34 - DE MUDANÇA PARA O PARAÍSO

Um conto erótico de Nassau
Categoria: Heterossexual
Contém 4372 palavras
Data: 19/02/2025 19:27:08

CAPÍTULO 34

– A Diana é muito ruim para explicar as coisas. Aquele lugar é muito mais bonito do que ela descreveu.

O entusiasmo de Margie ao falar sobre o lugar deixava todos seus amigos admirados, uma vez que contrastava com a garota triste e cabisbaixa que tinha deixado aquele lugar vinte dias antes.

Vinte dias que, deduzidos os dias gastos para ir e voltar, somavam mais de quinze. Quinze dias se passaram sem que as duas garotas percebessem. Elas estavam tão envolvidas com o local e com o fato de terem uma à outra para deixar transbordar o amor que sentiam que não acreditaram quando lhes disseram que foram todos esses dias. Pâmela, que olhava para as duas observando pelos seus gestos que estavam apaixonadas, apenas sorria para elas.

Enquanto isso, Diana protestava:

– Vocês querem ser tão sabichonas e não sabem que a visão das águias não é como a nossa. Eu enxergo as coisas fora de foco e, apesar de distinguir as cores, elas são limitadas. Mas senão estiverem satisfeitas, da próxima vez não me perguntem nada. – Ficou em silêncio e, como ninguém disse nada, foi adiante: – Aliás, não me perguntem mais nada.

Milena, que estava mais próxima de Diana, pulou em seu colo, segurou suas faces com as duas mãos e deu um selinho em sua boca carnuda, antes de falar:

– Não, não, não. A gente está muito feliz com você. Você é muito especial e descobriu um lugar que realmente parece ter saído de um conto de fadas. Obrigada, obrigada, obrigada.

Depois de falar, Milena deu outro selinho e se levantou do colo de Diana e, quando ia voltando para o lugar onde estava sentada antes, seu olhar cruzou com o de Margie que transparecia a mágoa comum que as pessoas ciumentas sentem. Mas não era apenas ciúme. O que incomodava a ruiva era pensar que aquela reação de Milena fora motivada por força da magia da Enseada. Ela sabia que isso aconteceria, mas mesmo assim, não conseguiu impedir que a tristeza de ter que passar por tudo o que passara nos dois últimos anos novamente. Ela se recusava a acreditar que aqueles dias em companhia de sua amada tinham sido apenas um sonho que acabou.

Dominada por essa tristeza, nem percebeu que a Milena não ficou no lugar que ocupava antes. Em vez disso, ela veio até ela, sentou-se à sua frente e repetiu o mesmo gesto de segurar seu rosto com as duas mãos. Apenas as palavras não foram as mesmas, pois falou:

– Não fique assim meu amor. Aquilo foi só um gesto de carinho. Gesto de amor e tesão é isso aqui, ó.

Dizendo isso, aproximou sua boca da de Margie e a beijou como se fosse dali que obtinha o ar que respirava. Todos olhavam aquilo admirados, pois o normal na Enseada era as pessoas declararem seus desejos aos outros e não falarem de amor. E aquele beijo era uma prova do amor que Milena e Margie sentiam uma pela outra. Foi Pâmela que alterou o ambiente começando a bater palmas e logo foi imitada por todos.

Aproveitando o clima de aprovação, Margie anunciou:

– Então é isso gente. Aquele lugar é lindo e eu vou pegar meus filhos e me mudar para lá. Quero fazer dele o meu lar.

– Não vai não. – Falou Milena antes que qualquer um dos outros dissesse alguma coisa. Você não vai morar lá. Pelo menos não sozinha. Eu e meus filhos vamos morar com você.

Um silêncio pesado pairou sobre o ambiente.

Milena ficou ao lado de Margie com a mão no seu ombro que, agindo por instinto, enlaçou a cintura da loira e a puxou para si fazendo com que seus corpos ficassem colados. Enquanto isso, os outros olhavam para Na-Hi que, depois da morte de Ernesto e sem que houvesse uma eleição, assumiu a liderança do grupo. Foi a coreana que falou primeiro:

– Vocês não devem ir. Pelo menos por enquanto. Nós precisamos ficar unidos para continuar a produzir as coisas das quais precisamos. Uma coisa que vocês ainda não sabem, porque aconteceu enquanto estavam fora, é que descobrimos outros dois minérios na montanha e agora, além do ferro, temos o zinco e o cobre. Isso vai permitir que a gente fabrique arames e fios. Quem sabe até um gerador para produzir energia Podemos utilizar a cachoeira.

– Energia pra que? – Falou Margie com um tom de desprezo. – A gente não tem lâmpadas ou qualquer outra coisa que necessite eletricidade.

– Não ainda. Mas ninguém sabe o que ainda vamos descobrir. – Justificou Na-Hi sem muita convicção.

– Além disso? Como vocês vão viver lá? Lá não tem um lugar para vocês se abrigarem. – Perguntou Henrique.

– Aqui também não tinha nada quando chegamos. A gente pode construir. – Dessa vez foi a vez de Milena rebater a crítica.

– Mas vocês são apenas duas. Duas mulheres e quatorze crianças. Como vão dar conta disso tudo?

– Duas mulheres que dominaram onças e cavalos, foram decisivas quando precisamos nos defender de um ataque de lobos e depois ainda foram atrás do líder deles e o mataram. Você acha mesmo, Henrique, que essas duas garotas não conseguem se virar sozinhas?

Ao receberem o apoio de Pâmela que, sem que ninguém esperasse, saiu em defesa das garotas, as duas olhavam admiradas e gratas. Ter aquela mulher como aliada era muito importante, pois, apesar de não ser a líder, sempre era ouvida quando dava suas opiniões.

Mas antes que a opinião de Pâmela fizesse com que a discussão fosse desviada para outros temas, Diana falou:

– Eu só gostaria de saber como é que vocês vão sobreviver. Lá não vai ter uma Cahya para dar comidinha pronta para vocês.

– Eu ensino as duas. Depois vou estar escrevendo receitas para elas. – Falou Cahya surpreendendo a todos.

– Muito bem Cahya! Gostei de ver. Você está falando muito bem, garota. – Elogiou Margie.

Isso serviu apenas como prova de como Margie esteve alheia do que se aconteceu na Enseada nos últimos tempos. Já fazia tempos que a Cahya, com a ajuda de Na-Hi e Henrique, tinha melhorado se português. Esse aprendizado se tornou mais fácil quando Na-Hi percebeu a dificuldade que ela tinha com as conjugações dos verbos e a ensinou a usar o estilo do idioma Inglês, usando o gerúndio. Cahya estava falando melhor, porém, muitas vezes provocava irritação nos outros por causa do gerundês, principalmente em Diana que ainda mantinha um forte sotaque do português usado em Angola.

Mas naquela hora a Diana estava mais preocupada em mostrar as falhas no projeto de Milena e Margie se mudarem e falou:

– Escrever aonde? – Perguntou Diana. – Não temos onde anotar nada aqui.

– Ainda não. Mas é questão de dias e esse problema vai deixar de existir. Aquela plantação de papiros que encontramos depois do mangue me deu uma ideia e logo teremos as primeiras folhas de papel de papiros. Também estou moendo carvão e comprimindo o pó. Logo vou descobrir um jeito de enrijecer esse pó e então teremos lápis e papel e todos vão poder escrever à vontade. – Pâmela, mais uma vez, derrubava o argumento contra a mudança de Margie e Milena.

Se acontecesse uma votação, os votos de cinco deles já tinham sido declarados. Na-Hi, Henrique e Diana eram contra e Pâmela e Cahya a favor. Faltava apenas o Nestor se pronunciar e todos olharam para ele que, limpando a garganta, falou:

– Se vocês precisarem de ajuda para construir uma ou duas casas, podem contar comigo.

– E como você vai fazer isso? Lá não tem tijolos e não tem como transportar tantos tijolos para lá? – Perguntou Na-Hi.

– Não precisa ser de tijolos. Com as novas ferramentas que você construiu, podemos extrair madeiras das matas próximas de lá e construir uma casa com elas. Então, só teremos que transportar as ferramentas.

– Mesmo assim? Como transportar as ferramentas?

– Isso é fácil. Você termina logo aquele projeto que estava desenvolvendo e deixou pela metade e nós vamos construir rodas. Rodas e uma carroça. – Falou Nestor.

– Mas isso vai levar pelo menos uns trinta dias. Não vai dar para fazer de uma hora para a outra. – Avisou Na-Hi.

– Isso não importa. – Atravessou Margie. – A gente pode esperar. Aliás, é justo que a gente espere o período que for necessário e, enquanto esperamos, vamos fazer tudo o que for necessário. Não só para aprender algumas coisas, como para ajudar na produção do que vamos precisar.

– Tudo bem. Se vocês insistem, então vamos votar. – Falou Na-Hi.

– Não precisa nem votar, – avisou Pâmela. – Os votos já foram declarados. Na-Hi, Henrique e Diana são contras. Eu, a Cahya e o Nestor somos a favor. Se algum dos citados não concordar com isso, que se pronuncie.

O silêncio que dominou o local indicava que Pâmela estava certa e Na-Hi se aproveitou disso declarando:

– Muito bem. A votação terminou empatada e, quando isso acontece, marcamos outra reunião para acontecer depois de sessenta dias da primeira e…

– Ei. Devagar aí Na-Hi. A Margie e eu ainda não votamos. – Falou Milena interrompendo a coreana.

– Vocês são partes interessadas e não podem votar.

– Não é bem assim, – interviu Pâmela, – a parte interessada só não vota quando se trata de julgamentos. Só então a pessoa que está sendo julgada e o acusador não votam, mas isso tem lógica, porque seus votos, se fossem declarados, seriam a favor deles próprios. Esse não é o caso e elas têm o direito de votar sim.

– O que você tem a dizer sobre isso, Henrique? – Perguntou Na-Hi.

– Sinto dizer isso, mas a Pâmela tem razão. As duas podem votar sim.

– Então está decidido, vocês podem se mudar para o lago e todos nós ficamos com a obrigação de ajudar em tudo o que for necessário. Porém, vocês duas não terão mais direito a participar de nossas reuniões, já que não pertencem mais à nossa comunidade. E suas crianças também não poderão mais frequentar as aulas

Pâmela tinha adaptado um dos quartos que, com facilidade, era transformado em sala de aula e estava alfabetizando as crianças. Na-Hi já tinha o projeto para uma nova sala, mas agora, com duas das casas ficando vazias por causa da previsão de mudança de Milena e Margie, isso não seria mais necessário, pois uma delas poderia servir de escola. Foi Pâmela que fez questão de falar sobre essa vantagem e por fim falou:

– Eu vou me virando com aquela que já uso. Depois podemos mudar a escola para uma das casas desocupadas.

A partir daquele momento, as atividades na enseada passaram a serem todas voltadas aos preparativos para a mudança. Algumas coisas ficaram prontas em alguns dias, mas outras atrasaram. O que criou um problema sério foi quando Na-Hi anunciou que tinha concluído a construção de duas rodas e, como Nestor já tinha construído uma enorme carroça, surgiram dois problemas. Um levantado por Milena e outro por Henrique.

Milena, ao ver a roda pronta, falou:

– Essas rodas são muito estreitas e o transporte será feito através da praia. Ela vai afundar na areia e dificultar o deslocamento.

Na-Hi entendeu o argumento e voltou ao trabalho, iniciando a construção de rodas cuja largura fosse maior. Mesmo acreditando que isso ajudaria, ela foi além e avisou o Nestor que precisaria de um eixo maior, pois em vez de uma roda de cada lado, ela colocaria duas. Com isso, foi o rapaz que teve que trabalhar na carroça para deixá-la adaptada para receber quatro rodas, duas de cada lado. Aí foi a vez dele se adiantar aos outros e resolveu que, em vez de um, o melhor seria usar dois eixos em virtude do comprimento da carroça, com uma ideia levando a outra, essa conclusão fez com que ele se decidisse a construir uma roda maior.

O problema levantado por Henrique foi sobre qual cavalo seria usado para puxar a carroça e isso afetou Milena. Ela, que sempre se recusou permitir que seus cavalos, aos quais ela se referia de ‘meus garotos’, fossem usados com essa finalidade e agora sabia que tinha que mudar de ideia, mas logo deixou bem claro que, Tornado, Raio ou Ventania seriam treinados para isso e decidiu que escolheria entre os cavalos mais novos que tinham nascidos ali, seriam treinados para isso, mesmo sabendo da dificuldade que ela teria, pois descobriu que, depois que retornou do lago, esses cavalos deixaram de ter com ela a mesma interação que esses três e Relâmpago tinham. A única coisa que podia usar no treinamento delas é que tinha um dom para lidar com cavalos e isso tornou mais fácil a tarefa de domá-los.

No final, ela se saiu bem. Em nenhum momento usou de brutalidade ou qualquer castigo com os animais. Em vez disso, ela conversava com eles como se eles entendessem, o que não era verdade, mas, por outro lado, fazia com que a ganhasse a confiança dos mesmos. Mas quando viu o tamanho da segunda carroça que Nestor construía, percebeu que apenas um cavalo não seria o suficiente e pediu para que ele fizesse uma adaptação para que dois animais fossem atrelados à mesma e voltou ao treinamento, pois agora tinha que fazer com que os cavalos se acostumaram a trabalhar em conjunto. Ela treinou oito cavalos, formando quatro parelhas, o que provocou o comentário de Na-Hi\:

– Você precisa mesmo de levar todos os cavalos embora?

– Não Na-Hi. Vou levar duas parelhas apenas. As outras duas estou treinando para deixar aqui para quando vocês precisarem. – Ao ver a coreana lhe virar as costas sem dizer nada, a chamou e disse: – Na-Hi, não é só isso. Eu vou deixar o Raio e o Relâmpago aqui também. Os dois têm uma boa relação com o Henrique. E eu confio nele e sei que ele vai tratar bem aos meus cavalos. E tem mais. A carroça vai voltar para cá e eu vou mandar dois cavalos de volta. Só vou manter dois lá para ajudar nas plantações. E obrigada por ter nos presenteado com aquele arado.

O sentimento de gratidão de Na-Hi ficou estampado em seu rosto e ela, emocionada, abraçou Milena e depois falou:

– Logo o Henrique vai construir uma carroça para vocês. Eu prometo.

Isso era só mais uma demonstração de que, passada a votação, aqueles que votaram contra aceitaram a decisão da maioria e se dedicavam a providenciar tudo o que achavam que as garotas iam precisar.

Enquanto Milena treinava os cavalos e ajudava Henrique a separar o gado que elas iam levar, Margie passava a maior parte do tempo ao lado de Cahya que, sempre com seu jeito calmo, ia lhe mostrando, não só como preparar os pratos que fazia, como também a lidar com ervas curativas.

A divisão do gado não foi problema. Agora já contava com quase cem cabeças. O acordo foi que elas levariam um número proporcional, ou seja, como eles eram oito, arredondaram o número para noventa e seis cabeças e elas tiveram direito a vinte e quatro cabeças, divididas entre vacas paridas, bezerros machos e fêmeas, dois novilhos que logo poderiam ser abatidos e um touro dos quatro que existiam, pois Milena fizera questão de escolher entre os machos, os três que julgou ser mais forte, preservando-os para serem usados na reprodução.

Quanto aos cavalos, a decisão de Milena em deixar Relâmpago e Raio tinha um motivo que ela preferiu não explicar. Relâmpago se tornou belo garanhão e já demonstrava que logo causaria problemas, lutando com Tornado para conquistar a liderança da tropa.

Milena e Margie tiveram que arrumar um tempo para aprenderem com Pâmela como tecer a juta para fazer sacos, roupas e redes de dormir ou de pescar e participaram da fabricação dos primeiros papéis de papiros. Pâmela ainda não tinha conseguido criar uma forma de endurecer o carvão moído e a escrita era feita com pedaços de carvão que Milena, revelando uma habilidade ainda desconhecida, lapidava para ficar com o formato de um lápis. Depois ela descobriu que dava para enrolar o tubo de carvão com papiro que era colado com o uso de resina que já era usado com essa finalidade, ficando muito parecido com um lápis comum. Um lápis de colorir, mas um lápis.

A mudança foi planejada para levarem as ferramentas e conduzir o gado que cabia às garotas Milena se encarregaria do rebanho enquanto Margie ficaria acompanharia as crianças. Porém, Pâmela conversou com as duas e depois com a Na-Hi e ficou decidido que as crianças ficariam na Enseada até que a casa estivesse pronta. A ideia foi colocada em votação e apenas Diana votou contra. A angolana, embora cooperasse com os preparativos para a mudança, não se cansava de protestar contra ela, votando contra tudo o que era proposto. Milena viu naquilo o surgimento de uma futura inimizade, ao que Margie lhe explicou:

– Não penso assim. A Diana está apenas sentida porque gosta muito de você e agora você vai embora. É isso que está incomodando a ela.

Milena, depois de pensar sobre o que acabara de escutar, perguntou:

– Você acha mesmo? – Ao ver Margie confirmar com a cabeça, continuou: Só que, com relação a isso, não tem nada que eu possa fazer. Sinto muito.

– Eu não penso assim. Tem uma coisa que você pode fazer sim.

– Tem? E o que seria?

– Você pode dar a ela uma despedida de gala. Leve ela até a caverna.

– Imagine que eu vou fazer isso. Eu nunca vou te trair.

– Não é traição querida. Eu não estou falando para você amar a Diana. Nem para fazer amor com ela. O que eu sugeri é que faça sexo com ela. Um sexo muito intenso que a deixe totalmente satisfeita.

– Eu não. Não quero ver você triste. Andando cabisbaixa e com ciúmes.

– Isso não vai acontecer. E sabe por quê?

– Duvido. Mas diga o por que.

– Porque eu sei que você me ama. A Diana não vai tirar nenhum pedaço de você e, se ela conseguir fazer com que você mude de ideia e queira continuar a transar com ela, vai ser porque você não me ama de verdade e, nesse caso, será melhor que a gente fique longe uma da outra.

– Ela nunca vai conseguir isso meu bem. Ela pode ter meu corpo, mas nunca vai ganhar o meu amor.

Naquela mesma noite, a reunião que acontecia todas as noites contou com apenas seis deles, o que fez com que Pâmela perguntasse:

– Gente. Onde foi que se enfiaram a Milena e a Diana?

– Elas estão se despedindo. – Respondeu Margie com a maior naturalidade.

– Se despedindo? Que tipo de despedida é essa que precisa ser no privado.

– Deve ser daquelas que deixam saudades. – Falou Margie com expressão maliciosa.

– E você aceita isso?

– Melhor eu aceitar do que ser acusada mais tarde de ficar querendo mandar na vida dos outros. Eu pertenço à Milena e ela me pertence. Mas você é a prova de que o amor não impede que o desejo se manifeste. Então, para mim não há mal nenhum?

– Quer dizer que, se você quiser se despedir do mesmo jeito, não vai ter problemas?

– Disso eu não sei. Não perguntei para a Milena ainda.

A sinceridade de Margie, mais do que a tranquilidade que ela exibia, surpreendeu a todos. Ela deixava transparecer que tinha mudado muito, pois a forma como ela falava e agia agora não tinha nada a ver com aquela garotinha maluca e brincalhona que deixava a todos loucos. A maturidade que ela demonstrava era realmente algo a ser admirado.

Não demorou muito para que Milena e Diana se juntassem ao grupo. A expressão de Diana era de puro êxtase. Aquela expressão que provoca a pergunta para alguém que a exibe se por acaso tinha visto um passarinho verde. Lógico que, se fizessem essa pergunta para a Diana naquele momento, o correto seria se ela respondesse que tinha visto uma periquitinha loira.

Milena, por outro lado, estava tranquila e, quando a Margie lhe perguntou o motivo de ter voltado tão rápido, ela respondeu:

– A caverna não é mais a mesma coisa para mim. A magia deixou de existir para mim.

Ao dizer isso, Milena beijou a boca de Margie que, fazendo uma careta, falou:

– Credo! Sua boca está com gosto de buceta.

– O que deve ter te deixado morrendo de inveja. – Brincou Milena.

– Estou sim. Mas não é de você. Estou com inveja da Diana que se aproveitou desse seu corpinho gostoso.

– Safada. Eu esperava que você fosse se juntar a nós. Ia ser maravilhoso.

– Eu até pensei em ir. Mas achei melhor não. Não queria invadir o seu espaço.

– Não existe um espaço meu que não seja seu também. Você pode se juntar a mim em qualquer situação.

Margie olhou para Milena e gostou do que ouviu. Mas resolveu provocá-la e falou:

– Também pensei no risco da Diana querer só a mim e eu a ela. Aí você ia ficar sobrando e só ia poder assistir.

– Vai sonhando vai. É mais fácil o inverno congelar do que eu ficar apenas olhando você com outra pessoa sem partir para cima e dividir essa gostosura que você é.

– Você está muito safada para o meu gosto, Milena. Vê se se comporta.

– Já estou comportada, meu anjo. Ah! E ia me esquecendo. Eu te amo!

– Eu te amo mais.

– Está errada. Eu que te amo mais. Eu te amo hoje, mais do que amava ontem, e menos do que vou te amar amanhã.

As pernas de Margie tremeram ao ouvir aquela declaração e ela se pendurou no pescoço de Milena e, na frente de todos, ficou beijando sua boca enquanto movia o quadril procurando o contato de sua buceta com a dela que, mesmo com a roupa de juta separando as duas, dava para sentir o quanto estava quente. Teriam permanecido assim por muito tempo se não fosse a Pâmela ter atirado um pedaço de tecido que ela usava para fazer uma rede que tinha a intenção de dar às garotas, enquanto dizia:

– Ei vocês duas. Querem parar com essa sacanagem, por favor? Eu estou aqui viu!

Ao som da risada de todos, as duas se separaram e logo a atenção de todos estava voltada para Diana que, ainda com aquela expressão boba no rosto, exibia um sorriso enigmático.

Logo todos foram se deitar porque o outro dia seria de trabalho árduo. Teriam que fazer os arranjos finais para a partida da dupla dinâmica formada por Milena e Margie.

O dia começou com eventos de pura felicidade. Cada um dos seis que iriam permanecer vivendo na Enseada tinha um presente para dar às duas que partiriam. Pâmela lhes deu a rede que já estava pronta, mas, não era uma rede para se deitar, mas sim uma enorme rede para usar em suas pescarias. Na-Hi tinha fundido cobre e construído vários utensílios, cujas formas parecidas davam a eles a aparência de ser um conjunto para cozinha, composto de um tacho, várias panelas de vários tamanhos e uma dúzia de pratos. No tacho e nas panelas havia a inscrição ‘M & M’ incrustada em alto relevo. Cahya entregou à Margie um maço de papéis de papiro, com cada um deles contendo uma receita diferente.

Nestor, que não tinha pensando em nada, se desculpou:

– Eu vou ficar devendo, sinto muito. Mas prometo que, assim que tiver tempo, vou pensar em alguma coisa para dar a vocês.

As duas se aproximaram dela e cada uma beijou uma de suas faces ao mesmo tempo e depois Milena falou:

– Não precisa se preocupar, Nestor. Só o fato de você se prontificar em ajudar na construção da casa já é um presente. O melhor presente que a gente podia esperar.

Henrique surpreendeu a todos quando deu à Margie uma sela construída por ele mesmo e disse:

– Essa é para você. Tem até um estribo para te ajudar a montar sem precisar de um barranco por perto. Não fiz duas porque não deu tempo e também por saber que a Milena não vai precisar.

Margie, surpreendendo a todos, agradeceu da forma mais inesperada, pulando no pescoço dele e beijando sua boca. Foi um beijo longo e só parou quando a Milena raspou a garganta. Margie ria ao se separar enquanto Henrique tentava se desculpar:

– Foi mau gente. Eu não esperava que…

– Não seja bobo, Henrique. Se ela te beijou foi porque ela quis. Desencane.

Então veio o presente mais surpreendente de todos. Surpreendente e simples. Diana se aproximou das duas e lhes entregou uma pena de águia, enquanto explicava:

– Guardem essa pena com carinho e, sempre que precisarem de mim, basta que uma de vocês a segurem na mão que o Áquila virá até mim. Então eu saberei o que fazer.

Emocionadas, as duas a beijaram, porém, enquanto Margie beijava seu rosto, Milena procurou por sua boca e lhe deu um beijo intenso, com suas línguas se procurando. Dessa vez, foi Margie que raspou a garganta antes de soltar uma gargalhada, o que descontraiu de vez o ambiente.

Depois disso, foram até o lago no intuito de atravessar a enorme carroça. A ideia era levar o veículo para o outro lado vazio e depois carregá-la com tudo o que levariam. Isso custou horas de trabalhos e foi necessária a participação de todos. Em seguida atravessaram o gado que tinha sido apartado.

Depois disso, correram para o mar. Margie queria se despedir dos golfinhos que, parecendo entender o que acontecia, dedicaram a duas uma despedida especial. Sob a supervisão de Cahya, elas foram levadas a visitar locais onde apenas Cahya tinha visitado até aquele dia. Saíram da água emocionadas e ficaram mais ainda quando Cahya lhes informou:

– Não estranhem quando virem algum golfinho no lago. De tempos em tempos eles vão visitar vocês e espantarem os tubarões que se aventurarem por lá.

Depois disso, todos ficaram reunidos. Menos Milena que preferiu ficar junto às crianças, o que a deixou emocionada ao perceber que sentiria a falta de cada um deles. Era como se todos eles fossem também seus filhos, e não apenas os sete que eram seus.

Tudo estava pronto. O manto da noite escura cobriu a Enseada e todos se recolheram aos seus leitos. Todos, menos Diana que foi arrastada por Milena para o leito delas e as três voltaram transaram até serem dominadas pelo cansaço e depois dormiram juntas.

O dia amanheceu com um céu limpo e o sol brilhando, como se quisesse colaborar com a jornada que estava para se iniciar.

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