lá que ele a trancava sempre que julgava que ela não o havia agradado. A sensação de opressão parecia saltar da descrição para o ambiente ao nosso redor enquanto ela falava.
Com o passar do tempo, o abuso de Sandro escalou. Ele começou a levar outras mulheres para a casa, forçando Mari a ficar trancada no quarto enquanto ouvia os sons de sua traição. Ele a rebaixava, a humilhava e fazia questão de colocar a culpa nela por tudo aquilo. Ele dizia que era pela "falta dela em satisfazê-lo". No início, quando Mari ainda tinha alguma força para resistir, ele a manipulava até fazê-la concordar com aquilo, esmagando o pouco de vontade própria que ainda restava.
Quando Mari chegou nessa parte da história, não conseguiu segurar as lágrimas. Foi aos prantos. Ela sabia das traições de Sandro com Thaís, mas nunca me contou por medo. E, considerando tudo o que eu já sabia sobre Sandro, tudo aquilo parecia perfeitamente plausível.
Eu, por outro lado, fiquei calado quase o tempo todo. Mari estava um caco, e eu não queria correr o risco de dizer algo que a fizesse desmoronar ainda mais.
Respirei fundo e, com certo receio, mostrei a ela a mensagem com as ameaças e chantagens de Sandro.
— Meu Deus! Eu não acredito... Você falou com a polícia? — Mari perguntou, perplexa.
— Pra falar a verdade… não. — Respondi, cabisbaixo. — Pensei em sacar o dinheiro, entregar pra ele e acabar logo com isso. Mas hoje é sábado, é impossível conseguir essa quantia sacando ou transferindo.
— Eu posso pedir pro meu pai… Quanto você precisa?
— Não, nem pensar. Eu só vim aqui pra saber se você pode me ajudar a localizar ele. Se eu souber onde ele está, eu vou direto na delegacia.
Mari hesitou. Sua respiração ficou mais curta, e ela gaguejou:
— Eu… eu…
Eu olhei para o relógio da churrasqueira, fixado na parede. Meu tempo estava se esgotando, eu precisava responder Sandro. Então Mari finalmente quebrou o silêncio:
— Teve uma vez, no início da nossa relação, que ele me "sequestrou". — Ela esboçou um sorriso tímido, quase irônico, mas claramente desconfortável. — Um sequestro "do bem". Fomos viajar com amigos e não avisei meu pai. Ele nos localizou por causa do GPS do carro. O BMW ficou com ele depois que terminei com Sandro. Foi minha forma de me livrar daquele desgraçado.
Entendi porque Mari sorriu. Era um sorriso amargo, talvez pelo alívio de ver possibilidade de alguma justiça ser feita, mesmo que de forma tão pequena.
Fiquei calado por um momento, tentando organizar meus pensamentos. Mas Mari não me deu muito tempo. Ela se aproximou, segurou minha mão, que tremia sobre minha coxa, e me olhou com uma ternura que eu não esperava.
— Deixe meu pai resolver isso. Ele tem "amigos" que lidam com esse tipo de “problema”. Só não deixei ele intervir antes porque... porque eu tinha medo das consequências.
Respirei fundo. Meu peito estava pesado, mas, ainda assim, consegui dizer:
— Tudo bem. Mas eu faço questão de estar junto. Esse “problema" é mais meu do que de qualquer outra pessoa. E…ele ainda está com a minha irmã, Mari. Isso complica ainda mais a situação.
Ela não respondeu. Apenas encostou os lábios na minha bochecha num gesto silencioso. Logo em seguida, pegou o telefone e ligou para o pai.
Enquanto esperávamos, pensei em mandar uma mensagem para Thaís, mas lembrei que meu celular estava no carro. Decidi deixar para depois pois não queria deixar Mari sozinha naquele momento. Apenas não sabia que a mensagem dela mudaria tudo... E que as coisas ficariam ainda mais complicadas.
…..
(Thais)
Cheguei à rua onde Sandro e Laura deveriam estar muito antes do horário combinado. Estacionei em uma vaga em uma rua lateral, tentando parecer natural, mas meu coração batia tão alto que parecia ecoar dentro do carro.
O lugar era desolador. O galpão abandonado dominava a paisagem, imponente e sombrio. Ficava em um bairro periférico, quase na divisa com Osasco, cercado por ruas pouco movimentadas, como se até o tempo ali tivesse desacelerado. As calçadas rachadas e os muros pichados davam ao lugar uma aura de decadência, quase como se o próprio ambiente refletisse o que estava prestes a acontecer.
O galpão ocupava a maior parte daquela quadra. Todas as ruas pareciam convergir para ele, como se fosse o epicentro de algo sombrio e inevitável. O silêncio da vizinhança era interrompido apenas por latidos distantes e o zumbido ocasional de motos passando pelas vias estreitas.
Respirei fundo e tomei coragem para sair do carro. Meu corpo parecia feito de chumbo, mas meu cérebro era puro caos, com pensamentos confusos se atropelando. Assim que desci, senti os olhos dos poucos pedestres me seguindo. Não era difícil me notar: uma mulher jovem, desajeitada, saindo de um carro de luxo naquele lugar. Fiquei consciente de como aquilo poderia parecer estranho, mas não havia mais como voltar atrás.
Peguei o celular e liguei para Sandro, tentando manter a voz firme. Sua resposta veio com aquela risada nojenta e debochada.
— Muito bom, minha putinha. Estava ansiosa para me encontrar, né?
A bile subiu à minha garganta, mas eu engoli minha raiva. Responder como ele esperava só daria mais poder àquele desgraçado. Mantive meu tom seco, quase cortante.
— Você vai me receber ou posso entrar?
A mesma risada asquerosa ecoou do outro lado.
— Entre, minha putinha. Estou te esperando. Pelo portão principal.
Meu corpo inteiro tremia. O medo era uma corrente elétrica atravessando meus nervos, mas não podia recuar. Minhas mãos suavam tanto que o celular quase escorregou. A mente, por outro lado, era uma tempestade: uma parte de mim queria fugir, enquanto outra dizia que não tinha mais volta.
Caminhei até o portão principal, cada passo um desafio contra a vontade de desmoronar. O interior do galpão era ainda mais opressor do que eu imaginava. O espaço vasto parecia engolir o pouco de luz que entrava por janelas quebradas. O cheiro de ferrugem e óleo velho impregnava o ar, e o silêncio era tão profundo que amplificava o som dos meus passos ecoando pelo chão de concreto.
Sandro estava no centro do galpão, à vontade como um predador no topo da cadeia alimentar. Sem camisa, usando apenas um calção de futebol e chinelos, sua postura relaxada escondia o sadismo que escorria de cada palavra. Assim que me viu, deu um sorriso cínico.
— Entre e venha até onde estou, do jeito que te ensinei.
A náusea tomou conta de mim. Não tinha escolha. Precisava de tempo, precisava de um momento de vantagem para agir. Laura ainda era minha prioridade, e enquanto não soubesse onde ela estava, tudo o que podia fazer era obedecer.
Engatinhando, me aproximei dele. Beijei sua mão, que estava relaxada ao lado do corpo, enquanto meu rosto roçava em sua pele como uma gata pedindo carinho. Por dentro, eu gritava de nojo e ódio, mas me forcei a continuar. Ele riu novamente, aquela risada que fazia meu sangue ferver.
De repente, senti o puxão no cabelo. Ele segurou com força, formando um rabo de cavalo, e começou a me guiar pelo galpão como se estivesse passeando com um cachorro. Meus olhos vasculhavam o ambiente, tentando encontrar qualquer sinal de Laura, enquanto meu couro cabeludo ardia sob seu controle.
Chegamos ao fundo do galpão, onde ele abriu uma porta de metal pesada. Meu coração quase parou quando a vi. Laura estava ali, pendurada por correntes que seguravam seus braços acima da cabeça, presa a uma pilastra. Vestia apenas uma calcinha, e seu corpo estava coberto de hematomas e cortes. O rosto inchado mal parecia o dela.
Senti um frio paralisante subir pela espinha. Ela parecia tão frágil, tão machucada, que temi pelo pior. Será que ela ainda estava viva? Sandro não disse nada, nem tentou acordá-la. A indiferença dele me esmagava.
Antes que pudesse reagir, ele voltou a puxar meu cabelo e me levou até outra pilastra. Minha mente gritava para que eu agisse, mas meu corpo não respondia. O medo me congelou, me tornou impotente. Ele me encostou ali e, com facilidade, tirou minha bolsa. A arma que era minha última esperança (estava dentro da bolsa ) foi arremessada para longe como se fosse um brinquedo insignificante.
Sem dizer mais uma única palavra, ele amarrou meus braços da mesma forma que Laura, deixando-nos ali, sozinhas naquele pesadelo. O tempo parecia se arrastar, e a sensação de impotência era avassaladora. Aquele silêncio entrecortado apenas pelo som da respiração ofegante e pelo estalar ocasional das correntes era a própria personificação do inferno.
Continua….
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