ENTRE CAMINHOS E SEGREDOS [100] ~ FINAL

Um conto erótico de Rafael
Categoria: Gay
Contém 2288 palavras
Data: 24/02/2025 10:48:25

Agosto de 2024

O tempo passou, e muita coisa aconteceu desde então. Finalmente terminei minha primeira residência. Agora, estava prestes a começar a residência em cardiologia — a área da medicina que escolhi, aquela que sempre despertou algo especial em mim. Parecia que, enfim, um ciclo estava se fechando para que outro começasse. Um ciclo cheio de sonhos, desafios e amadurecimento.

Morar em São Paulo foi uma experiência única. Foram dois anos intensos, cheios de aprendizados e crescimento. A cidade sempre tão viva, com seus dias corridos e noites insones, combinava com o ritmo que minha vida tomou. Não me envolvi em nenhum romance sério durante esse tempo. A vida era uma correria, e decidi que não queria distrações. Meu foco estava ali: nos plantões longos e exaustivos, nas aulas, nos estudos. Eu precisava dar o meu melhor. Lembro-me de um professor na faculdade dizendo que médicos quase sempre se relacionavam com outros médicos, porque o estilo de vida era semelhante — não em questão financeira, mas profissional. Entendi isso na prática. Era uma rotina louca, às vezes com folgas em dias aleatórios, outras vezes sem folga alguma. As prioridades mudavam. E, mesmo assim, foi um período bom.

Mas São Paulo não era para sempre. Meu filho ficou com meus pais durante esse tempo. Foi a decisão mais difícil que precisei tomar. A distância pesava. Senti falta de estar presente em cada momento, em cada conquista. E ele, crescendo tão rápido, agora com 10, quase um pré-adolescente. Sabia que não podia mais ficar longe. Precisávamos um do outro.

Passei para a residência no Rio de Janeiro. Essa nova etapa não seria só minha — ele viria comigo. Sabia que essa mudança seria uma separação para ele, longe dos avós, mas também sabia que seria importante. O Rio de Janeiro traria oportunidades que eu não tive. Queria que ele vivesse o que eu demorei tanto para alcançar: a chance de sonhar grande, de construir um caminho cheio de possibilidades.

Agora, olhando para tudo o que aconteceu, percebo que as escolhas difíceis nos moldam. Cada renúncia, cada noite acordado, cada lágrima e sorriso. A vida seguiu — entre caminhos e segredos — e eu sigo nela, pronto para o que vem a seguir. Pronto para recomeçar.

Quanto ao Lucas, ele se casou e finalmente realizou o sonho de ser pai. Depois do acidente, ele fez as pazes com os pais. Foi um período difícil — ele enfrentou a depressão, mas o sofrimento acabou aproximando-os novamente. Nós nos encontrávamos uma vez por ano, quando eu visitava meus parentes no Alto. Houve uma ocasião em que ficamos juntos, mas foi apenas para matar a saudade. Não existia mais sentimento ali. Lucas sempre seria especial, mas o tempo nos ensinou que nem todo amor é feito para durar. Ele seguiu em frente, e eu também.

Lucas, meu pai e meu tio criaram o que eu, brincando, chamava de um “clã peculiar”. Homens casados com mulheres, mas que encontravam conforto e desejo entre si. Confesso que no começo achei estranho ouvir algumas histórias, mas, com o tempo, me acostumei. Na verdade, eu até esperava ansioso pelas narrativas que meu pai compartilhava — achava o máximo.

Bernardo e JP continuavam juntos. Entre idas e vindas, brigas e reconciliações, um sempre acabava voltando para o outro. Bernardo, no entanto, viveu uma paixão intensa com o cara que pilotava o avião, algo breve, mas profundo. JP nunca soube de todos os detalhes — Bernardo guardou isso para si. Mas ele me contou. Nossas conversas em São Paulo se tornaram frequentes e, enfim, construímos uma amizade sólida. Primos e melhores amigos. Às vezes, o sexo rolava entre nós fluía, assim como com JP. Nada planejado, nada rotineiro — simplesmente acontecia.

Caio, apesar de não ter sido tão presente na narrativa, sempre esteve por perto. Mudou-se para Brasília, onde viveu romances intensos e proibidos. Nunca perdemos o contato. Ele sempre foi um porto seguro, apoiando minhas decisões. E, quando nos víamos, o reencontro era sempre marcado por aquela chama inapagável — como sempre foi.

Meu tio... Bom, esse é um assunto delicado. A gente se entendia de um jeito que talvez ninguém compreendesse. Quando nos encontrávamos, era como se o tempo parasse. A química, a sede, o desejo — tudo voltava com força. Quando me mudei para o Rio com o Bruninho, ele passou quinze dias comigo. Foram dias intensos, onde passei quase todos os dias com o seu pau atolado no meu rabo, ou meu pau no seu rabo. Ele ainda estava casado com a tia Cláudia e, agora, planejava concorrer a uma vaga como deputado estadual. Caio seria, novamente, o responsável pela sua campanha. E Lucas? Lucas seria o indicado para concorrer à prefeitura do Alto.

Cada um seguiu seu caminho, carregando segredos, paixões e decisões. E, no fundo, eu sabia: Entre Caminhos e Segredos era a história de todos nós. E ela continuaria — mesmo que em silêncio.

Dezembro de 2024

Já fazia três meses desde que eu havia me mudado para o Rio de Janeiro. Vivíamos em uma cobertura em Ipanema, com uma vista de tirar o fôlego. Bruninho se adaptou rapidamente à nova rotina e à escola. No começo, foi complicado; ele sentia falta dos amigos e da antiga casa. Mas logo se encantou pelo Rio, pelas praias e, principalmente, pela minha companhia diária. Estar presente em cada momento dele era um privilégio que eu nunca imaginei ter.

Meu pai nos visitava com frequência — a cada quinze dias, pelo menos. Ele havia alugado uma sala em um hospital e começou a atender alguns pacientes. Dizia que era uma forma de ficar próximo de mim e do neto. Às vezes, passava dias conosco. Outras vezes, uma semana inteira. Em algumas visitas, vinha acompanhado da minha mãe, da minha irmã ou do meu irmão, que era extremamente apegado ao Bruninho. Essas visitas ajudavam a amenizar a saudade. Era bom tê-los por perto, reforçando um sentimento de família que, por muito tempo, eu pensei que jamais teria.

Essa era a minha nova vida. Uma vida que, em algum momento do passado, eu jamais sonhei em ter. Tudo aconteceu por acaso — ou talvez não. Talvez cada escolha, cada erro, cada acerto tenham me trazido exatamente para onde eu precisava estar. Sei que muitos esperavam um final feliz, um “felizes para sempre”. Mas, sendo sincero, não acredito nesse tipo de final. A vida real não é um conto de fadas.

Existe uma frase que sempre me marcou: “Que seja eterno enquanto dure.” Foi assim que eu vivi e senti o amor que tive pelo Lucas. Ele foi eterno enquanto durou. Quando acabou, doeu. Doeu muito. Mas eu segui em frente. Há também outra frase: “O para sempre, sempre acaba.” Me apeguei a isso. O Lucas foi um amor intenso e transformador. O Bernardo, por outro lado, foi um sentimento diferente — leve, curioso, cheio de altos e baixos. Nenhuma relação foi igual à outra. E nenhuma será igual à próxima que eu tiver.

A vida é feita de ciclos. Nada é para sempre. Aprendi a respeitar o fim de cada fase e a abraçar o que vem depois. Talvez esse não seja o final que muitos esperavam, mas a verdade é que essa história não tem um final. Não ainda. Eu ainda tenho muito a viver. Vou conhecer novas pessoas, me apaixonar, me decepcionar, chorar e rir novamente. E sabe o que é mais importante? Isso não me assusta. Não sinto medo do desconhecido. A vida é isso — incertezas, recomeços e descobertas.

Hoje, aos 29 anos, posso dizer que estou em paz comigo mesmo. Sou quase um adulto, vivendo de forma independente. Meu pai teve um papel fundamental na minha trajetória — pagou minha faculdade, me deu uma mesada generosa e abriu portas que talvez demorassem mais para se abrir. Mas sei que, mesmo sem ele, eu teria chegado até aqui. Teria estudado para o ENEM, entrado em uma federal, corrido atrás dos meus sonhos. Porque isso é quem eu sou: alguém que nunca desiste.

Minha jornada continua. E, honestamente, mal posso esperar pelo que ainda está por vir.

Então, se eu pudesse deixar um conselho para vocês, leitores, seria: vivam. Vivam com intensidade, com verdade, com coragem. Nunca deixem de acreditar nos seus sonhos, por mais distantes que pareçam. Amores vêm e vão. Amigos vêm e vão. E a vida nunca vai nos entregar um manual, um aviso prévio para as mudanças que virão. Mas existe algo que permanece — algo que é a base de tudo: a família. Ela é o alicerce que nos sustenta quando tudo parece desmoronar, o abraço que acolhe, o lar para onde sempre podemos voltar.

Ao longo da minha jornada, segui muitos caminhos. Alguns deram certo. Outros me levaram a becos sem saída. Em todos eles, vivi intensamente, me permiti sentir, errar, aprender. Guardei segredos, compartilhei outros e participei de histórias que mudaram quem eu sou. E a verdade é que isso aqui não é um fim. Minha vida continua. Cada dia é uma nova página em branco, pronta para ser escrita.

Quem sabe, um dia, eu não viva um romance digno de final feliz? Talvez. Mas, por enquanto, não é isso que busco. Hoje, estou vivendo o agora. Conhecendo pessoas. Permitindo que as coisas simplesmente aconteçam. Porque o amor, ah, o amor chega assim — de repente, sem avisar. Ele vem quando menos esperamos, e talvez, em um desses encontros inesperados, alguém mude completamente o rumo da minha vida.

E se acontecer, estarei pronto. Porque aprendi que a vida é feita de ciclos. E o mais importante é saber respeitar quando um ciclo se encerra e ter coragem de abrir espaço para o novo. Nada é para sempre. E está tudo bem. O que realmente importa é o que vivemos entre o começo e o fim de cada capítulo.

É assim que encerro esta história: um cara feliz, realizado, com cicatrizes que contam quem eu fui e sonhos que anunciam quem eu ainda posso ser. Tenho planos. Tenho esperança. E tenho a certeza de que o melhor ainda está por vir. Afinal, a vida continua — e eu estou pronto para vivê-la em cada detalhe, em cada surpresa, em cada recomeço.

[FIM]

___

Era janeiro de 2025. A brisa quente do verão carioca invadia o bar em Ipanema onde eu estava, rodeado por alguns amigos do hospital. Entre um gole e outro de um drink gelado, minha atenção foi capturada.

Ele estava lá.

O cabelo diferente do que eu lembrava, um estilo novo que combinava com as tatuagens que agora marcavam seus braços. Mas o sorriso... Ah, o sorriso era o mesmo. Aquele sorriso inconfundível, que eu reconheceria em qualquer lugar.

Nossos olhares se cruzaram. Um instante. Um mundo de lembranças.

Eu acenei com a cabeça, um sorriso discreto no rosto. Ele hesitou por um segundo, mas logo atravessou o bar, com um brilho nos olhos que eu não via há muito tempo.

— Eu sabia que era você — ele disse, me abraçando de um jeito que parecia familiar e novo ao mesmo tempo. — Está morando aqui no Rio?

— Faz três meses. Ipanema me conquistou.

— É... Eu estou de mini férias. Precisava sair um pouco. Estou meio brigado com o Sr. Encrenca. — Ele riu, mas havia um toque de amargura em sua voz.

"Sr. Encrenca?" Pensei. Aquilo parecia um sinal. Um convite.

Sorri de lado, deixando o mistério pairar no ar.

— E se a gente fosse para o meu apartamento? Continuamos a conversa por lá.

Ele segurou meu olhar por um momento, um sorriso provocante surgindo em seus lábios.

— Eu adoraria.

Paguei a conta enquanto o som do bar parecia se dissolver em segundo plano. Pedimos um Uber. O caminho até meu apartamento foi silencioso, mas cheio de tensão. Olhares. Pequenos sorrisos. Expectativas não ditas.

Assim que entramos, a porta mal havia se fechado quando eu puxei ele para perto. O beijo aconteceu com a mesma intensidade de antes. Nada havia mudado. Era como se o tempo tivesse esperado por aquele momento.

Me afastei por um segundo, olhando nos olhos dele, ofegante.

— Luke, você está muito mais gostoso do que era antes.

Ele sorriu, enigmático. Um sorriso que prometia segredos. Um sorriso que dizia que essa história, na verdade, estava apenas começando.

_____

Considerações Finais

Espero, de coração, que todos tenham gostado desse final. Sei que talvez não seja o desfecho que muitos esperavam, mas é uma história que tive prazer em escrever. Cada capítulo, cada reviravolta, cada emoção vivida pelos personagens significou muito para mim.

Sei que alguns pontos poderiam ter sido desenvolvidos de forma diferente. Por exemplo, reconheço que faltou um pouco mais de realismo na forma como as famílias aceitaram o relacionamento entre primos. Em cidades do interior, a negação e o preconceito ainda falam mais alto, e talvez eu devesse ter explorado melhor esse lado da história. Quem sabe numa reescrita futura, eu consiga aprofundar mais essas questões e trazer ainda mais camadas à narrativa.

Mas a boa notícia é que esse universo ainda tem muito a ser explorado. Eu já comecei a escrever um conto sob a perspectiva do Bernardo. Nele, vou contar algumas coisas que vocês ainda não sabem, incluindo toda a turbulência que ele viveu com o cara para quem pilotava o avião. Será um conto de 10 capítulos, intenso, cheio de dilemas e revelações.

Também tenho planos de escrever contos curtos do Caio e do tio Alysson. Cada um trazendo respostas e fechando pontas que ficaram soltas. Quero que esses contos sejam rápidos, mas profundos — o suficiente para mostrar que, assim como na vida, nem tudo tem um ponto final tão definido.

Então é isso. Muito obrigado por acompanharem até aqui. Não se esqueçam de comentar o que acharam, compartilhar o que sentiram e, quem sabe, refletir um pouco sobre as imperfeições e surpresas da vida.

Nos vemos no próximo conto!

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Comentários

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Tanta coisa para dizer, mas o conto acabou. Vamos avançar...

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Acompanhei esse conto desde o inicio e meus parabéns Lukas, o conto foi lindo e o final foi excelente, acho que seria legal um spin-off do Lucas também, contando as coisas da perspectiva dele e o que aconteceu nesse tempo de relacionamento dele com o Rafa e os términos

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Ou seja, seu pai e seu tio comem o homem da sua vida e você acha legal. Mas esperar o que, se você também dá pro seu pai e seu tio e assim tari sua mãe e sua tia e eles a elas. Ou seja, um bando de homens mau- carateres que colocam o desejo acima da ética e da família. Que merda de conto.

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Foram duas de espera por cada capítulo. Hoje me despeço com um misto de tristeza e alegria. Parabéns pela belíssima história. Os Contos do Lukas são os melhores.

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Aguardo vc em garoto eu odeio amar você! Já postei o primeiro cap

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Vou sentir falta dessa história, mas tudo precisa ter um começo,um meio e um fim. Sou muito fã da sua escrita Lukas, espero conseguir acompanhar todas as suas narrativas.

Gostei desse final para o Rafa, seguiu certinho o perfil psicólogo dele, ele sempre foi muito sexual e não poderia fugir disso, mesmo tendo evoluído.

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Muito bom, o Rafa msm no final fazendo escolhas erradas, ficando novamente com o Luke e pelo que parece, não é só uma ficada qualquer.

A família do Rafael definitivamente não é normal, mesmo depois de tudo que o Lucas fez para o Rafael, o pai e o tio continuaram mantendo envolvimento com o Lucas, ua família incrivelmente sem responsabilidade emocional.

Todo o conto foi incrível, não ligo se o conto pareceu fora da realidade, sabíamos que era uma história de ficção, tudo pode acontecer mesmo

No aguardo de novos contos!

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Lukas, mais uma fez obrigado por nos contar esse história maravilhosa, vou sentir saudades, mas sei que você está nos preparando algo novo, achei o final bom, espera um feliz para sempre mas sei que isso nem sempre acontece. Estou esperando ansiosamente pelas suas próximas temporadas. MUITO OBRIGADO 😘😘

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Depois leia garoto eu odeio amar vc! Já postei o primeiro capítulo!

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Lukas vc sempre foi um cara com uma atitude respeitosa e humana. Nesse mundo cibernético intenso você demonstrou muita elegância e foi gentil. Escreve muito bem e assim de tudo é muito acolhedor com todos. Não apenas suas histórias, mas tenho certeza que você conquistou a todos. Parabéns por ser que é: humano, vulnerável, gentil e empático!

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