Trinta e cinco anos se passaram. Roberto agora era um dos arquitetos mais renomados do Brasil. Seus prédios dominavam a paisagem urbana, símbolos de sua genialidade e de uma vida de disciplina. Eram colossos de vidro e aço que desafiavam os céus, assinaturas de um homem que dominava sua arte, mas que não conseguia domar a tempestade dentro de si.
Porém, dentro dele, o incêndio nunca se apagou.
As noites eram insones, assombradas por espectros de um passado que ele jamais conseguiria sepultar. O tratamento mantinha o vírus sob controle, mas o estigma pesava como grilões invisíveis. Cercado de luxo, mas prisioneiro de sua própria mente, Roberto carregava um fardo que poucos poderiam compreender.
E então, num dia qualquer, sua vida foi virada do avesso.
Era uma manhã fresca no Parque Ibirapuera. O vento brincava com as folhas, e corredores matinais seguiam seu ritmo pela trilha pavimentada. Roberto caminhava imerso em seus pensamentos, quando se chocou contra um jovem determinado, ambicioso, teimoso.
— Ei, olha por onde anda, velhote! — disparou o rapaz, esfregando o ombro.
Roberto ergueu o olhar, pronto para um confronto verbal, mas algo naqueles olhos negros o fez parar. Ousado. Insolente. Um brilho de fome pelo mundo, de revolta e sonho misturados.
Maximiliano Gomes, ou apenas Max. Filho de um pedreiro e uma cozinheira, lutava com todas as forças para entrar em medicina. Trabalhava de dia, estudava de noite e dormia pouco. A vida lhe dera poucas migalhas, e ele mastigava cada uma delas com vontade, recusando-se a aceitar as regras impostas pelo destino.
O embate entre eles foi apenas o começo.
A cada encontro, o duelo de personalidades se intensificava. Max não se intimidava com a presença imponente de Roberto, e Roberto não conseguia ignorar a energia avassaladora do jovem. Entre brigas, provocações e desencontros, algo nasceu. Algo que nenhum dos dois queria admitir.
Mas a paixão nunca vem sem desafios.
Roberto sentia a atração crescer, mas como poderia se entregar sabendo que carregava a própria destruição? Como poderia permitir-se querer aquele jovem, sabendo que seu toque poderia ser uma condenação? O medo lhe atravessava o peito como uma lâmina de gelo.
Max, por outro lado, estava determinado a lutar por sua independência. Não deixaria um homem enigmático ditar as regras de seu destino. Se o destino queria brincar com ele, então que brincasse. Ele não fugiria.
Mas o destino tem sua própria lógica, e nem sempre respeita as vontades dos homens.
Nos dias que viriam, traições seriam reveladas, segredos emergiriam do subterrâneo do tempo, e os limites do amor e do medo seriam testados. O passado retornaria com garras afiadas, e o futuro insistiria em ser escrito com tinta de dor e desejo.
A relação entre Roberto e Max tornou-se um jogo de provocações e silêncios carregados. Cada encontro era uma batalha velada, uma troca de olhares que carregava um peso invisível. Max era como um furacão, sempre desafiante, sempre pronto para testar os limites. Roberto, por outro lado, era um castelo de segredos, construído para se proteger de tudo que pudesse derrubá-lo.
Uma noite, sob a luz fria dos postes da Avenida Paulista, Max encarou Roberto com um sorriso mordaz.
— Tem medo de mim, velho? — desafiou, os olhos brilhando de provocação.
Roberto segurou a respiração por um instante antes de responder.
— Tenho medo do que posso fazer com você.
E foi ali, entre os sons da cidade e o peso das palavras não ditas, que algo se quebrou. O desejo explodiu como um raio cortando o céu, uma verdade inegável que nenhum dos dois podia mais ignorar.
O destino os uniu como fogo e combustível. Mas, desta vez, o incêndio os destruiria ou os iluminaria?