CUNHADOS, UMA HISTÓRIA part iii

Um conto erótico de Sátyro
Categoria: Heterossexual
Contém 892 palavras
Data: 01/02/2025 11:12:57

Éramos vizinhos, e essa proximidade era explorada de forma discreta, porém intensa. Certa vez ao devolver uma revista sobre corridas (Runner Word, eu praticava corrida de longa distancia na época) na última página, onde havia um texto e uma foto da maratonista norte americana Joan Benoit, num espaço em branco logo acima do texto, algumas palavras haviam sido escritas a caneta e em seguida houve uma tentativa de apagar. Era sua letra e aquilo me causou grande curiosidade: o que ela havia escrito ali? Tentei de todas as formas a meu alcance ler, sem sucesso (infelizmente não fiz o teste com grafite e papel branco, que poderia revelar o contorno revelado pela pressão.). Contudo, estava certo de que ali estava a chave, a grande oportunidade que aguardava há anos, talvez estivesse ali! Depois de esgotar todas as possibilidades de decifrar o que havia sido escrito, ousei me aproximar e perguntar:

- ‘O que voce que escreveu aqui?’

‘Acho que não...’

‘Acho que sim, é sua letra...’

‘Hum, pode ser, não me lembro, mas porque voce quer saber?’

‘Ah, pra saber, acho que é um segredo...’

‘Segredo?’

‘Sim, segredo, acho que é um segredo seu...’

‘Porque eu teria segredos?’

‘Acho que voce tem, segredo de mulher...’

Não sei quanto tempo durou essa conversa. Nem quantos dias. Era um terreno delicado e ela realmente não queria se abrir. Eu não era indelicado para insistir, para prosseguir. Mas sempre que tinha uma oportunidade, voltava a carga:

- ‘O que voce acha que eu escrevi?’

‘Não sei, é por isso que quero saber...’

Posso dizer que ela instigava minha imaginação, me dava corda. Não queria e ao mesmo tempo queria falar. Eu tinha urgência em compreender, estava quase desesperado pra saber, mas sabia que não deveria insistir. Afinal, o que quer que fosse, não deveria mudar nada... ela jamais seria ‘minha’, sequer um beijo, um abraço, um carinho mais ousado, nada aconteceria. Tudo era apenas força de minha imaginação.

Foram dias loucos, de pungente, sofrida e ansiosa expectativa. A meu favor, isso eu tinha claro, tinha o tempo e o livre acesso a ela. Fomos ficando mais francos:

- Ai, mas porque voce quer saber?!

- Por nada, só pra saber...

- Se não é pra nada, pra que saber?!

- Curiosidade...

- E se eu falar que não é da sua conta?

- Eu acho que é!

Assim prosseguíamos. Até que um dia, exatamente uma tarde, sentados no sofá de sua casa, ela falou. Sua voz estava trêmula. Tinha um tanto de desabafo e até mesmo de acusação o que ela disse mais ou menos assim:

- Voce fica elogiando a gente... Voce fica falando umas coisas... aí, mexe com a gente e eu...

Meu coração acelerou. De expectativa, de emoção, de terror. Ela não dissera as palavras que queria ouvir, mas disse palavras que tinham tudo a ver! E foi muito melhor assim. Então, fiz uma coisa impensada, louca. Ela estava de vestido, com os joelhos juntos, segurando as mãos, olhos baixos. Aproximei-me rapidamente, dei um beijo em seu rosto e entrei em pânico. Saí correndo dali!

Saí pelas ruas, sem rumo, tendo a certeza de que havia cometido um erro grave, que muito me custaria. Ela contaria a meu irmão, e quem saberia o que aconteceria? Eu estaria desonrado para o resto da vida, pois abusara da confiança! Talvez fosse completamente proibido de voltar a falar com ela, talvez fosse proibido de vê-la! Sim, eu estava certo de que ela contaria.

Um breve beijo no rosto, mas que eu sabia não ter sido inocente! Fora com todas as intenções do mundo que lhe dera aquele beijo. Eu já a beijara no rosto tantas vezes, mas nunca fora com aquela intenção deliberada. Naquele dia sentira a maciez, em que o toque de meus lábios em sua pele havia sido mais real, eu sentira outra maciez, outra textura!

Não avaliar tantos anos depois. Impossível contar o sofrimento que vivi naquela tarde em que estava certo de minha condenação...

Eu daria tudo para voltar atrás, para desfazer todo o ‘mal’ que havia feito. E igualmente daria tudo para novamente encontrar meus lábios em seu rosto e sentir sua pele... Fiquei em casa na terrivel expectativa de ver entrar meu irmão e me acusar de sem vergonha, de abusado e de mil outras coisas mais, para as quais não havia defesa.

Foi com imensa surpresa que notei que nada aconteceu...

Porque nada me aconteceu? Ela teria falado e ele tinha preferido não falar nada? Ou estaria procurando uma outra forma de falar, talvez faria outra coisa... ou teria acontecido o milagre de ela não ter falado? Poderia ser isso, ela não falaria a ele, mas iria cortar os nossos papos, iria falar que eu tinha confundido tudo e que eu tinha que me afastar... Mil perguntas e duvidas cruéis me torturaram por todas aquelas horas.

No outro dia, timidamente, fingindo um acaso, encontrei-a:

- Tudo bem?

- Tudo, e voce?

- Não sei...

- Como não sabe?

- Não sei se estou bem, depois do que fiz?

- O que voce fez?

- Beijei voce, roubei o beijo...

- Como assim?

- Eu sei que não deveria ter beijado voce...

- Foi só um beijinho no rosto...

- mas mexeu comigo,

- Ah, mexeu comigo também, mas...

- Mas?

- ...mas passou, passou...

- Quer dizer que mexeu com voce?

- Sim, mexeu, mas..

- Mas?

- Ah, foi só um beijinho, nada demais...

- Quer dizer.. que... mexeu..com voce também?

- Claro, né, mexeu...

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