Como perdi a final do mundial no Japão para comer a inglesa safada - parte 3 de 4

Um conto erótico de Manfi
Categoria: Heterossexual
Contém 1756 palavras
Data: 02/02/2025 22:49:23

Eu estava num momento delicado do meu plano de ir ao Japão acompanhar o Timão no Mundial. Já estava cheio de dívidas com meus amigos e parentes próximos, sem conseguir pegar muito trabalho, com entregas mais distantes por ter vendido minha moto. Eu tinha conseguido as passagens e os ingressos para o primeiro jogo e para a final, independentemente de o Timão passar pela semi ou não.

Porém, nada disso iria adiantar se não conseguisse liberação do meu patrão. Primeiro porque era o único emprego que eu tinha. Segundo porque seria uma antecipação das férias e, nesse local, mesmo sem ser CLT, a pizzaria pagava nossos dias de férias. E isso seria fundamental para as despesas do próximo mês, principalmente as fixas.

Eu estava desanimado. Nosso patrão não era um cara que costumava aliviar para os funcionários e, mesmo afastado por conta de um problema de pressão, mantinha em seu filho Eduardo um feroz vigilante da pizzaria e dos funcionários.

Minha única esperança era que ele tinha sido colega de faculdade do Fe (ou Manfi), e os dois continuavam amigos até aqueles dias (ainda são, na verdade).

Porém, fazer esse novo pedido ao meu amigo poderia parecer abuso. Na verdade, minha hombridade me impedia de fazer tal pedido.

Sem muita convicção, fiz uma solicitação para conversar com Eduardo um pouco antes de a pizzaria abrir. Ele respondeu minha mensagem apenas uma hora antes da abertura e mandou eu chegar meia hora adiantado.

Cheguei ao local tremendo de ansiedade e receio da conversa que teria. Eduardo pediu para entrar no escritório que antes era ocupado por seu pai e me pediu para sentar. Ofereceu um copo d’água e aguardou que eu tomasse a iniciativa.

— Eduardo… eu preciso te pedir um favor.

Ele me olhou primeiramente com um olhar intenso e a cara fechada. Porém, com o tempo, aliviou a tensão do rosto até que começou a rir sozinho.

— Nosso amigo tem razão! Você fez tudo antes de se acertar no trabalho. Ou é muito burro ou não se importa com o emprego.

— Cara, calma. Eu acho que sou burro… Só me liguei nisso depois…

Eduardo, ou Duda, me calou com uma gargalhada.

— O fato de você ser burro não surpreende ninguém.

Eu não reagi. Não tinha argumentos.

— Sorte a sua que o Manfi foi um “irmão” para mim na faculdade. Devo uma, ou várias, para ele. Mas não será tão fácil… Ele já conversou comigo, sabia que você iria me procurar… Queremos ver se você vai conseguir representar bem o pessoal que te ajudou lá no Japão.

Fiquei um pouco sem entender. Então ele colocou um ingresso sobre a mesa, fazendo menção para que eu pegasse.

— É um ingresso para o show do Claustrofobia. Se você for conosco e entrar nas “rodas” quando nós entrarmos, terá o período da sua viagem ao Japão pago pela pizzaria. Logicamente, o número de dias de férias será descontado desses dias, certo?

Ainda um pouco confuso, peguei os ingressos em minhas mãos. Era para a sexta desta semana, num lugar famoso de shows, principalmente de bandas e estilos underground como essa banda e o thrash metal, chamado Manifesto.

O que me deixou aliviado foi saber que Manfi estava nessa e que ainda tinha sido dele essa ideia. Sem ter muito o que fazer, aceitei essa condição maluca.

Tentei falar com Manfi, mas ele não me respondia as mensagens e não atendia o telefone. Para falar a verdade, só sua namorada e futura esposa tinha o privilégio de ser atendida por ele. Isso ocorre até os dias de hoje.

Chegou sexta-feira, e tudo que eu sabia sobre a banda vinha de um CD que o Duda me passou. Ele dizia que sempre usou aquilo como trilha sonora para dormir. Sinceramente, nunca entendi como, mas, segundo ele, foi o Manfi e o irmão mais novo dele que o apresentaram a esse caos acústico durante uma viagem, quando dividiram o quarto.

Duda sempre foi mais próximo do irmão mais novo do Manfi, mas foi só na faculdade que a amizade entre eles realmente se firmou.

Infelizmente, o irmão do Manfi (não vou dizer o nome porque essa é a parte realista da história) acabou não indo. A futura noiva dele não “liberou”. Manfi, por pouco, não teve o mesmo destino.

— Pô, cara, pior que eu preferia ter ficado com ela, viu. Ela ainda está na faculdade de medicina e vai com suas amigas numa festa hoje. Ela vai estar lá e eu aqui, me agarrando com um bando de macho nerd para que você consiga ir pro Japão.

— Mas pensei que essa ideia fosse sua — respondi, surpreso.

— E foi, antes de saber que minha ninfetinha iria pra uma festa da faculdade sozinha. Mas é até melhor… Você me conhece, eu odeio socializar, principalmente com pessoas que não tenho o mínimo afeto… Ia ficar irritado, mal-humorado e enciumado se fosse com ela. Tem certas coisas que não têm jeito. É confiar. Que se foda pesquisa com porcentagem de traição no mundo, sempre há esperanças…

Confesso que fiquei um pouco melindrado por causa do marido da Cíntia. Manfi sempre contou sobre a vida de seus primos, os dois mais próximos, que viveram sem a presença dos pais—dois filhos da puta e gente da pior espécie. Nunca quis perguntar o que ele achava das pessoas que eram cúmplices dos traidores, mas um dia ele me contou, após revelar mais uma traição de um colega de faculdade.

— Cara, pra mim, se você sabe que a pessoa é comprometida e, mesmo assim, escolhe ir por esse caminho, você nunca poderá reagir ou se magoar quando fizerem isso com você. Na verdade, será merecido. E, por extenso conhecimento de causa, por pessoas da minha família e pessoas com quem morei junto, esse tipo de merda falante se atrai. Então, é apenas uma questão de escolha. Sempre é…

Mais uma vez, meu amigo, quase lacônico no dia a dia, me deixava boquiaberto quando resolvia falar. Eu não queria isso para mim e, do fundo do meu coração, prometi lutar contra as vontades da minha cabeça de baixo.

Não irei comentar muito sobre como foi o show… Vocês devem imaginar. Um bando de homem suado se agredindo e depois se abraçando. Música alta, com guitarras graves, e bateristas que têm o pedal como arma. Usam muito mais os pés do que as mãos.

Mas foi algo legal que fizemos juntos. A idade já chegava para todos. Manfi, por exemplo, já estava com 30. A tendência é esses momentos irem minguando, infelizmente.

Mas voltando à minha odisseia para o outro lado do mundo. Esse título com certeza traria mais leitores para nossa história - Comentei com Manfi após mandar essa parte da história - Tudo já estava encaminhado, então agora era apenas aguardar o tempo passar.

……..

…….

O dia 3 de dezembro de 2012 mostrou mais uma vez que a torcida corinthiana é fanática e apoia o time em qualquer lugar. Naquele dia, após conquistar a Libertadores da América pela primeira vez na história, o Timão embarcava para Dubai, nos Emirados Árabes, onde faria escala rumo ao Japão para disputar o Mundial de Clubes.

O embarque contou com um apoio massivo da Fiel. O incentivo começou logo na saída do CT Dr. Joaquim Grava, com duas mil pessoas acompanhando a delegação no curto trajeto até o aeroporto. Mas a verdadeira loucura aconteceu na chegada: cerca de 15 mil torcedores alvinegros tomaram um dos terminais, com bandeiras, instrumentos musicais e cânticos ensurdecedores. Parecia até dia de jogo.

E nós estávamos lá. Eu, Manfi e a galera do nosso antigo condomínio, no meio daquela multidão. Foi um caos absoluto e, como Manfi sempre dizia, “estávamos vendo a história ser escrita em carne e osso”.

Acho que, pra maioria de nós, inclusive pra mim, a ficha só caiu anos depois. No meio de um evento histórico, é difícil perceber o peso do que está acontecendo.

No dia 9 de dezembro, chegou a minha vez de embarcar pro Japão. Peguei o segundo voo disponibilizado oficialmente pelo clube para a torcida. E, por causa disso, o avião estava lotado de corinthianos, incluindo ex-jogadores e algumas figuras famosas.

Nosso voo pousou em Toyota às 5h30 da manhã do dia 10. Como planejado, fui direto pegar o carro alugado. No avião, fiz amizade com dois manos, um do Tatuapé e outro de Caieiras.

Acabamos nos ajudando. Conseguimos um hotel na periferia da cidade, longe do Toyota Stadium. Eles bancaram a hospedagem, e, em troca, eu ficaria responsável pelo transporte no dia do jogo.

Depois de nos acomodarmos, saímos pra almoçar num restaurante simples ali perto. E foi ali que começou minha perdição.

Na mesa ao lado, vi um senhor grisalho e calvo, pele pálida, aparentando uns 50 anos. Ao lado dele, estava, provavelmente, a mulher mais bonita que eu já tinha visto na vida.

Ela parecia ter uns 30 anos, baixinha, pele clara e um corpo de atriz de Hollywood. Desde o momento em que entramos no restaurante, senti o olhar dela sobre nós.

Teve um momento em que fui ao banheiro, e, no caminho de volta, ela veio falar comigo. Meu inglês não era perfeito, mas dava pro gasto.

— Bom dia… Meu nome é Sara. Somos de Londres, na Inglaterra. Vocês são brasileiros?

Travei por um instante, sem saber o que responder.

— Ficamos impressionados com o que aconteceu no aeroporto, em São Paulo. Podemos nos sentar com vocês?

Na hora, me veio à mente a conversa que tive com Manfi sobre traição, escolhas… Tudo meio desconexo, mas lembrei.

— Você não está com seu marido? — perguntei, provavelmente com cara de poucos amigos.

— Não, não. O Alex é meu primo. Ele veio com a esposa e os filhos. Eles já vão chegar.

Fiquei aliviado. Conversamos por horas e, no fim, acabamos nos beijando. No dia seguinte, passamos o dia juntos, naquele clima de namorico, até que os ingleses tiveram que partir para o local do primeiro jogo do Chelsea.

Peguei o contato de Sara e combinamos de nos encontrar em Nagoya, independentemente do resultado do primeiro jogo do Timão.

No dia 12 de dezembro, às 8h da manhã (horário de Brasília), o Corinthians entrou em campo pela primeira vez no Mundial, enfrentando o Al Ahly, do Egito, pela semifinal. Com gol de Guerrero, vencemos a partida e garantimos vaga na final contra o Chelsea, quatro dias depois.

O dia mais importante da história do nosso Sport Club Corinthians Paulista estava a apenas quatro dias de acontecer. Mas minha ansiedade não era só pelo jogo.

Contaremos o que aconteceu na última parte.

Continua….

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