Me leva com você 15

Um conto erótico de R Valentim
Categoria: Gay
Contém 3678 palavras
Data: 23/02/2025 00:16:32
Assuntos: Gay, Amigos

Raylan cozinhou um almoço especial para comemorar, esse moleque só me enche de orgulho, Guilherme então está nas nuvens, ele observa meu amigo com tanto amor e até uma certa devoção, esse casal só fica mais forte a cada dia e eu fico ainda mais feliz por eles — meu amigo tem alguém para cuidar dele quando eu me for.

O pai do Guilherme também é um figuraça, o cara é muito divertido, ele é meio doente, mas não deixa isso desanima-lo, mesmo com a rotina estressante de hospital e tals, ele é muito alto astral — pareço até um velho falando assim — queria que Dan tivesse aqui, mas ele não pode, porém ele não é o único que venho sentindo falta nos nossos rolês.

— Gente, cadê a Bia, ela não apareceu nem no dia da praia — Ciço franze as sobrancelhas e olha para os amigos.

— Ela voltou com o namorado e não nos contou, só que aí o Dan viu eles juntos no shopping e desde então ela não tem falado com a gente — explica Raylan.

— Bem, desejamos toda sorte do mundo ao casal — Guilherme ergue seu copo brincando de forma muito sarcástica.

— Nossa, o ex dela é um pela saco, não acredito que eles voltaram — não a conheço tão bem, mas isso me parece algo estupido de se fazer — bem pelo menos Raylan está junto do Guilherme e o Dan com o Ciço — pelo menos eles seguem bem.

— Guigo — Guilherme me corrige — meus amigos mais próximos me chamam de Guigo.

Raylan não se contém de animação e beija o namorado, Guilherme, ou melhor Guigo finalmente me aceitou com seu amigo, até eu estou meio emocionado com isso, finalmente consegui mudar a opinião dele sobre mim, vou sentir muita falta desses moleques, mas agora não estou indo obrigado e nem para sempre, eles podem me visitar e vou acabar visitando eles também, as coisas são diferentes agora.

— Gente quero aproveitar que estamos todos aqui comendo esse almoço mais que especial feito pelo meu melhor amigo para dizer algo a vocês — todos focam as atenções para mim, então respiro fundo e falo de uma vez — vou voltar para casa depois do campeonato dos moleques.

— Espera, sua casa é aqui — Raylan é o primeiro a reagir.

— Como assim, você precisa de algo, pode ficar lá em casa se precisar — Ciço já se pronunciou em seguida.

— Estou bem gente, de verdade, é só que não tem mais tantos motivos para ficar — os olhos do Raylan já estão vermelhos — não é nada de mais, só que meu lugar é lá, não me adaptei tão bem, mas não é um adeus, a gente vai se falar e vamos nos ver, só que menos.

— Não é a mesma coisa — até o Guigo ficou sentido com minha novidade.

— O que a gente pode fazer pra te fazer mudar de ideia? — Ciço pergunta.

— Olha vocês foram a melhor coisa que me aconteceu desde que cheguei, mas sou um cara do interior, vou voltar pro sítio, mas é sério, dessa vez vai ser diferente, não vou sumir, eu prometo — digo direcionado ao meu melhor amigo Raylan.

— Quando você vai? — Ciço quis saber.

— Bem, preciso finalizar meu contrato de trabalho.

— Quer dizer que se os moleques perderem na semifinal você já vai embora na próxima semana? — Ciço parece meio preocupado agora.

— Sim, já falei com o dono do apartamento e também com meu pai, está tudo certo.

— Não tá nada certo, você não pode ir embora assim, logo agora que as coisas estão indo bem — Raylan tem dificuldade em aceitar mudanças, principalmente quando envolvem despedidas.

Tentei recuperar um pouco do clima pelo resto da tarde, mas Raylan não para de me pedir para reconsiderar e Ciço ficou pensativo e um pouco mas na dele, até o Guigo demorou um pouco para assimilar, a um tempo atrás ele seria o primeiro a dar pulos de alegria com essa notícia, mas agora todos vão sentir minha partida, isso é meio chato, porque também não queria ter me despedir deles, mas preciso mesmo voltar para casa, não paro de pensar nisso desde que tomei essa decisão, com o tempo eles vão entender que isso é o melhor para mim.

Jogamos videogame até o fim da tarde, Ciço se prontificou para me deixar em casa e agradeço, os moleques não estão felizes com a notícia da minha partida, mas pelo menos estão começando a entender meus motivos, vai ser melhor assim, Ciço ainda faz uma horinha na minha casa, mas não demora muito pois vai encontrar com Dan. Sozinho em casa ligo para Mauro, só que ele não atende — deve está de serviço.

Fico de boas esperando a hora de ir pro racha, Raylan não vai poder ir hoje, ele e o Guigo tem que ficar em casa pro caso do sogro dele piorar, não entendi direito o que ele tem, mas parece que está em um tratamento novo que deixa ele meio fraco, ele me pareceu bem, mas Guigo deve ter seus motivos para ficar apreensivo e também todo cuidado é pouco. Perdi minha mãe do nada, queria ter tido mais tempo com ela, mesmo que fosse em uma situação em que tivesse que cuidar dela, assim como eles fazem com o sogro do Raylan.

— Isso é um pensamento bem egoísta Ricardo — digo para mim em voz alta.

Estou sentindo falta de casa, de não ter que falar sozinho. Perto da hora de sair para o racha Ciço me avisa que Dan vai com ele, por isso não vai poder me dar uma carona, até penso se não seria melhor faltar ao racha, mas é o ponto alto da minha semana, então o Dan vai ter que suportar minha presença, afinal ele sabe que vou está lá e mesmo assim está indo, talvez isso seja um bom sinal, não sei.

— Oi, está tudo bem? — Mauro me manda uma mensagem.

— Sim, só quero te ver — respondo.

— Não posso, estou de plantão e amanhã vou pegar o Junior, é minha semana com ele — tinha esquecido que ele fica com o filho uma semana sim e outra não, só que na semana em que ele não estava com o Junior, foi justo a que viajou a trabalho.

— Tranquilo, vamos nos falando — isso me serve de lembrete sobre o Mauro, sobre ter que me esconder se quiser ficar com ele, vou está melhor em casa.

Agora mais do nunca vou para o racha, estou precisando extravasar um pouco, ficar bem cansado e depois deitar na minha cama e dormir. Com os moleques do racha não foi muito diferente, foi só o Ciço avisar os caras no grupo que esse pode ser um dos nossos últimos racha comigo para os caras começarem a me pedir para ficar.

Até o Romeu está dizendo que vai sentir minha falta, esses caras são muito gente boa. Ciço chega com Dan, ele parece animado, mas o Dan não mudou seu comportamento em relação a mim — ainda não somos amigos de novo — enquanto jogamos Dan está lendo um livro pelo celular sem conversar com ninguém, parece até que voltei no tempo para época de quando éramos moleques, eu o arrastava para os jogos, mas ele preferia ficar lendo, até ensinei ele a jogar — e por incrível que pareça ele leva jeito — mas não teve como, Dan prefere ficar lendo seus livros.

Quando meu time perde — depois de três partidas vencendo — vou tomar uma água e percebo Dan vindo conversar comigo, estou surpreso pois não esperava que ele fosse falar comigo depois da nossa última conversa, mas isso pode ser bom, não quero voltar para casa com as coisas estranhas entre nós.

— Posso falar com você um minuto? — Ele diz serio.

— Claro — vou com ele até uma mesa, aproveito para pedir uma coca cola para gente, ele adora e estou com sede — isso me lembra antigamente, você nunca queria jogar e sempre trazia um livro.

— Sim, estou lendo Game of Thrones agora — ele mostra no celular.

— Queria ter paciência para livros enormes assim — é bom ter uma conversa casual com ele.

— É só começar, sempre te falei isso.

— Ler não é muito minha praia, claro as coisas da faculdade e do trabalho até que vai — digo.

— É que você tem que ler algo que seja relacionado a algo que você gosta, se curte esporte tem que ler livros nessa temática, vai ver como vai ficar mais fácil — Dan é muito inteligente e esse até é um bom conselho.

Por um momento me vejo antigamente de novo, Dan e eu jogando conversa fora, ele tentando me fazer criar um hábito de leitura, é reconfortante, era uma época onde a vida era mais fácil, ou pelo menos achava que era, mas pensando bem, era só chegar em casa para ver meu pai agredindo minha mãe, e daí eu fazia algo para direcionar sua raiva para mim e assim apanhar no lugar dela.

— Você vai embora de novo? — Dan entra no assunto que realmente veio falar comigo cortando nosso papo furado.

— Sim.

— Virou um hábito nosso — ele diz com um sorriso sarcástico — digo que te amo e você vai embora.

— Dessa vez é diferente — digo.

— Sim, dessa vez você quer ir — Dan me encara e percebo tristeza em seus olhos — sabe que não precisa ir, não por minha causa.

— Não é por sua causa — ele me encara — Dan acho que já fiz o que vim fazer, de verdade não me vejo mais aqui, meu lar não é mais aqui — em respeito a ele sou sincero.

— E o tal PM?

— Ele tem a vida dele, sempre soube que ele não podia me dar o que eu quero — Mauro é ótimo, mas tem uma vida que não me cabe.

Dan me ainda está me encarando, só que não faço ideia do que se passa em sua cabeça, entendo que para todos parece que estou indo para fugir de algo ou por algum motivo assim, mas dentro de mim sei que aqui não é mais meu lar, não por causa do Dan ou do Mauro, ou qualquer um desses motivos, só que minha mãe não está aqui, acordar todos os dias e perceber que voltei tarde de mais é tão frustrante, pelo menos consegui resolver as lacunas do meu passado. Ela ficaria orgulhosa do homem que me tornei.

— E se eu te pedir para ficar? — Dan me tira dos meus pensamentos.

— Desculpa Dan, mas aqui não é meu lar, minha praia é o sítio — uso a mesma referência que ele, Dan usa a analogia da praia para dizer que está em casa.

— Rick, fica por favor — vejo uma lágrima lutando para descer pelo seu rosto.

— Não posso, vai ser melhor eu ir.

— Melhor para quem Rick? Seu lugar é aqui, Raylan vai sentir sua falta — sua voz treme — eu vou sentir sua falta.

— Também vou sentir falta de vocês, mas vocês não precisam mais de mim — respiro fundo — meus moleques cresceram e viraram homens, meu trabalho aqui está feito.

— Você confia de mais no Raylan, ele vai fazer merda, é só questão de tempo — damos uma risada juntos.

— Ele tem você para puxar a orelha dele — os dois se aproximaram e viraram amigos, muito mais amigos do tipo que se apoiam, eles vão ficar bem.

— Rick, você não pode ir.

— Mas eu preciso, Dan, tenho que cuidar de mim, gostei de ter vindo, pude conversar com você, com Raylan, visitei o túmulo da minha mãe, foi curto, mas valeu muito a pena ter vindo.

Um dos moleques me chama para entrar no campo, peço licença para o Dan e volto para o campo. O jogo foi muito bom, mas assim que acabou voltei para casa, a conversa com Dan foi difícil, mas me fez lembrar que ainda tenho uma pendencia que preciso resolver e não vai dar pra fazer isso por telefone, sendo assim me deito cedo para acordar cedo amanhã e resolver essa última pensante do meu passado.

De manhã sou surpreendido pelo Téo que acabou de chegar com nosso café da manhã, osso é outra coisa que vai fazer falta quando voltar para o sítio, porém mesmo ficando não vamos mais poder tomar nosso café da manhã juntos mesmo. Estou feliz do meu amigo aqui, tenho que aproveitar ao máximo já que ele vai viajar essa semana.

— Então tem algum homem semi nu no seu quarto hoje?

— Hoje não, estou sozinho, bom dia — estou rindo, vou sentir falta até das piadas de mau gosto dele — e o Tales?

— Me bloqueou em tudo e enviou por aplicativo todas as minhas coisas que estavam no seu apartamento.

— Pensei que estavam morando no seu — digo surpreso.

— Sim, mas não tínhamos feito a mudança toda, então vai passar um café para mim ou só vai ficar aí conversando? — Folgado, mas me divirto com seu jeito.

— Sim senhor — começo a fazer um café para gente.

— E o PM?

— Me pediu para ficar e até me ofereceu uma relação no sigilo.

— E você não ficou mexido?

— Claro que fiquei, mas nada vai mudar minha cabeça, não vou ser segredo de ninguém — isso não vai mudar nunca.

— Sabe o que eu acho — lá vem o Téo com suas “Téorias” — acho que você gosta do PM, mas que se apaixonou por outra pessoa.

— O que, fala sério Téo — sabia que vinha um absurdo aí.

— Ricardo, conheço você, acredite seus sentimentos não são tão secretos assim, você se apaixonou pelo gostosão da cueca preta, só que ele é namorado de um amigo seu do passado e você é muito correto para destruir uma relação, por isso está indo embora — esse é maior absurdo que já ouvi.

— Téo sério, esse é o maior absurdo que já ouvi, cê viajou, não me apaixonei pelo Ciço.

— Olha meu aluno como seu professor e mentor vou te dar uma última lição antes de viajar, preste atenção — ele fica sério de repente — você pode mentir para você mesmo o quanto quiser, mas isso não vai diminuir o que você sente, já fiz muita merda na vida cara, já perdi pessoas que achei importantes para mim, Iuri que agora está casado com Lucas e não comigo, Beto que está muito feliz com o namorado novo gringo dele, enfim, não cometa meus erros.

— Téo eu não estou apaixonado pelo Cícero, nem posso está apaixonado por ele, somos só amigos.

— O destino pode ser cruel às vezes né, você não consegue corresponder ao amor de alguém e no fim acaba se apaixonando pelo namorado dessa pessoa — normalmente não ligo para as besteiras do Téo, mas dessa vez fecho a cara — não fica puto comigo Rick, só aceite, você mesmo acabou de dizer que não pode e não que não está.

— Que? Como assim — digo ao ver uma notificação do meu banco no celular.

— Você está apaixonado pelo mauricinho e está se enganando por conta de toda a situação é disso que estou falando.

— Não, quer dizer, calma, acabei de receber um Pix do meu pai — ainda estou atordoado conferindo o extrato.

— Qual o problema disso seu pai não lhe ajuda sempre.

— Não, eu, Téo, acabei de receber um Pix de treze paus na minha conta.

— Caralho, pensei que o pessoal do sítio fosse pobre.

— Não foram eles que mandaram.

— Então, você acabou de dizer que foi seu pai — Téo estava confuso e nem posso culpar já que não estou conseguindo formular uma explicação nem para mim.

— Não foi o pai Gustavo, foi meu pai — agora meu amigo entendeu meu choque.

— Por que ele te mandou esse dinheiro agora?

— Não faço a mínima ideia — ainda estou assimilando o choque, tipo não só pelo valor, o cara nem fala comigo e do nada me manda treze mil e quinhentos na conta, isso é no mínimo estranho.

— E seu pai tem essa grana? — Téo está se esforçando para tentar entender assim como eu.

— Tem, quer dizer, ele não é rico, mas ganha bem no trabalho, mas isso não faz sentido, ele deve ter errado, é a única explicação.

— O que está fazendo?

— Vou ligar para ele.

— Pensei que não tinha o número dele.

— Apaguei do meu telefone a muito tempo, mas infelizmente nunca esqueci — acho que o ódio que sinto dele me faz lembrar de tudo relacionado a ele, por mais que eu tente esquecer.

Meu coração está apertado, a cada toque torço para que ele não atenda, ao mesmo tempo em que anseio por falar com ele, tem tanta coisa que quero cuspir na cara dele, mesmo que por telefone, mas é só ele atender e ouvir sua voz para meu corpo trava de medo, ele já me bateu tanto e me arrastou para interior, por mais que o desafiasse, a verdade é que sempre tive pavor dele, só que a vontade de defender minha mãe sempre foi maior.

— Pai sou eu Ricardo — digo com a voz mais firme que consigo.

— Eu sei — ele tem meu número salvo — você recebeu o dinheiro?

— Recebi — ele não parece zangado, quando não estava bêbado me batendo ele costumava falar comigo com essa calma que está agora.

— Você está bem?

— Estou sim senhor — sinto um bloqueio na minha garganta, tudo que ensaie simplesmente não sai.

— Ainda está em Fortaleza?

— Estou, mas quando o trabalho acabar vou voltar para o sítio.

— Você não foi para Fortaleza para estudar? — Meu corpo treme com o aumento em seu tom de voz, então respiro fundo e explico tudo para ele.

— Entendi, melhor voltar mesmo, então, se você quiser pode vir para cá também — estou em choque.

— Morar com o senhor? — Minha voz quase falha.

— Sim, você pode estudar aqui, eu já comprei uma casa e estou morando sozinho — me irrita que ele esteja falando comigo como se nada tivesse acontecido.

— Acho que prefiro ir para o sítio, mesmo pai — ele fica em silêncio por um momento.

— Ricardo — ele respira fundo e continua — eu parei de beber, estou indo pras reuniões do AA.

— Está falando sério? — Nunca pensei que ouviria ele dizer isso, meu pai sempre bebeu muito, é quase utópico uma realidade onde ele não bebe e me bate — bom pro senhor.

— Pois é, fiz dois meses de sobriedade ontem — ele parece sincero, mas isso não muda o que ele fez — Ricardo desde que sua mãe morreu eu pensei muito, não fui justo com ela e nem com você.

— Agora o senhor pensa nisso, e quando o senhor nem me permitiu me despedir dela, o senhor não pensou em como isso era injusto comigo? — Téo levanta e vai para o quarto para me dar mais privacidade.

— Me desculpa, eu fiquei sem chão, quando recebi a notícia eu só entrei no automático, comecei a beber e não parei — ele para por um instante e posso jurar que ele está chorando, mas isso é um absurdo na minha mente — não fui para o velório, estava tão bêbado que desmaia e cai de moto indo por velorio, isso não muda o que eu fiz, mas eu estava doente Ricardo.

Doente, meu pai é alcoólico, desde que me entendo por gente, nem sempre ele era violento, mas o problema é que depois de um tempo ele começou a piorar quando bebia e para piorar ele bebia muito, é surreal ele dizer que sentiu a morte da minha mãe, quando ele mesmo quase a causou algumas vezes.

— De onde veio esse dinheiro, pai?

— Do acidente da sua mãe, eu coloquei um advogado quando cheguei aqui para conseguiu o DPVAT e agora o dinheiro finalmente saiu — meu corpo inteiro treme — não estou precisando de dinheiro então mandei minha metade pra você também, ela iria querer que você ficasse com o dinheiro e fizesse algo de bom da sua vida, não é muito, mas é uma forma dela de fazer algo por você uma última vez — ele está chorando e sei disso porque também estou.

— O senhor está bem? — A raiva no meu peito que sinto começa a escorrer pelos meus olhos na forma de lágrimas.

— Estou sim, estou indo pras reuniões e trabalhando — ele funga — Ricardo quero que você saiba que me arrependo muito por não ter sido um bom pai para você.

— Eu tenho um pai, o pai Gustavo é incrível e ele tem cuidado de mim — digo e ele fica em silêncio por mais um tempo.

— Gustavo é um homem bom, sempre foi, olha a casa aqui é sua, estou morando em Natal, tem um quarto aqui que separei para você — é muito estranho ver meu pai assim.

— Não posso agora pai — algo em mim bem no fundo, uma parte que até achei que já estava morta se ilumina com sua fala, meu pai está me pedindo desculpa, isso não apaga o que ele fez, mas minha mãe morreu amando esse homem, ela passou sua vida inteira com ele, mesmo sofrendo, ela não desistiu dele — mas eu vou visitar o senhor assim que dé — digo.

— Tudo bem, vou esperar — ele diz um pouco mais animado.

— Mas pai, eu ainda gosto de caras, também gosto de mulher, mas eu quero que o senhor saiba que sou bissexual, não sou o filho hetero que você sempre quis — reuno minhas forças para dizer isso ele, é muito mais dificil me assumir para ele mesmo por telefone, completamente diferente de como foi com pai Gustavo.

— Ricardo eu ainda não entendo muito bem essas coisas, mas tenho falado sobre isso nas reuniões e é um pouco difícil para mim — ele diz, mas não com agressividade — mas olha eu quero entender, quero que me explique.

— Tudo bem pai, eu explico pro senhor — estou chorando, mas de alívio dessa vez.

— Tenho que ir, estou no serviço agora — ele funga mais uma vez — Ricardo?

— Oi pai.

— Posso te ligar depois? — Esse cara não é o pai que conheci, mas algo dentro de mim está feliz por conhecê-lo, finalmente vou saber quem é meu pai, o mesmo homem pelo qual minha mãe se apaixonou no passado.

— Pode sim senhor — não vamos reconstruir uma relação da noite pro dia, mas o pai Gustavo me ensinou que é no perdão que agradamos a Deus e quero agradá-lo por ser tão bom para mim — tchau pai.

— Tchau filho — encerro a ligação com lágrimas de alívio e de felicidade nos olhos.

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Comentários

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Eu genuinamente não vejo o Ricardo e o Cícero como “end game”! A construção que foi feita pelo autor para nos dar essa sensação de química entre os dois foi muito boa, mas não passa disso, uma construção de química! Sim, o Dan é um personagem difícil com camadas, imperfeito como qualquer ser humano, com uma certa dificuldade de desapegar do passado, ainda mais considerando o quanto sofreu, mas não seria justo com ele fazer o Ciço ficar com o Rick! Muitos falam “O Dan é egoista” ou “Ele não ama ninguém”, mas pouco se diz do quanto o Rick também foi egoista com ele e com os sentimentos dele! MINHA OPINIÃO é essa… não faria sentido dentro da narrativa construída, o Ciço e o Dan se separarem, eles são o end game mais concreto desse conto!

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Por favor, não estrague a construção do relacionamento lindo que é o Ciço e o Dan. Essa história dele estar apaixonado pelo Ciço, é doideira demais. Eles tem que ser amigos e só isso!

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Apesar de nunca terem levado pro outro caminho ou até mesmo dado a entender com intenções, a química entre o Rick e o Ciço soou genuína desde o instante em que se conheceram. Uma intimidade que o próprio Ciço afirmou não ter ninguém além dele pra conversar, encontros rotineiros por conta do time de futebol, se sentindo a vontade na casa do Rick, algo que ele nunca fizera com seus outros amigos. O próprio Téo pareceu notar isso.

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E pasmem o Dan não parece amar ninguém além de si mesmo.

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A cabeça deu nó, cheguei a pensar num trisal Dan - Ciço - Rick mas claro que não faz sentido…

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Se o Ricardo e o Ciço ficarem ou namorarem, só vai reforçar o fato de eu não ter gostado dele no início e provar que eu não eatava errado em não gostar, o Teo já fez isso com o beto, agora o Ricardo vai repetir os passos do mentor? Não gostava do Teo antes e continuo não gostando!!

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