CAPÍTULO - 05
Depois de seis meses daquela tragicomédia em que se transformara minha vida, eu já estava à beira de um estado de pânico.
Mês de junho, um dos invernos mais rigorosos do século e uma oportunidade de promoção perdida. Pior ainda, seria uma promoção acompanhada de uma transferência, o que me levaria para bem longe da Eudora. Da Eudora, da Mônica e da Mary. Essas duas últimas por não ser fácil você ter que conviver diariamente com uma mulher por quem você já teve uma paixonite. E eu sentia isso pelas duas e convivia com elas diariamente.
Analise a minha situação, caro leitor. Uma mulher por quem você se sentiu atraído e que evita até falar o seu nome e, quando se refere a você, usa o termo ‘aquele um’. Outra mulher com quem aconteceu a mesma coisa e sente o maior prazer em ficar te zoando. Se fosse uma zoeira comum, tudo bem, mas uma zoeira usando um relacionamento que ela nem devia saber que existia e que eu tentava esconder a todo custo é foda demais.
E tinha a Eudora. Aquela que eu não queria e também não conseguia ficar sem. O fechamento geral do balanço das emoções que eu estava vivendo era fácil de apurar. Eu estava fodido. Fodido e muito mal pago.
Até aí tudo bem. Quando a correnteza é demais e você não quer afundar, deixa que ela te leve até poder atingir a segurança de uma margem. Mas quando vem uma filha da puta e quebra seus dois braços, é ‘pra acabá’, como se costuma dizer hoje em dia.
Em suma. Minha promoção foi abortada por causa da intervenção da Mary que, usando com precisão a sua buceta, conseguiu fazer com que o gerente, seu amante, caprichasse na última avaliação do ano anterior que foi péssima e agora eu teria dois anos pela frente para poder ter outra chance. Pior que isso é que eu estava em observação e qualquer erro meu podia significar um ‘bilhetinho azul’.
Meu sentimento por Mary foi de ex-paixão direto para o ódio profundo. Meu passatempo favorito quando eu não estava fazendo nada era ficar imaginando formas cruéis de castigar aquela vadia. Eu poderia contar para o marido dela que ela era uma vadia se ela tivesse um. Não tinha. Aliás, nunca ouvi falar sequer que ela estivesse namorando, o que significava que sua dedicação ao amante era total. A única alternativa era dar um jeito para que a esposa do amante descobrisse sobre o relacionamento deles e sentia até arrepios quando imaginava a mulher entrando na agência em um momento em que estivesse apinhada de clientes e armasse o maior barraco.
Não. Eu não fiz isso. Tudo bem que eu fosse um babaca, mas um babaca com alguma consciência. Torcer para que a esposa descobrisse, tudo bem, mas ser eu o cara que ia fazer com que isso acontecesse, sem chances.
Já com a Mônica o problema era outro. Ela até gostava de mim e sempre me contava os comentários que meus superiores faziam a meu respeito, principalmente quando eram positivos. O que me irritava era que ela parecia estar empenhada em uma cruzada para fazer com que eu assumisse o relacionamento com Eudora e isso não só me irritava como me colocava em algumas situações bastante comprometedoras.
Quanto a Eudora, a única evolução é que eu já estava aceitando melhor a intromissão dela na minha vida. Tinha dias até que eu dava um jeito de dizer a ela para ir dormir em casa para a gente transar. Comparando com os dias de hoje, era como se eu não estivesse a fim de sair de casa para jantar e pedisse a um restaurante delivery que entregasse a comida em casa. A Eudora era a minha xoxota delivery e eu só exigia que ela mantivesse o segredo. Um segredo que todo mundo já tinha conhecimento, só evitavam comentar alguma coisa na minha presença.
Foi nesse mês que tive a oportunidade de minha vingança contra a Mary. O amante dela foi transferido. Para piorar ainda mais as coisas, para substituí-lo, foi enviado uma mulher. Não perdi a oportunidade quando, reunido com alguns colegas na copa para um lanche e o tema da conversa era a Mary e seu relacionamento com o gerente, com todos se perguntando o que ela faria agora. Sem nenhuma piedade, mandei ver:
– Para o azar dela, veio uma mulher. Porque se fosse um homem, era só ela abrir as pernas para o novo gerente e tudo continuava do jeito que estava.
Quando acabei de falar isso, olhei para as pessoas presentes e notei que eles estavam com uma expressão de verdadeiro terror no rosto, pálidos como uma folha de sulfite e com os olhos grudados em alguma coisa ou alguém atrás de mim. Nem precisei olhar naquela direção para saber que era alguém. Alguém com nome, sobrenome, CPF e tudo o mais.
Mesmo assim me virei, mas não rápido o suficiente para olhar de frente o motivo pelo qual aquele pessoal já estava rezando para que Deus encomendasse minha alma. Mesmo assim, ainda tive tempo de ver uma mulher com seus cabelos loiros e compridos ganhando o corredor que dava acesso à copa. Olhei para eles e falei tentando parecer calmo, apontando naquela direção com o polegar:
– É quem eu penso que é?
Os coitados estavam tão assustados que sequer conseguiram falar e confirmaram com um movimento de cabeça.
Porra meu! Agora eu estava realmente fodido, mas diante das circunstâncias, tinha que manter a calma. Mas isso não impediu que, nos dias seguintes, o céu desabasse sobre mim.
Mary era uma mulher bonita, sedutora e sabia como tecer suas teias para prender o homem que lhe despertasse interesse. Não confunda, com interesse aí quero dizer interesse mesmo, ou seja, o ato de estar interessada em usar essa pessoa para se dar bem na vida. Mas no geral ela não era tão inteligente assim e nem percebeu que, fazer um escarcéu por causa do meu comentário era jogar a merda no ventilador, pois isso serviria para escancarar seu relacionamento com o amante gerente. Espere um pouco. Claro que o relacionamento já era, pois assim como o meu relacionamento com Eudora, era um segredo e, por ser segredo, todo mundo na agência já sabia. Então, o ato dela ir reclamar com a nova gerente e exigir que eu fosse demitido queria dizer que ela estava assumindo o romance,
Mirtes estava assumindo pela primeira vez a direção geral da agência e ela sabia que tinha que mostrar serviço. Entretanto, ela demonstrou ser inteligente e, a primeira coisa que fez, foi fazer com que todos tivessem conhecimento que aquele assunto seria tratado no âmbito interno e não seria levado ao conhecimento dos diretores da matriz. Hoje eu sei que ela, para ser bem sucedida, queria ganhar não só a confiança, mas também a admiração de seus subordinados e aquela situação foi a cereja do bolo de suas intenções.
Durante mais de trinta dias, além da rotina diária, todos na agência passaram por um inquérito. Ela fez questão de entrevistar cada um dos funcionários e, com muita esperteza, não se limitou ao assunto principal de sua investigação, aproveitando para ficar a par de quem era quem na agência. Ela queria saber quais os grupos de amigos, os que se detestavam ou se admiravam e o motivo para que isso acontecesse. Até estranhei quando ela me entrevistou e não fez nenhuma pergunta sobre o que eu tinha falado ou sobre o romance de Mary e o gerente antigo, se limitando a me perguntar sobre quem eram os meus amigos e de quem eu gostava, entre outras coisas. Mas o que me deixou cabreiro foi que ela terminou a entrevista perguntando sobre o meu relacionamento com Eudora e eu, como sempre, neguei tudo.
Aí já era complicado demais. O relacionamento entre funcionários tinham que ser comunicados à chefia que decidiam se os dois poderiam continuar trabalhando juntos. Normalmente isso não acabava em demissão de nenhum dos dois e a situação era administrada com a transferência de um deles, ou até dos dois, para outras agências. O que levava à demissão sumária era quando o relacionamento era descoberto sem que tivesse sido comunicado por nenhum dos envolvidos.
O estranho de todas essas normas era que elas não atingiam os casos de relacionamentos extraconjugais, o que queria dizer que, ser namorado, noivo ou marido/esposa não podia, mas foder sem assumir qualquer um desses tipos de relacionamento era liberado. Parece até hipocrisia, mas era assim que funcionava, pois só na minha agência que contava com um quadro de cinquenta e sete pessoas, havia pelo menos sete casos de amantes fixos, sem falar nos encontros esporádicos onde, depois de uma festa qualquer, embalado pelo álcool, dois funcionários sempre se dedicavam à arte de foder antes de voltarem para suas casas.
O Paulo mesmo, que gostava de se mostrar, dizia já tinha comido mais de vinte mulheres da Agência. Eu achava isso mais que um exagero, pois para mim, o cara que fode uma mulher e depois sai falando para todo mundo é um verdadeiro babaca. Aliás, eu já disse repetidas vezes aqui que eu era um babaca, mas aquele cara era bem mais do que eu.
Mirtes administrou bem a confusão armada por meu comentário idiota e a reação mais idiota ainda de Mary. Quando se deu por satisfeita, convocou a nós dois para uma reunião e explicou que não ia fazer nada. Mary protestou e ela foi direta ao ponto dizendo:
– Olha garota. Levar esse assunto para a diretoria só vai servir para complicar ainda mais as coisas. Você vai ser vista, não só por essa agência, mas por todas que existem nessa região, como a funcionário que foi amante do gerente. Mas isso não é nada. Se você quer encarar essa fama, para mim está tudo bem. Mas antes quero que você pense no seu amante. Ele vai ter que responder por isso, o assunto vai se tornar público e a esposa dele vai ficar sabendo. Estou dizendo isso porque a decisão é sua e eu quero que você, antes de decidir, pense se vale a pena estragar o seu futuro no banco, o casamento do gerente, o que também pode significar estragar a vida dos dois.
– Mas ele será incluído no processo? – Perguntou Mary.
– Lógico que vai. Já sei até como vai ser. Quando perguntarem a ele, muito provavelmente ele vai negar. Isso vai fazer com que funcionários dessa agência sejam chamados para uma entrevista. Você tem que estar muito segura de que as pessoas que aqui trabalham gostam de você a ponto de mentirem para protegerem a ti e ao seu amante.
– Eles não vão mentir. Nunca houve nada entre eu e…
– Espere aí. Nós já conversamos sobre isso. O fato de ser verdade que vocês têm um relacionamento está tão claro que não há nem o que discutir. Eu não estou te condenando, garota. Só estou pedindo para que você pense com inteligência e depois decida se vale a pena pagar um preço tão alto só para ferrar alguém de quem você não gosta.
Senti que estava livre de qualquer problema quando a Mary, depois de olhar para mim com ódio no olhar, começou a chorar. Eu soube na hora que aquelas lágrimas eram derramadas por ela se sentir impotente e saber que não poderia fazer nada para me prejudicar. Com a voz chorosa, perguntou:
– E o relacionamento desse aí com a Eudora? Isso também é errado.
– Bom. Segundo pude apurar, ninguém aqui jamais viu o Nassau e a Eudora fazendo nada de errado nesse recinto. Além disso, ele nunca fez nada para protegê-la. Ao contrário disso, parece que ele se empenha muito em criticá-la ou deixá-la em situações ruins com comentários pejorativos. Aliás, é isso que serviu para que eu não leve a frente o seu caso, pois não chegou ao meu conhecimento nenhum caso em que o gerente te favoreceu em alguma coisa;
“Ah! Favorecer, favoreceu. A não ser que essa biscate não gosta de uma pica fodendo a sua buceta”; – Pensei isso evitei sorrir, mas a minha troca de olhares com a Mary deixou bem claro para ela o que eu estava pensando. Ela bufou, mas não disse nada. Finalmente eu estava sendo vingado.
Depois de mais algumas trocas de palavras, Mirtes deu a reunião por encerrada e a reclamação de Mary contra mim seria ignorada. O que me deixou gelado foi que, quando estava me retirando pronto para ir comemorar o desfecho favorável, a Mirtes me chamou e pediu:
– Você pode me dar um tempinho? Tenho outro assunto para tratar com você.
– Não pode ficar para amanhã? Tenho que acompanhar o fechamento do movimento de hoje e enviar para o CPD.
Naquela época a automatização dos bancos ainda estava engatinhando e o processamento de dados era efetuado durante a noite, com a remessa das listagens na manhã seguinte para as agências. O meu setor era o que mais gerava documentos, o que quer dizer que a massa de serviços era maior. Era comum eu ir para casa sempre depois do horário. E eu estava realmente preocupado com isso, pois por ser uma segunda-feira, o volume de documentos era enorme. Por isso fiquei surpreso quando ela me falou:
– Não se preocupe com isso. Eu já tinha pedido para que alguém te substituísse. Se tiver algum problema sério alguém vem te avisar.
Não gostei daquilo, porém, tinha acabado de escapar de uma boa encrenca e não estava em condições de discutir. Isso fez com que eu voltasse e ocupasse a mesma poltrona em que estava antes. Enquanto eu voltava, Mirtes se levantou e perguntou:
– Você aceita um café? Pode tomar que foi preparado agora à tarde e está quentinho.
Aceitei e, enquanto a gerentona foi até a mesinha onde ficava o café, fiquei admirando seu corpo esbelto.
Mirtes era uma mulher que causava espanto pelo cargo que ocupava e ter uma aparência tão jovem. Mais tarde fiquei sabendo que ela já contava com trinta e seis anos, era casada e não tinha filhos, o que talvez contribuísse para ter aquela aparência de mulher que ainda não chegou aos trinta. Loira, dos cabelos curtos e oxigenados, olhos azuis, alta, com um metro e setenta e dois, um corpo magro, mas mesmo assim cheio de curvas e um rosto era bonito. Ela lembrava aquela atriz do filme Rock IV cujo nome é Brigitte Nielsen. Apesar de sua beleza, o que me chamava a atenção na hora era a roupa que ela usava. Uma calça de couro preta tão apertada que, se fosse da cor da pele, poderia dar a impressão de que estava nua. Um colant body preto também super apertado e por cima dele um casaco também de couro, fazendo conjunto com a calça. Também chamava a atenção pelas joias que usava, pois trazia pendurada em seu pescoço uma corrente grossa onde estava uma joia de ouro que para mim parecia um timão de navio refletia a luz do ambiente e contava com pedras preciosas incrustadas em toda a sua volta e um diamante no centro. Além disso, usava uma pulseira de ouro com um relógio pequeno no centro. Seus brincos também eram de ouro com pedras preciosas e não eram pequenos e formava um conjunto com a medalha, apenas menor. Aquela mulher devia carregar em joias o valor correspondente a um carro de luxo da época.
Mas nada disso para mim se comparava às botas que ela usava e que iam até a altura de seus joelhos, com um salto não muito alto, talvez uns sete centímetros em couro preto trabalhado com fios dourados. O andar dela com aquelas botas, para mim, era um espetáculo que chegava a ser obsceno de tão bonito.
Quando ela retornou, aceitei o café, mas antes de levar a xícara à boca já comecei a me justificar:
– Olha dona Mirtes, essa conversa de…
Ela virou um relógio de mesa digital que tinha sobre a sua mesa e perguntou:
– Que horas são?
– O que? Não entendi
– Que horas estão marcando este relógio.
– Dezoito horas e quarenta e três minutos.
– E isso quer dizer que o expediente já se encerrou. Então nada de senhora. Me chame de Mirtes.
– Sim sen… Quero dizer, sim Mirtes.
Ela sorriu e para mim pareceu ter acendido um refletor naquele rosto de tão lindo que era seu sorriso. Pensei preocupado: “porra, só falta e me apaixonar pela chefona agora”. Aliás, eu precisava me controlar e parar de me apaixonar por todas as mulheres bonitas que trabalhavam naquela agência.
– Então. Agora que estamos só nós dois aqui. Quero saber tudo sobre você e aquela garota, a Eudora. Quero que você me conte tudo, até os detalhes mais sórdidos.
– Como eu disse antes dona Mirtes…
Ela me deu um olhar de censura e eu corrigi:
– Eu já falei tudo que sei sobre isso, Mirtes.
– Não. Não falou. Você falou tudo o que podia falar para, como você disse, a Dona Mirtes. Agora quem está aqui é a Mirtes e eu estou pedindo para você me falar a verdade.
Porra meu. Qual a diferença? O que vai impedir a ela que, depois de saber tudo, não vai levar isso em consideração e voltar atrás em sua decisão? Eu estava em uma sinuca de bico. Enquanto eu pensava sobre isso, ela me olhava com um olhar tranquilo e um sorriso que parecia ter o objetivo de me encorajar a falar. Preso no feitiço daqueles olhos azuis brilhantes, daqueles lábios sensuais que estavam entreabertos deixando à mostra duas fileiras de dentes perfeitos, fui engolfado pela magia do momento e comecei a falar. Contei tudo, mas sempre dando ênfase de que aquele relacionamento era sobre sexo e não havia sentimentos envolvidos ali.
Ela não me interrompeu uma única vez. Durante todo o tempo em que eu falava ela manteve aqueles dois topázios enormes sobre mim e parecia que sequer piscava. Apenas quando eu terminei é que ela resolveu tirar algumas dúvidas e já fiquei assustado com o primeiro tópico que ela escolheu:
– Se eu entendi bem, você nunca é carinhoso com ela. Isso não cria problemas?
– Que tipo de problemas?
– Dela brigar com você. Reclamar. Ameaçar nunca mais transar com você. Essas coisas.
– Não. Nunca reclamou de nada. Parece até que ela gosta.
– Parece, ou ela gosta?
– Eu não saberia dizer. Nunca perguntei pra ela.
Mirtes sorriu e balançou o rosto de um lado para outro e depois explicou:
– Não precisa perguntar, menino. Depois desse tempo todo, você tem que estar em condições de saber disso pelas reações dela.
– Então. Ela não tem reação nenhuma. Não briga, não reclama.
– Olha aqui Nassau. Ou você está tentando me enrolar, ou então é muito tolo.
– Não entendi. O que isso quer dizer?
Pela primeira vez ela demonstrou irritação e, ao demonstrar isso, também deixou claro que a gente não estava no horário de emprego, pelas palavras que usou:
– Porra cara. Você só pode estar de gozação. Ninguém é tão lento de raciocínio assim. Mas se está difícil para você entender, vamos lá. Eu perguntei e quero saber é se existe diferença quando você pega ela, como você disse, meio forçado e as outras quando tudo acontece normalmente.
– Ah isso! Bom. Eu acho que ela fica mais quente quando é a força. Quero dizer, não na marra e sem forçar nada. Com pegar a força eu quero dizer que não tem nenhum aviso antes. Eu chego e já vou fo… Desculpe. Já vou transando com ela sem que ela espere.
Depois de controlar o riso, ela falou:
– Fodendo está bom. Pode usar essa palavra. Mas agora eu estou entendendo.
Eu, que já estava intrigado e ia ficando cada vez mais a vontade, arrisquei a fazer uma pergunta:
– Desculpe por perguntar. Mas o que é que tem a ver o jeito que Eudora e eu transamos, com o meu emprego?
– Absolutamente nada. Disso você pode ter certeza.
– Então, por que as perguntas?
– Como eu te disse antes, é pessoal. Não tem nada de profissional nessa conversa.
– Pessoal como? Quero dizer, por quê?
– Isso você vai saber no devido tempo. Mas saiba que estou interessada. Sendo assim, vejamos. O que você vai fazer na quarta-feira?
Tive a vontade de responder: “Tirando foder a Eudora, mais nada”. Mas eu ainda não tinha engolido aquela conversa de pessoal x profissional e fui mais comedido quando falei:
– Não tem nada programado. Só que sempre pode aparecer algo para fazer, se a sen…, se você me entende.
– Então cuide para que não apareça nada. Vamos jantar juntos na quarta-feira.
Aquilo não me pareceu um convite. Estava mais para uma intimação. Porém, vocês leitores sabem como é a vida, manda quem pode, obedece quem tem juízo. E eu resolvi ficar entre os que têm juízo.
Depois daquela conversa ainda fiquei na agência por mais de uma hora. O motivo foi que não conseguiram fechar o movimento por causa de uma diferença. Mergulhei em meio a milhares de documentos, conferindo, somando novamente até encontrar o erro, mas o atraso fez com que perdêssemos o horário do carro que transportava o malote e ainda sobrou para mim ir até o centro de processamento para levá-lo. Com o trânsito maluco de São Paulo, gastei mais de duas horas para ir e voltar e quase uma em um restaurante onde resolvi parar para jantar, chegando em casa depois das vinte e duas horas, dei de cara com uma Eudora super ansiosa.
Eu precisava mesmo pegar aquela cópia da chave de volta.
– O que você está fazendo aqui? – Perguntei fazendo questão de mostrar minha irritação.
– Nada. Eu só estava preocupada com você – Respondeu Eudora com aquela voz de submissa.
Não falei mais nada e fui tomar banho. Quando saí da cozinha ela estava acabando de preparar um lanche para mim e foi visível a decepção dela quando disse que já tinha jantado. Ela me perguntou o que devia fazer com o lanche e eu respondi que ela mesmo que o comesse, sem perceber que havia lanche para duas pessoas, ou seja, ela estava até aquele momento sem comer nada, só esperando por mim. Aquilo me irritou, da mesma forma como me irritava qualquer coisa que ela fazia para se colocar na posição de parceira, namoradas, ou sei lá o que.
Bom. Pelo menos ela comeu o lanche dela e eu fui para a cama. Nem vi quando ela foi se deitar, ou se foi se deitar, pois dormi logo.
Na terça-feira eu cheguei todo serelepe na agência. Por quê? Oras, muito simples. São poucos subordinados que recebem um convite para ir jantar com a chefe e, quando essa chefe é uma mulher bonita e cheia de classe, a importância disso triplica. Era assim que eu me sentia, a pessoa mais importante do mundo.
Minha importância não durou muito, pois logo Mirtes chegou, cumprimentou todo mundo como fazia todos os dias, mas para mim dirigiu apenas um ‘bom dia’ seco e, na medida em que o dia avançava, ficou pior. Todas as vezes que se dirigia para mim ela o fazia de uma forma brusca e chegou até a me deixar mal perante meus colegas. Aconteceu quando eu tentei dar uma sugestão sobre um assunto que, segundo ela, não me dizia respeito.
E o pior é que ela estava certa. Não dizia mesmo. Eu é que quis me pavonear e abri o leque do meu rabo para ela meter o pé. Adivinhem só quem foi que pagou o pato? Ela mesma. A Eudora teve que aguentar toda a falta de educação provocada por uma frustração monstro.
Mesmo assim, a idiota saiu da agência e foi direto para a minha casa. Quando lá cheguei, dei de cara com ela sentada no sofá assistindo a uma novela. Sem sequer dizer olá, perguntei:
– Você preparou alguma coisa para a gente comer?
– Não. O pão acabou e não tem nada na geladeira. – Respondeu ela pesarosa por ter perdido a oportunidade de me agradar.
– E por que você não foi comprar? Ficou aí esperando o que?
– Pensei que você pudesse trazer alguma coisa.
– Trazer alguma coisa? Está pensando o que? Eu não sou seu empregado. Se vira porra.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela pegou sua bolsa e saiu. Pensei que ela estava indo embora. Vinte minutos depois ela volta com pão, frios, ovos e refrigerantes. Sem sequer olhar para mim, foi para a cozinha de onde só voltou trazendo os sanduíches que tinha preparado.
Comi dois sanduíches sem sequer olhar para ela. Quando acabei ela se levantou para tirar as louças da mesa e eu falei para ela:
– Deixe isso aí.
– Vou só lavar a louça e já volto.
– Eu mandei deixar isso aí. Deixa essa porra de louça para depois. – Ela obedeceu me olhando assustada e eu falei: – Tire a calça e fica de quatro no sofá.
Eudora permaneceu imóvel e eu gritei:
– ESTÁ ESPERANDO O QUE? TIRA APORRA DESSA CALÇA, AGORA.
Mais do que depressa ela se livrou da calça e, mesmo sem que eu tenha pedido já foi abaixando a calcinha. Enquanto ela se posicionava no sofá, eu lhe disse:
– Agora eu vou foder seu cu. Isso é para você deixar de ser lerda e não precisar que eu fique falando tudo o que você precisa fazer.
Com a voz trêmula de tesão, ela falou baixinho:
– Puxa vida! Vou cometer mais falhas. Eu erro e ainda ganho um prêmio!
– Que caralho de prêmio o que, sua vadia. – Na medida em que falava fui aumentando o volume da minha voz e acabei gritando: – AGORA ABRE ESSA BUNDA E CALE A BOCA, SUA PUTA VAGABUNDA!
Aí já é demais. Eu querendo fazer aquela mulher sentir dor, lhe dar um castigo exemplar e ela vem me dizer que estava recebendo um prêmio? Vai entender o que se passa na cabeça de uma mulher vadia. Mas isso eu pensei depois. Naquela hora toda a minha frustração falou mais alto e eu, abaixando minha calça, soquei o pau no cuzinho dela sem nenhuma preparação. Ela gritou quando entrou e gritou de novo quando lhe dei um tapa com a mão espalmada em sua bunda com tanta força que deixei impresso nela a marca de minha mão. Um segundo depois ela estava gemendo e seu corpo tremendo todo. Aquela puta estava gozando porque estava sendo castigada, humilhada e maltratada e isso só serviu para aumentar o meu prazer. Sem parar, continuei a socar com força meu pau nas profundezas de seu cu que não demorou muito e gozei. E a vadia gozou junto comigo.
Depois de foder com gosto aquela bunda farta e gostosa, mandei ela se vestir, informando que ia levá-la até sua casa. Ela pegou sua calça e calcinha e já se preparava para tirar a blusa que ainda usava, pois durante a foda estava nua apenas da cintura ara baixo, quando eu falei:
– Aonde você vai?
– Vou tomar um banho, estou toda suja. – Respondeu ela com calma.
– Não vai não. Toma banho depois que chegar em sua casa.
– Mas eu estou toda…
– Eu sei. Toda fodida. Mas você é puta e puta que se preza tem que andar assim mesmo. Melada, fodida, arregaçada. Vai tomar banho na puta que te pariu. Aqui não. E veste logo essa calça senão eu te arrasto daqui pelada mesmo.
Se eu queria deixar Eudora brava, ou pelo menos assustada, foi em vão. Como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo, ela vestiu a roupa e saímos. Fomos até onde ela morava a deixando um quarteirão antes de sua casa e, quando nos despedimos, ela ainda perguntou:
– Amanhã eu posso dormir na sua casa?
– Vem cá. Você não tem casa não? Precisa dormir na minha todos os dias?
– Amanhã é quarta-feira. Sempre durmo lá nas quartas.
– Melhor não. Tenho um compromisso amanhã à noite e não vou ter hora para voltar.
Dizer que tinha um compromisso e não ter hora para voltar era o mesmo que dizer: Amanhã tenho uma buceta para foder e não é a sua. E o pior é que eu achava que não tinha. Achava que seria sonhar alto demais pensar em foder aquela mulher bem sucedida, linda, casada e, ainda por cima, minha chefona.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Eudora que, ao contrário do que sempre fazia, nem tentou me beijar. Saiu do carro e entrou em casa. Pensei em sair dali imediatamente, porém, lembrando-me da fama que o bairro que ela morava tinha, permaneci ali vigiando até ela entrar em sua casa.